segunda-feira, 23 de abril de 2007

Vale a pena ler

La educación está enferma: informe pedagógico sobre la educación actual.
J. A. Quintana Cabanas.
Valencia: Nau Llibres, 2004.

José Maria Quintana Cabanas é um professor catedrático de Pedagogia da Universidade Nacional de Educação a Distância (U.N.E.D.), Madrid, que já teve a amabilidade de visitar a Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Nesta Escola proferiu uma palestra brilhante, reveladora de uma erudição construída ao longo de muitos anos de trabalho aturado e de uma reflexão crítica bem alicerçada e ponderada. Não se pense, no entanto, que a forma de comunicar deste autor, de vasta e substancial obra, se carregou de um cinzento obscuro, como é comum atribuir-se aos académicos; bem pelo contrário, revestiu-se de um tom claro, exacto, honesto.

É precisamente este estilo de abordagem das questões educativas que transparece no livro La educación está enferma: informe pedagógico sobre la educación actual recentemente dado à estampa. Trata-se de um livro que urgia ser escrito. E urgia ser escrito por alguém de dentro da Pedagogia que se movimentasse com à-vontade nos domínios histórico, ideológico, político e científico. Passamos a explicar esta dupla afirmação.

A concepção actual de educação escolar está longe de ser unívoca e pacífica. Esta circunstância, apesar de ser tão antiga quanto a própria educação, tem vindo a materializar-se em tópicos de intensa polémica que, em geral, se apresentam segundo a forma de antinomias, aspecto a que Quintana Cabanas dedicou atenção especial num outro livro que, em boa hora, foi traduzido para a nossa língua (Teoria da educação: uma concepção antinómica da educação, Porto: Asa, 2002). Nesse livro, socorrendo-se das palavras O. Reboul, explica que antinomia “não significa simplesmente contradição, mas também oposição de duas leis, quer dizer, de duas regras, cada uma das quais pode reivindicar com justiça a nossa adesão”, analisando, de seguida, algumas das antinomias que se têm estruturado em torno da educação e que têm sido assumidas, convicta e afirmativamente, por intelectuais de diversas formações.
No trabalho em apreço, o autor retoma esta problemática mas torna-a mais específica, ao centrar-se no sistema educativo espanhol, e mais pessoal, ao explicitar a sua opinião em relação à qualidade do mesmo.
À semelhança de autores que se movimentam em áreas distintas da Pedagogia e que, em tempo recente, empreenderam o mesmo exercício em relação a outros sistemas de ensino ocidentais, nomeadamente o norte-americano, o inglês e o alemão (v.g., Barzun, 2003; Bloom, 2001; Levitt, 1999; Hirsch, 1999; Schwanitz, 2004; Steiner, 2004), Quintana Cabanas declara, de modo inequívoco, que a educação “está doente” e que essa situação se deve à prevalência acrítica de certos princípios educativos que se situam no pólo antinómico conotado com a Educação Nova. Contudo, vai além deles, quando, depois de apresentar inequivocamente cada um desses princípios, explica, de modo rigoroso e fundamentado, a sua origem e percurso, bem como as suas potencialidades e perigos. E, ao contrário do que eventualmente se esperaria, faz este exercício distanciando-se também do pólo antinómico conotado com a Educação Tradicional. Entendemos que esta lucidez é fundamental para ultrapassar ambos os pólos enunciados, que pouco ou nada têm de actual e de científico.
Ora, quando um prestigiado teórico que fez carreira na Pedagogia declara, em jeito de síntese, que “as reformas educativas não se inspiram em critérios estritamente pedagógicos, mas sim em critérios políticos e em ideias pedagógicas que estão na moda, mas que, por vezes, possuem uma base errada” (página 200) devemos reconhecer-lhe o mérito e dar-lhe atenção redobrada. Primeiro, porque desmistifica a ideia corrente de que os especialistas em Pedagogia pensam todos do mesmo modo e falam a uma só voz que se faz ouvir num tom alto e dogmático, veiculando ideias peregrinas e inconsistentes sobre a aprendizagem e o ensino, tornando-se, deste modo, os principais responsáveis pelo lastimável estado que os sistemas educativos denotam. Segundo, porque demonstra que há pedagogos, mais do que provavelmente se supõe do exterior, que se orientam por princípios de objectividade e de responsabilidade que prestigiam as áreas disciplinares e que as fazem avançar em direcção a conhecimentos mais adequados.

Em concreto, o livro em questão organiza-se em cinco capítulos com carácter sequencial, cujos títulos, inovadores e algo irónicos, são retirados da terminologia médica.
No primeiro capítulo (Sintomatologia), o autor afirma inequivocamente a existência de problemas que afectam, de modo muito sério, o sistema educativo do seu país, apresentando, de seguida, as razões que os precipitaram e delineando a sua real expressão.
No segundo capítulo (Diagnóstico), debate nove desses problemas, os quais não podemos deixar de enunciar, uma vez que constituem o cerne do dito trabalho: confiança ingénua no espontâneo e harmonioso desenvolvimento do aprendiz; diminuição da autoridade educativa e da atitude de respeito; diminuição da coerção educativa, ambiente de facilitismo e de dispersão; menor exigência no estudo, tanto no que respeita à amplitude dos conhecimentos a adquirir como ao rendimento esperado dos alunos; desprestígio dos meios didácticos tradicionais, acompanhado de propaganda dos métodos activos e globais; disfunções do sistema educativo (indisciplina e violência, tecnicismo didáctico, desmotivação dos professores); politização do debate sobre a educação e a reforma do sistema educativo; e falta de ideais.
No terceiro capítulo (Etiologia), conjectura sobre as origens dos ditos problemas, destacando, entre outras, o ambiente rousseauniano e pós-moderno em que se movem certos pretensos teóricos da educação que influenciam as políticas educativas.
No quarto capítulo (Prognóstico), disserta sobre a evolução dos problemas, alertando para que a sua resolução depende da revisão de certos princípios educativos que se têm por correctos e inquestionáveis, mas que, uma vez implementados, podem tornar-se particularmente perigosos. Entre esses princípios inclui o naturalismo, a educação activa, a educação global, a multiculturalidade, a educação compreensiva, a auto-orientação axiológica, e a atenuação ou exclusão do esforço.
No quarto capítulo (Terapia), aponta medidas concretas para superar os problemas aflorados, as quais passam pela assunção de princípios educativos distintos dos acima referidos, reorganização da dinâmica das escolas, bem como da criação de uma cultura de ensino estruturante e, não menos importante, pela formação inicial e contínua de professores.

Pelo exposto e porque estamos em crer que Quintana Cabanas constitui um dos maiores pensadores da educação escolar da actualidade, ousamos sugerir a publicação em português da obra que se apresenta. Na verdade, não se nos afigurando as fragilidades do nosso sistema educativo substancialmente diferentes das do sistema educativo espanhol, consideramos que a divulgação deste texto ajudaria especialistas, políticos, estudantes e outras pessoas interessadas pela educação a repensar os fundamentos da mesma e as práticas que deles derivam.


Obras referidas no texto:

Barzun, J. (2003). Da alvorada à decadência. Lisboa: Gradiva.
Bloom, A. (2001). A cultura inculta. Lisboa: Europa-América.
Hirsch, E. D. (1999). The schools we need and why we don`t have them. New York: Anchor Books.
Levitt, N. (1999). Prometheus bedeviled: science and the contradictions of contemporary culture. Rutgers: University Press.
Savater, F. (1997). O valor de educar. Lisboa: Presença.
Schwanitz, D. (2004). Cultura: tudo o que é preciso saber. Lisboa: Dom Quixote.
Steiner, G. (2004). As lições dos mestres. Lisboa: Gradiva.


Maria Helena Damião

8 comentários:

Anónimo disse...

Hino da UNED do auot citado:

Formación y ciencia es nuestro ideal
y lo proyectamos siempre más allá.
Pese a la distancia se podrá estudiar,
y a todos alcanza la Universidad.
Humanismo, leyes, técnica y saber
a los cuatro vientos van a aparecer;
llevan los valores de la Humanidad;
tradición se mezcla con modernidad.
Llega a las personas, llévales saber,
les da crecimiento, les da madurez.
“La sabiduría es lo más veloz
de cuanto se mueve” y se difundió.

Acho que também devem tocar umas coisas do género nas empresas chinesas, durante a recepção ao comissário do partido...

Vamos brincar às empresas, universidades, sociedades??? Vamos!! Bora, desenhar a bandeira, inventar o hino, imaginar os uniformes!!! Eu faço de reitor!!!

P.S-> Todas as universidades de ensino à distância têm-se saldado por buracos financeiros sem consequências práticas para a sociedade contemporânea. Mais valia haver livros mais baratos e acesso à internet gratuita e universal...

Fátima André disse...

Um agradecimento particular à Helena por ter publicado a recensão deste livro no De Rerum Natura. Os leitores agradecem, com toda a certeza, a possibilidade de muito resumidamente saborearem a suculenta obra de grande pedagogo da actualidade – Quintana Cabanas. Criticado por muitos dentro da Pedagogia, pela sua critica voraz ao destrambelhamento dos sistemas educativos europeus, particularmente o caso espanhol. O sistema educativo português padece dos mesmos ou idênticos males. Embora comecem, muito timidamente, a ser denunciados, quer de dentro, quer de fora da Pedagogia, ainda persiste o medo de represálias nos meios académicos. Admiro os corajosos que como Quintana, denunciam (des)construindo umas quantas orientações que se apresentam apelativas e sedutoras sob o ponto de vista discursivo, que embora traduzam uma postura “politicamente correcta”, do ponto de vista dos resultados, não levam a lado nenhum (por ex. o abandono escolar não diminui, o (in)sucesso educativo mantêm-se, os ambientes estruturados em sala de aula são cada vez mais uma miragem, as aprendizagens são cada vez mais superficiais… pudera como é possível aprofundar alguns conhecimentos quando no 3ºCiclo os adolescente têm 14 ou 15 disciplinas anuais… não há super-alunos! E milagres de sucesso, assim nestas condições, nem eu que sou crente acredito neles! Falamos de idades compreendidas entre os 12-15 anos, mas funcionaria de igual modo mal se se tratasse de jovens com 18-20 anos.
O ambiente de reforma permanente em que as escolas e os professores têm estado mergulhados, que benefícios têm trazido afinal para o processo ensino/aprendizagem? Interpelo-me se está a ser propício ao desenvolvimento de um pensamento reflexivo, crítico e criativo sobre a educação e a acção pedagógica? Há melhorias visíveis na qualidade da educação? Como docente do EB digo, duplamente não. Como investigadora ainda é mais deprimente admiti-lo: claramente, não!
A panóplia de normativos tantas vezes contraditórios, é revelador da desorientação ou destrambelhamento a que o sistema educativo anda votado.
Este clima de reformas permanentes, de pendor centralista e burocrático, não tem sido nada favorável, nem à reflexão, nem à experimentação, nem à descoberta de alternativas pedagógicas consistentes. Tem-se gerado sim, uma lógica de sobrevivência no seio dos professores, que se traduz muito naquilo a que eu denominei no meu estudo de “imposição administrativa” (não inventei nada de novo) e que outros autores identificaram como “colegialidade artificial”, Hargreaves (1998), “colegialidade burocrática”, Peréz Gomez (1998) ou “colegialidade aparente”, Morgado (2005). Ficamo-nos numa lógica de concepção de projectos que nos consomem horas infindáveis de desgaste a “inventar” documentos e mais documentos, (de escrita floreada com uma “trezentas” competências, que também não sei muito bem o que é isso???) que a seguir, são mesmo isso, documentos que arquivamos... É lamentável que seja este o caminho (desgastante) que andamos a trilhar. É mesmo lamentável admiti-lo, mas vivemos hoje na escola numa orientação para o aparato, a encenação e o faz-de-conta, mais do que para o trabalho comprometido com a transformação das práticas pedagógicas em benefício dos alunos. O que vai salvando as escolas é um número razoável de professores, digo, bons professores que faz ouvidos moucos ao vazio conceptual que por aí se vende (de que não vou falar agora porque já me alonguei).
Escusado será dizer, muitos destes grandes males (que Quintana identificou e denunciou em Espanha) entram pela porta da tutela, através das (des)orientações curriculares que chegam às escolas quase à velocidade da luz, sem tempo para as reflectir, a sua exequibilidade, de procurar as possíveis ou as melhores estratégias a aplicar… mas não tempo, há que executar porque muitas delas chegam a meio do ano escolar (este é um outro problema a reflectir, fica para uma próxima)… e depois é no que dá, num vazio, um grande vazio que só pode conduzir ao abismo.
A Helena faz muito bem sugerir a edição deste livro de Quintana Cabanas em Português. Espero que um dos leitores deste blogue seja um editor de coragem que aposte na divulgação desta grande obra. Não sei se garantidamente será um sucesso de vendas, mas garantidamente que ajudaria muitos teóricos a reflectir a educação, muitos professores a reflectir e mudar as suas práticas e muitos candidatos a professores a não se deixarem iludir por discursos “balofos” e a concentrarem-se mais naquilo que verdadeiramente é importante - o desenvolvimento intelectual e afectivo dos alunos, e em consequência, a sua estimulação.
Alonguei-me, peço desculpa.
Fátima

José Oliveira disse...

Professora Helena:

Muito obrigado pela divulgação de um livro que certamente terá muita qualidade. Será que podemos esperar que seja traduzido para Português em breve? Espero sinceramente que sim.

Como aluno finalista numa ESE, vejo-me confrontado todos os dias com gente que debita os mesmos slogans vazios vezes e vezes sem conta. Este tipo de pessoas, que cai num dogmatismo sem fundo, tornando-se radicalmente fechado a outras perspectivas, são as pessoas que estão a ensinar os novos professores. E se alguém tem uma ideia inovadora, que saia do âmbito do que é tido como correcto, só falta gritar "SACRILÉGIO!".

Assim não vamos a lado nenhum. Certamente que a escola Nova tem muitos pontos positivos e outros igualmente negativos, assim como a apelidada escola tradicional. Mas concordo com Quintana Cabanas na sua tentativa de síntese entre as duas escolas, de modo a que se possa realmente melhorar a educação. Não podemos cair tão facilmente nesta onda Pós-Modernista, onde tudo é admitido; onde se cultiva o "instante provisório" como diz Enrique Rojas. Aprender dá trabalho, exige esforço e enquanto não se promover o esforço e a vontade de aprender e melhorar, dificilmente sairemos da crise da educação.

Já agora, tenho pena que a Helena não ponha mais posts no blog. Penso que todos ganharíamos com um discussão franca e racional dos problemas da educação.

Cumprimentos,
José Oliveira
Tomar.

Fátima André disse...

Caro José
Não querendo eu interpor-me a uma resposta da professora Helena, deixo aqui mais uma achega à recensão deste livro de Quintana Cabanas, que em boa hora chegou a público, digamos, a um público mais alargado (porque o mesmo já havia sido publicado anteriormente em outro sítio da web em Julho de 2005 em http://www.criticanarede.com/ens_cabanas.html).
Deixe-me concordar consigo quando fala nos “slogans vazios” e “dogmatismo sem fundo”… pois, como eu referia há pouco, no comentário anterior, estas orientações apelativas que traduzem as posturas do “politicamente correcto”, não só são apetecíveis aos poderes políticos como a muitos teóricos que com eles (os políticos) convivem ou aspiram conviver com esses poderes.
Assim sendo, ela é amplamente difundida e de tanto se insistir nela, torna-se verdade Absoluta, sendo até de mau tom discordar. Pois, ainda que se apresente como relativista, é como dogma que, em geral, é encarada. Por isso, não se admire se não aceitam facilmente as ideias as suas ideias. Inovadoras ou não, se saem dos parâmetros do “politicamente correcto” a que aludi anteriormente, acaba-se o discurso da (in)tolerância tão em voga em meios académicos…
O que se passa na sua ESE, não é excepção, acontece um pouco por todo o país de forma generalizada, nas ESEs e nas Universidades.
Quanto ao seu último parágrafo, devo dizer-lhe que concordo com a pertinência dos textos da Prof. Helena e de que todos temos a ganhar com a sua experiência reflectida nas profundas e pertinentes reflexões que faz sobre o estado actual da educação. Creio também que só numa “discussão franca e racional dos problemas da educação” poderemos ir construindo algumas pontes em Educação. E, digo-lhe mais, acho que as pessoas que se preocupam verdadeiramente com a educação, venham elas de onde vierem, deviam ter a disponibilidade para discutir serenamente. Mas em educação, em pedagogia ainda não temos a cultura da discussão livre e despreconceituosa como acontece em outros campos das ciências ditas “duras”, como a matemática, a física, a química, a biologia…
Não percebo, porque é que quando se investiga ou se teoriza no campo da Educação, como noutro campo científico qualquer, não podemos desconfiar ou discordar das ideias dos outros… se um verdadeiro cientista admite que erra, porque é que um pedagogo tem tanta dificuldade em admitir os erros???
 Em ciência, a noção de erro é essencial. Recordo um artigo de Umberto Eco (2004). Ciência, erro e fundamentalismo, (Publicado em www.criticanarede.com/fil_cienciaerro.htm). Neste artigo, o autor fala de um célebre cientista Stephan Hawhing que perante uma audiência de colegas cientistas defendeu que cometeu um erro na teoria dos buracos negros (publicada nos anos 70) e propôs as devidas correcções. Isto em ciência não tem nada de excepcional, é admirável, mas é comum. É assim que a ciência avança. Já em Pedagogia a tarefa é bem mais árdua, mas deixo este assunto para a Prof. Helena que é especialista no “Erro do Ensino”). Um excelente tema para um post. Aqui fica a dica para a Prof. Helena.

Para finalizar, devo dizer que não sendo animador o estado actual da educação, como professora, encaro o futuro com o optimismo de F. Savater e a esperança de Voltaire “Amanhã tudo será melhor…”. Isto porque acredito que podemos e devemos tentar melhorar qualquer coisita. Como costuma dizer a Prof. Helena “pensar ajuda e investigar também”.
Mais uma vez alonguei-me, peço desculpa.
Fátima

José Oliveira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
José Oliveira disse...

Olá Fátima!

Antes de mais quero agradecer-lhe muito as sugestões de leitura que apresenta. Certamente ser-me-ão muito úteis.

A questão da não discussão das teorias que servem de base à pedagogia, não é - como sabe - um assunto novo. A partir do momento que as Ciências da Educação se tentaram afirmar como um corpo independente de conhecimento, tem-se assistido a esse fenómeno. Há uma excessiva "fé" na ciência, como se ela, e só ela, pudesse fazer algo pela educação. Eu penso que a contribuição da ciência é deveras importante, mas não é de modo nenhum suficiente. Esquece-se, muitas vezes convenientemente, da Filosofia da Educação (área onde estou a desenvolver o projecto final de curso).

É esquecida, principalmente por pessoas que pensam que a sua função se limita a "acenar com a cabeça" (queriam talvez que a F.E. se limitasse, ela própria a repetir os ditos slogans à exaustão) a tudo o que se diz, escreve e faz nas ditas Ciências. E claro que quando surge uma crítica, ouvem-se argumentos tipo: a filosofia não é uma ciência, não é empírica, etc.

Não significa também que a Filosofia da Educação seja uma espécie de salvadora, qual D. Sebastião. Penso que o grande contributo desta disciplina passa pela função crítica, por questionar seriamente os pressupostos sobre os quais fundamos a Pedagogia, e ver se resistem às críticas que se lhe apresentam - como qualquer ciência digna do nome.

Como diz, e eu permito-me concordar consigo a 100%, é necessária uma verdadeira discussão; é preciso sair deste "politicamente correcto", e tornar o debate da educação um verdadeiro debate, não esta "coisa" morna a que se chama actualmente debate sobre educação...

Embora não seja muito optimista, penso também que as coisas podem mudar para melhor. Acredito até que as coisas podem mudar radicalmente, basta que se queira trabalhar com seriedade.

Abraço,
José Oliveira.
Tomar.

Fátima André disse...

Acho que o José tocou num dos cernes na questão - a função "crítica". Ela é fundamental em qualquer ramo da ciência para o progresso do conhecimento e para o bem comum das sociedades. Ou seja, o facto de termos diferentes posturas em relação a questões diferentes não impede que colaboremos para objectivos comuns orientados para tornar o nosso pais melhor.
Quero acrescentar e ao mesmo tempo esclarecer que, em Pedagogia, quando falo da necessidade de uma discussão livre e despreconceituosa, concebo-a, sempre que possível, baseada nas regras da lógica e em trabalhos de investigação séria, pois, a discussão pela discussão, parece-me, em ciência, pouco útil, senão estéril. Ainda que as ideias sejam nossas e que gostemos muito delas, temos que admitir que podem ser falíveis. Não são muitas as pessoas que percebem isto, mesmo teóricos da Educação... mesmo que digam que entendem, não entendem quando são posto à prova.

Anónimo disse...

Na pratica, como "stor" do ensino basico, ate' concordo com o tal Sr espanhol, mas na teoria nao sei... No entanto, deveria pensar, que na teoria concordo com o tal sr pedagogo, que o e' nao querendo ser(?), e outras pessoas que aqui comentaram, mas na pratica nao concordo com aquilo que aqui li do tal senhor Cabanas. Tenho um grande problema, e esse e' o do nao distanciamento necessario ao objecto de estudo para poder fazer uma analise objectiva(?). Dou aulas, melhor, vendo aulas, todos os dias a pessoas com cerca de 10 a 14 anos, e 'as vezes penso: gosto disto, porra, gosto mesmo disto de vender aulas, mas ha' dias que nao sei o que ali estou a fazer, para alem de estar com os miudos. Uns para se queixarem, outros para contarem mais uma anedota, e outros para fazerem mais uma malandrice... como tenho saudades de gozar com a stora de Historia... e hoje imagine-se sou professor... Alias, sou funcionario publico, e digo com muito orgulho, desempenhando uma funcao que alguns dizem de ensinar, mas que eu, cada vez mais me convenco, que so' la' estou mesmo para influenciar, quanto ao resto, sao afectos, e quantos mais duros somos com a maioria dos alunos, mais eles gostam de no's... o amor tens destas coisas estranhas. Isto nao e' uma confissao, nem sequer um desabafo, antes uma duvida pedagogica, o que ensinar a criancas que nao sabem qual o meu papel. So' quem nunca teve com uma turma de mais de 25 alunos com cerca de 10 anos, cheios de vida nos olhos, pode pensar que nao se tem duvidas...Todos os dias tenho duvidas, o que ensinar? Conhecimentos, ou como aprender conhecimentos a quem nunca os aprendeu. Para aprender e' preciso saber aprender, e estas criancas aprendem tantas coisas...Outra duvida, que e' quase uma certeza, nao seriam todos os alunos bons alunos se para todos houvesse um professor para cada um? Mas essa utopia e' isso mesmo, uma utopia. Os senhores que me desculpem, mas sou um mero stor, com algumas duvidas e uma certeza, gosto do que faco, mas que por vezes ha' dias que me apetece puxar o autoclismo e meter para la' umas criancinhas...no fundo sou humano, um pouco mais so' que aqueles que dao sentido 'a minha profissao. Eu ate' posso pintar uma Monalisa, mas com alunos cegos e pais surdos pintarei sempre uma parede de casa de banho...no fundo, continuo hoje dividido 'a lealdade que devo ao Ensino do outro lado da escola como uma coisa real por fora e 'a sensacao de que tudo e' Educacao como coisa real por dentro, e que me perdoe o Alvaro, porque dar chocolates aos miudos, nao lhes resolve a metafisica, mas temos de certeza um paizinho a acusar-me de abusador, nao va' la' eu criar caries no fedelho. No fundo, preciso de alunos para ensinar, e cada vez menos, ele querem precisar de mim para aprender. Nao ha' caes sem pulgas, mas ha' muitas pulgas sem caes, e a vida como sabem, e' injusta, muito injusta, mas esses assuntos da justica nao cabem aqui...ate' pq a justica e' cega. Ja' agora uns sinceros PARABENS a este fantastico blog de visita obrigatoria. Acentos o keyboard nao da'...

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