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quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Conversas de Café: Pseudociência em Saúde

A COMCEPT foi convidada a estar presente num debate sobre a pseudociência em saúde, a ter lugar na Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), no dia 14 de Novembro, às 15h30. Mais informação enviada pela organização:

“As “Conversas de Café” são uma iniciativa que surge da vontade dos alunos do 58º Curso de Especialização em Saúde Pública (CESP) em abordar temas de maior interesse. Este é um espaço de discussão informal onde os participantes podem colocar questões e expor pontos de vista a Professores e peritos em áreas que consideramos pertinentes.

Esta terceira sessão será dedicada à Pseudociência em Saúde – O papel da Saúde Pública. Contaremos com a presença do Prof. Doutor António Vaz Carneiro, médico e Diretor do Instituto de Medicina Preventiva e Saúde Pública e do Conselho Científico do Instituto de Saúde Baseada na Evidência, e do Dr. João Monteiro, biólogo, doutorando em História da Ciência na FCT/NOVA e membro da Comunidade Céptica Portuguesa.”


quarta-feira, 19 de junho de 2019

"CIÊNCIA, PSEUDOCIÊNCIA E MITOS COSMÉTICOS"



Na próxima 4ª feira, dia 26 de Junho de 2019, pelas 18h00, vai ocorrer no Rómulo Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra a palestra "Ciência, Pseudociência e Mitos Cosméticos", por Diana Barbosa, Bióloga, comunicadora de ciência no Instituto de História Contemporânea, co-fundadora e actual presidente da Comcept - Comunidade Céptica Portuguesa.




Esta palestra integra-se no ciclo "Ciência às Seis - Terceira temporada", coordenado por António Piedade, Bioquímico, escritor e Divulgador de Ciência.

Sinopse da palestra:
Seja de forma indelével ou marcante, os cosméticos são produtos que estão presentes no dia a dia de todos nós. Nesta apresentação, será feita uma breve introdução ao mundo dos cosméticos — o que são, como se fabricam, qual a legislação que os regula. Serão depois apresentados alguns dos principais problemas e mitos associados ao mundo da cosmética — dos efeitos milagrosos aos perigos à nossa espera em cada gota. Terminará com algumas recomendações práticas para uma escolha mais informada.



ENTRADA LIVRE

Público-Alvo: Público em geral
Link para o evento no facebook

quarta-feira, 8 de maio de 2019

QUANDO A CIÊNCIA É O ALVO DAS TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO




Na próxima 4ª feira, dia 15 de Maio de 2019, pelas 18h00, vai ocorrer no Rómulo Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra a palestra “Quando a ciência é o alvo das teorias da conspiração”, por João Monteiro, Biológo, co-fundador da Comcept – Comunidade Céptica Portuguesa, co-autor do livro “Não se deixe enganar”.

Esta palestra integra-se no ciclo "Ciência às Seis - Terceira temporada"*

Sinopse da palestra:
Temos assistido a um desenvolvimento acelerado da ciência e da tecnologia nas últimas décadas, o que trouxe melhorias para a vida de todos nós. No entanto, paradoxalmente, têm também aumentado as críticas e os movimentos contra estes avanços científicos. Em grande parte, o que está por detrás deste fenómeno é a desinformação que alimenta receios e teorias da conspiração. Este é o foco desta palestra: quais as teorias da conspiração que afectam a ciência? Quais as consequências? O que se pode fazer? As respostas a estas perguntas irão gerar uma conversa em torno de temas como a genética, a saúde, o ambiente e os ecossistemas.

*Este ciclo de palestras é coordenado por António Piedade, Bioquímico, escritor e Divulgador de Ciência.

ENTRADA LIVRE
Público-Alvo: Público em geral
Link para o evento no facebook

quinta-feira, 29 de junho de 2017

"Não se deixe enganar" além fronteiras

O livro "Não se deixe enganar", recentemente publicado pela COMCEPT, está a ter uma boa recepção mediática pelos mais diversos órgãos de comunicação, desde a imprensa escrita, passando pela rádio, até à televisão. Já chegou inclusive a passar as fronteiras do nosso país. Nesse sentindo, partilho aqui a entrevista dada ao programa Efervesciência, da rádio galega, e a menção no European Skeptics Podcast (a partir dos 30 min). 

No Efervesciência falou-se também dos livros publicados pelo professor Carlos Fiolhais e por David Marçal, que têm escrito sobre temas idênticos e que são os prefaciadores deste livro.


sexta-feira, 15 de abril de 2016

NEM TUDO O QUE PARECE CIÊNCIA O É!

Texto publicado primeiramente na imprensa regional.

Logotipo dos Prémios Unicórnio Voador -  Crédito Cláudia Barrocas


“Nem tudo o que reluz é ouro e quando a esmola é grande o pobre desconfia. Estes são dois exemplos da sabedoria popular que nos lembram a importância de sermos cépticos e críticos. Mitos e falsas alegações podem ser bastante prejudiciais para a nossa saúde e carteira, por isso é essencial saber como separar o trigo do joio ‐ é preciso questionar e exigir provas antes de aceitar algo como verdadeiro. O cepticismo e o pensamento crítico são parte fundamental da ciência, mas todos/as nós podemos e devemos aplicá‐los nas decisões que tomamos no dia‐a‐dia.”

O texto do parágrafo anterior foi-me enviado por elementos da COMCEPT – Comunidade Céptica Portuguesa, organização cidadã fundada em Abril de 2012 por Diana Barbosa, Leonor Abrantes e João Monteiro, todos eles excelentes comunicadores de ciência. Os quatro anos de existência que se cumprem este mês e que celebramos permitem já uma avaliação e divulgação merecida da actividade desta organização.

Começo por enunciar que o “objectivo da COMCEPT é promover a ciência e o pensamento crítico através do activismo céptico. Isto envolve a denúncia da pseudociência, isto é, de tudo aquilo que tenta passar‐se por ciência sem o ser, mas também do negacionismo de factos científicos bem estabelecidos”.

A COMCEPT deu-se primeiramente a conhecer na sua página na internet (http://comcept.org), sítio onde desde o primeiro momento têm sido divulgados textos de diferente índole relacionados com a sua actividade. Segundo David Marçal, bioquímico e comunicador de ciência, “no sítio de Internet da COMCEPT podemos encontrar artigos aprofundados, que de modo fundamentado e claro ajudam a esclarecer algumas pseudociências e a desmontar os argumentos dos seus partidários.”

A COMCEPT organiza vários eventos ao longo do ano. Tertúlias mensais e informais intituladas “Cépticos com Vox” que têm lugar, de forma alternada, em Lisboa e Porto, “ com debates à volta de temas muito relevantes e pouco debatidos”, segundo David Marçal. Anualmente promove ainda uma conferência nacional, a “ComceptCon”, onde pretende reunir todos os cépticos portugueses, mas também qualquer pessoa que tenha curiosidade pela ciência. Também organiza anualmente o ciclo “ Conferências do Solstício ”, no sábado anterior ao Natal, mais ou menos coincidente com o solstício de Inverno.

Para o professor de Física, historiador e comunicador da ciência Carlos Fiolhais, “a COMCEPT, Comunidade Céptica Portuguesa, tem feito excelente serviço público. Tal como outras congéneres noutros países, tem defendido a ciência, procurando sempre distingui-la da pseudociência. O espírito céptico é uma das marcas da ciência. Não podemos acreditar em tudo, mas sim e apenas naquilo que resistir a uma análise crítica. E a característica principal da ciência é o exercício ao máximo dessa análise crítica.”

Para António Gomes da Costa, presidente da SciCom Pt – Rede de Comunicação de Ciência e Tecnologia, “a COMCEPT desenvolve um trabalho essencial: exigir que as afirmações, julgamentos e decisões que fazemos requeiram sempre uma grande e salutar dose de lógica e de razão e, sobretudo, que se baseiem em factos concretos e bem demonstrados. Tudo o que assim não for não passa de uma opinião ou de uma crença e deve ser encarado com todas as reservas.” E sublinha que “parece simples, mas é uma atitude infelizmente rara num mundo em que juízos de valor apressados e baseados em coisa nenhuma são muitas vezes responsáveis por catástrofes humanitárias e por problemas graves de saúde pública. É neste campo que a COMCEPT desenvolve um trabalho intenso e regular (com pelo menos uma tertúlia mensal e um grande encontro anual), cuja qualidade tem aumentado de ano para ano, e que é dinamizado de modo voluntário essencialmente por três pessoas: A Leonor Abrantes, a Diana Barbosa e o João Monteiro.”

David Marçal também reconhece que “a COMCEPT tem feito ao longo dos últimos quatro anos um trabalho persistente e meritório na promoção da cultura científica em Portugal. Tem contribuído para esclarecer equívocos acerca de coisas que se fazem passar por ciência, sem o serem. A sua actuação concretiza-se de várias maneiras, complementares e mobilizadoras.”

“Prémios Unicórnio Voador”
Outra actividade em que a COMCEPT se tem destacado é a da atribuição anual dos “Prémios Unicórnio Voador”. Com estes prémios a organização pretende desmascarar as situações mais gritantes de pseudociência que populam na sociedade portuguesa. Para David Marçal, estes prémios são “distinções humorísticas que visam premiar as manifestações mais absurdas da pseudociência. Sempre com rigor, clareza e boa fundamentação. E não apenas uma vez, por outra, mas com grande regularidade e continuidade.”

Ainda sobre estes prémios, o professor de Química e comunicador de ciência Paulo Ribeiro-Claro diz-nos: “sou fã do Prémio Unicórnio Voador, que é uma forma muito criativa e bem-humorada de enfrentar um problema sério: como a comunicação social - e televisão em particular - é permissiva e cúmplice de toda e qualquer vigarice pseudocientífica que explore a falta de cultura científica do cidadão. É um prémio que merecia uma gala... na TV!”

Vejam aqui os vencedores dos Prémios Unicórnio Voador de 2015.

Posto isto, afirmo em plena concordância com David Marçal que “a Comunidade Céptica Portuguesa é uma associação que fazia falta em Portugal!”. Sugiro ao leitor/a que esteja atento/a às iniciativas desta organização e que, se possível, nelas participe.

A COMCEPT pode ser seguida na web , Facebook e Twitter . Os interessados podem subscrever a newsletter aqui.

António Piedade

domingo, 10 de maio de 2015

A criatividade e a crítica surgem... do nada?

Imagem retirada daqui
"... a gamificação de ambientes da aprendizagem está ganhando apoio entre os educadores que reconhecem que os jogos efetivamente projetados podem estimular grandes ganhos de engajamento, produtividade, criatividade  e aprendizagem autêntica (...) Ao trabalhar em projetos autodirigidos, onde os alunos pensam criticamente e comunicam de forma eficaz, eles dominam o núcleo do conteúdo acadêmico alinhado com as habilidades do século XXI."

NMC Horizon Report: Edição Educação Básica, 2014.


As crenças são ideias a que nos afeiçoamos e que tomamos por verdades, ainda que não tenham suporte científico ou, mesmo, lógico. Fazem parte de nós, precisamos delas; sem crenças a nossa vida seria pouco interessante... Mas elas têm um lugar, e é nesse lugar que as devemos manter. Se queremos estudar física, antropologia, filosofia ou pedagogia é preciso estarmos muito atentos ao que pensamos e perguntarmos com frequencia: será uma crença ou será um dado objectivo?

Em todas as áreas do saber que exigem objectividade, mesmo aquelas que se afirmam robustas, as crenças rodam e, sempre que podem, insinuam-se como certezas (é esta a sua tendência). Há que ter uma permanente atenção a isso mesmo.

Lamentavelmente, na Educação, esse campo sem fronteiras, que tudo acolhe e onde tudo se mistura, as crenças têm um campo aberto e o seu estatuto é tal que reduz qualquer dado científico a cinzas. E, depois, há épocas em que uma ou duas são invariavelmente invocadas, aparecem em tudo quanto é discurso e documento... 

Confesso que cada vez tenho menos paciência para explicar que isso não é Pedagogia. Abro, no entanto, uma excepção para notar que duas delas, ligadas à criatividade e à crítica, voltaram em grande força com este afã que é (re)introdução dos computadores na escola. Agora é que vai ser: os meninos têm o conhecimento à mão, logo vá se lhe dizer que criem e que tenha uma atitude crítica.

Como se tal fosse simples... Não é: para se conseguir um desempenho criativo e crítico dos alunos em relação a um certo conhecimento ou conjunto de conhecimentos há um caminho a percorrer... Criatividade e crítica são capacidades de topo e não de partida. Evidentemente que devem ser trabalhadas desde o início da escolaridade, espera-se que se vão aperfeiçoando e consolidando, mas o processo requer técnica de ensino e não dispensa a aquisição e a compreensão de conhecimento relevante.

Melhor explicação do que a que eu possa dar, tem-na dado uma multiplicidade de autores, alguns deles portugueses, e desde há muito tempo, mas todo o esforço explicativo parece ser inglório... Ainda assim, transcrevo uma explicação muito clara dada por Amâncio da Costa Pinto.
O ensino deve estimular a criatividade e o espírito crítico. A aquisição e a acumulação de conhecimentos são irrelevantes. 
"Há nesta afirmação, uma crença subtil errada, veiculada por um grande número de educadores encartados, que é a seguinte: O espírito crítico e o espírito criativo podem surgir do nada, quase que por geração espontânea. Como criticar pare-ce fácil e não exige grande esforço, há quem proponha deambular peripateticamente como os sofistas na ágora de Atenas, pavoneando o espírito crítico sobre a realidade que nos rodeia. São à nossa moda os críticos de café. É altamente improvável - diria mesmo impossível - que uma pessoa sem conhecimentos de história possa formular hipóteses criativas, inovadoras e sérias sobre a compreensão de acontecimentos passados. E o mesmo se passa em qualquer outra ciência. Mesmo nas artes, é excepcionalmente possível que uma criança exprima o traço e a forma de um Picasso, mas não tem espírito crítico nem é criativa sobre o porquê das formas de pintar que usa, nem qual o seu enquadramento na evolução da arte de representar. Entretanto e para que não restem dúvidas, gostaria de precisar que um dos objectivos mais nobres do ensino é o desenvolvimento da criatividade e do espírito crítico. Mas este objectivo não se consegue sem uma massa de saber prévio, sob pena de se tornar desinteressante e inútil. O desenvolvimento da criatividade e do espírito crítico não pode ser um objectivo final, mas um objectivo a alcançar por etapas no âmbito dos conhecimentos a adquirir. Além do mais, a competência no saber, o espírito crítico e a criatividade são específicas de uma área do saber e desenvolvem-se fundamentalmente no âmbito dessas áreas. Dificilmente as competências críticas e criativas numa área se generalizam a outras áreas do saber, não porque falte competência crítica e criativa, mas antes porque falta conhecimento prévio." 
[Pinto, A. C. (1997). Pedagogia do esforço: Sete crenças educacionais em análise. Psicopedagogia, Educação e Cultura, 1 (2), pp. 357-363].

domingo, 23 de novembro de 2014

PSEUDOCIÊNCIA POR TODO O LADO



Terça-feira, 25 de Novembro, pelas 18h00, no espaço Rómulo Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra.



Sobre a palestra:
"Enquanto a ciência tiver credibilidade, haverá sempre quem queira vender as suas ideias, produtos e serviços, alegando que estes têm validade científica, sem que isso seja verdade. A pseudociência está por todo o lado e recorre a um conjunto de estratégias reconhecíveis, na tentativa de se validar. O uso abusivo de linguagem aparentemente científica e a evocação de figuras de autoridade (tais como especialistas e médicos), são as estratégias mais comuns da pseudociência. Mas a ciência não se baseia em nada disso, mas sim em provas, passíveis de confirmação. Há algumas ferramentas para ajudar a distinguir ciência de pseudociência, mas o único antídoto para a pseudociência é a cultura científica."

David Marçal


Esta palestra insere-se no ciclo "A Ciência no Dia-a-Dia" organizado por António Piedade.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

CINCO CRENÇAS FALSAS SOBRE O CÉREBRO

Artigo primeiramente publicado na imprensa regional.



Nas últimas duas décadas assistimos a enormes avanços na nossa compreensão sobre o funcionamento do cérebro. Este avanço nas neurociências deve-se muito à implementação de várias técnicas de imagiologia cerebral, que produziram um grande volume de informação sobre a complexidade do funcionamento neuronal e com um detalhe impressionante. Mas, apesar do avanço na compreensão do cérebro e da divulgação do conhecimento adquirido, várias crenças falsas sobre este órgão, cerne da nossa inteligência, persistem no imaginário colectivo. Vejamos algumas delas.

1. Só usamos 10% do nosso cérebro?
É talvez a crença mais comum sobre o cérebro, tendo tido origem no princípio do século passado e sido bastante divulgada em diversas obras de literatura pseudocientífica e também no cinema. Todos os dados neurocientíficos que hoje possuímos, principalmente aqueles oriundos da imagiologia cerebral, a contrariam e indicam que nenhuma zona do cérebro permanece totalmente inactiva, nem sequer enquanto dormimos. De facto, até hoje, ainda não foi encontrada uma zona do cérebro à qual não esteja associada uma dada função e actividade. Para além disso, hoje sabemos que mesmo as tarefas cerebrais aparentemente mais simples, embora possam envolver mais uma dada zona cerebral, mobilizam a actividade de inúmeras outras numa complexidade de interacções espantosas. Por outro lado, o cérebro é o órgão que mais energia consome para o seu funcionamento. Gastar tanta energia para que 90% do cérebro não fizesse nada é algo que não faz sentido do ponto de vista evolutivo.

2. Dois cérebros num só
Enraizou-se a ideia de que os dois hemisférios cerebrais têm funções totalmente distintas, sendo um, o direito, mais intuitivo e artístico, e o outro, o esquerdo, mais analítico e racional. O que as neurociências têm verificado é que os dois hemisférios estão em permanente interacção, diálogo, quer estejamos a resolver um problema matemático, quer estejamos a tocar piano, por exemplo. Mais, existem inúmeros casos em que traumatismos cerebrais que afectam um dos hemisférios levam a que funções das zonas afectadas sejam transferidas para o outro hemisfério. Há pois uma grande plasticidade cerebral, uma grande conectividade e interacção entre os dois hemisférios, pelo que os dois estarão sempre de alguma forma activos independentemente da actividade em questão.

3. O tamanho do cérebro determina a inteligência
Para além da questão sobre o que é que consideramos ser a inteligência, está a crença de que somos tanto mais inteligentes quanto maior for o tamanho do nosso cérebro. A biologia mostra que existem muitos animais com cérebros maiores do que os dos seres humanos e que mais do que o tamanho per si, deve ser considerado a relação entre a massa cerebral e a massa total do corpo. E mesmo nessa relação os seres humanos não estão no topo. O que as neurociências têm demonstrado é que mais importante do que o tamanho, a quantidade e complexidade de ligações (sinapses) entre os neurónios (células do cérebro) é o que pode determinar sermos mais ou menos inteligentes. E, para além da genética que determina o tamanho, a complexidade daquelas interacções é condicionada pela aprendizagem e experiência de cada um de nós, independentemente da massa cerebral.

4. O cérebro está inactivo enquanto dormimos
O cérebro nunca descansa. A monitorização da actividade cerebral, por electroencefalogramas e pelas mais modernas imagiologias cerebrais, mostra que o cérebro está activo durante o sono. Aliás, sabemos hoje que o sono é extremamente importante para a manutenção da qualidade das ligações entre as células nervosas. Foi descoberto recentemente que durante o sono ocorrem processos de limpeza do espaço interneuronal, através de uma maior circulação do líquido encefalorraquidiano, o que promove a eliminação dos detritos resultantes da actividade em vigília. Para além disso, verifica-se que a consolidação das memórias ocorre mais intensamente durante o sono. Assim, enquanto dormimos o cérebro trata de arrumar a casa e preparar-se para o dia seguinte.

5. Cérebro masculino e cérebro feminino
É um assunto muito vulgar atribuir ao cérebro capacidades diferentes consoante o sexo. Contudo, e apesar das diferenças anatómicas e hormonais que distinguem o homem da mulher, não se encontrou até hoje nenhuma diferença distintiva na fisiologia e metabolismo do cérebro nos dois sexos. Há uma ligeira diferença de tamanhos mas, como já se disse, o tamanho não implica imediatamente uma função diferente. Contudo, devemos dizer que os neurocientistas estão apenas agora a começar a compreender como é que a complexa actividade neuronal dá origem aos fenómenos psicológicos que determinam a nossa inteligência e personalidade. Mas a diferença do corpo consoante o sexo não encontra imediata diferença no cérebro que fundamente a adjectivação de género.


António Piedade

terça-feira, 22 de abril de 2014

NÃO ESPALHE ESTA MENSAGEM

Excelente artigo, do jornalista Ricardo Nabais na última edição do Sol, para o qual prestei algumas declarações.




Imagine que recebe o seguinte email: «Laranja (ou Vitamina C) + Marisco, Nunca! (veneno fatal produzido no organismo…)». O que faz? a) interrompe tudo o que está a fazer e vai até à marisqueira mais próxima; b) comparece nas urgências do hospital mais próximo, em agonia, a pedir uma lavagem ao estômago; c) vai imediatamente a um notário lavrar o seu testamento.

Se escolheu as respostas b) e c) e reencaminhou o email para a maior parte dos seus amigos e conhecidos, em pânico, pode fundar uma nova igreja, pois acredita em tudo. Se os seus amigos e conhecidos tiverem a mesma reacção, parabéns, a sua igreja terá muitos seguidores.

Mas se escolheu a opção a) está no bom caminho. Será só ao paladar que laranja e marisco não combinam. De resto, ninguém encontrou uma relação tóxica ou perversa entre os dois ingredientes. E a saúde pública – felizmente – não faz os seus alertas assim, de email em email, propagando pânico sem fundamentação. 

Se, ainda assim, acredita nesta tese, basta ler as primeiras linhas daquela mensagem –  «Em Taiwan, uma mulher morreu de repente com sinais de hemorragia em seus ouvidos, nariz, boca e olhos. Depois de uma autópsia preliminar, foi diagnosticado como ‘causa mortis’ envenenamento por arsénico. Mas qual foi a origem do arsénico?». 

HENRIQUE RAPOSO E A NEGAÇÃO DO AQUECIMENTO GLOBAL

Como a ignorância aliada à arrogância vai desembocar na negação do aquecimento global. Gostava de dizer que este texto do Henrique Raposo me surpreende. Mas não. Pelo menos dá para pôr em perspectiva os seus outros textos. Afinal, se escreve isto sobre um assunto acerca do qual existe um consenso científico avassalador, podemos inferir a seriedade com que fundamenta as suas habituais opiniões políticas. 

Henrique Raposo, face ao trabalho voluntário de centenas de cientistas de todo o mundo que revêem todo a ciência publicada acerca de alterações climáticas, num processo transparente e sujeito a revisão pelos pares, o que tem para contrapor? Histórias sobre erupções vulcânicas na Idade Média e considerações chico-espertas, como esta:
se o "homem industrial" é o responsável pelas mudanças climáticas, por que razão o clima mudou tanto antes do advento da revolução industrial?
Vamos rever: Henrique Raposo pensa que é visionário e que viu o que os cientistas climáticas não foram capazes de vislumbrar nos dados das amostras de gelo com 800 mil anos à frente dos seus narizes: que o clima tem uma variabilidade natural. Brilhante. Não tínhamos pensado nisso. Boa. Obrigado. Será que Henrique Raposo não compreende que, apesar do variabilidade natural do clima, as actividades humanas provocaram mudanças que não são devidas a essa variabilidade natural? Henrique Raposo pensa, seriamente, que os cientistas não pensaram nisso? Estavam distraídos a olhar para um panda gigante a jogar à macaca com um koala?

Henrique Raposo comete ainda um erro primário de lógica. Que é mais ou menos assim: se as laranjas são frutos, então como podemos ter fruta sem laranjeiras? Raposo infere que para a actual ciência climática ser válida, toda a variabilidade do clima tem que ser devida à actividade humana. E isso é uma falácia. O clima tem variabilidade natural e, para além disso, há as alterações causadas pelo homem. As laranjas são frutos, mas também há pêras e maçãs.

O consenso científico acerca das alterações climáticas é avassalador. A historiadora de ciência Naomi Oreskes, fez uma análise de todos os artigos científicos publicados entre 1993 e 2003 e chegou à conclusão que nenhum (vou repetir: NENHUM) contrariava a ideia de que o clima está a ser alterado por causa das actividades humanas. 
Desde então, o mesmo têm mostrado os sucessivos relatórios do Painel Internacional das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, nomeadamente o quinto relatório, publicado este ano. A posição de Henrique Raposo é a velha corrente TTB (Tá Tudo bem). Podemos continuar a passear nos nossos carros a gasóleo com mais de uma tonelada, a comer toda a carne de vaca que conseguirmos (o metano dos intestinos das vacas também é um gás de efeito de estufa). Não é preciso mudar nada, Tá Tudo Bem, os cientistas são parvos.

Claro que Raposo também pode supor, e aparentemente é o que faz, que há uma conspiração dos poderosos ecologistas contra as indefesas companhias petrolíferas, no sentido de falsificar o conhecimento acerca de alterações climáticas.

Mais uma vez, nada que surpreenda.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

NEM MAIS UM CÊNTIMO PARA ESTUDOS QUE MOSTRAM QUE A HOMEOPATIA NÃO FUNCIONA


Foi feito mais um estudo, desta vez na Austrália, que concluiu que a homeopatia não funciona. Francamente, já não percebo porque se contínua a perder tempo e dinheiro para mostrar que a homeopatia não funciona. Os remédios homeopáticos são placebos. O físico francês Jean Baptiste Perrin (na imagem) calculou a constante de Avogadro no início do século XX e demonstrou que a homeopatia não funciona. A constante de Avogadro permite saber qual é o número de moléculas ou átomos que existem numa determinada quantidade de matéria, e graças a ela sabemos que nada resta da substância original após as enormes diluições dos preparados homeopáticos. Para convencer os inconvencíveis nunca haverá estudos suficientes, pelo que o melhor é deixar de os fazer. Ou será que também são precisos mais estudos para demonstrar que a Terra anda à volta do Sol?

segunda-feira, 7 de abril de 2014

INACREDITÁVEL RESPOSTA DO DIRECTOR DE INFORMAÇÃO DA RTP SOBRE OCULTISMO NO TELEJORNAL


Da Acta do Conselho de Redacção da RTP de 2 de Abril: 
"CONJUNTO DE REPORTAGENS “ACREDITAR”
O Conselho de Redação questionou o Director de Informação (DI) acerca do conjunto de reportagens transmitidas no Telejornal sob o título “ACREDITAR”, que abordaram estórias vulgarmente designadas como esotéricas, sublinhando a necessidade de existir contraditório em relação às realidades retratadas nas peças. O DI considerou não existirem nem poderem existir  “temas tabu” na RTP e transmitiu ser seu entendimento que as reportagens “ACREDITAR” não careciam de contraditório. O DI reconheceu no entanto, que nalguns casos poderá ter “faltado algum enquadramento” nos pivot’s de lançamento das peças.
A iniciativa do Conselho de Redacção é louvável e mostra que a classe jornalística se importa, e tem que importar, com a qualidade do jornalismo. No dia em que deixar de o fazer, os jornalistas tornar-se-ão dispensáveis. A resposta do Director de Informação é inacreditável. Mais do que necessidade de contraditório, as peças tinham a obrigação de esclarecer os "temas tabu", coisa que não fizeram, antes pelo contrário.

Preocupante também é ausência de resposta do Provedor do Telespectador, às inúmeras queixas que recebeu a propósito deste assunto, nomeadamente à minha.

Francamente não me importa nada que a Direcção de Informação da RTP vá aos fins de semana à noite para a Serra de Sintra esventrar galinhas pretas. Mas que use o meu dinheiro, pago através da minha conta da electricidade, para promover o ocultismo, não posso concordar.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Não vacinar os filhos, uma moda que põe todos em perigo

Excelente texto de Daniel Oliveira sobre a perigosa moda dos movimentos anti-vacinas:

"Enquanto, por esse mundo miserável milhões de humanos lutam desesperadamente por não morrer de doenças banais, muitos europeus e norte-americanos surfam numa onda "New Age", feita de mitos e de teorias pseudocientíficas, onde a convicção vale o mesmo que a ciência. Mas não vale."
Ler mais aqui: http://expresso.sapo.pt/nao-vacinar-os-filhos-uma-moda-que-poe-todos-em-perigo=f863708#ixzz2xoTUHLVv

terça-feira, 1 de abril de 2014

PRÉMIO UNICÓRNIO VOADOR 2013


Já são conhecidos os vencedores do Prémio Unicórnio Voador 2013, criado pela Comunidade Céptica Portuguesa, e que visam reconhecer aqueles que mais se destacaram na pseudociência no último ano, em três categorias:

Grafonola – Portugal Mundial - Um site alternativo de notícias com uma singular “aproximação quântica à informação”. A maioria dos artigos são reciclados de sites estrangeiros cuja qualidade da informação é no mínimo duvidosa e, até as histórias mais inócuas são prontamente inseridas numa narrativa conspiratória.

Estrela Cadente – A equipa das manhãs na rádio Comercial - Que deu voz à publicidade do medicamento homeopático Oscillococcinum. Um medicamento antigripal inteiramente legal à luz da lei portuguesa, mas completamente inacreditável à luz da ciência. Se um extracto de fígado e coração de pato parece ser um tratamento estranho para a gripe, ainda mais estranho se torna quando este é diluído até à não existência.

O Rei Vai Nu – A Assembleia da República Portuguesa – Que aprovou a Lei n.º 71/2013 que exige que “os profissionais das terapêuticas não convencionais não podem alegar falsamente que os atos que praticam são capazes de curar doenças, disfunções e malformações” e, ao mesmo tempo, reconhece a “autonomia técnica e deontológica no exercício profissional” de terapêuticas para as quais não existem provas científicas de qualidade que suportem uma boa parte das alegações de saúde produzidas.

Parabéns aos vencedores e votos de descontinuação do péssimo trabalho.

segunda-feira, 31 de março de 2014

CRENDICES NO TELEJORNAL DA RTP

Crónica publicada primeiramente em vários jornais regionais.



Vivemos numa sociedade científica e tecnológica. Por isso, o conhecimento científico deve estar acessível a todos para garantir uma melhor cidadania em democracia. De facto, o convívio com o pensamento científico desenvolve uma atitude crítica, uma opinião própria mais esclarecida e fundada na verdade dos factos.

A ciência permite aceder a um melhor conhecimento do mundo em que vivemos, permite erradicar as superstições, os obscurantismos e as crendices. Estas últimas sempre foram usadas por charlatões para enganar falaciosamente os outros, num aproveitamento vigarista da ignorância.

Os meios de comunicação social são veículos muito importantes para a comunicação do conhecimento científico. São uma ponte fundamental entre os cientistas e o público em geral. Contudo, verifica-se que o espaço por eles dedicado a assuntos científicos e tecnológicos é muito insuficiente tendo em conta o papel que a ciência e a tecnologia ocupam no nosso dia-a-dia.

Um caso melhor estudado é o da televisão. Segundo o relatório “Ciência no Ecrã”, realizado pela Entidade Reguladora da Comunicação Social e pelo Instituto Gulbenkian da Ciência, apenas 0,8% do tempo dos telejornais em horário nobre é dedicado à ciência, sendo que a duração média das peças de ciência no telejornal da RTP, por exemplo, é de cerca de três minutos.

Recorde-se que a televisão pública é financiada por todos os consumidores de electricidade em Portugal (através da contribuição audiovisual), incluindo os cegos e os surdos, para além das transferências do Orçamento de Estado, pelo que devemos ter, no mínimo, uma atitude de exigência de qualidade e seriedade no serviço público prestado. 

Acontece que a televisão pública decidiu recentemente incluir no Telejornal das oito, não uma rúbrica de ciência, mas um espaço relativamente destacado para divulgar crendices e pseudociências (ou seja, actividades que, apesar de aludirem a uma pretensa base científica, de ciência não têm nada).

Em cinco rúbricas emitidas a televisão pública gastou 34 minutos e 39 segundos do Telejornal a fazer publicidade enganosa a produtos e serviços milagrosos. Como bem sintetizou o comunicador de ciência David Marçal (aqui e aqui), o Telejornal da RTP deu tempo de antena a: um especialista em "medicina popular" que afirma fazer diagnósticos médicos medindo, aos palmos, a roupa dos pacientes; «a um "endireita" que diz ter um "dom" que "herdou do pai", que trata "males dos ossos e dos nervos de uma forma que não tem explicação", mas que terá demonstrado, com um galo, a validade do seu tratamento em tribunal; a uma cartomante que diz acertar em 90% das vezes; a uma fitoterapeuta que afirma fazer diagnósticos de doenças graves através da leitura da íris, e que diz tratar o cancro de uma paciente com uma raiz que "tem a forma do corpo humano" e conclui dizendo que "a quântica pode determinar a data da morte do ser humano"; a um médium que afirma "incorporar" os espíritos "de quem partiu, geralmente santos" para curar diversos males».

Estas rúbricas, que a RTP apresenta com o título enganoso “acreditar” (nada do que é apresentado é credível!), são autênticas publicidades enganosas a actividades nada verosímeis, para além do que são apresentadas sem qualquer contraditório. Num serviço de natureza jornalística a televisão pública dá tempo de antena a um conjunto de aldrabices. Isto não é serviço público. Serviço público seria contribuir para desmistificar aquelas crenças.

Como comunicador de ciência, o mínimo que se me impõe é o de avisar o leitor para esta situação escandalosa. Não se deixe enganar e exija seriedade e profissionalismo jornalístico na televisão pública.


António Piedade

sexta-feira, 28 de março de 2014

Jornalismo oculto no Telejornal da RTP

Meu artigo de opinião, no PÚBLICO de hoje:

Segundo o relatório Ciência no Ecrã, da autoria da Entidade Reguladora da Comunicação e do Instituto Gulbenkian de Ciência, apenas 0,8% do tempo dos telejornais em horário nobre é dedicado à ciência, a duração média das peças de ciência no Telejornal da RTP é de três minutos e vinte e quatro segundos e 92% destas têm menos de cinco minutos. No entanto, a televisão pública achou por bem criar um espaço cativo para a pseudociência em horário nobre, a que chamou Acreditar.

No dia 17 de Março, a RTP usou sete minutos do Telejornal para fazer publicidade a um especialista em "medicina popular" que afirma fazer diagnósticos médicos medindo, aos palmos, a roupa dos pacientes. No dia 18, concedeu mais sete minutos de tempo de antena a um "endireita" que diz ter um "dom" que "herdou do pai", que trata "males dos ossos e dos nervos de uma forma que não tem explicação", mas que terá demonstrado, com um galo, a validade do seu tratamento em tribunal. No dia 19, mais seis minutos e 15 segundos no horário mais nobre da televisão pública foram dedicados a uma cartomante que diz acertar em 90% das vezes. No dia 20, mais sete minutos e 24 segundos de publicidade a uma fitoterapeuta que afirma fazer diagnósticos de doenças graves através da leitura da íris, diz tratar o cancro de uma paciente com uma raiz que "tem a forma do corpo humano" e conclui dizendo que "a quântica pode determinar a data da morte do ser humano". No dia 21 de Março, mais sete minutos de horário nobre para promover um médium que afirma "incorporar" os espíritos "de quem partiu, geralmente santos". Em cinco dias, a televisão pública usou 34 minutos e 39 segundos do Telejornal para fazer publicidade a produtos e serviços milagrosos. Isto não é serviço público. Serviço público seria contribuir para desmistificar estas crenças.


A RTP poderia fazer reportagens sobre estes assuntos. Poderia ouvir os curandeiros e recolher testemunhos de clientes satisfeitos. Mas teria que apresentar também um contraponto racional, referindo o conhecimento científico acerca do assunto, recolher também testemunhos de clientes insatisfeitos (ou será que não os há?). A televisão pública portuguesa não poderia simplesmente assumir-se como um magafone acrítico dos curandeiros e cartomantes. Porque isso não é jornalismo. É publicidade enganosa. Seria grave em qualquer contexto. Mas na RTP, que recebe dinheiro de todos os consumidores de electricidade em Portugal, incluindo dos cegos, para fazer serviço público, é inadmissível. É extraordinário que, não tendo a ciência uma presença regular no Telejornal, esse espaço seja dado à pseudociência. Não sei o que se passa pela cabeça dos responsáveis pela informação na RTP. Nem que concepção delirante de serviço público justifica esta opção. Mas isto é uma iniciativa (deliberada ou inadvertida) que contribui para acabar com a ideia de serviço público de televisão.

sexta-feira, 21 de março de 2014

ACREDITAR EM ALDRABICES NA RTP

Aparentemente a RTP resolveu usar o dinheiro que os contribuintes lhe pagam através da contribuição audiovisual e das transferências do Orçamento de Estado, para criar uma secção regular de aldrabices no telejornal das oito, a que chamou "acreditar". 

É extraordinário que, não tendo a ciência um espaço cativo no telejornal, essa espaço tenha sido dado à pseudociência.

- No dia 17 de Março a estação pública de televisão resolveu usar 7 minutos do telejornal (a partir do minutos 12) para fazer publicidade a um especialista em "medicina popular", que afirma fazer diagnósticos médicos medindo, aos palmos, a roupa dos pacientes.

- No dia 19 de Março, foram dados 6 minutos e 15 segundos no horário mais nobre da televisão pública a uma cartomante, que diz acertar em 90% das vezes.

- Ainda o espectador não estava recomposto de tantos disparates, quando no dia seguinte a televisão pública resolve dar mais 7 minutos e 24 segundos de publicidade a uma fitoterapêuta que afirma fazer diagnósticos de doenças graves através da leitura da íris, dizendo que "os olhos são o espelho da alma", lugar comum que não significa absolutamente nada. Mais grave ainda, afirmou tratar o cancro de uma paciente com a raiz de uma planta de origem coreana, cuja raiz "tem a forma do corpo humano". E conclui dizendo que "a quântica pode determinar a data da morte do ser humano".


A ciência ocupa 0,8% do tempo dos telejornais em horário nobre, a duração média das peças de ciência no telejornal da RTP é de três minutos e vinte e quatro segundos e 92% delas têm menos de 5 minutos. Mas, em quatro dias, a televisão pública gastou 20 minutos e 39 segundos a fazer publicidade enganosa a produtos e serviços milagrosos. 

Segundo o  Decreto-Lei n.º 57/2008 de 26 de Março de 2008 que regula o Regime das Práticas Comerciais Desleais, é considerada uma acção enganosa:

Artigo 7.º – Acções enganosas
1 – É enganosa a prática comercial que contenha informações falsas ou que, mesmo sendo factualmente correctas, por qualquer razão, nomeadamente a sua apresentação geral, induza ou seja susceptível de induzir em erro o consumidor em relação a um ou mais dos elementos a seguir enumerados e que, em ambos os casos, conduz ou é susceptível de conduzir o consumidor a tomar uma decisão de transacção que este não teria tomado de outro modo:
(...)
b) As características principais do bem ou serviço, tais como a sua disponibilidade, as suas vantagens, os riscos que apresenta, a sua execução, a sua composição, os seus acessórios, a prestação de assistência pós-venda e o tratamento das reclamações, o modo e a data de fabrico ou de fornecimento, a entrega, a adequação ao fim a que se destina e as garantias de conformidade, as utilizações, a quantidade, as especificações, a origem geográfica ou comercial ou os resultados que podem ser esperados da sua utilização, ou os resultados e as características substanciais dos testes ou controlos efectuados ao bem ou serviço;
(...)
Os bens ou serviços publicitados em todas estas peças da RTP constituem acções enganosas. E a televisão pública acha por bem publicitá-los gratuitamente em horário nobre. Isto não é serviço público. Serviço público seria contribuir para desmistificar estes enganos. Poderia fazer reportagens sobre o assunto. Poderia ouvir os curandeiros. Mas teria que ter sempre um contraponto racional, apresentar o conhecimento científico acerca desta assunto, e não ser um magafone acrítico dos curandeiros e cartomantes. Assim, não é jornalismo. É publicidade enganosa paga com o dinheiro dos consumidores de electricidade portugueses.

Não sei que que se passa pela cabeça da RTP. Nem que concepção delirante de serviço público o justifica. Isto é uma acção (deliberada ou inadvertida) que contribui para acabar com o serviço público de televisão.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

CRÍTICA A “SER ESPIRITUAL” DE LUÍS PORTELA

A Editora Gradiva publicou em Junho de 2013 o livro “Ser Espiritual – da evidência à ciência” do médico Luís Portela.

Como sugere e pede Luís Portela ao leitor na sua introdução ao livro, a minha leitura foi iniciada sem preconceitos e com a maior e possível imparcialidade, com a maior abertura de espírito para descobrir conhecimento novo, mantendo, contudo e como faço habitualmente, um espírito crítico contextualizado na minha cultura e formação científica.

Partilho com o eventual leitor que a leitura progrediu sobressaltada por contradições entre capítulos, pelo espanto de encontrar uma mistura de temas que poderiam pertencer a livros de áreas distintas: história da ciência; espiritismo; guia espiritual e moral, entre outros.

Na minha humilde opinião, esta mistura de assuntos sem real relação causal entre si tornam a leitura deste livro confusa, e potencialmente causadora de mal-entendidos, para além de abrir as portas às pseudociências.

Felizmente existe em Portugal e na mesma editora Gradiva uma excelente e prestigiada colecção de boa divulgação científica dirigida ao público em geral, a “Ciência Aberta”, que nos seus mais de 200 títulos inclui dezenas de livros que desmascaram de forma convincente as falsas ciências ou pseudociências que são virais ao longo da história da humanidade e que Luís Portela acredita e divulga neste seu livro.

Coisa interessante é que Luís Portela consegue escrever um livro que aparenta ser a favor do conhecimento científico e da importância que a ciência tem no desenvolvimento de uma humanidade mais livre. O problema é que o leitor menos atento pode iludir-se com a tentativa de Luís Portela em afirmar que algumas teorias, utopias e imaginações são passíveis de serem verificadas e validadas através do método científico. Mas ao mesmo tempo Luís Portela afirma que “embora não demonstradas científicamente, estas conjecturas [vidas passadas e futuras, por exemplo] fazem sentido”. O problema é que o “sentido” e as realidades mentais em que Luís Portela é livre de acreditar não são passíveis de serem verificadas, ou sequer experimentadas, pela ciência moderna. A ciência moderna tem como objecto de estudo o que é e não o que nós queremos, acreditamos ou desejamos que deva ser!

Apesar da abertura de espírito que o autor requere para uma mais proveitosa leitura deste livro, é no mínimo espantoso o facto de o médico e psicofisiologista de formação se esquecer de mencionar factos científicos que a biologia e as neurociências modernas têm disponibilizado a todos para explicar um sem número de ilusões neuronais e fisiológicas. Fenómenos que durante séculos foram domínio do desconhecido recheado de medos, das crenças baseadas em explicações erradas do funcionamento do corpo humano e das leis da natureza.

Este é o oitavo livro de Luís Portela. Conhecido pela empresa familiar que dirigiu, presidiu e de que hoje é chairman, Bial, a principal indústria farmacêutica portuguesa, Luís Portela publicou o seu primeiro livro “O Prazer de Ser”, pela Edições ASA, em Março de 2008. Este reúne diversos textos em que o autor expressa a sua experiência humana.

Enquanto presidente da companhia farmacêutica Bial, saliente-se o desenvolvimento e produção do que foi considerado o primeiro medicamento português: o Zebinix. Sendo um fármaco dirigido ao tratamento de doentes com distintas epilepsias, foi aprovado pela FDA norte-americana para ser comercializado neste país. Hoje em dia está comercializado em muitos outros países, constituindo um sucesso incontornável na história da indústria farmacêutica e das ciências da saúde portuguesas. Refira-se que o desenvolvimento deste fármaco envolveu dezenas de investigadores de várias universidades e de várias especialidades científicas durante mais de uma década. Luís Portela teve assim oportunidade de dirigir e viver a produção de conhecimento científico de excelência, publicado em revistas científicas da especialidade com revisão pelos pares, com resultados científicos reprodutíveis, validados e aceites pela comunidade científica internacional relacionada com a interdisciplinaridade que envolve as doenças epilépticas (o plural indica a variabilidade da perturbação neuronal).

Esta referência ao conhecimento e proximidade de excelência de Luís Portela com o método experimental científico moderno e com aquilo que ele implica de liberdade, probidade e honestidade intelectual, à universalidade da verificação da realidade factual, permite compreender a tentação do autor do livro “Ser Espiritual” em querer validar cientificamente uma realidade em que ele acredita. Luís Portela conhece bem o que é e como se faz ciência de excelência. Mas para as crenças, legítimas de autor, ainda não há qualquer consenso de que possam sequer ser alvo de experimentação pelo método científico, como já se disse. Estou a referir-me concretamente aos casos da reincarnação, da telepatia, da psicocinese, da vida para além da morte entre outros aspectos de uma realidade muito espírita que Luís Portela defende, legítima e livremente, existir. Acredita que existe e quer que essa existência seja demonstrada e verificada cientificamente. O problema, e tal como o próprio autor refere, contradizendo-se, é que todas as tentativas para as provar experimentalmente não produziram resultados reprodutíveis e credíveis.

De facto deve ser difícil provar cientificamente que uma galinha dobre objectos com a força do seu pensamento, como refere Luís Portela na página 89! O que é isto senão a mais ingénua pseudociência. Ou então a possibilidade de gravar vozes e imagens de pessoas que já morreram! Gravações que, por aquilo que afirma Luís Portela, são muito famosas e credíveis, feitas através de uma “transcomunicação instrumental” entre realidades distintas! Isto está mais próximo do melhor ilusionismo espírita do que da má ciência.

Neste livro Luís Portela indica e cita vários estudos efectuados em diversas universidades internacionais sobre estes assuntos e refere o envolvimento de investigadores que tentaram estudá-los cientificamente. Contudo os resultados divulgados não são reprodutíveis, como o próprio Luís Portela afirma e conclui em alguns capítulos.

O autor parte mais de uma vez do conhecimento e da história da ciência para dela tentar contextualizar e fundamentar as realidades em que acredita. É o caso da teoria física das “supercordas” (página 23 e seguintes) à qual o autor recorre para tentar sincronizar as vibrações das cordas, partículas lineares fundamentais e constituintes de todo o Universo, com as “vibrações do pensamento humano” emanado e em sintonia com uma Harmonia Universal. O que Luís Portela não diz é que a Teoria das Cordas ainda não encontrou demonstração experimental científica. É uma teoria física ainda “à espera” de ser confirmada cientificamente.

Outro exemplo de pseudociência no livro “Ser Espiritual” é o da extrapolação descontextualizada de conhecimento científico para explicar vários aspectos espíritas como são os casos da existência da alma e o da “força do pensamento humano”. O autor considera que esta é uma força que tem a mesma validade de qualquer uma das outras quatro forças físicas, como seja a da gravidade. Considerando o pensamento humano como uma força, Luis Portela aplica-lhe a 3ª lei da mecânica Newtoniana, geralmente conhecida por lei da acção – reacção (que diz que para toda e qualquer acção há sempre uma reacção oposta e de igual intensidade), e uma certa “lei da causa e do efeito” (página 31), para assim fundamentar a existência da telepatia e da influência que podemos ter uns sobre os outros através da transmissão de pensamentos positivos e negativos. E isto ocorre à velocidade do pensamento, velocidade essa que Luís Portela não diz qual é!

Confrontado com o cepticismo e desinteresse da comunidade científica internacional sobre estes assuntos, o autor repete várias vezes um apelo para que esta considere efectuar mais investigação científica nos domínios da parapsicologia. Isto porque a que foi e tem sido feita não tem obtido resultados reprodutíveis, não são credíveis, e são de difícil validação científica. Uma vez que a ciência moderna e o seu método científico não se adequam aos objectos de estudo da parapsicologia, Luís Portela desafia a comunidade científica a mudar de paradigma, a mudar de metodologia (páginas 46, 49 e 114, por exemplo).

Um facto real é o de que este novo livro de Luís Portela é centralmente sobre espiritismo, dedicando-lhe vários capítulos com seja o intitulado “Corpo anímico”. Isto, apesar de noutros capítulos, diga-se em abono da verdade, serem dele libertos e dedicados a uma exposição, sugestões, indicações do autor, fruto da sua intensa e rica experiência pessoal, sobre a melhor conduta humana, sobre a defesa do ser sobre o ter, sobre a necessidade da aproximação do Homem a uma sensibilidade espiritual que estará actualmente muito deficitária, principalmente no mundo ocidental e desenvolvido, exactamente naquele em que a ciência moderna se desenvolveu.

Este livro não é um livro anticiência. Aliás, reconhecendo a importância da ciência moderna para o desenvolvimento livre e democrático das sociedades humanas, faz, como disse, um apelo a um maior envolvimento da comunidade científica aos assuntos ditos paranormais e mediúnicos, espíritas. Contudo, Luís Portela, com um discurso científico presente em momentos chave do livro, põe ao mesmo nível do conhecimento científico as inverdades divulgadas pelas pseudociências. E é também por isso que este livro pode iludir o leitor menos informado, confundindo-o com relações que nada têm de científicas.

O leitor, assim como o autor, são livres de acreditar nas suas crenças, mas é importante denunciar mais um livro que vem alimentar o rio secular das pseudociências.



António Piedade

segunda-feira, 8 de julho de 2013

LER +, LER MELHOR: PIPOCAS COM TELEMÓVEL

Edição do programa da RTP Ler+, Ler Melhor acerca do livro Pipocas com Telemóvel e Outras Histórias de Falsa Ciência, da autoria de David Marçal e Carlos Fiolhais.

Para ver aqui.

terça-feira, 25 de junho de 2013

PSEUDOCIÊNCIA HOJE

Está, desde ontem, com grande destaque no sítio Ciência Hoje um texto acerca de intolerâncias alimentares. Não é uma notícia (não cruza fontes, não tem actualidade, não é objectiva) e também não está claramente identificado como opinião. Considerando que a autora, Paula Henriques, “especialista em nutrição” e responsável de uma clínica que oferece o serviço que é o tema do artigo, somos levados a concluir que é publicidade. Um verdadeiro “product placement” no meio dos artigos do Ciência Hoje.

O texto apregoa os benefícios de um inovador teste (a inovação tem costas largas) que alegadamente permite detectar intolerâncias alimentares. Esta detecção é feita através da colocação de dois eléctrodos nas pontas dos dedos e é designada por biorressonância:
“Esta é uma inovadora técnica através de bioressonância. São enviados estímulos ao cérebro através de dois meridianos ou terminais nervosos situados na ponta de dois dedos e na consequente quantificação da energia de cada alimento, também chamada de frequência vibracional. A análise é repetida da mesma forma, até serem “visitados” os 32 grupos de diagnóstico que englobam os 520 alimentos testados.”
Não há outra maneira de o dizer: isto não significa absolutamente nada. A energia de cada alimento é a contida nas suas ligações químicas, ou seja nos electrões que ligam os vários átomos entre si. É a quebra dessas ligações químicas e a transferência dos respectivos electrões para o oxigénio que permite às células obterem energia para os seus processos. Mas nada disto tem alguma coisa a ver com intolerâncias alimentares. Um electrão é um electrão! Quanto à frequência vibracional também não é para aqui chamada. É verdade que as moléculas podem vibrar se forem sujeitas a radiação de uma determinada frequência. Por exemplo, a molécula de dióxido de carbono vibra quando é irradiada com raios infra-vermelhos de uma determinada frequência. E isso permite quantificar o dióxido de carbono na atmosfera. É até verdade que poderíamos identificar, através de espectroscopia de infra-vermelhos, alguns tipos de alimentos, como por exemplo o álcool ou o vinagre. Agora, frequência vibracional de alimentos, medida na ponta dos dedos, que vai ao cérebro através de meridianos (o que é isso?) não significa absolutamente nada. É simplesmente jargão científico usado para fazer parecer ciência uma coisa que nada tem de científico. Mas, para nos convencer mesmo que a coisa é mesmo séria, até nem falta um gráfico com os resultados de um “teste”:


Como é que sabemos que isto nada tem de científico? Quais são as características da ciência? A ciência assenta nas provas. E quando há provas, demonstrações de que um determinado método de diagnóstico é valido, elas são publicadas em revistas científicas. Outros grupos de investigação podem repetir as experiências e confirmar ou não os resultados obtidos. Tudo isto pode ter falhas, mas se são encontrados erros, corrigem-se. Só depois deste processo é que podemos ter confiança num determinado método de diagnóstico. Que provas a autora do texto do Ciência Hoje apresenta em abono da validação do teste? Artigos científicos publicados de demonstração da validade do método, que se possam encontrar em bases de dados da literatura médica, como o PubMed? Nenhuns. O que apresenta em vez disso? O habitual da pseudociência: argumentos de autoridade.

O primeiro argumento de autoridade é a identificação da própria autora como “especialista em nutrição”. É natural que em determinados contextos as pessoas se apresentem com a sua designação profissional. Como, “olá, eu sou o João e sou pescador”. Já “olá, eu sou o João e sou especialista em pesca” é mais suspeito, já que a designação “especialista” contem em si uma força de autoridade que vai muito para além da mera identificação de actividade profissional ou área de formação. Outra designação deste tipo, muito na moda, é “guru”. Mas estas denominações de autoridade não bastam para validar cientificamente o que se diz. Aliás, não só não bastam como são absolutamente irrelevantes.

A ciência não assenta em figuras de autoridade. Assenta em provas. É uma marca da falsa ciência evocar figuras de autoridade, tais como cientistas da NASA, especialistas ou gurus, em vez de provas. Neste caso, tal como em muitos outros, a figura de autoridade é reforçada pela utilização de linguagem com uma aparente sofisticação científica que, como já vimos, não significa nada. Mas o que seria desta aparente sofisticação científica sem um bonito gráfico? Fazer um gráfico é fácil. Eu por exemplo, apliquei a técnica de biorresonância à detecção de aldrabices pseudo-científicas. Um resultado típico de banha da cobra segue em baixo:
À volta disto, das figuras de autoridade e de linguagem aparentemente científica, podem-se formar grandes comunidades de pessoas que agem como se isto tudo fizesse sentido, o que também serve de argumento de autoridade. Podem-se organizar conferências, encontros, formações, passar certificados e ganhar dinheiro à volta do sexo dos anjos. Nunca faltam testemunhos de clientes satisfeitos e de pessoas a quem a descoberta desta nova coisa mudou a vida. Só que testemunhos, por si só, de nada adiantam. Do ponto de vista científico, para demonstrar a validade de um tratamento ou de um método de diagnóstico, é necessário realizar experiências em condições controladas e que elas sejam confirmadas por grupos independentes. Sem isto, podemos ter o circo que se quiser, que não torna o tratamento ou método de diagnóstico válido.

Infelizmente os testes para detectarem intolerâncias alimentares são um pouco mais complicados do que dois eléctrodos na ponta dos dedos. Normalmente são necessárias análises do sangue para detectar a presença de quantidades anormais de determinadas imunoglobulinas ou testes genéticos para estudar os genes relacionados com intolerâncias alimentares habituais. 

No final do texto, é apresentada uma ligação para uma clínica que comercializa o teste de biorressonância, de cuja equipa a autora faz parte. Se dúvidas havia de que se trata de um texto publicitário, ficam esclarecidas.

Segundo o seu estatuto editorial o “CIÊNCIA HOJE é uma publicação on-line que visa oferecer uma informação completa sobre toda a actividade científica desenvolvida em Portugal e no estrangeiro. Pretende ser um meio de contribuir para a cultura científica nacional, divulgando a investigação de qualidade que se produz no País.”

Este texto não faz nada disso. Promove a ignorância e o obscurantismo e não há nenhum principio de pluralidade jornalística que o justifique. Aliás, do ponto vista jornalístico também falha em toda a linha. Publicar um texto publicitário não identificado como tal é um péssimo principio.

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NOTA: Entretanto o texto do Ciência Hoje que é aqui referenciado deixou de estar disponível. Seria óptimo que isso significasse que irá haver um melhor critério científico e jornalístico em futuras publicações do Ciência Hoje. As justificações delirantes acerca da bioressonancia podem ser encontradas em muitos outros sítios, como aqui ou aqui.

SOBRE O GRANITO E A SUA ORIGEM, NUMA CONVERSA TERRA-A-TERRA.

Por A. Galopim de Carvalho Paisagem granítica na Serra da Gardunha. Já dissemos que não há um, mas sim, vários tipos de rochas a que o vulgo...