quarta-feira, 30 de setembro de 2020
O NOSSO QUINO
O QUE É A VIDA?
Meu artigo no Público de hoje (na foto Erwin Schrödinger):
Quando em 1938, depois do
Anschluss, a Universidade de Graz, na Áustria, se passou a chamar Adolf
Hitler, o físico austríaco Erwin Schroedinger (1887-1961), que aí ensinava e
que tinha recebido o Nobel da Física em 1933 pela sua formulação da teoria
quântica como uma mecânica de ondas, teve de fugir para Itália. Iniciou então
um longo périplo pela Europa, que acabou em 1940, quando se fixou em Dublin, na
direcção do recém-criado Instituto de Estudos Avançados. A estada de 16 anos na
capital irlandesa foi um período muito fértil da sua vida: Professor estimado,
era convidado a fazer conferências sobre física e não só.
Foi em Dublin que
Schrödinger proferiu em 1943 um ciclo de conferências intitulado “O que é a
vida?,” que resultou na edição no ano seguinte do seu livro mais famoso. O
co-autor da teoria quântica deu nele um contributo essencial para a
interpretação da biologia. Para ele todos os fenómenos da vida, incluindo a então
misteriosa hereditariedade, eram o resultado de leis físico-químicas,
designadamente as leis quânticas que explicavam as ligações químicas. A pergunta do título prolonga-se noutra: “Como é que podem ser explicados pela química e pela
física os fenómenos que, no espaço e no tempo, se passam no interior dos seres vivo?”
A resposta vem logo a seguir: “A incapacidade evidente
da física e da química actuais para explicar tais fenómenos não é de modo nenhum razão para duvidar de que eles possam ser explicados por essas ciências.”
A afirmação
de que a vida é física e química continua válida: Os modernos desenvolvimentos da biologia, alguns deles de
grande impacto (designadamente a sequenciação do genoma humano em 2000), têm
dado razão ao físico austríaco.
Esta resposta a respeito da essência da vida – que contraria teses animistas – foi dada vários anos antes da descoberta da estrutura molecular do ADN, realizada em 1953 pelo físico inglês Francis Crick e pelo então jovem biólogo norte-americano James Watson. Os dois reconheceram a sua dívida para com o livro de Schroedinger, o físico que tinha feito a pergunta certa na altura certa, uma pergunta à qual eles ajudaram a responder.
A vida, exibida por uma imensa variedade de seres desde a bactéria Escherichia coli ao Homo sapiens, é um fenómeno extremamente complexo. Foi, por isso, um golpe de génio a grande unificação que o naturalista inglês Charles Darwin propôs em 1859 integrando-os a todos numa “árvore”. Sabemos hoje que todos eles são descritos pelo código genético, formado por apenas quatro letras, que Crick e Watson, usando métodos das ciências físicas (raios X), reconheceram no ADN. Nos genes, as unidades físicas do ADN, encontram-se codificadas as proteínas, as máquinas-ferramenta da vida. O físico dinamarquês Niels Bohr, autor de uma versão antiga da teoria quântica, aconselhou, a partir de certa altura, os seus discípulos a enveredarem pela biologia molecular e alguns, como Max Delbrück, alemão naturalizado norte-americano, que estudou a genética da mosca da fruta, fizeram-no com um sucesso assinalável.
O livro inclui ainda o texto de outra conferência “Espírito e matéria” (talvez em vez de “espírito” devesse estar “mente”), proferida em Cambridge em 1956. Vida, Espírito e Matéria tornou-se, traduzido em várias línguas, um best-seller mundial. Em português saiu em 1963 nas Publicações Europa-América, uma edição agora em fac-símile na colecção do PÚBLICO, com tradução da primeira parte por Germano da Fonseca Sacarrão, professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e da segunda parte por S. de Miranda.
Apesar do grande sucesso obtido pela teoria quântica na descrição dos fenómenos químicos e por extensão biológicos, Schroedinger experimentou algumas dificuldades de compreensão da sua teoria. O problema maior era o papel do acaso. Para explicitar o problema, engendrou em 1935, numa discussão com Einstein, um gato que se tornou proverbial. O gato está fechado numa caixa sujeito a um dispositivo quântico. Segundo a interpretação convencional, a medição modificava aleatoriamente a “função de onda” do gato: a vida ou a morte do felino dependem da observação. Enquanto a caixa não é aberta, o gato é um zombie, está meio vivo e meio morto, passando depois a vivo ou a morto. Estranho! Mas hoje tais estados de sobreposição são usados na computação quântica: isto é, aquilo que era uma dificuldade conceptual tornou-se um artefacto técnico.
Em Vida, Espírito e Matéria não há gato. Mas há muitas questões que transcendem a ciência. “O que é a vida?” termina com uma discussão do determinismo e livre arbítrio e “Espírito e matéria” aborda quase no final as relações entre ciência e religião (conclui afirmando a “indestrutibilidade do espírito pelo tempo”). Schroedinger interessou-se pela filosofia e pela espiritualidade, em particular por religiões orientais.
Este livro ainda hoje se
lê com gosto e proveito. A ciência avançou e está a avançar mais, mas algumas dos
mistérios fundamentais permanecem. Schroedinger, um grande humanista, percebeu
quais eles eram.
terça-feira, 29 de setembro de 2020
TEXTO DE ANTÓNIO BARRETO PARA MEDITAÇÃO
AINDA NÂO VIMOS NADA
Por António Barreto
Republicanos, corporativistas, fascistas, comunistas e até democratas mostraram, nos últimos séculos, que se dedicaram com interesse à revisão selectiva da História, assim como à censura e à manipulação.
14 de Junho de 2020
É triste confessar, mas ainda estamos para ver até onde vão os revisores da
História. Uma coisa é certa: com a ajuda dos movimentos anti-racistas, a
colaboração de esquerdistas, a covardia de tanta gente de bem e o metabolismo
habitual dos reaccionários, o movimento de correcção da História veio para
ficar.
Serão anos de destruição de símbolos, de substituição de heróis, de censura de
livros e de demolição de esculturas. Até de rectificação de monumentos. Além da
revisão de programas escolares e da reescrita de manuais.
Tudo, com a consequente censura de livros considerados impróprios, seguida da
substituição por novos livros estimados científicos, objectivos, democráticos e
igualitários. A pujança deste movimento através do mundo é tal que nada
conseguirá temperar os ânimos triunfadores dos novos censores, transformados em
juízes da moral e árbitros da História.
Serão criadas comissões de correcção, com a missão de rever os manuais de
História (e outras disciplinas sensíveis como o Português, a Literatura, a
Geografia, o Meio Ambiente, as Relações Internacionais…), a fim de expurgar a
visão bondosa do colonialismo, as interpretações glorificadoras dos
descobrimentos e os símbolos de domínio branco, cristão, europeu e capitalista.
Comissões purificadoras procederão ao inventário das ruas e locais que devem
mudar de nome, porque glorificam o papel dos colonialistas e dos traficantes de
escravos. Farão ainda o levantamento das obras de arte públicas que prestam
homenagem à política imperialista, assim como aos seus agentes. Já começou,
aliás, com a substituição do Museu dos Descobrimentos pelo Memorial da
Escravatura.
Teremos autoridades que tudo farão para retirar os objectos antes que as hordas
cheguem e será o máximo de coragem de que serão capazes. Alguns concordarão com
o seu depósito em pavilhões de sucata. Outros ainda deixarão destruir, gesto
que incluirão na pasta de problemas resolvidos.
Entretanto, os Centros Comerciais Colombo e Vasco da Gama esperam pela hora
fatal da mudança de nome.
Praças, ruas e avenidas das Descobertas, dos Descobrimentos e dos Navegantes,
que abundam em Portugal, serão brevemente mudadas.
Preparemo-nos, pois, para remover monumentos com Albuquerque, Gama, Dias, Cão,
Cabral, Magalhães e outros, além de, evidentemente, o Infante D. Henrique, o
primeiro a passar no cadafalso. Luís de Camões e Fernando Pessoa terão o devido
óbito. Os que cantaram os feitos dos exploradores e dos negreiros são tão
perniciosos quanto os próprios. Talvez até mais, pois forjaram a identidade e
deram sentido aos mitos da nação valente e imortal.
Esperemos para liquidar a toponímia que aluda a Serpa Pinto, Ivens, Capelo e
Mouzinho, heróis entre os mais recentes facínoras. Sem esquecer, seguramente,
uns notáveis heróis do colonialismo, Kaúlza de Arriaga, Costa Gomes, António de
Spínola, Rosa Coutinho, Otelo Saraiva de Carvalho, Mário Tomé e Vasco Lourenço.
Não serão esquecidos os cineastas, compositores, pintores, escultores,
escritores e arquitectos que, nas suas obras, elogiaram os colonialistas, cúmplices
da escravatura, do genocídio e do racismo. Filmes e livros serão retirados do
mercado.
Pinturas murais, azulejos, esculturas, baixos-relevos, frescos e painéis de
todas as espécies serão destruídos ou cobertos de cal e ácido. Outras comissões
terão o encargo de proceder ao levantamento das obras de arte e do património
com origem na África, na Ásia e na América Latina e que se encontram em
Portugal, em mãos privadas ou em instituições públicas, a fim de as remeter
prontamente aos países donde são provenientes.
Os principais monumentos erectos em homenagem à expansão, a começar pelos
Jerónimos e pela Torre de Belém, serão restaurados com o cuidado de lhes
retirar os elementos de identidade colonialista. Os memoriais de homenagem aos
mortos em guerras do Ultramar serão reconstruídos a fim de serem transformados
em edifícios de denúncia do racismo. Não há liberdade nem igualdade enquanto
estes símbolos sobreviverem.
Muitos pensam que a História é feita de progresso e desenvolvimento. De
crescimento e melhoramento. Esperam que se caminhe do preconceito para o rigor.
Do mito para o facto. Da submissão para a liberdade.
Infelizmente, tal não é verdade. Não é sempre verdade. Republicanos,
corporativistas, fascistas, comunistas e até democratas mostraram, nos últimos
séculos, que se dedicaram com interesse à revisão selectiva da História, assim
como à censura e à manipulação.
E, se quisermos ir mais longe no tempo, não faltam exemplos. Quando os
revolucionários franceses rebaptizaram a Catedral de Estrasburgo, passando a
designá-la por Templo da Razão, não estavam a aumentar o grau de racionalidade
das sociedades. Quando o altar-mor de Notre Dame foi chamado de Altar da
Liberdade caminharam alegremente da superstição para o preconceito.
E quando os bolchevistas ocuparam a Catedral de Kazab, em São Petersburgo e
apelidaram o edifício de Museu das Religiões e do Ateísmo, não procuravam
certamente a liberdade e o pluralismo. E também podemos convocar os
Iconoclastas de Istambul, os Daesh de Palmira ou os Taliban de Bamiyan que
destruíram símbolos, combateram a religião e tentaram apropriar-se tanto do
presente como do passado.
Os senhores do seu tempo, monarcas, generais, bispos, políticos, capitalistas,
deputados e sindicalistas gostam de marcar a sociedade, romper com o passado e
afastar fantasmas. Deuses e comendadores, santos e revolucionários, habitam os
seus pesadelos. Quem quer exercer o poder sobre o presente tem de destruir o
passado.
Muitos de nós pensávamos, há cinquenta anos, que era necessário rever os
manuais, repensar os mitos, submeter as crenças à prova do estudo, lutar contra
a proclamação autoritária e defender com todas as forças o debate livre.
É possível que, a muitos, tenha ocorrido que faltava substituir uma ortodoxia
dogmática por outra. Mas, para outros, o espírito era o de confronto de ideias,
de debate permanente e de submissão à crítica pública.
O que hoje se receia é a nova dogmática feita de novos preconceitos. Não
tenhamos ilusões.
Se as democracias não souberem resistir a esta espécie de vaga que se denomina
libertadora e igualitária, mergulharão rapidamente em novas eras
obscurantistas.»
domingo, 27 de setembro de 2020
GLACIAR, GLACIÁRIO E GLACIAL
Glaciar da
Groenlândia |
Um glaciar é uma massa de gelo que cobre extensões maiores ou menores de terreno, em regiões climáticas, de latitude ou de altitude, nas quais a cobertura de neve é persistente. Quer nas zonas polares (Antárctida e Groenlândia) por razões climáticas próprias destas latitudes, quer nas altas montanhosos (vale glaciário de Aletsch, na Suiça, apenas um entre os muitos conhecidos), em consequência do arrefecimento do ar em altitude. Há, nestes dois ambientes, temperaturas glaciais que permitem que a água se mantenha permanentemente no estado sólido.
Glaciar de
Aletsch, Suíça |
Vale Vale
glaciário do Zêzere |
"O DILEMA NAS REDES". CONVÉM QUE NÃO NOS HABITUEMOS À OBSERVAÇÃO TECNOLÓGICA
Com a COVID-19, em todos os níveis de escolaridade, o ensino passou a depender ainda mais de plataformas online. Algumas são gratuitas outras são pagas, mas todas permitem, em termos tecnológicos, registar, armazenar e analisar os dados que recebem, podendo estes ser usados com diversos fins.
Há uma vertente da vida humana - não restrita à relação na sala de aula física, incluindo também disponibilização de recursos, troca de mensagens, afixação de pautas de classificação, apresentação de relatórios, etc. - que era muito da ordem do privado, ainda que guiada por fins públicos, que passa a ser acessível a desconhecidos...
Presumimos a sua afiliação, mas não conhecemos exactamente a sua identidade, nem onde estão, nem que dados lhes interessam, nem para que querem os dados... Mas que a sua presença se sente, isso sente. Convém que não nos habituemos a ela.
Esta nota é a propósito de um documentário ainda recente com o título (traduzido) O dilema das redes. É preciso que quem tem responsabilidades educativas o veja e que pense seriamente no que viu.
Orlowski, J. (Dir.). (2020). The social dilemma das redes. Netflix.
sábado, 26 de setembro de 2020
"QUO VADIS" PORTUGAL?
“A falsa modéstia é o último requinte de vaidade” (Jean de la Bruyère, moralista francês, 1645-1696).
Não sei se por coincidência ou não, nestes poucos dias que faltam para as eleições autárquicas e presidencial (respectivamente, 25 de Outubro deste ano Janeiro do próximo ano) têm sido noticiados escândalos acontecidos com gastos escandalosos camarários (v.g., automóvel Audi de 86.000 adquirido pela edilidade de Coimbra e sobre o qual continua a reinar um silêncio tumular) e os casos da Messe de Oficiais da Força Aérea gerida por um major general e um coronel, finalmente, sob a alçada da justiça como que a dar o ar que a justiça apesar de coxa ainda se move. Ela move-se trôpega e envergonhada em vésperas eleitorais, como que a modos para inglês ver, por acordar da sua letargia em breves espaços de épocas eleitorais.
Simples grão de areia da vida nacional,
ao longo da minha vida, tenho feito os possíveis por me manter digno das
homenagens que me têm sido prestadas, por exemplo, pela Faculdade de Educação Física e Ciências do Desporto da Universidade de Coimbra (“Prestigio
Profissional”, Março de 2019) e pela Federação Portuguesa de Culturismo (Julho de
2020).
Honrado por estas homenagens, ingratidão minha seria não mencionar, aqui e agora, uma declaração que me foi prestada pelo meu querido e saudoso Director da Escola do Magistério Primário de Coimbra, Dr. Ilídio Falcão, em que leccionei durante uma década, personalidade respeitada e respeitável de uma Escola de Valores que formou uma plêiade de excelentes professores do antigo magistério primário.
Escreveu ele nessa declaração que transcrevo
“verbo pro verbo”:
“Ilídio de Jesus Coelho Falcão, director
da Escola do Magistério de Coimbra, declara, para todos os efeitos:
1.Que o licenciado em Educação Física e
ex-assistente do Instituto Superior de Educação Física da Universidade do Porto
- RUI VASCO JÙLIO PEREIRA DA SILVA BAPTISTA - é professor desta Escola da área de Educação Física desde o ano escolar de1976771977, tendo sido colocado, por
destacamento, na sequência de concurso nacional.
2.Que, no exercício das suas funções,
sempre relevou excepcional competência, zelo e disponibilidade, quer na área
científica, quer na cultural e pedagógica, quer ainda no relacionamento humano.
Testemunham este juízo de valor vários
factos relevantes: o elevado nível da sua docência, reconhecido por alunos-mestres
e professores; a extensão das suas acções deformação de professores, porque
constantemente solicitado; os variados seminários, cursos e apoios de natureza
científica e pedagógica efectuados, dentro e fora da Escola; os colóquios
realizados e as conferências proferidas a nível interno ou a nível externo,
caso dos Rotários, Direcção-Geral dos Desportos e outras instituições sociais e
educacionais.
A sua excepcional capacidade empática
permite-lhe um relacionamento espontâneo
com toda a população da Escola: alunos, colegas e funcionários, sabendo
criar um clima aberto de verdadeira amizade. Bem pode dizer-se que constitui um
verdadeiro Educador.
Coimbra – 26 de Abril de 1989.”
Contemplado com homenagens académicas, informações elogiosas sobre a minha docência e um louvor em Boletim Oficial de Moçambique pelo meu cargo de Inspector de Educação Física, de mal ficaria com a minha consciência por omissão de um sem número de comentários elogiosos com que
me têm honrado antigos alunos da mui saudosa Escola Industrial Mouzinho de
Lourenço Marques. Aproveito esta ocasião
soberana para dar este exemplo que espelha muitos outos que se têm afogado num
“mare magnum” de não citações. Que me saibam perdoar os seus autores a sua omissão.
Reporta-se este comentário a um texto aqui
publicado há dias da autoria de Carlo Silva. Reproduzo-o:
“Parabéns pelos seus excelentes artigos publicados ao longo de décadas e sobre vários temas. Mas como são politicamente incorrectos, os "mídia" e poder politico são uns cobardes salvo raras excepções. 90 anos [ligeira correcção minha, 89 anos] e ainda ter capacidade intelectual para exprimir desta maneira merecia ser homenageado.” E, como tal, era aí sugerido a edição de um livro de todos artigos por mim escritos ate à presente data [só em artigos de jornais nacionais e regionais, de entre eles o “Público”, remontam eles a um milhar]. O nosso amigo Big Samuel Slam talvez pudesse ajudar com os que regressaram de Moçambique, os que ainda estão vivos e espalhados pelo mundo, seus filhos e familiares ,pelo menos cobrissem os custos. E mais tarde os netos e bisnetos irão até á Torre do Tombo á procura do livro.
Saúde quanto baste para si e para os
seus
Abraços. Carlos Silva.”
Da minha parte, mereceu
este comentário a seguinte resposta:
“Estimadíssimo Carlos
Silva: Agradeço comovido a sua mensagem embora a considere uma utopia, ainda
que, como escreveu alguém, a utopia seja um sonho por realizar. No meu caso é
um sonhar alto de mais para as minhas asas. Tenho-me preocupado em mante-me
igual a mim próprio ao longo dos meus anos de vida. O que confesso me basta,
assim como o respeito e amizade com que tenho sido cumulado por antigos e
muitos estimados alunos da Escola Industrial Mouzinho de Albuquerque de Lourenço Marques, uma verdadeira Escola de Valores. Aproveito a ocasião para dar o meu testemunho
de muita gratidão por tal facto.
Rui Baptista”.
Nem de propósito, vi,
dias atrás, um pequeno filme na televisão, não sei se “fake new” ou não, em que o presidente da Guine Bissau, perseguia
e esmurrava forte e feio, entre carros arrumados num parque de estacionamento ,
o respectivo ministro da Saúde acusado de ter desviados fundos do combate à
epidemia do coronavírus, em justiça que em Portugal é chamada de “Justiça de Fafe”.
E aqui surge-me outra dúvida:
haverá um primeiro-ministro lusitano com
coragem e moral suficientes para esmurrar os governantes que delapidam a
fazenda pública com os seus roubos mantendo-se os atingidos expectantes que a justiça os libe, por serem defendidos por nomes sonantes da
advocacia. ou que os crimes prescrevam?
Para isso, nem seria
preciso tirar-lhes “selfies”, de frente
e de perfis, com a indicação:
PROCURAM-SE! Eles passeiam-se, descaradamente, à vista de toda a gente, quais recém-nascidos nuzinhos, puros e
imaculados como a neve caída do céu antes de ser conspurcada por um chão imundo
de corrupção! "Quo vadis" Portugal?"
sexta-feira, 25 de setembro de 2020
GEOLOGIA E SOCIEDADE (1)
1) Entre os recursos geológicos (georrecursos) com interesse económico, exploramos: matérias-primas metálicas, como são, entre outros, os minérios de ferro, cobre, estanho, ouro, prata e zinco, e não metálicas, entre as quais areias, argilas, gesso, sal-gema, sais de potássio, nitratos e boratos; pedras ornamentais (mármores, granitos), preciosas e industriais; combustíveis fósseis (carvão, petróleo, gás natural, betumes); combustíveis nucleares (minerais de urânio); recursos geotérmicos; e águas subterrâneas.
2) A Geologia sabe que, ao contrário dos recursos vivos, com ciclos de renovabilidade muito curtos, à escala temporal da vida humana, os recursos geológicos necessitam de muito tempo, na ordem das dezenas ou centenas de milhões de anos, para se renovarem e reincorporarem na crosta. Imagine-se, a título de exemplo, o grande número de navios afundados no Pacífico durante a 2ª Guerra Mundial. Aí, a par do substrato basáltico do fundo e dos sedimentos que o cobrem, jazem milhares de toneladas de ferro usado na construção desses vasos de guerra. Cita-se o ferro por ser, sem dúvida, o elemento mais representativo neste tipo de equipamentos bélicos. Mas há outros como cobre, chumbo, alumínio, titânio, volfrâmio (tungsténio), etc., etc. Acompanhando a dinâmica da litosfera, estas massas metálicas, daqui a muitos milhões de anos, acabarão por mergulhar em zonas de subducção, onde atingirão profundidades que determinam a sua transformação e incorporação, sob a forma de novos minerais, nas rochas aí em formação. Na continuação deste processo geotectónico, assim imaginado, e passados mais uns tantos milhões de anos, essas rochas elevar-se-ão, dando nascimento a uma cadeia montanhosa e, só muitos milhões de anos mais tarde, a erosão porá a descoberto, entre outros, os minerais formados com o ferro e os outros metais consumidos na construção dessas máquinas de guerra flutuantes, criadas pelo “Homo sapiens”.3) A Geologia sabe e de há muito que alerta, que, do ponto de vista da sociedade, os recursos geológicos são considerados recursos naturais não renováveis, que acabarão por se esgotar, mais tarde ou mais cedo, ainda no horizonte da sociedade humana, uma realidade de que andamos esquecidos, a par de outras como a poluição do ar e da água, o aquecimento global e a destruição da camada de ozono. Exceptuam-se desta condição as águas subterrâneas, cujos aquíferos são renováveis à nossa escala temporal, se não forem destruídos por má exploração, e a energia geotérmica cuja duração, como fenómeno geológico, é muitíssimo superior ao nosso horizonte de vida como espécie ou como sociedade.
4) Quase tudo o que nos rodeia e de que constantemente nos servimos, ou com o qual nos articulamos diariamente, resultou das conquistas da Ciência e da Tecnologia e, nestes domínios, a Geologia teve e continua a ter papel importante, muitas vezes subavaliado ou esquecido. Os alimentos, os medicamentos, os transportes e comunicações, os equipamentos mais variados (da indústria, da saúde, da cultura, do lazer) radicam, em boa parte, nestas conquistas do génio humano, e nestas conquistas são fundamentais as conseguidas nos domínios da Geologia. Em suma, a Geologia e as tecnologias com ela relacionadas são alguns dos pilares sobre os quais assentam as sociedades humanas, o progresso social e o bem-estar da humanidade.
1) A Geologia dá apoio à Engenharia, na caracterização dos terrenos, com vista à implantação de barragens, pontes, rodovias e ferrovias, centrais nucleares, grandes edifícios, portos e estruturas de protecção do litoral.
2) A Geologia tem, ainda, um papel fundamental na identificação, previsão e prevenção de riscos naturais, com destaque para a actividade vulcânica, a ocorrência de sismos (pela caracterização da sismicidade de uma dada região), as cheias e os problemas de erosão litoral ou em terra (deslizamentos em vertentes), etc.
3) Problemas da sociedade do desenvolvimento, como são a poluição do ar e das águas e os efeitos decorrentes das escombreiras de minas abandonadas, deram lugar a uma nova disciplina em franco progresso, designada Geologia do Ambiente.
4) É ainda a Geologia que sustenta uma nova maneira de encarar as rochas e algumas das suas ocorrências como georrecursos culturais, também eles, não renováveis. Elas são, com efeito, documentos naturais da História da Terra, da Vida e do Homem. Alguns destes documentos, reconhecidos aqui e ali (geossítios), têm grandiosidade e, até, monumentalidade, que lhes confere a designação de geomonumentos, uns à escala do afloramento, no geral métrica a decamétrica, outros à escala do sítio, com extensão hectométrica, e, outros, ainda, à escala da paisagem, ocupando áreas quilométricas.
JOÂO PEDRO GRABATO: UMA GENIAL OFICINA
“Tem sido um destino. De cinco em cinco anos vejo-me obrigado a reeditar este texto, pelo mesmíssimo motivo: a insuportável obscuridade que caiu sobre um dos mais interessantes e completos espíritos da literatura e da arte portuguesa do século XX: António Quadros / Grabato Dias (1933 - 1994), pintor, poeta, ceramista, pedagogo, apicultor e um homem da Renascença como antes dele só houve um Almada Negreiros. Vivendo no limbo, entre Moçambique e Portugal, ninguém o reivindica e a todos faz sombra e a sua obra está toda por reeditar.” António Cabrita tem toda a razão, excepto num pequeno ponto: quando diz: “ninguém o reivindica e a todos faz sombra”, deveria substituir a copulativa “e” pela causal “porque”.
“O Quadros era um verdadeiro fenómeno de saberes e técnicas de vários feitios (…). Nada lhe escapava, tudo aprendia, com empenho, atenção esforçada, lentidão… Não ia em evidências nem brilharetes. Cada território novo do saber era, para ele, um terreno armadilhado de dificuldades. Via obstáculos onde os outros viam facilidades. Percebia devagar, mas com obstinação. Na escola, chegaram a considerá-lo “atrasado”. Cada disciplina nova era um tormento: nada era fácil, mas, quando se punha a “escarafunchar”, chegava onde ninguém tinha chegado antes dele. Andava devagar, mas escavava fundo. O que aprendia era para sempre. O que descobria ficava. (Lembro-me só de um como ele, também “estúpido” e vagaroso no compreender – chamava-se Einstein).”
“Como poeta, como pintor, como fazedor, como criador, como intrépido desvendador de territórios ignotos, António Quadros foi um dos raros génios que tive o privilégio de conhecer, em vida. Não me apetece, neste caso, estar com cuidado a medir as palavras: disse “génio” e disse bem”.
Eugénio Lisboa
TRINH XUAN THUAN E A VERTIGEM CÓSMICA
Meu artigo no jornal I de ontem:
O infinito sempre nos
perturbou. É uma noção que tem desafiado a matemática, a física, a filosofia e a teologia. Na matemática a noção de
infinito decorre desde logo do facto de a sucessão dos números naturais 1, 2,
3,… nunca acabar. Um infinito pode conter o outro: o conjunto desses números é infinito,
mas ele contém dentro deles o conjunto dos números pares, 2, 4, 6,…, que também
é infinito. E os números reais, que contêm os naturais, são também em número
infinito.
Na física, uma questão perturbadora
tem sido a aplicação do conceito de infinito ao espaço e ao tempo. A teoria da
relatividade geral de Albert Einstein prevê infinitos (“singularidades”) no espaço
e no tempo, nos chamados “buracos negros” e nesse evento primordial de onde
tudo veio, o “buraco branco” que foi o Big Bang, ocorrido há 14 mil milhões
de anos. Os astrofísicos concordam hoje que vivemos num Universo que, no tempo,
é “semi-infinito”, isto é, infinito para a frente, mas não infinito para trás,
porque começou a certa altura. Como não temos acesso a nenhuma informação anterior,
não podemos dizer nada sobre o hipotético tempo anterior. E, mesmo sobre os
primeiros instantes do Universo, podemos dizer muito pouco. Por outro lado, no
que respeita ao espaço, permanece a questão de saber se o Universo é finito ou
infinito. Talvez seja infinito, mas não temos a certeza. Se é infinito, começou
logo infinito. No entanto, devido ao Big Bang, só podemos observar
dentro de um certo horizonte, uma superfície esférica com 42 mil milhões de anos-luz
de raio, mais do que 14 mil milhões porque o universo está em expansão.
O infinito sempre nos
causou vertigens. Ao olharmos para o céu, não podemos deixar de pensar na
extensão do espaço sideral. Blaise Pascal declarou: “O silêncio eterno desses
espaços infinitos assusta-me.” Se olharmos para a fotografias proporcionadas
pela NASA do “campo profundo” do telescópio espacial Hubble em que as galáxias
não passam de pontos, não podemos deixar de pensar no poema de William Blake:
“Veja o mundo num grão de areia,/ veja o céu num campo florido,/ guarde o
infinito na palma da mão,/ e a eternidade em uma hora de vida!”
Trinh Xuan Thuan (o nome
de família é Trinh, apesar de vir em primeiro) é um astrofísico vietnamita que é
professor na Universidade de Virgínia nos Estados Unidos e é investigador
associado ao Instituto de Astrofísica de Paris. É ele o autor do livro A Vertigem
do Cosmos, com o subtítulo Uma Breve História do Céu (piscando o
olho a Stephen Hawking), que acaba de sair pelo Círculo de Leitores e pela Temas
e Debates. É uma obra de popularização da astrofísica muito bem feita que
relata como as observações e medidas do céu se foram, ao longo do tempo,
ampliando e com elas o nosso entendimento do cosmos. Tal como Universo o nosso
conhecimento está em expansão.
Trinh nasceu em Hanói em
1948 (recorde-se que um dos primeiros astrónomos no Vietname, então chamado
Cochinchina, foi Christophoro Borri, um italiano, contemporâneo de Galileu, que
foi de Portugal e aqui voltou), e doutorou-se na Universidade de Princeton. É especialista
em astronomia fora da nossa galáxia, em particular na origem das galáxias: identificou
em imagens do Hubble a mais jovem galáxia até hoje conhecida. Publicou cerca de
15 livros, desde 1988, quando saiu o que terá sido o seu maior êxito, A Melodia
Secreta: ...E o homem criou o universo (Bizâncio, 2002), com tradução de
Máximo Ferreira (eu costumo dizer que “o céu é o Máximo”). Em português existem
ainda O Caos e a Harmonia: a Fabricação do real (Terramar, 1999) e O Infinito
na Palma da Mão: Budismo, ciência e salvação, com Matthieu Richard (Notícias,
2001). Ganhou em 2009 o Prémio Kalinga da UNESCO de divulgação científica e em 2012
o Prix mondial Cino Del Duca do Institut de France, que reconhece autores cuja
obra constitua uma mensagem de humanismo.
A primeira parte de A
Vertigem do Cosmos, publicada no ano passado em Paris pela Flammarion (a
editora fundada no século XIX por um irmão de Camille Flammarion, um dos
maiores divulgadores de ciência de sempre), de Paris, é uma história da
astronomia global, como hoje se diz. Começa por falar do universo mágico e
mítico do homem antigo para depois abordar a observação do céu no Egipto, na Mesopotâmia,
na Mesoamérica, na África, na Índia e na China. A origem asiática do autor ajuda a que exponha mitos e histórias que no Ocidente conhecemos
mal. Passa depois a descrever o universo de Isaac Newton, ordenado por leis
naturais, e o universo, “estranho e maravilhoso,” de Einstein, cuja teoria da
relatividade é necessária para descrever os buracos negros, o Big Bang,
e as ondas gravitacionais recentemente descobertas (que já vêm no livro).
O capítulo seguinte “Na
profundidade do espaço, um universo finito ou infinito?” discute a infinidade
do espaço. Já no capítulo sobre Newton, Trinh tinha referido a cosmovisão de Nicolau
Copérnico, em cuja obra maior, saída em 1543, o universo era fechado. Foi Giordano Bruno o primeiro a propor
um universo infinito no seu livro Sobre o Infinito, o Universo e os
Mundos (1584). Recordo o seu texto: "Existem incontáveis sóis;
incontáveis terras giram em torno destes sóis de maneira semelhante à forma
como os sete planetas giram em torno do nosso sol”. Foi queimado pela Inquisição
em 1600, não por essa mas outras heresias. Galileu escreveu em Diálogos
sobre os dois principais sistemas do mundo (1632): “Que vamos fazer agora (…)
com as estrelas fixas? Vamos dispersá-las nos imensos abismos do universo a
diferentes distâncias de um qualquer ponto determinado, ou então vamos colocá-las
sobre uma única superfície esfericamente esticada em redor do seu centro,
estando então todas a uma distância igual desse centro? (…) Não sabeis que
ainda não está decidido (e creio que continuará a sê-lo para ciência humana) se
o universo é finito ou infinito?” A questão para ele era de natureza metafisica
e não podia ser apreendida pela razão. Mas não arriscou pronunciar-se, por
conhecer o destino que teve Bruno. Na esfera protestante, o astrónomo seu contemporâneo
Johannes Kepler, embora concordando com Galileu em que a questão era metafisica,
imaginava um universo finito pela simples razão de que a noite era escura: se o
Universo fosse infinito e estivesse todo eles povoado de estrelas, haveria
sempre luz. Trinh cita o escritor oitocentista Edgar Allan Poe que, no seu
poema em prosa Eureka (1848), deu a explicação correcta. Se a luz
viaja a uma velocidade finita, a luz de infinitamente longe demoraria um tempo
infinito a chegar. Hoje sabemos que, de além do horizonte observável, não vem qualquer
luz. Portanto, o facto de a noite ser escura é uma prova da teoria do Big
Bang. Conclui Trinh: “O universo de curvatura nula como o nosso pode ser
finito ou infinito.” Não sabemos, portanto, se o nosso mundo é finito ou
infinito. É aliás difícil distinguir um universo infinito de um universo finito
que seja suficientemente grande. O astrofísico vietnamita encanta-nos com uma
metáfora: “O universo, tal como uma mulher coquete que se recusa a revelar a
sua idade, continua a esconder-nos a sua dimensão.”
O autor fala depois do
tempo e da “flecha do tempo”, da distinção entre passado e futuro, não se
esquecendo de referir que, para além do tempo físico (o tempo marcado pelos
relógios), há um tempo humano, psicológico, subjectivo. Há quem diga que o
tempo não existe, que é uma pura construção mental.
O livro termina com um capítulo
intitulado “O sagrado e o profano”. O tema do sagrado é muito caro ao autor,
que, sendo confucionista, se declara fascinado com a ideia de Einstein (que, em
larga medida, é a de Espinosa) segundo a qual Deus é o próprio mundo. Xinh tem procurado
aprofundar as ligações entre ciência e religião: foi, por exemplo, fundador da
Sociedade Internacional para Ciência e Religião. Para ele, como declara no
título de uma das últimas secções a espiritualidade é “companheira de caminhada
da ciência”.
Transcrevo a este
propósito um parágrafo do final: “O desenvolvimento da ciência fez com que o
espaço do homem moderno tenha perdido o seu carácter sagrado. Tornou-se
profano. Mas foi também o homem de ciência que permitiu que o homem redescobrisse
o sentido do sagrado, não venerando deuses personificados e construindo
edifícios para sacralizar a Terra, mas ao redescobrir e determinar a sua antiga
aliança com um cosmos que foi regulado de uma forma extremamente exacta para o
seu aparecimento. Ao revelar a sua interdependência com as estrelas e ao
maravilhar-se perante a beleza, a harmonia e a unidade do cosmos”.
O profano ocupa hoje
lugares que já foram do sagrado, como céu. Mas o céu, seja ele finito ou infinito,
continuou a deslumbrar-nos, a causar-nos vertigens à medida que a ciência ia
avançando. Autores de ciência como Carl Sagan, Hubert Reeves e Trinh Xuan Thuan
transmitem-nos um arrepio cósmico que tem algo de religioso. No profano – é
essa a mensagem de Trinh - há algo de sagrado.
quinta-feira, 24 de setembro de 2020
A VIDA POLÍTICA PORTUGUESA
terça-feira, 22 de setembro de 2020
segunda-feira, 21 de setembro de 2020
O POPÓ DA PRESIDÊNCIA DA CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA
“José Pereira da Silva, Presidente do Senado da Câmara Municipal, no primeiro trimestre de 1925, durante a ausência de António José de Sousa Júnior [Ministro da Instrução Pública da I República], demitiu-se a seu pedido, desse cargo tendo-lhe sido tecidos, em sessão camarária de despedida, os mais elevados elogios, sendo-lhe sido reconhecido «inteligência lúcida, dedicado e sempre pronto e firme na defesa dos direitos municipais, salientando que tinha desempenhado aquele cargo com tanta justiça, com tanta competência e imparcialidade que é lamentável que ele o abandone, sendo mesmo lavrado em acta um voto de agradecimento."
domingo, 20 de setembro de 2020
SERENATA COM A LUA POR PERTO
Deixo aqui o guião da minha intervenção ontem no Concerto "Serenata com a Lua por perto", tocada pela Orquestra Clássica do Centro em Condeixa no ãmbito do festival das Artes de Conímbriga - MUSAS:
SERENATA COM A LUA POR PERTO
Orquestra Clássica do Centro no Festival de Conímbriga, 19/9/2020
1.ª Intervenção
É um prazer estar em Condeixa, no último concerto do primeiro Festival das Artes de Conímbriga - MUSAS. Parabéns à Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova pela iniciativa, assim como a todos mos seus parceiros. Hoje, aqui neste magnífico sítio do museu POROS, quando a Lua está no início de quarto crescente, vai haver um concerto muito especial, com a Lua por perto. Ela está a 384.000 km, pouco mais do que um segundo-luz, que é a distância que o luar demora até chegar até nós. A Lua e os astros em geral sempre inspiraram os grandes criadores musicais. Os antigos falavam da “música das esferas,” isto é, os astros, com os seus movimentos, formavam uma melodia. E a busca da ordem dentro do mistério – da luz dentro da escuridão – sempre foi um tema da arte e também da ciência. As duas, sendo diferentes, estão juntas na procura de iluminação.
Muitos dos
temas que vamos escutar hoje têm a ver com o amor, que é um fenómeno
físico-químico no nosso cérebro e no nosso corpo, e que é também algo que as
artes tentam descrever. A ciência do amor é difícil de fazer e de transmitir.
Mas uma música que descreve um sentimento de amor é algo que entra em nós
facilmente porque o nosso cérebro é extraordinariamente sensível à música.
A Serenata de hoje é grande música, na maior parte
excertos de óperas, um género musical que tem uma particular relação com a
ciência. A ópera nasceu em Florença no século XVI, na mesma altura em que a
ciência moderna estava a nascer. Mas, mais do que isso, um dos primeiros
adeptos da ópera foi Vincenzo Galilei, alaudista na corte dos Medici, que foi
pai de Galileu Galilei, o primeiro a observar a Lua com um telescópio mostrando
montes e vales que ninguém tinha visto antes. A Lua é, afinal, montanhosa como
a Terra. Mas, à medida que a ópera se foi desenvolvendo, houve curiosas
intersecções com a ciência. Num livro recente, Poções e Paixões - Química e
Ópera, o meu colega João Paulo André fala do papel da química num sem
número de óperas. O amor é um tema recorrente em óperas e, para favorecer ou
fenecer a química do amor, existem várias poções, desde a que aparece no Elixir
do Amor, de Donizetti, que é uma bebida preparada por um impostor simpático,
até ao veneno de Romeu e Julieta, de Gounod.
Perante vós está a Orquestra Clássica do Centro,
a qual, sob a notável batuta de Emília Cabral Martins, tem protagonizado a grande
música em Coimbra. O seu maestro hoje é José Eduardo Gomes. Natural de Vila
Nova de Famalicão, onde iniciou a sua formação musical, prosseguiu os seus
estudos no Norte do país. Estudou direcção de orquestra na Haute École de
Musique de Genève (Suíça). Como clarinetista, foi fundador de grupos de
câmara e laureado em vários concursos. É maestro da Orquestra Clássica da Faculdade
de Engenharia da Universidade do Porto e professor na Escola Superior de Música
e das Artes do Espetáculo do Porto, onde tem trabalhado com várias outras orquestras.
Já foi maestro da Orquestra Clássica do Centro, da Orquestra Clássica do Sul,
do coro do Círculo Portuense de Ópera e da Orchestre de Chambre de
Carouge, na Suíça. Foi recentemente laureado com o 1º prémio e o prémio
Beethoven no concurso de direção de orquestra da União Europeia
A soprano Lara
Martins é natural de Coimbra, mas tem fortes ligações a Tomar (Condeixa
está entre uma e outra terra!). Tinha seis anos quando o pai, um grande amante
de música, lhe contou a história de La
Traviata através das imagens que estavam impressas na capa do disco de
vinil. A ópera fazia parte do quotidiano da família mas só mais tarde, quando
já estava no Conservatório, é que ela decidiu ser cantora. Como bolseira da
Fundação Gulbenkian, formou-se na Guildhall School of Music and Drama em
Londres, onde terminou o curso superior de canto, com a nota mais alta (Lara
Martins é capaz das notas mais altas…) Muito ecléctica, brilhou em Londres no
musical dos musicais, O Fantasma da Ópera.
O tenor Paulo
Ferreira, natural de Santa Maria da Feira, é o tenor português com maior
notoriedade internacional. Foi bolseiro da Fundação Gulbenkian, estudou piano,
violoncelo e canto na academia de música da sua terra e concluiu o curso de
canto da ESMAE, no Porto. Aperfeiçoou-se em Itália, tendo estudado com grandes
nomes. Em 2011 estreou-se na grande sala de concertos da Philharmonie de
Colónia, ao lado de Anna Netrebko. Paulo Ferreira tem-se apresentado por toda a
Europa, em palcos como os de Bilbau, Cardiff, Nápoles, Hanôver, Bayreuth e
Basileia, como protagonista masculino em grandes óperas. Estreou-se há dois
anos na Filarmónica de Berlim como tenor solista do Requiem de Verdi.
Passo a apresentar e comentar as quatro primeiras
composições desta Serenata.
1-Abertura do Barbeiro de Sevilha, de Gioachino
Rossini. Instrumental.
A abertura é de uma ópera bufa do italiano Gioachino
Rossini (1792 - 1838), que foi um fracasso na sua estreia em 1816 em Roma, mas
que depois conheceu um retumbante êxito. O argumento do escritor francês
Beaumarchais começa com uma serenata do conde Almaviva a Rosina, uma jovem tutorada
por um médico, o Dr. Bartolo, que também a quer. Há uma curiosa ligação do 2.º acto
à meteorologia, que hoje não nos favorece, quando a orquestra faz a descrição
musical de uma tempestade, com trovoada.
O interesse pela electricidade era enorme na época romântica…
2- “Ah tardai troppo”, de Linda di Chamounix,
de Daetano Donizetti. Soprano.
Linda di Chamounix é um melodrama operático de Daetano Donizetti (1797 - 1848), o famoso
compositor contemporâneo de Rossini que nasceu em Bérgamo, no norte de Itália, que
foi há meses o centro da COVID-19, e morreu na mesma cidade, de neurosífilis,
após ter escrito 75 óperas. A sua última
ópera tem a ver com Portugal: D. Sebastião. A ópera Linda di Chamounix estreou em
1842 em Viena. “Ah tardai troppo”, “Ó cheguei tarde”, é um recitativo do 1.º
acto, que conta o enamoramento de Linda por Carlo, um artista pobre: "Cheguei tarde ao nosso/ local preferido e não encontrei/ o meu querido Carlo./ Ninguém
sabe/ o que ele terá sofrido.” No 2.º acto, Linda ficará demente devido aos
seus problemas amorosos. As cenas de loucura
eram muito do gosto do público do século XIX, quando a psiquiatria ainda
era incipiente.
3- Prelúdio do 1.º acto de La Traviata, de Giuseppe
Verdi. Instrumental.
Esta ópera do genial Giuseppe Verdi (1813 - 1901), em três actos, estreada em 1853 em Veneza, baseia-se no romance Dama das Camélias, de Alexandre Dumas. La Traviata, a mulher caída, é Violeta, que se apaixona sem revelar que está gravemente enferma. No final, Violeta morre, vítima de tuberculose, nos braços do seu amado, Alfredo. É uma doença que dizimou muita gente no século XIX, incluindo numerosos artistas (entre nós Júlio Dinis, António Nobre, Cesário Verde, etc.). Mas isso é só no fim da ópera, vamos ouvir o prelúdio. Só uma nota sobre a morte do próprio Verdi, de derrame cerebral: as suas exéquias foram impressionantes, com mais de 200.000 pessoas a cantar “Va Pensiero”, uma área de Nabucco, tocada por uma grande orquestra dirigida por Toscanini.
4- “Lunge da Lei” de La Traviata, de Giuseppe
Verdi. Tenor.
A área seguinte é também de La Traviata. Alfredo,
no 2.º acto, repleto de felicidade por estar junto da sua amada, ilustra bem o
seu enamoramento na ária «Lunge da Lei», “Longe dela”, onde confessa que
esqueceu o mundo e quase mora no céu. A letra diz: “Três luas já voaram/ desde que a minha
Violeta/ me deixou… Aqui ao lado dela sinto-me renascido”. Na química
amorosa, para além das hormonas sexuais existem as substâncias do amor
romântico, que desempenham um papel essencial no processo da paixão. Uma
molécula importante é a serotonina,
que está associada à primeira fase do amor romântico, em particular à tendência
para fantasiar revelada nesta ária.
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2.ª Intervenção
Passo a comentar as quatro composições que vamos ouvir em seguida:
5- Intermezzo de Cavalleria Rusticana,
de Pietro Mascagni. Instrumental.
Cavalleria Rusticana (em português “Cavalheirismo, ou nobreza, rústica”) é uma ópera num só
acto do italiano Pietro Mascagni (1863 - 1945), com libreto extraído de uma
novela de Giovanni Verga, que foi estreada em 1890 em Roma. Mascagni, um adepto
de Mussolini, morreu pobre logo após a libertação da Itália, há 75 anos. Apesar
de estar pouca gente nessa estreia tornou-se um sucesso imediato. Dividida em
duas partes, separadas pelo intermezzo que vamos escutar, a Cavalleria
Rusticana é uma das primeiras composições do realismo operático italiano.
Trata-se de uma história de amor, ciúme e morte que termina num
duelo. Esta composição tem sido usada como banda sonora de séries e filmes. Uma
nota curiosa: O êxito de Mascagni deve-se à sua esposa, que enviou a ópera sem
ele saber para um concurso musical, no qual obteve o primeiro lugar. Arrás de
um grande homem…
6- “O Mio Babbino Caro” de Gianni Schichi, de Giacomo
Puccini. Soprano.
Regressa a nossa soprano para cantar a ária “O Mio Babbino
Caro”, “Ó meu paizinho querido”, imortalizada pela voz de Maria Callas, que pertence
a uma ópera cómica num só acto do italiano Giacomo Puccini (1858 – 1924) – Puccini
não podia faltar neste espectáculo! – baseada numa história relatada na Divina
Comédia de Dante e estreada em 1918, por altura da gripe espanhola, em Nova
Iorque. Esta obra imortal de Dante apresenta o modelo cosmológico de Ptolomeu, no qual se situam o Paraíso e o
Inferno, o Paraíso no alto do céu e o Inferno no interior da Terra. Schichi, um
inimigo de Dante, é colocado por este no Inferno. Na área que vamos ouvir Lauretta,
que está loucamente apaixonada por Rinuccio, tenta amolecer o coração do pai,
que resiste a aprovar o namoro: ''Oh meu paizinho querido./ Eu amo-o, ele é
tão belo./ Quero ir à Porta Rossa/ para comprar o anel!” Puccini tem uma interessante relação
com a física: sofrendo de um cancro da garganta foi das primeiras pessoas a ser
sujeita a radioterapia. Infelizmente, não resistiu à doença.
7- “E Lucevan
le stelle” de Tosca, de Giacomo Puccini, Tenor.
De novo o grande Puccini, num ária cantada pelo nosso
tenor. A Tosca, uma ópera trágica em três actos estreou em Roma em 1900,
ano em que surgiu a teoria quântica, que hoje nos explica os átomos e as
estrelas. O título usa o nome de uma prima dona que é a personagem principal numa
história de amor. Na época da estreia, a atmosfera política na Itália era
tensa, com muita agitação socialista e anarquista. A rainha e o
primeiro-ministro assistiriam à estreia, e temia-se que o teatro fosse alvo de
um ataque terrorista, mas tal não ocorreu. Porém, seis meses mais tarde, o rei
italiano era assassinado por um militante anarquista. Tudo isto se passou oito
anos antes do regicídio em Lisboa de D. Carlos. Esta ária do 3.º acto ilustra bem
o enamoramento sob o céu estrelado. Mário, o amado de Tosca, canta: “E luziam as estrelas/ E o solo exarava
um aroma./ Rangeu a porta do jardim./ E um passo leve sobre a areia./ Ela
entrou com o seu perfume,/ E caiu-me nos braços./ Ó doces beijos, o suaves carícias/
Enquanto eu, trémulo,/ as belas formas livrava dos véus,/ esvaneceu-se para
sempre/ o meu sonho.”
8- “O Soave Fanciulla” de La Bohème, de Giacomo
Puccini. Dueto.
Ainda Puccini, três vezes Puccini portanto, agora com a soprano e o tenor em palco. "O soave fanciulla" (“Oh doce menina”) é um dueto romântico da famosa ópera estreada em 1896, ano da descoberta da radioactividade. É cantada a fechar o 1.º acto por Rodolfo e Mimì. Os dos apaixonam-se mal se vêem pela primeira vez, o que hoje os neurocientistas explicam através de uma substância química, a β‑feniletilamina, que actua como como neurotransmissor cerebral. A letra diz: “Ó doce menina,/ ó doce rosto/ banhado no suave luar,/ em ti eu vejo/ o sonho com que sempre sonhei!”.
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3.ª Intervenção
Passo a comentar as três penúltimas peças desta
Serenata.
9- Abertura de Cavalaria Ligeira, de Franz von Suppé.
Instrumental.
Vamos escutar uma peça instrumental: a abertura muito
conhecida da opereta Cavalaria Ligeira, do croata Franz von Suppé (1819
- 1895), que estreou em Viena em 1866. Embora esta opereta só raramente seja executada
ou gravada, a sua abertura é uma das composições mais populares do compositor, tendo
ganho vida própria. Muitas orquestras têm a peça no seu reportório e o seu tema
principal foi citado inúmeras vezes no cinema, incluindo desenhos animados. É
um tema de sabor militar, com o solo de trompete, a jeito de fanfarra, a chamar
os outros instrumentos.
10- “Meine Lippen sie
küssen so heiß,” de Giuditta, de Franz Lehár. Soprano.
Vamos agora ouvir uma ária para soprano de uma comédia
musical em cinco cenas do compositor austro-húngaro) Franz Lehar (1870 - 1948), que foi o seu
último trabalho. Surge quase no final, no 3.º acto: “Os meus lábios beijam
ardentemente” canta Giuditta, a heroína da peça com o mesmo título estreada em
1934. Giuditta abandona o seu marido e foge com Octavio, um oficial do exército,
para o Norte da África. Devido à sua profissão, Octavio deixa a sua amada, que
se torna uma dançarina de um clube nocturno. Vem a descobri-la após ter deixado
a sua unidade. Giuditta alcança sucesso na sua nova profissão, mas a
auto-estima de Octavio fica arrasada. Ela canta: “Os meus lábios beijam tão
ardentemente./ Os meus braços são tão macios e brancos./ Nas estrelas está escrito:/ Deves-me
beijar, deves-me amar!” Isto claro não é astronomia, mas sim astrologia. Dá
muito jeito para namoros…
11- “Lippen
schweigen”, de Viúva Alegre, de Franz Lehár. Dueto.
De novo os lábios e de novo uma obra de Léhar, num actuação em dueto. Há pouco os lábios estavam abertos, agora estão fechados. “Lippen schweigen”, “Fechar os lábios” é uma ária do final do 3.º acto da Viúva Alegre, uma divertida opereta em três actos, na comédia francesa. Estreada em 1905, o ano da teoria da relatividade de Einstein, em Viena, a peça pertence à época dourada da opereta. No enredo, várias pessoas tentam casar uma viúva rica para captar o seu património. Diz a canção, do 3.º acto, que lembra uma valsa: “Embora os lábios estejam fechados, os violinos sussurram:/ Cuida de mim!/ Todos os nossos passos de dança me dizem:/ Cuida de mim!/ Os nossos dedos apertados parecem tão certos para mim/ dizendo-me claramente: É verdade,/ tu queres saber de mim!”
----------------------------------------------------------------------------------------------------4.ª Intervenção
Aproximamo-nos do final. E terminamos em grande
beleza.
12- “O sole mio”, de Eduardo di Capua. Tenor.
De noite reinam a Lua e as estrelas. Mas de dia reina
o Sol, do qual depende toda a vida na
Terra. “O meu Sol” é uma célebre canção napolitana, composta em 1891 pelo
napolitano Eduardo di Capua (1865 - 1917), que Luciano Pavarotti, entre outros
grandes nomes, tão bem cantava. A letra diz: “Que bela coisa uma jornada de
sol, /um ar sereno depois de uma tempestade./ Pelo ar fresco parece já uma
festa./ Que bela coisa uma jornada de sol./ Mas um outro sol/ mais belo não há/
O meu sol,/ está na tua fronte.../ O sol, o meu sol,/ está na tua fronte.”
13- “Brindisi” de La Traviata, de Giuseppe Verdi. Dueto.
Vamos ouvir o terceiro e último excerto de La Traviata, de Verdi, neste
espectáculo, com o regresso do dueto, Lara Martins e Paulo Ferreira. O
“Brindisi” ou "Libiamo ne' lieti calici", um dueto que na ópera é
acompanhado por um coro, é uma das mais célebres melodias da história da ópera.
Surge no 1.º acto de La Traviata, cantada por Violeta e Alfredo, durante
uma festa em casa de Violeta. Um “brindisi” (que significa “saúde,” a palavra de
um brinde) é uma canção de bebida em grupo. O álcool, quimicamente C2H6O,
modifica o espírito, neste como em vários outros brindes operáticos. Alfredo
canta: “Bebamos, bebamos deste cálice de alegria./ Isto reforça a beleza/ Que
no fugaz instante/ prevaleça a volúpia./ Bebamos àquele doce êxtase/ que o amor
desperta./ O olhar penetrante/ Aponta directamente ao coração./ Bebamos ao
amor, e as nossas bebidas/ tornarão os nossos beijos mais ardentes.” Também
aqui, neste grande final, a música nos vai animar a todos. Não há álcool, mas ergamos
simbolicamente a nossa taça a esta orquestra, a este maestro e a estes dois
extraordinários solistas. Muito obrigado pela vossa inspirada serenata de hoje!
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Intervenção final
Encore -
“Blue Moon”, de Richard Rodgers (1902-1979) e Lorenz
Hart (1895-1943). Dueto.
O encore, um tema de música americana fora do universo da ópera, fala da Lua Azul. Escrita em 1934, “Blue Moon” é uma canção clássica do século XX. Foi cantada por grandes artistas como Billie Holiday, Elvis Presley, Bob Dylan e Cliff Richard. Na cultura popular, a canção já apareceu em filmes musicais como Grease e Blue Moon. É o hino do Manchester City, onde está o português Bernardo Silva. A Lua Azul é um acontecimento astronómico relativamente raro: chama-se assim a segunda lua cheia que acontece num mês. Fiquem atentos: a próxima “Blue Moon” será no próximo dia 31 de Outubro, dias antes da eleição americana. Boa Lua Azul em Outubro! Foi um prazer a Vossa companhia. E muito boa noite para todos.
MANIFESTO PARA O ENSINO E APRENDIZAGEM EM TEMPO DE GenAI
Por Maria Helena Damião e Cátia Delgado Assinado por académicos de diversos países do mundo, foi publicado no passado dia 29 de Novembro, ...
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Cap. 43 do livro "Bibliotecas. Uma maratona de pessoas e livros", de Abílio Guimarães, publicado pela Entrefolhos , que vou apr...