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segunda-feira, 7 de março de 2016

PAIXÃO PELA FÍSICA

Recensão primeiramente publicada na imprensa regional.



Muito provavelmente também aconteceu consigo. Há professores cuja influência nos acompanha pela vida fora. Professores que, com o seu entusiasmo e carisma contagiante, nos iluminaram o caminho, nos ensinaram de forma apaixonante uma dada disciplina, nos mostraram a beleza que há mesmo nas matérias mais difíceis. Em suma, há professores que mudam a nossa vida debruando-a com a paixão que há em compreender, em saber.

Entre nós há, felizmente, muitos exemplos de professores desses. Exemplo maior nas ciências foi o professor de física e de química Rómulo de Carvalho, que ensinou apaixonadamente várias gerações de alunos que lhe ficaram e estão agradecidos.

Na Física, a nível mundial, há um professor que se destaca: Walter Lewin. O leitor poderá não o conhecer. Mas, acredite, se assistir a uma aula dele passará a olhar para a Física com entusiasmo. Se já gostar de Física, ficará deslumbrado com a forma apaixonada, divertida e simultaneamente rigorosa com que Walter Lewin ensina as matérias mais difíceis e exigentes da Física.

E onde é que pode assistir às aulas deste professor? Na comodidade da sua casa, através do YouTube, na internet. É que as aulas que Lewin deu durante décadas no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), estão disponíveis para nosso encanto aqui. Têm sido excecionalmente populares ao longo dos anos. As 94 aulas disponíveis (três cadeiras completas, entre elas a famosa “Física 8.01”, e sete aulas temáticas) têm cerca de 3 mil visualizações por dia, mais de um milhão de alunos por ano!

O talento só dá frutos com muito trabalho e dedicação persistente. E o sucesso deslumbrante das aulas de Walter Lewin deve-se, segundo o próprio, a um trabalho meticuloso e pormenorizado, em que cada palavra, cada demonstração foram planeadas e preparadas muitas vezes antes de cada aula. Lewin era conhecido entre os colegas por fazer um último ensaio geral às cinco da madrugada do dia em que dava aulas para plateias de 400 alunos. Sim, ensaio geral: as aulas deste físico, de origem holandesa, envolvem demonstrações experimentais espantosas e surpreendentes. Lewin chega a colocar em algumas delas a sua própria vida aparentemente em risco. Aparentemente, pois a confiança e o rigor científico asseguram-lhe que de facto nada de mal lhe vai acontecer durante as demonstrações. A sua confiança na ciência é espectacular!

“Apresento as pessoas ao seu próprio mundo, o mundo em que vivem e que lhes é familiar e que não abordam como um físico – ainda não abordam”, diz Lewin para explicar o segredo do seu sucesso. É esta aproximação da Física ao dia-a-dia de todos nós que facilita a compreensão dos fenómenos.

Para coroar décadas de ensino numa das melhores escolas do mundo (o MIT), Lewin escreveu em 2011 o livro “A Paixão da Física – do final do arco-íris à fronteira do tempo, uma viagem pelos prodígios da Física”. Este livro foi agora publicado entre nós pela Gradiva, integrado na sua prestigiada colecção “Ciência Aberta”, com o número 214. O livro é prefaciado por Warren Goldstein, prestigiado historiador e ensaísta, ele próprio um entusiasta da Física e do trabalho desenvolvido por Lewin.




A tradução do original inglês é de Florbela Marques que fez um excelente trabalho. A revisão científica é de Carlos Fiolhais (que também é o actual director da colecção) e a revisão de texto ficou a cargo de Helena Ramos. São 400 páginas de puro fascínio pela Física e uma excelente obra de divulgação científica para todos.

Ao longo de quinze capítulos, Lewin conta-nos as suas aulas, a sua vida enquanto professor e cientista. Mas este livro está comoventemente compaginado com uma componente humana, em que Lewin partilha connosco como em criança escapou aos nazis, os seus tempos de estudante na Holanda, como começou a ensinar e conquistou uma cátedra do outro lado do Atlântico.

Walter Lewin também foi um extraordinário físico experimental: foi pioneiro na astronomia de raios X, contribuiu para a nossa compreensão de supernovas, de estrelas de neutrões, para a investigação experimental sobre existência de buracos negros. E a história desta ciência também é descrita na primeira pessoa neste livro, contribuindo assim com um testemunho pessoal para a história de como se faz ciência de qualidade na fronteira do conhecimento. É, assim, também um livro de história da ciência.

Esta obra é uma forma excelente de Lewin divulgar o seu entusiamo contagiante pela Física àqueles que não puderam ser seus alunos. Muito bem escrito, numa linguagem acessível e contagiante, este livro guia-nos pelo nosso mundo explicando como funciona através da Física que com ele passamos a compreender. É destinado a todos, porque todos gostamos de compreender o universo em que existimos. Apaixone-se pela Física com este livro.


António Piedade

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

REEDIÇÃO DO ÚLTIMO LIVRO DE CARL SAGAN



Vivemos uma época em que a superstição e os fundamentalismos voltam a crescer como ervas daninhas no jardim da razão. Mas se calhar sempre foi assim. Sempre houve aqueles que se aproveitam da ignorância dos outros para lhes impingir crenças vãs, banhas da cobra milagrosas, elixires rejuvenescedores que cegam o inevitável envelhecimento. Mas, quais velas a incendiar a escuridão, a humanidade tem sido capaz de gerar mentes brilhantes que nos legam caminhos de conhecimento. 

O astrónomo norte-americano Carl Sagan, exímio e elegante divulgador de ciência para todos, lutou fulgurantemente contra os “demónios” que infestam o mundo do conhecimento e que impedem que tenhamos uma consciência mais livre e esclarecida. O seu exemplo, inscrito na sua obra literária, que entre nós foi publicada pela editora Gradiva, é inspirador para o melhor que há em cada um de nós. Ao ler Carl Sagan somos despertados para a inteligência e convidados à aventura que tem como destino o conhecimento.

Vem isto muito a propósito da reedição do último livro que Carl Sagan escreveu, com o título “Biliões e Biliões – pensamentos sobre a vida e a morte no limiar do milénio”. Editado pela 1ª vez em Portugal em 1998, na colecção “Ciência Aberta”, da Gradiva, foi recentemente publicado nova edição agora com o número 10 da colecção que esta editora dedica às “Obras de Carl Sagan”. E saúda-se esta reedição que permite uma leitura mais cómoda e elegante desta fascinante obra.

Ao longo de 288 páginas Carl Sagan examina, com a sua inconfundível escrita fluída e elegante, clara e concisa, sonhadora e rigorosa, questões pertinentes sobre a vida, sobre a nossa relação ecológica com o planeta em que vivemos, sobre as questões por resolver do universo em que existimos.

Apesar de ter sido escrito há mais de 15 anos, na fronteira do novo milénio, a leitura deste livro encontra eco em problemas actuais e, também por isso, merece mais do que um olhar interessado. O modo como Sagan problematiza as questões que tenta responder conduz-nos a um pensamento científico que nos liberta das superstições, que nos permite debater ideias contrárias sobre a vida, a morte, a espiritualidade humana, com a liberdade democrática que advém do respeito pela individualidade.

Sagan acabou de escrever este livro já muito fragilizado com a doença que o vitimou. E esta confrontação com a morte transparece na sua escrita com uma coexistência pacífica entre a ciência e uma compaixão pela vida entendida no seu sentido mais sublime. Um rio de curiosidade cósmica transporta-nos ao longo desta derradeira obra numa reflexão sobre os desafios do presente e dos próximos séculos.

Por fim, “Biliões e Biliões” é um excelente ponto de partida para uma abordagem crítica a problemas como o aquecimento global, a convivência entre religião e ciência, o aborto, a morte e a vida, a reflexão sobre o nosso lugar no imenso mar cósmico.


António Piedade

quarta-feira, 5 de junho de 2013

AVENIDA "CIÊNCIA ABERTA" Nº 200

A partir de uma nota publicada no Diário de Coimbra


Um dos principais acontecimentos editoriais deste ano, pelo menos no contexto da melhor divulgação científica em língua portuguesa, é a publicação do n.º 200 da colecção “Ciência Aberta” da editora Gardiva.

A colecção, premiada em 2012 com o Grande Prémio Ciência Viva, teve início em Junho de 1982, o que demonstra a impressiva regularidade com que o seu editor, Guilherme Valente, brindou o público português com o que de melhor se faz a nível internacional na área da divulgação de ciência. Sublinhe-se que a “Ciência Aberta” é reconhecida internacionalmente como uma das melhores colecções de divulgação de ciência. 

O n.º 200, desta grande Avenida do conhecimento, é “Ciência e Liberdade – democracia, razão e leis da natureza”, do prestigiado Timothy Ferris, por muitos considerado o melhor divulgador de ciência da sua geração. 

Leia aqui o início deste livro.

António Piedade

terça-feira, 16 de abril de 2013

"TODA A CIÊNCIA (MENOS AS PARTES CHATAS)" É O NOVO LIVRO DOS CIENTISTAS DE PÉ

O novo livro dos Cientistas de Pé, um grupo de cientistas que faz stand-up comedy desde 2009, chega às livrarias no final de Abril, editado pela Gradiva.


«Com esta obra, além de ficarmos a saber mais sobre alguns aspectos das multifacetadas ciências modernas, as ciências que tão fortemente moldam o mundo de hoje, ficamos também com uma imagem mais verdadeira da ciência e dos cientistas. Estes são capazes de não se levar demasiado a sério. Tal como estes Cientistas de Pé, os melhores cientistas são capazes do melhor humor. Uma das anedotas mais engraçadas da ciência que conheço é aquela em que alguém pede a Einstein para fazer uma conta simples, que deveria ser feita mentalmente por um físico laureado com o Nobel. Resposta, surpreendente, de Einstein: 'Julgam que eu sou algum Einstein?'» in Prefácio (Carlos Fiolhais)

Neste livro podem ler-se piadas sobre a ciência que há no futebol, no sexo e no bacalhau. Ficará a saber que as ciências são como as drogas, há as leves e as duras. Conta-se o caso dramático de um jovem privado de homeopatia desde pequenino e a vida de um informático na óptica do utilizador. Ficará rendido à eficácia do speed dating com arroz hermafrodita e preocupado com a crise de identidade do lixo. Também é explicado como a capacidade de planeamento pode prejudicar o desenrascanço e feito um tocante peditório para financiar um programa de reprodução de ideias ameaçadas em cativeiro. A comicidade é assegurada por uma série de rigorosos testes realizados em laboratório, de modo que o leitor nem precisa de se preocupar em rir.

«Do ponto de vista de um observador à velocidade da luz, este livro parece engraçadíssimo.»
Albert Einstein

«Este livro tem e não tem piada ao mesmo tempo.»
Erwin Schrödinger

«Tentei rir-me pouco para não emitir muito dióxido de carbono.»
Al Gore

«Tenho pena não estar cá para ler isto.»
Dodô (Raphus cucullatus)  ave extinta no século XVII

Os autores são os Cientistas de Pé, um grupo de cientistas de diversas áreas (desde a biologia à Buraca) que (desde 2009) faz espectáculos de stand-up-comedy sobre temas científicos. Já actuaram em teatros, anfiteatros, centros de investigação, museus de ciência, jardins e para muitos polícias de trânsito, na esperança de verem perdoada uma multa de estacionamento abusivo de velocípede.

Coordenação: David Marçal
Bruno Pinto
Cheila Almeida
Daniel Silva
Ivette Pacheco
João Cruz
João Damas
Joaquim Paulo Nogueira
Leonor Medeiros
Ricardo Sequeira
Sandra Mateus
Sofia Guedes Vaz
Sofia Leite
Romeu Costa
Sónia Negrão

Na próxima quinta-feira, dia 18 de Abril, irei fazer uma pré-apresentação do livro no Museu da Ciência de Coimbra, às 18h. Ainda sem livro, numa lógica muito semelhante à de consultar o saldo do multibanco "no ecrã". É mais ecológico. No futuro talvez as pessoas também leiam livros no ecrã do Multibanco, já que levantar dinheiro será cada vez mais difícil!

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Passatempo “Pipocas com telemóvel…”: Oferta de um exemplar à resposta mais criativa



A Associação Viver a Ciência oferece um exemplar do livro "Pipocas com telemóvel e outras histórias de falsa ciência" para quem der a resposta mais original sobre mirabolantes refeições que (não) possam ser confeccionadas usando as radiações dos telemóveis. Mais informações aqui.

domingo, 25 de novembro de 2012

BOA TARDE DE PIPOCAS COM TELEMÓVEL NA SIC

A participação de Carlos Fiolhais e David Marçal no programa da SIC Boa Tarde, a propósito do livro Pipocas com Telemóvel, pode ser vista aqui.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

PORTUGUESES ENGANADOS COM A HOMEOPATIA

O Correio da Manhã de hoje publica uma notícia sobre o lançamento do livro Pipocas com telemóvel, com as primeiras reacções homeopáticas à nossa demonstração de ontem. Como é típico da falsa ciência, o presidente da Sociedade Homeopática de Portugal evoca argumentos de autoridade (é usado em hospitais, é antiga) em abono da sua hipótese e neste caso também da falta de autoridade (nossa!). Só que a ciência não se baseia em figuras de autoridade, mas sim em provas. Não explica porque é que julga que funciona. Isso sim, seria interessante e esclarecedor. Apenas diz que há autoridades que acreditam que a homeopatia funciona. Isso vale muito pouco.

"Portugueses enganados com homeopatia"

Os investigadores Carlos Fiolhais e David Marçal apresentaram esta segunda-feira o livro ‘Pipocas com telemóvel’, no qual apresentam exemplos de falsa ciência. A homeopatia, uma forma de terapia alternativa, adoptada por milhões de portugueses, é para os autores o melhor exemplo de falsa ciência.
“Diz-se que há cerca de 3 milhões de portugueses a serem tratados pela homeopatia. Estão a ser enganados, porque não é mais do que água com açúcar”, afirmou David Marçal, doutorado em bioquímica pela Universidade Nova de Lisboa.
Carlos Fiolhais, professor catedrático no departamento de Física da Universidade de Coimbra, corrobora. “Alguém os anda a enganar. A verdade é que aquilo que as pessoas tomam não faz mal nenhum, a não ser à carteira”, comentou ao CM.
Para demonstrar que a homeopatia não funciona, Carlos Fiolhais e David Marçal tomaram uma caixa inteira de um medicamento homeopático à frente de uma plateia de cerca de 30 pessoas.
“O conceito passa por diluir uma substância activa para se atingir um resultado. A diluição é tão grande que não sobra nada da substância inicial. A memória da água, ao contrário do que já se tentou demonstrar, não existe”, afirmou David Marçal, sublinhando: “A homeopatia não tem base nenhuma de conhecimento científico”.
Confrontado com as declarações de Carlos Fiolhais e David Marçal, o presidente da Sociedade Homeopática de Portugal questionou os conhecimentos de ambos. “Dá vontade de rir ou talvez de chorar. São detractores da homeopatia, que é usada em muitos hospitais de referência em todo o mundo, como São Paulo, Viena ou Munique”, afirmou Francisco António Franco Patrício, recomendando aos dois investigadores “mais estudo sobre o que é a homeopatia”.
“Estes cientistas pensam que são o supra-sumo da barbatana. Deviam era estudar mais e melhor o que é a homeopatia”, acrescentou o médico de clinica geral, que pratica a homeopatia há 30 anos.
No livro são mostrados outros exemplos de falsa ciência, inclusive usada pelas escolas. “As crianças índigo, as lâmpadas que melhoram as capacidades das crianças são tudo exemplos de falsa ciência que são apresentados neste livro”, referiu Carlos Fiolhais.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

LANÇAMENTO PIPOCAS COM TELEMÓVEL COM OVERDOSE HOMEOPÁTICA


Tudo preparado para a overdose homeopática logo à tarde, no lançamento do livro "Pipocas com telemóvel e outras histórias de falsa ciência" (às 19h, na FNAC Colombo). No folheto informativo pode-se ler: "se for informado pelo seu médico que tem intolerância a alguns açúcares, consulte-o antes de tomar este medicamento". Nisso estamos de acordo, já que açúcar é a única coisa que estes ditos medicamentos contêm! Com a diferença de que este é o açúcar mais caro que se pode encontrar no mercado.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

LANÇAMENTO DO LIVRO "PIPOCAS COM TELEMÓVEL E OUTRAS HISTÓRIAS DE FALSA CIÊNCIA"

O lançamento do livro Pipocas com telemóvel e outras histórias de falsa ciência, editado pela Gradiva, será na próxima segunda-feira, dia 5 de Novembro pelas 19 horas na FNAC Colombo, em Lisboa. 


O livro conta histórias de falsa ciência. O menu é muito variado, sendo esta obra uma degustação que Carlos Fiolhais e David Marçal entenderam como representativa deste mundo pseudo-científico. O lançamento conta com a presença de ambos os autores que farão uma diluição homeopática, mostrando que os remédios homeopáticos são só água e açúcar, vendidos a um preço exorbitante!

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

NOVO LIVRO: PIPOCAS COM TELEMÓVEL E OUTRAS HISTÓRIAS DE FALSA CIÊNCIA


O novo livro de dois também autores deste blogue (Carlos Fiolhais e David Marçal) já chegou às livrarias (pelo menos a algumas). Ficam aqui as primeiras páginas.


(clique na imagem para aumentar)

A ABRIR

A credibilidade da ciência é um selo apetecível. Por isso há muita gente que não hesita em disfarçar a sua banha da cobra como ciência para a vender melhor. Por outro lado e paradoxalmente, há quem despreze a ciência, considerando-a demasiado fechada a novas ideias, por exemplo, mas que, ao mesmo tempo, não se inibe de a evocar em abono das suas teorias, sempre que isso lhe é conveniente. 
O astrofísico e grande divulgador de ciência norte-americano Carl Sagan afirmou um dia que a ciência significava “uma grande abertura a todas as ideias, mas não tão grande que os miolos caiam para fora da cabeça”. É o método científico, do qual um dos principais ingredientes é o espírito crítico, que determina o que é e o que não é ciência. Chama-se falsa ciência ou pseudociência a tudo aquilo que, embora disfarçando-se de ciência para ganhar credibilidade, não passa no crivo apertado do espírito crítico. A astrologia, a numerologia, o criacionismo, a homeopatia, as curandices quânticas, os movimentos anti-vacinas, a negação do aquecimento global, etc. são exemplos de falsas ciências. Não porque à partida não haja abertura para considerar esses movimentos dentro do quadro da ciência, mas porque, sujeitas a exame, “chumbam” em critérios simples de lógica e de conformidade com o funcionamento do mundo. As leis do mundo são como são e não como alguns gostariam que fossem. Há quem diga “não negue à partida uma ciência que desconhece”. Mas essas actividades humanas, que de resto estão muito difundidas, não são ciências e têm sido negadas por muitos cientistas que as puseram à prova. Podem perfeitamente ser negadas por quem confie nesses cientistas. É uma pura perda de tempo estar constantemente a experimentar tudo, uma vez que podemos confiar em quem já experimentou o suficiente e viu que a coisa deu mal ou simplesmente não deu.

O espírito crítico é uma marca da ciência, mas, com certeza, não é um exclusivo da ciência. É uma marca maior do homem, que é um ser racional, e que conseguiu e consegue afirmar-se no mundo num exercício permanente de racionalidade. Acontece, porém, que, na ciência, o espírito crítico está ainda mais desenvolvido do que noutras actividades. Conhecer o método da ciência revela-se útil para a vida de todos os dias, pois quem o conhece e o sabe aplicar a todo o tipo de stituações estará menos sujeito a enganar-se e a ser enganado. Há no mundo (pelo menos, na Terra) muita gente a querer enganar os outros, abusando da ignorância alheia, mas a cultura científica, o conhecimento ainda que elementar dos factos e das atitudes científicas, constitui o melhor antídoto contra esses logros.

Há uma ideia com a qual nos deparamos várias vezes ao longo deste livro e que vale a pena explicitar: uma conclusão científica não depende de nenhum artigo científico em particular. Na realidade, muitos artigos científicos estão pura e simplesmente errados. Alguns deles têm falhas metodológicas que viciam os resultados. Outros contêm conclusões abusivas acerca dos resultados apesar destes estarem correctos. A força da ciência assenta em todo um corpo de provas produzido por uma vasta comunidade científica. Ao contrário de outros saberes, a validade da ciência resulta da capacidade de encontrar e corrigir erros, não da recusa da sua existência. 

A validade da ciência também não depende da credibilidade ou prestígio de nenhum cientista em particular. A ciência assenta na prova, independentemente de quem propõe uma nova hipótese ou teoria. Watson e Crick propuseram em 1953 que a molécula de ADN tem a forma de uma dupla hélice, como uma escada em caracol. A estrutura dessa molécula seria a mesma, independentemente de quem a tivesse proposto. 

É, porém, demasiado fácil escolher a dedo apenas um artigo para apoiar uma determinada teoria. Esse artigo até já pode ter sido desmentido. Quando queremos obter o melhor conhecimento científico acerca de um determinado assunto, temos que olhar para a paisagem toda. Apenas uma ou duas fotografias, ou um curto vídeo, podem ser enganadoras. Continuando essa analogia, se o leitor confiar num ou dois postais ilustrados para escolher o próximo local das suas férias, arrisca-se a apanhar uma grande desilusão. 

Um bom exemplo de uma tentativa de enganar os outros é dado pelo vídeo da produção de pipocas com a ajuda de vários telemóveis, que alguns engraçados colocaram na Internet, talvez para se divertirem, mas que espalharam o pânico sobre hipotéticos perigos daqueles aparelhos. Mas muitos outros exemplos se encontram ao longo deste livro. Os autores, o primeiro bioquímico e o segundo físico, depois de, nesta mesma editora, terem contado, em Darwin aos Tiros algumas histórias de ciência, contam neste Pipocas com telemóvel, algumas histórias de falsa ciência. Se as histórias do livro anterior eram divertidas (foi, pelo menos o que disseram a maioria dos leitores que contactou os autores, não sendo, por isso, a amostra neutra), as histórias do presente livro são divertidíssimas. Se a ciência pode ser divertida, a pseudociência então é garantidamente muito divertida...

O livro encontra-se dividido por capítulos, de acordo com os sítios onde se passaram ou onde se relatam as histórias de falsa ciência. Há falsa ciência, muita falsa ciência, na Internet; há falsa ciência, também muita, nos media; há falsa ciência, muitíssima, no supermercado; há falsa ciência, pasme-se, na escola; há falsa ciência na saúde, bastante mais do que o leitor imagina; há até, imagine-se, falsa ciência na ciência. Algumas histórias são antigas, mas a maioria são recentes, algumas muito recentes: por muito importante que a ciência seja no mundo de hoje, a falsa ciência encontra-se hoje por todo o lado, por vezes parecendo mesmo que lhe disputa a importância. Os autores esperam que a leitura destas histórias não só divirta o leitor como o coloque em estado de prevenção contra a falsa ciência que pode encontrar em qualquer substância. Se conseguirem que o leitor não seja enganado em qualquer situação com custos superiores aos do custo do livro, já ficarão contentes, pois ter-lhe-ão dado lucro.

O seu a seu dono. No capítulo 1 (Falsa ciência na Internet) a história Pipocas com telemóvel, foi escrita por Carlos Fiolhais (CF) e A paz no mundo ou um orgasmo a tentar foi escrita por David Marçal (DM). No capítulo 2 (Falsa ciência nos media), as três primeiras histórias (Horóscopos ou horós-copos?, Os números enganam e Não vem aí o fim do mundo!) foram escritas por CF, ao passo que as duas últimas (Aquecimento esclarecido e o O gene gay) são da responsabilidade de DM. No capítulo 3 (Falsa ciência no supermercado) todas as histórias foram escritas por DM (dos dois, o maior especialista em supermercados, portanto). No capítulo 4 (Falsa ciência na escola) as histórias voltaram a ser repartidas entre os dois autores: CF escreveu sobre as Crianças entre o azul e o violeta e DM redigiu Olhar para uma lâmpada para ter ideias luminosas). No capítulo 5 (Falsa ciência na saúde), CF escreveu Radiações por todo o lado, e Curas quânticas, enquanto DM escreveu sobre A racionalidade diluída da homeopatia, Milagres congelados (que se refere às células do cordão umbilical) e “os movimentos anti-vacinas”. Finalmente, no capítulo 6 (Falsa ciência na ciência), CF escreveu sobre Cientistas espíritas, Ciência sem consciência, Fusão fria e Plástico fantástico, tendo DM escrito sobre a A memória da água e o mágico. No final oferecem-se recensões de quatro livros em português sobre o mesmo assunto que este (não há quatro sem cinco!), algumas indicações de blogues e abundantes notas para o leitor interessado em saber mais. Apesar da divisão descrita, os autores declaram que, aqui e ali, meteram a colher na prosa do outro com autorização recíproca. Isto é, este livro é dos dois.

Alguns dos temas aqui tratados já foram tratados pelos autores no seu blogue De Rerum Natura, um sítio onde se têm multiplicado discussões acerca destes e de outros temas de ciência e cultura em geral. Espera-se que o debate prossiga...

Os autores estão cientes de que algumas pessoas ou grupos se poderão sentir atacados por algumas coisas ditas neste livro. Ma essa não foi, em nenhum momento, a intenção dos autores. Usámos apenas a arma da racionalidade, ajudada por uma pitada de ironia, não para atacar quem quer que seja mas para atacar algumas ideias que circulam. Todas as ideias podem ser discutidas. E há algumas que são altamente discutíveis! Mas às pessoas que eventuamente se zanguem com uma ou outra parte do conteúdo deste livro, lembramos Aristóteles:

"Qualquer um pode zangar-se - Isso é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na hora certa, pelo certo e da maneira certa - isso não é fácil".

Os autores querem, tal como é costume (pelo menos foi o que fizeram em Darwin aos Tiros), agradecer às suas famílias e aos seus amigos o tempo e a compreensão que lhes deram para eles escreverem estas histórias. Agradecem a José Souto e à Olifante Design o cartune da capa. DM gostaria ainda de agradecer aos biólogos André Levy pela revisão do texto Desenho Inteligente e Francisco Branco pela revisão do texto do Aquecimento Esclarecido.

Querem agradecer antecipadamente aos seus leitores (antecipadamente coisíssima nenhuma, pois já leram até aqui...) E querem agradecer à sua editora, a Gradiva, e, em particular ao seu editor, Guilherme Valente, que continua, com determinação e coragem, a acender, como tão bem disse Sagan, “uma vela na escuridão”.

Coimbra e Lisboa, 2 de Setembro de 2012

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

“O NÚMERO DE OURO”

Recensão primeiramente publicada na imprensa regional portuguesa.

O que é que têm em comum a bela distribuição das pétalas de uma rosa, as esplendorosas conchas em espiral dos moluscos, o famoso quadro de Salvador Dali “o Sacramento da Última Ceia”, a reprodução dos coelhos e a forma das galáxias? O “número de ouro”.

O “número de ouro”, igual a 1,6180339887…(uma dizima infinita não periódica) é comummente identificado pela letra grega fi (ϕ), a primeira letra do nome Fídias, escultor grego (c. 490 a c. 430 a.C.) cujas esculturas terão sido supostamente influenciadas pela proporção indicada pelo “número de ouro”.

Esta ligação entre a matemática e as artes é muito mais comum e antiga do que normalmente temos presente, remontando seguramente à civilização jónica. O “número de ouro” tem fascinado não só artistas plásticos mas também biólogos, físicos, astrónomos, músicos, historiadores, arquitectos, psicólogos, filósofos, místicos, entre outros. De facto, o "mistério" da frequência com que este número aparece ao longo da vida inspirou e influenciou pensadores de todas as disciplinas como nenhum outro na história da matemática.

O “Número de Ouro” é também o título no novo volume (n.º 195) da incontornável colecção “Ciência Aberta, da editora Gradiva que o acaba de publicar. Com a autoria do astrofísico Mario Livio (do Instituto de Ciência do Telescópio Espacial Hubble), “O Número de Ouro – a história de Φ , o número mais assombroso do mundo”, recebeu o Prémio Internacional Pitágoras - Peano - para melhor livro de divulgação matemática. Este livro é de facto fascinante e está escrito de uma forma muito cativante.

Mario Livio vai muito para além de descrever as propriedades matemáticas, geométricas, associadas ao número de ouro. Ao longo de nove capítulos (1 - Prelúdio a um número; 2 - A frequência e o pentagrama; 3 - Debaixo de uma pirâmide a apontar para as estrelas?; 4 - O segundo tesouro; 5 - Filho afortunado; 6 - A divina proporção; 7 - A liberdade poética também é um direito dos pintores; 8 - Dos mosaicos aos céus; 9 - Deus será matemático?), o autor guia-nos através da história da matemática e da humanidade, numa linguagem sóbria e fluída, contida no entusiasmo que o número desperta constantemente.

Mario Livio desmistifica e desmonta inúmeras associações, forçadas, erradas, documentadas em fontes dúbias ou mesmo inexistentes, e que existem na literatura sobre a presença do “número de ouro” em várias obras de arte e arquitectónicas da história da humanidade. Através de uma análise rigorosa às fontes e aos argumentos que vários autores usaram ao longo da história do “número de ouro”, o autor deste livro eleva-nos ao interesse genuíno sobre este número de forma arrebatadora e despojada de falsa ciência.

O astrofísico escreve no primeiro capítulo do livro (Prelúdio a um número) que o objectivo de nos ajudar a obter alguns conhecimentos sobre as bases daquilo a chama a “numerologia de ouro” assim como o de transmitir o lado humano que sempre esteve presente na história deste número, norteou a sua escrita.

Para Roger Penrose, emérito matemático da Universidade de Oxford, este livro é “um trampolim maravilhoso para o extraordinário mundo da matemática e da sua relação com o mundo físico tal como encarado da Antiguidade aos tempos modernos”. 

Ao sabor de inúmeras histórias, e à “boleia” do “número de ouro”, Mario Livio consegue transmitir de forma simples inúmeros conceitos e elementos que são fundamentos de várias áreas da matemática. Ao descrever as propriedades implícitas no “número de ouro”, faz um apelo à nossa atenção para mundo à nossa volta e usa a matemática para salientar a sua beleza e o fascínio, o espanto, que as coisas misteriosas sempre despertaram na mente humana. 

Recomendável, ou mesmo imprescindível, para mostrar o quanto a matemática é útil para o conhecimento do cosmos e como ela está presente na sua beleza.

António Piedade

Ficha bibliográfica:
O Número de Ouro - A história de Fi, o número mais assombroso do mundo
Autor: Mario Livio
Editora: Gradiva
Colecção: Ciência Aberta
Páginas: 392
Ano de edição: 2012
ISBN: 978-989-616-496-6
Capa: Brochado (capa mole)

EM QUE ACREDITA O SENHOR MINISTRO DA EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E INOVAÇÃO E A SUA EQUIPA?

No passado Ano Darwin, numa conferência que fez no Museu da Ciência, em Coimbra, o Professor Alexandre Quintanilha, começou por declarar o s...