domingo, 31 de outubro de 2010
Medicamentos para emagrecer: sim ou não?
Do livro "Emagrecer é...", de Ana Carvalhas, que acaba de sair na Gradiva, publicamos um pequeno excerto sobre medicamentos para emagrecer:
"Algumas pessoas que sofrem de excesso de peso chegam à minha consulta com a esperança de que lhes prescreva não só uma “dieta” mas também mais "qualquer coisa" que ajude a alcançar o pretendido objectivo de emagrecer. A ideia de perder peso de um modo fácil e rápido está geralmente associada ao recurso a medicamentos, embora as complicações resultantes da administração de vários medicamentos dietéticos, verificadas ao longo de décadas, coloque em dúvida a boa relação benefícios/riscos desta prática. Nos anos 30 do século passado, o fármaco da moda para emagrecer era o dinitrofenol, um produto que ajudava o corpo a queimar as gorduras. Infelizmente, também provocava cegueira e morte. Nas décadas de 50 e 60, quem queria emagrecer tomava anfetaminas para suprimir o apetite e acelerar o metabolismo, até se ter concluído que essas pessoas ficavam paranóicas e, quando paravam de as tomar, sentiam-se deprimidas e ficavam em risco de criar dependência do medicamento e de ter problemas cardíacos. Perante tal situação, e para minimizar estas reacções adversas, a Food and Drug Administration (FDA), organismo que detém a responsabilidade da supervisão da qualidade dos produtos de consumo nos Estados Unidos, exigiu que o período de ingestão destes medicamentos não fosse suferior a três meses.
Entre nós e, recentemente, fizeram furor dois médicos que faziam a prescrição de medicamentos manipulados. O tempo veio mostrar que, por um lado, a utilização de alguns dos ingredientes dos comprimidos (todos nos lembramos da polémica da utilização do pó de tiróide e de hipófise dos comprimidos do Doutor Tallon) prejudicou a saúde dos seus utilizadores e, por outro lado, os doentes, quando deixaram de tomar os medicamentos, não só recuperaram os quilos perdidos mas também ganharam mais alguns como bónus indesejado. As pessoas gastaram tempo, dinheiro e saúde totalmente em vão.
Por sua vez, a sibutramina, de nome comercial Reductil, ajudava a controlar o apetite por ser um inibidor de recaptação de serotonina e norepinefrina que actuava aumentando os níveis desses dois neurotransmissores. Foi suspensa a sua venda no início do ano de 2010 porque se provou que aumentava o risco de eventos cardiovasculares graves.
O único medicamento, actualmente no mercado, considerado suficientemente seguro (tanto quanto se pode dizer hoje) para ser utilizado num tratamento com o máximo de um ano é o orlistato, que funciona como inibidor da lipase, uma enzima produzida no pâncreas. Este medicamento, comercializado em Portugal com os nomes Xenical e Alli, impede que cerca de 30 por cento da gordura alimentar seja digerida e absorvida no intestino. Os efeitos indesejáveis são a produção de fezes oleosas, o descontrolo das dejecções e a má absorção de vitaminas lipossolúveis (vitaminas A, D, E e K). Aconselha-se, por isso, quem esteja a tomar orlistato que compense essa falta com suplementos destas vitaminas. Deve ainda ter em atenção a falta de vitamina B12 e de ferro.
A prescrição de qualquer medicamento para emagrecer implica sempre a recomendação de uma dieta baixa em calorias e o aumento do exercício físico. O medicamento por si só, sem uma orientação alimentar adequada, não permite mais do que uma pequeníssima redução de peso. E o peso perdido será recuperado imediatamente logo que se termine a medicação.
Por seu lado, as infusões e outros produtos, à venda em farmácias e ervanárias, anunciados insistentemente como “devoradores de gordura” com “efeito super-adelgaçante”, principalmente nas vésperas da época balnear, não são mais do que pura charlatanice. Acha a leitora ou leitor que, se acaso houvesse um produto milagroso que devorasse gorduras, que os Estados Unidos e os outros países desenvolvidos continuavam a ter o problema da obesidade que hoje têm?
A lipoaspiração, um método também muito procurado por pessoas que pretendem perder peso de um modo fácil e rápido, não é propriamente um método de emagrecimento. Apesar dessa cirurgia ser a campeã das cirurgias plásticas, ela envolve grandes riscos para a saúde e de vida. A lipoaspiração servirá apenas e quando muito para remover gordura localizada que o exercício físico e as dietas não conseguiram eliminar. E o que dizer da tão apregoada “lipo não invasiva”, uma técnica que promete reduzir o número de células de gordura no organismo sem os inconvenientes da cirurgia? O processo utiliza ultra-sons que rompem as membranas dos adipócitos (células gordas) libertando a gordura no sistema linfático para ser posteriormente eliminada pela urina. Este método apesar de ser utilizado em mais de 50 países não foi ainda aprovado pela FDA, nos Estados Unidos. Tenho muitas dúvidas acerca da segurança da sua utilização. A ver vamos!
Emagrecer completamente sem esforço é uma utopia. A mudança de hábitos exige força de vontade e determinação. Este é o primeiro passo de um programa de perda de peso consistente e eficaz. O segundo passo será procurar uma ou um nutricionista, o profissional de saúde mais habilitado para acompanhar uma pessoa decidida a emagrecer, primeiro, durante todo o processo de emagrecimento e, depois, durante o processo de manutenção do peso, que é tão importante como o anterior. O terceiro passo será, obviamente, seguir aquilo que o nutricionista prescrever para o caso individual.
A conclusão é esta: não há, de facto, medicamentos ou quaisquer outros produtos que sejam milagrosos para o emagrecimento. Sabendo isto, pergunto: Valerá a pena tomar medicamentos para emagrecer?"
Ana Carvalhas
A NÃO PERDER...
“Segundo a Universidade Católica, 1 em cada 3 alunos das Novas Oportunidades considera que o programa foi positivo na sua vida profissional, uma vez que passaram a entender porque foram despedidos, enquanto antes achavam que ‘justa causa’ era um programa sobre advogados da Fox. ‘Se ainda fosse ignorante estaria optimista e pensaria, baseando-me nos ditados populares, que ‘depois da tempestade vem a bonança’. Mas, como agora estou dotado de qualificações literárias e valências pedagógicas, concluí analiticamente que nunca mais vou encontrar emprego na vida. Obrigado, Novas Oportunidades!, explicou um português de 45 anos de idade. VE”.
sábado, 30 de outubro de 2010
EL-REI VISITA A ESCOLA POLITÉCNICA
Fernando Correia de Oliveira, no seu recente livro "O Relógio da República" (Âncora) ressuscitou este excerto d' "As Farpas" de Eça de Queiroz de 1878 relativo à visita do rei D. Luís à Escola Politecnica em 1877 para inaugurar uma linha de telefone com o Observatório da Ajuda (a grafia foi actualizada):
"Por ocasião da visita de el-rei á Escola Politécnica funcionou o telefónio entre uma das salas da Escola e o Observatório da Tapada.Eça de Queirós
Approximando-se do novo aparelho transmissor dos sons, dizem os jornais que sua magestade ouvira um solo de cornetim! Houve primeiro dúvida sobre se o fio ligava a Escola Politécnica com o Observatório Astronómico ou se a ligava com a Filarmónica União e Capricho. O solo era efectivamente executado pelo Observatório.
Enquanto a astronomia tocava cornetim é natural que, em compensação, a arte musical se ocupasse em determinar uma paralaxe.
A única coisa que estranhamos é que o Observatório não observasse entre as suas peças de música alguma coisa mais interessante para transmittir a el-rei do que o próprio hino do mesmo augusto senhor.
Que o Observatório cultive a especialidade do cornetim, perfeitamente de acordo! Mas que ele cultive igualmente a especialidade do hino parece-nos um abuso que o príncipe não levará a bem.
Reflectiu por acaso o Observatório no que é o hino para um cérebro coroado? Cremos que o Observatório não desceu ainda com as suas conjecturas ao fundo desse abismo. É horroroso.
Para os cérebros coroados o hino equivale a uma enfermidade monstruosa.
O Observatório faz certamente ideia do que é ter zumbidos, não é verdade? Pois ter hino é pior. É ter constantemente, durante toda a vida, em casa, na rua, em viagem, nas cidades, nas vilas, nas aldeias, sobre as próprias águas do mar, sempre, por toda a parte como doença crónica, como afecção incurável do nervo acústico, a audição do mesmo trecho de musica! O que deve levar paulatinamente à loucura.
Que o Observatório se compadeça do infeliz príncipe condenado a tão incomportável flagelo! O Observatório há-de ter conhecimento das contrariedades que amarguram a existência; o Observatório há-de ter faltas de dinheiro, há-de ter constipações, há-de ter dores de dentes, há-de ter calos. O príncipe tem tudo isto, e demais a mais tambem tem hino. Poupemo-lo ao desgosto de o fazer acompanhar pelo seu triste mal às regiões da ciência! Inflijamos-lhe o solo, visto que não há outro remédio, mas perdoemos-lhe por esta vez o hino! Sejamos terríveis, mas sejamos justos! A providência colocou-nos na mão o cornetim. O monarca presta-nos submissamente o seu real ouvido. Não abusemos desse instrumento poderoso e dessa orelha inocente! Compenetremo-nos da tremenda responsabilidade que pesa sobre nossas cabeças! Somos cornetistas, mas somos tambem astrónomos ... Toquemos o Pirolito! E a posteridade nos abençoará."
A QUEIMA DAS FITAS DE COIMBRA
“Não se exijam ao povo metamorfoses de hábitos e gosto que a tradição lhes inveterou secularmente” (Fialho de Almeida, 1857-1911).
De um oportuno post de João Boavida, professor jubilado da Universidade de Coimbra, intitulado “A universidade nas mãos dos putos”, aqui publicado com a data de ontem, peço vénia para transcrever este breve excerto:
“Note-se que a praxe entre os estudantes, e Elísio Estanque refere-o, é só a parte visível e chocarreira do formalismo que estrutura e continua a estruturar a Universidade, Mas que, curiosamente, as instituições mais recentes se apressaram a copiar numa tentativa de criar uma história e uma tradição que as justifique, lhes dê segurança, talvez até respeitabilidade”.
Mas, para mim, onde João Boavida, com a sua longa vivência da academia Ccimbrã, age com bisturi de hábil cirurgião da massa tumoral de uma má prática académica é na denúncia corajosa das “chocarreiras praxes académicas universitárias” a que, pelo menos em parte, se subtraíram as universidades da capital, Universidade Clássica de Lisboa (1911) e Universidade Técnica de Lisboa (1930), quiçá,pela dispersão das respectivas faculdades e institutos.
Com a criação do ensino politécnico passou a ser mais evidente a tendência para a colagem às tradições universitárias, através da Queima das Fitas da Universidade de Coimbra, em que os seus estudantes, no desleixo do uso completo da capa e batina, se passeiam pela cidade, eles, apenas, com calças pretas e camisas brancas e elas de saia preta e camisa branca, em desrespeito pelo regozijo de um caminho académico responsável. Os excessos da praxe fazem-se sentir de forma mais ampliada entre os alunos do ensino politécnico não sujeitos a um código académico que os advirta de situações extremas, sujeitas a sanções de tribunais civis chamados a sancionar conflitos que fazem perigar a integridade física e moral de estudantes.
Ora, parece-me que a “respeitabilidade” do ensino politécnico passa por criar um espirit du corps que o identifique como tal estabelecendo as diferenças, por exemplo, entre as actividades relacionadas com um uso, apenas de décadas, e uma tradição coimbrã secular. Por assim pensar, num pequeno texto de um dos meus livros, escrevi em 2005:
“De início, nas festividades da Queima das Fitas da Universidade de Coimbra, foi vedado ao ensino politécnico a participação no cortejo dos respectivos carros alegóricos.
Pelo acatamento, embora contrariado, do conselho popular de que 'a boda e a baptizado não vás sem ser convidado', passaram os carros do ensino politécnico a estarem estacionados numa rua que conflui com a Praça do Comércio para aí tentarem receber a graça de se integrarem no cortejo como caudatários. Tempos depois, passam a participar directamente no séquito, embora sob a condição de ocuparem os últimos lugares de um cortejo que assume proporções de corso carnavalesco que, 'ipso facto', se transformou numa mole descaracterizada de carros em desfile de várias horas que nada contribui para um espectáculo condigno de uma festividade académica, um dos 'ex-libris' da 'cidade dos doutores'.
Entretanto, continuam excepcionados de uma festa comum a alunos universitários e politécnicos o 'Baile de Gala' (dedicado, apenas, a finalistas do ensino universitário) e, de cero modo, as 'Noites do Queimódromo', em que cada uma delas é destinada a uma das suas oito faculdades” (“O Leito de Procusto”, SNPL, 2005, ps. 114-115).
Seja como for, o ensino politécnico já demonstrou ter maturidade suficiente para se constituir num corpus próprio que se distinga e valorize por si próprio sem necessidade do bordão de uma queima das fitas, tradicionalmente universitária. Recentemente foram dados passos nesse sentido por parte do politécnico. Pode ser que a transfusão de um sangue depurado de práticas más possa fazer regressar a Coimbra a dignidade de jovens que aí chegam todos os anos para estudarem e se valorizarem como cidadãos sem a discutível rigidez de uma dura praxis, sed praxis universitária ampliada nos seus defeitos por cópias grotescas sempre piores que os respectivos originais, mas sempre desculpadas.
O ensino do latim nos liceus alemães
A longa tradição do ensino do latim como disciplina liceal obrigatória, outrora condição de acesso aos estudos universitários na Alemanha, foi quebrada no século XX. Principalmente após a década de 60, e em consequência de reformas dos currículos escolares, o latim tornou-se uma disciplina facultativa tendo sido preterida por muitos alunos a favor de outra língua moderna para além do inglês.
A estas reformas institucionais, desenvolvidas a partir de novas teorias sobre o ensino, juntaram-se outros factores que contribuíram para a desvalorização cultural do latim. Entre eles, a tendência de canalizar todos os recursos da instrução escolar no delineamento atempado de percursos que encarreirassem crianças e adolescentes de preferência para estudos que facultassem saídas profissionais prometedoras de sucesso económico e reconhecimento social. Embora alguns desses estudos se situassem na área das humanidades, o latim era (e é) condição de acesso apenas para uma minoria de cursos universitários. Na verdade, aprender latim implicava per se grande dispêndio de tempo sem que lhe fosse reconhecido grande utilidade, pois que a sua aplicabilidade profissional parecia restringir-se aos domínios cultural e académico.
A vivência escolar da geração anterior desempenhou também um papel fundamental no referido processo desvalorativo. Entediada por uma didáctica que havia reduzido a aprendizagem do latim ao memorizar da gramática e à tradução de feitos guerreiros, esta geração não podia aconselhar os seus filhos a estudar uma língua, cujos esforços de aprendizagem ela própria não saberia justificar, tanto mais quanto, para a maioria, o seu conhecimento se tinha revelado predominantemente supérfluo na vida pós-escola.
Nos finais do século passado e na primeira década deste, assistiu-se a uma revalorização do latim, tendo o número de alunos nos liceus alemães aumentado em 30% relativamente aos anos anteriores. Hoje em dia, o latim, disciplina curricular obrigatória apenas nos poucos liceus de perfil humanista existentes na Alemanha, posiciona-se (consoante os estados federais) em 2.º e em 3.º lugar na lista das línguas aprendidas do 5.º ao 10.º anos. Que motivos levaram a esta mudança?
O renascimento do latim emergiu da reflexão que se tem feito sobre as causas do generalizado baixo nível de literacia entre os estudantes do ensino médio e superior, a que se soma o insucesso escolar condicionado por graves lacunas no domínio do alemão, impedimento decisivo no acesso à universidade. Este insucesso (era e) é notório no caso de alunos com herança familiar migratória e/ou pertencentes a estratos populacionais com uma assumida atitude de distanciamento e mesmo de recusa da instrução e da formação escolares.
É num ambiente de desencanto sobre a qualidade e a eficácia de algumas premissas do sistema educativo alemão que se iniciou em 1997 um projecto inovador no ensino de línguas estrangeiras. Este modelo prescreve desde o 5.º ano liceal a aprendizagem de duas línguas estrangeiras, latim e inglês, ambas com a mesma carga horária semanal, que é elevada A necessidade de se dominar a língua inglesa é indiscutível. Mas pode dizer-se o mesmo em relação ao latim?
O projecto baseou-se em diversas observações. É conhecido que, na fase inicial de aprendizagem do inglês, muitos alunos atingem uma relativa desenvoltura na comunicação oral sem dominar substancialmente as estruturas gramaticais da língua. Este sucesso, rápido e relativamente fácil, instila em muitos jovens a dúvida sobre o sentido e a pertinência de se aprender gramática também no âmbito da sua língua materna.
Ora, este suposto anacronismo de sólidos conhecimentos gramaticais (opinião partilhada por muitos alunos e não só) combinada com a alastrante perda de hábitos de leitura (e de interpretação) não pode deixar de ter consequências: estudantes universitários, de diferentes áreas do saber, dificilmente compreendem textos complexos e abstractos, também em alemão.
Outra observação de peso foi a geral e defeituosa produção escrita e o uso descuidado da língua alemã que muitos estudantes apresentam.
O latim é uma língua exigente. Para se compreender um texto latino é necessário explorar, decompor e analisar as suas frases, mas também é preciso saber sintetizar as ideias condutoras do todo para não perder o sentido geral; entender um texto em latim exige o treino e a interiorização de métodos de leitura analítica, contextualizada e assistida por um firme domínio da gramática. A procura, paciente e criativa, do exacto vocábulo alemão, que traduza tão fidedignamente quanto possível a palavra latina, habitua os alunos a consultar dicionários e a reflectir sobre a polissemia das palavras, o que contribui para a expansão do seu vocabulário materno activo com conhecimentos de raiz.
Nas tarefas de ler atentamente, aplicar métodos de abordagem sistemática e lógica para compreender e interpretar textos, formular a tradução, numa escrita gramaticalmente correcta, precisa e sucinta na língua materna, residem grande parte do mérito da aprendizagem do latim. Ou seja, o treino consequente de saberes práticos e teóricos, cuja compreensão do seu sentido e interiorização permitem a sua posterior transferência para áreas de estudo multidisciplinares.
Estes argumentos têm justificado a introdução do latim a partir do 5.º ano liceal na Alemanha. Mas justificarão eles a procura do ensino do latim por alunos e encarregados de educação? E justificarão a não aprendizagem de uma outra língua da União Europeia, o francês, por exemplo?
Parece que muitos (pais e alunos, professores e responsáveis pelo ensino) entendem o latim como uma disciplina que alicerça um consistente fundo (gramatical e) cultural com que a formação e a instrução liceais alemãs devem/deveriam apetrechar os seus alunos. Alunos que, ao qualificarem-se para o estudo universitário, serão os futuros guardiões do património (linguístico e) cultural e os potenciais investigadores que asseguram e desenvolvem a riqueza e a diversidade cultural, tecnológica e científica da Alemanha e da Europa.
PREFIRA A DIETA DA FÍSICA
DIET PILLS: SORRY, WE’RE BACK TO THE "PHYSICS DIET."
During our first 200,000 years or so, Homo sapiens ate food like plump grubs from beneath rotting logs, and turtle eggs buried on the beach. Although not as convenient as McDonald's fare, it was least as tasty, and obesity was never a problem. Obesity raises concerns about heart attacks and strokes. Earlier this month, after 13 years on the market, the FDA forced the withdrawal of Meridia citing the risk of – heart attacks and strokes. Go figure! According to a story by Andrew Pollack on the front page of this morning's New York Times, the FDA has now rejected Qnexa, aother diet pill, because of concerns about birth defects and heart problems. Just last week the FDA declined to approve a drug because it caused tumors in rats. Use the Physics Plan: "Burn more calories than you consume."
Robert Park
Silêncio Prodigioso
Nova crónica de António Piedade do sítio "Boas Notícias" (Imagem 3D de Miguel Castro):
Leonor contempla curiosa a superfície do lago. Com a atmosfera tranquila, nenhuma brisa perturba a lisura aquática. Mas, aqui e acolá, pequenos círculos de ondas pequeninas surgem de um centro de vida. São peixinhos que vêm à superfície comer algum insecto, mudar de ares.
Atraída por um cardume do que pareciam ser peixinhos muito pequeninos, aproxima-se da margem e debruça-se para ver para além da sua imagem reflectida na interface da água com o ar. Afinal, são girinos em metamorfose com desejos de serem rãs adultas.
Leonor foca a sua concentração visual e conseguiu descortinar umas larvas ainda mais pequeninas, promessas de girinos ainda em desenvolvimento embrionário. Mal se vêm de tão pequenos que são. Mas em alguns dias, ficarão tão grandes como os girinos que viu primeiro e estes, por sua vez, já serão então quase rãs bebés.
Em sintonia com as diferentes fases do desenvolvimento, Leonor pensa que poderia ver embriões ainda mais pequeninos se tivesse uma lupa ou até um microscópio vulgar. Talvez então conseguisse visualizar as primeiras fases do desenvolvimento embrionário, quando o ovo fecundado se começa a dividir, primeiro em duas células iguais, que por sua vez se dividem cada uma em outras duas também iguais, e assim sucessivamente até ao estado de desenvolvimento designado por mórula, palavra latina para amora, por o aglomerado de células ter de facto o aspecto desse fruto silvestre.
Olha a superfície do lago e pensa nele como se fosse um grande espaço amniótico no qual todos aqueles seres se desenvolvem desde uma única célula até a complexidade do organismo multicelular, diferenciado e adulto. Ouve-se algures um coaxar. Seria esse o primeiro som de uma rã bebé? E os embriões e os girinos? Comunicariam eles de alguma forma uns com os outros?
Um aroma materno desperta-lhe a atenção para a chegada de sua mãe Isabel. “Minha mãe”, diz Leonor, “Qual foi a primeira palavra que eu te disse?” “Creio que foi mamã”, responde sua mãe afagando os longos cabelos de Leonor. “Mas antes desse “mamã”, eu comunicava contigo?”, perguntou de novo Leonor. “Sim, por sons e choros diferentes consoante as tuas necessidades”, explica a mãe.
“Quer dizer que esses sons foram as minhas primeiras mensagens para ti, os meus primeiros pedidos, os recados das minhas necessidades?”, insiste Leonor. “Bem vistas as coisas,” começa Isabel, introspectiva e com o olhar ternamente deitado sobre o lago, “tu, ou melhor, as primeiras células que te deram origem…sim, foram delas as tuas primeiras mensagens para mim!” “Como assim?”, questiona Leonor intrigada.
“Cerca de três a quatro dias depois de um óvulo meu ter sido fecundado por um espermatozóide do teu pai, numa das minhas trompas de Falópio, tu eras então uma pequena amora de células rodeada por uma camada de glicoproteínas (zona pelúcida) e por uma última camada de células foliculares. Na alvorada do quarto dia, chegaste ao interior do meu útero e na partitura do teu desenvolvimento já estavas no estado de blástula, com mais de 64 células.
“Algumas destas células”, continua a mãe, “formam uma camada externa, o trofoblasto, que delimita uma cavidade central, o blastocélio, um lago interior onde se encontra, num pólo, um conjunto de células designadas por botão embrionário ou embrioblasto. Este deu origem ao teu embrião propriamente dito. A camada externa foi a tua contribuição para a placenta. É nesta etapa, quatro a cinco dias depois da ovulação que contribuiu para a tua concepção, que tu, então pequeno blastocisto, com cerca de 0,15 mm, comunicaste comigo pela primeira vez.”
“Mas como, se ainda não tinha boca, nem braços?!”, exclama Leonor. “Através de uma mensagem inclusa numa molécula,” sussurra-lhe Isabel, “uma hormona conhecida por gonadotrofina coriônica humana, ou simplesmente hCG. Esta hormona, uma glicoproteína próxima das da zona pelúcida, é produzida e secretada para os meus líquidos maternais, pelas células do teu trofoblasto, que deram origem às células trofoblásticas sinciciais da tua placenta.”
“Assim, quando eras não mais do que um blastocisto com duas décimas de milímetro de comprimento, irradiaste uma mensagem, transportada pela hCG, para que o corpo lúteo, nos meus ovários, continuasse a produzir e segregar outra hormona, a progesterona, esta muito importante para o desenvolvimento uterino.”
“E essa mensagem estava cheia de uma boa nova maravilhosa: a de que tu tinhas sido concebida e que por isso era importante que o meu útero, mas precisamente o meu revestimento uterino, ou endométrio, se continuasse a espessar e a irrigar de vasos sanguíneos para estar preparado para te receber e aninhar.”
“Cerca de nove dias após a tua fertilização, já estavas implantada e rodeada na parede do meu útero, pronta para continuares o complexo processo de desenvolvimento embrionário que te deu estas formas tão suaves e harmoniosas. “
“Estou fascinada!”, suspira a filha Leonor, “Tão pequenina e já comunicava contigo para que soubesses das minhas necessidades”. “É verdade”, diz a mãe com o olhar profundo. “E, sabes, foi também pelo do aumento dos níveis de hCG, o teu apelo incessante, no meu sangue e logo na minha urina, que tive a certeza que estava grávida de ti. É que o teste de gravidez que então fiz para confirmar a suspeita intuitiva, eco de que algo de maravilhoso estava a acontecer dentro do meu corpo, esse teste, que comprei numa farmácia, não fez mais do que detectar a presença da tua mensagem, na forma de hCG na minha urina.”
“Vi então a cor do teu silêncio, que afinal ressoava no meu ventre, pronto para muitas e novas mensagens futuras.”
De mãos dadas sentadas na margem do lago, Leonor e sua mãe Isabel estão contemplativas, num silêncio prodigioso.
António Piedade
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Já não se fazem pessoas assim.
A universidade na mão dos putos
No dia 19 deste mês, apareceu no jornal universitário A Cabra um artigo de Elísio Estanque, sociólogo e investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, intitulado Praxe: socialização ou perversão?
É uma boa análise deste fenómeno das praxes académicas, quer na sua natureza - em geral, tanto mais rigorosa quanto mais fechada e elitista é a instituição, quer na sua evolução para a comercialização e a degradação, à vista de todos. Fenómeno que continua a assentar na humilhação do caloiro frente à “grandeza” do mais velho, no nosso caso o “doutor”, o qual é sobretudo, como se sabe, o aluno do 2.º ano que, segundo o código praxista, nem chega a ser um puto, é só meio (“semi-puto”).
Note-se que a praxe entre os estudantes, e Elísio Estanque refere-o, é só a parte visível e chocarreira do formalismo que estruturou e continua a estruturar a Universidade. Mas que, curiosamente, as instituições mais recentes se apressaram a copiar numa tentativa de criar uma história e uma tradição que as justifique, lhes dê segurança, talvez até respeitabilidade.
É sabido que têm ocorrido em várias instituições cenas lamentáveis, como humilhações inadmissíveis, agressões físicas e psicológicas graves e até um caso, pelo menos, de violação. O que evidentemente entra na esfera criminal e deve – tem de ser – punido pelos tribunais. As vozes contra estas violências e a sua denúncia têm sido inúmeras, mas à onda de opinião se mantêm indiferentes, ou quase, as associações académicas, a maioria dos docentes e os responsáveis institucionais, que costumam desculpabilizar os abusos e fazer vista grossa.
Ora, a verdade é que as universidades sofreram uma profunda transformação social, democratizaram-se e massificaram-se. E, tendo-se alterado as condições sociais e económicas que faziam delas elites algo fechadas, grande parte destes ritos de iniciação, se alguma vez tiveram sentido, já o perderam de todo; até porque se ordinaziram, funcionando como modalidades deseducativas e até corrosivas. E o cidadão comum, que se habituou a encarar as praxes estudantis com uma certa bonomia, tem vindo a perceber o agravamento dos «contornos de futilidade e de irracionalidade», como diz Elísio Estanque. Face ao chocante e grotesco que é ouvir, por exemplo, bandos de jovens de leite entoar, rua fora, aos berros, cantigas e lenga-lengas obscenas, sem a mínima preocupação pela péssima imagem que dão de si e da Universidade, isto é, «exibindo em público a face mais ordinária da mentalidade juvenil, sob a batuta dos/das pseudo doutores/as», o que pensar? Que, obviamente, «não é a praxe nem é a tradição de Coimbra que ali estão». De facto, o que ali está é a imagem repugnante de uma boa parte da juventude que perdeu, e disso dá provas em todo o lado, a noção de algum decoro, ou seja, é «um retrato do vazio, da perda de rumo e de valores que caracteriza grande parte da actual geração universitária», como diz Elísio Estanque.
A ideia não é acabar com as praxes, já se viu que é difícil. Mas uma Universidade não pode estar na mão de uns tantos rapazinhos/ rapariguinhas que, com o traje de estudante debaixo do braço, quando está calor, ou sob floridos guarda-chuvas, quando chove, se fazem de estudantes sem noção do que isso significa nem respeito pela instituição a que pertencem. Por isso, como diz ainda Elísio Estanque, é «preciso uma refundação dos princípios da praxe, incutindo-lhes um novo sentido pedagógico, conteúdos informativos e comportamentos amigáveis e acolhedores», enfim, outro nível, porque «a praxe corre o risco de resvalar para perigosos comportamentos antisociais, e obrigar à acção repressiva». Compete ao corpo estudantil e às estruturas associativas, e, obviamente, às instituições que governam as universidades, «saber travar a tempo as formas “rascas” de que a mesma se vem revestindo nos últimos tempos». De facto, o que se vê e ouve é frequentemente uma vergonha, pública e privada; para eles e até para nós.
Classica Digitalia - 40 Volumes
Dois novos livros da Biblioteca Classica Digitalia (na Colecção Autores Gregos e Latinos – Série Textos Latinos) que elevam para 40 o número de volumes publicados (em formato tradicional de papel e também na biblioteca digital).
- José Henrique Manso: Arátor. História Apostólica - a gesta de S. Paulo. Tradução do latim, introdução e notas (Coimbra, CECH, 2010).
- Adriano Milho Cordeiro: Plauto. O Truculento. Tradução do latim, introdução e notas (Coimbra, CECH, 2010).
Bento de Moura Portugal (1702 - 1766)
Informação recebida da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra relativa à exposição sobre Sócios Portugueses da Royal Society que inaugura a 15 de Novembro (na imagem a máquina de Savery que Moura Portugal aperfeiçoou):
Bento de Moura Portugal (1702 - 1766)
Físico e engenheiro. Foi eleito membro da Royal Society em 5 de Fevereiro de 1741.
Nasceu em Moimenta da Serra, Gouveia, e morreu no forte da Junqueira, em Lisboa, onde se encontrava encarcerado, vítima do regime pombalino, acusado de conspiração contra o governo.
Cavaleiro da Casa Real e da Ordem de Cristo, estudou Direito na Universidade de Coimbra. Para desenvolver as suas invulgares competências técnicas em assuntos mecânicos, foi enviado por D. João V para o estrangeiro. Assim, durante alguns anos, viajou pela Europa, demorando-se na Alemanha, e também em Inglaterra, onde aprendeu a filosofia newtoniana. Cientista notável, foi chamado “Newton português”. Foi autor de vários inventos e trabalhos de melhoramento para o reino, nomeadamente na área da hidráulica, para benefício da agricultura. Um dos seus méritos foi o melhoramento do funcionamento da máquina de vapor do inventor inglês Thomas Savery (c.1650-1715). A sua máquina, chamada “de fogo”, era capaz de funcionar por si mesma, um progresso muito apreciado pelo inglês John Smeaton (1724-1792), um dos pioneiros da locomotiva, que a divulgou nas Philosophical Transactions.
Alguns dos seus escritos foram redigidos no cárcere, em condições dramáticas e completamente ignorado. Prestou-lhe homenagem e reconhecimento público Teodoro de Almeida quando, juntamente com uma crítica ao comportamento despótico do Marquês de Pombal, incluiu, no terceiro volume da sua obra Cartas físico-mathemáticas (Lisboa, 1799), a carta com o título Sobre huma máquina para provar a causa das marés, segundo a doutrina do grande Bento de Moura Portugal. Os 28 cadernos de manuscritos da prisão, juntamente com outros apontamentos do autor, foram publicados pela primeira vez pela Imprensa da Universidade de Coimbra, em 1821, sob o título Inventos e vários planos de melhoramento para este Reino : escriptos nas prisões da Junqueira por Bento de Moura Portugal.
Bibliografia:
- PORTUGAL, Bento de Moura, 1702-1766? - Inventos e vários planos de melhoramento para este Reino : escriptos nas prisões da Junqueira. Coimbra : Na Imprensa da Universidade, 1821. LVII, 223 p. UCBG RB-23-23
- SMEATON, John, 1724-1792 - An engine for raising water by fire, being an improvement of Savery’s construction, to render it capable of working itself, invented by Mr. de Moura of Portugal, F.R.S. Philosophical Transactions. London : Royal Society of London. 47 (1751/1752) 436-439. Contém gravura em folha desdobrável. UCBG A-48-2
O sonho
Destaque para a crónica de J. L. Pio de Abreu no "Destak" (na imagem "O Sonho" de Picasso):
Nos anos 80 sonhava-se com o futuro. Sonhava-se que a ciência iria resolver os problemas humanos, a fome seria suprimida e a automação iria substituir o trabalho mais pesado, permitindo uma maior justiça social. Energia e software eram quanto precisávamos para obter os nossos recursos. O trabalho humano seria menos necessário, e os produtos resultantes da automação seriam cada vez mais baratos.
Para manter o pleno emprego, o horário de trabalho seria reduzido e a reforma viria mais cedo. Como as pessoas viveriam mais tempo, elas podiam, a partir de certa altura, encetar uma nova vida e dispor de mais tempo para o convívio e educação dos mais novos. Haveria mais produção artística e intelectual e inovadora que resultaria do gosto de criar, o que se faria por opção. Na verdade, já estávamos nesse caminho.
Desde então, existiram imensos progressos da genética, da engenharia, da energética e da informática que facilitariam o sonho. A automação aumentou, os seus produtos embarateceram, apareceram as energias renováveis e o software não pára de substituir o trabalho humano, cada vez menos necessário. Mas aumentaram as exigências e o horário de trabalho, bem como a idade da reforma, à custa de um desemprego cada vez maior.
Temos hoje melhores condições para cumprir o sonho, no entanto caminhamos no sentido inverso, em direcção ao pesadelo. Nos anos 80 sonhava-se porque não se tinha previsto que o lucro fosse o valor supremo dos anos que a seguir viriam.
J. Pio de Abreu
A TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS
“A conversa da democratização, do elitismo, do direito ao sucesso, do multiculturalismo, e blá, blá, já cheira a mofo! Com é que é possível em pleno século XXI continuar-se a justificar o injustificável com a conversa mole que justificou fim das escolas comerciais e industriais, o fim da autoridade das escolas, dos professores e dos pais, o fim da mobilidade social através do conhecimento (apesar de se afirmar o inverso), etc., etc.”
Justifica este comentário que eu transcreva um dos meus posts, publicado neste blogue (19/04/2009), intitulado “A falta do ensino técnico-profissional”, em que me debrucei sobre uma temática que em nada se assemelha às cópias grotescas dos dias ,de hoje em Portugal, em que se macaqueia um ensino sério e de valor. Escrevi então:
"A falta do ensino técnico-profissional
“A universidade revela todas as capacidades, até a incapacidade” (A.Tchekov).
Mais vezes do que aquelas que a minha paciência suporta, algumas vozes tentam convencer a opinião pública da bondade do boom operado no actual sistema educativo que se traduziu em aumentos exponenciais de cidadãos de posse de diplomas de ensino superior.
Tudo isto seria digno de encómio, ou mesmo de orgulho nacional, não se desse o caso de na percentagem de licenciados se incluírem todos os indivíduos com um pergaminho ou simples cartolina com o imprimatur do Estado que os iguala em direitos e os desiguala em deveres, numa espécie de preito a um demérito que a ética deve reprovar, a justiça obriga a rejeitar e um estado de direito não pode legitimar. Aqueles valores percentuais só são possíveis pelo desconhecimento de uma simples regra da adição no ensino primário que diz que não se podem somar pêras com maçãs.
Há quem diga que a actual situação, na qual a bolsa dos pais conta mais que a massa cinzenta dos filhos, se deve a uma louvável democratização do ensino, que faz com que indivíduos que ontem trabalhavam nas obras possam hoje pensar no acesso à universidade. Pena é, no entanto e por outro lado, que, devido ao desemprego de diplomados em engenharia, estes, por vezes sem o suficiente know-how, sofram agora o pesadelo de terem que ir trabalhar para as obras.
Ora este statu quo fica a dever-se a uma coisa bem simples, que repousa menos no direito constitucional à educação e mais no novo-riquismo da democracia portuguesa, que foi reconhecida pelo ex-ministro da Educação David Justino quando lamentava o facto de, no pós-25 de Abril, “se ter morto o ensino técnico e profissional, tendo-se perdido, com isso, quase 30 anos” (Diário de Coimbra, 10/12/2003).
Por acreditar num ensino técnico devidamente dignificado me fiz seu defensor por várias vezes nos media (v.g., “A extinção dos liceus e escolas técnicas”, Diário de Coimbra, 26/07/2001). Mas ouçamos, sobre esta temática, a voz de Howard Gardner, psicólogo da Universidade de Harvard e festejado autor da Teoria das Inteligências Múltiplas:
“Chegou a hora de alargar a nossa noção do espectro dos talentos. A contribuição mais importante que a escola pode fazer para o desenvolvimento de uma criança, é ajudar a encaminhá-la para a área onde os seus talentos lhe sejam mais úteis, onde se sinta satisfeita e competente. É um objectivo que perdemos completamente de vista. Em vez disso, submetemos toda a gente a uma educação em que, se somos bem sucedidos, a pessoa fica preparada para ser professor universitário. E, ao longo do percurso, avaliamos toda a gente de acordo com esse estreito padrão de sucesso. Devíamos passar menos tempo a classificar as crianças e mais tempo a ajudá-las a identificar as suas competências e dons naturais, e a cultivá-los. Há centenas de maneiras de ser bem sucedido e muitas, muitas capacidades que nos ajudarão a lá chegar”.
E, se é verdade que o direito à educação está estabelecido pela Constituição, igual direito se perfila no que respeita à cultura física e à prática desportiva. Mas daí a defender que o acesso à universidade deve ser para todos, independentemente das suas capacidades intelectuais ou de trabalho, apresenta o mesmo vício de forma que considerar que aos praticantes de futebol de menor aptidão físico-motora deve ser facultada a integração nas equipas profissionais dos maiores clubes da 1.ª Liga de futebol. Em mera hipótese, suponhamos que Eusébio, Figo e Cristiano Ronaldo tinham sido obrigados a desistir das suas competências, para utilizar a classificação de Gardner, “corporal-cinestésicas” em favor de exigências “lógico-matemáticas ou linguísticas”. Não seriam eles hoje indivíduos a aumentar os números do insucesso escolar, mesmo que escamoteados em dados estatísticos para inglês ver?
Por este facto, considero que colocar indivíduos no ensino técnico-profissional depois de terem falhado anos consecutivos num ensino direccionado para o ingresso em escolas de ensino superior desacredita aquele ensino tornando-o numa escolha de último recurso. Urge mudar a mentalidade de uma sociedade arreigada a padrões obsoletos de sucesso, regressando a um ensino que, a partir do 6.º ano de escolaridade, seja capaz de indicar ao aluno o caminho a seguir, segundo as suas capacidades avaliadas em testes de aptidão vocacional. E, além disso, não misturando numa mesma escola secundária alunos de “caneta” com alunos que necessitam de oficinas devidamente apetrechadas e professores com a necessária formação técnica.
Julgo ter conhecimento de causa por ter iniciado a minha carreira docente na Escola Industrial Mouzinho de Albuquerque, da então Lourenço Marques, e ter-me deparado, décadas volvidas, com um “site” que homenageia o respectivo corpo docente em agradecimento dos seus alunos pela “formação recebida, quer como estudantes, quer como pessoas". Reza essa homenagem:
“Naturalmente que, como em tudo, no respeitável corpo docente que ao longo dos anos leccionou na nossa escola, nem todos conseguiram ser populares, mas todos contribuíram, de uma forma ou de outra, para a nossa formação, quer como estudantes, quer como pessoas. Alguns deixaram a sua marca. (...) Ainda hoje, e eu faço notar isso aos meus filhos, eu sei o nome dos meus professores, e faço questão de realçar a sua competência. Pena que nem todos eles possam já tomar conhecimento de que também fazem parte da nossa saudade académica”.
É este ensino técnico, viveiro de profissionais de valor e de homens reconhecidos, que deve merecer o respeito dos cidadãos e o remorso de políticos que, em nome de uma sociedade sem classes, a transformaram numa sociedade desclassificada académica e profissionalmente. Só desta forma sairá reforçada uma educação que não tenha como “única direcção a conveniência”, como escreveu Eça de Queiroz".
Na imagem: Fachada da antiga Escola Industrial Mouzinho de Albuquerque, de Lourenço Marques, actual Escola Industrial 1.º de Maio, de Maputo.
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
As Novas Oportunidades em 1925 da C.M.L.
Agradecemos ao nosso leitor João Boaventura que no-lo enviou.
Acontecia no Lyceu de Lisboa
Ao que parece os pedagogos da altura não partilhavam os ideais da Educação Nova, que fervilhavam um pouco por toda a Europa e pelos Estados Unidos: "Os pedagogos actuaes", diz-se aqui, "segundo nos affirmam, acham um certo prazer em bater nos filhos alheios".
"Apezar do muito que n`estes últimos tempos se tem fallado do que se passa no lyceu de Lisboa, chega-nos agora, por pessoa que nos merece confiança, a noticia de que no lyceu se passam coisas com tal carácter de gravidade que não podemos deixar de a ella nos referirmos, esperando que a auctoridade superior d´aquelle estabelecimento indague o que há a tal respeito e a provar-se que seja verdade o que nos affirmam castigue os delinquentes.
Trata-se dos espancamentos que os alumnos mais possantes do ltceu dão segundo nos consta nos mais pequenos. Isto é inacreditável mas, n´esta terra já nada é para admirar e por isso o que nos parece necessário e urgente é apurar-se o que de verdadeiro existe sobre este assumpto. Até nos dizem que já houve quem tivesse de ir receber curativo. Nós admiramo-nos que isto succeda tanto mais quanto é certo que frequentámos o lyceu no tempo em que a policia era feita apenas por dois empregados, que ainda lá estão, e n´esse tempo em que hoje se apregoa ser aquelle estabelecimento quasi um covil de bandidos não havia espancamentos e mais ainda nenhum professor batia nos seus discipulos como dizem hoje que sucede. A pancada estava, pois, n´esse tempo posta de parte, mas os pedagogos actuaes segundo nos affirmam, acham um certo prazer em bater nos filhos alheios.
Tanto a pancada entre os rapazes como a que os professores, como paes espirituaes lhe ministram, podem um dia trazer consequências desagradáveis, porque ás vezes póde apparecer um pae verdadeiro que não esteja pelos ajustes e como o direito de bater não está por emquanto consignado senão no mais forte, vá pedir satisfações e por sua vez imprima, a quem pela primeira vez bateu a lição dura e crua que o abuso da pancadaria originou. E depois que se hade dizer aos rapazes se elles declararem que batem nos condiscipulos menos forte seguindo o que fazem os professores?
O exemplo é a melhor base de toda a educação e não nos parece bom os rapazes verem que lhes bate quem não tem o direito algum para o fazer. A pancada está hoje tão reprovada que até é prohibida nas escolas primárias officiaes onde pela diversidades de castas e índole dos rapazes que ali agglomeram ella chega muitas vezes a ser o único meio para cohibir certos abusos. Mas se ali é prohibida porque razão se permite ou se fecha os olhos sabendo-se como se diz que ella existe no lyceu? Não queremos acreditar que todos os professores batam mas se alguns há lá que o fazemos, pedimos ao sr. dr. Clemente Pinto que cohiba esse abuso que póde trazer conflictos a todos os respeitos desagradáveis."
As fases da vida
É um facto bem conhecido que a chamada civilização ocidental herdou muitos dos seus valores da tradição greco-latina. Os grandes modelos clássicos podem encontrar-se nos mais variados sectores, desde a literatura, arquitectura e escultura, até ao domínio do pensamento filosófico e político, para citarmos apenas alguns. Nem sempre, porém, eles se revestem da seriedade das grandes revelações.
Os antigos Gregos e Romanos eram, antes de mais, povos que, apesar de haverem atingido um nível civilizacional notável, apreciavam também a vida nas suas manifestações mais simples e prazenteiras. E essa também é uma importante lição a ter em conta. Hoje, porém, não gostaria de falar dos Gregos e Romanos em geral, mas antes de uma personalidade em particular: Sólon.
Esta figura ilustre viveu na antiga Grécia, mais precisamente na cidade de Atenas, entre os séculos VII-VI a.C. A posteridade conhece-o, sobretudo, como legislador. As leis que promulgou para os seus concidadãos lançaram as primeiras sementes do regime em que hoje vivemos, a democracia, termo cuja etimologia acusa a mesma origem grega.
Mas deixemos de lado a vertente política, para salientar uma outra faceta da personalidade de Sólon: o facto de ter sido também o primeiro poeta ateniense. A maioria dos seus versos exprime a síntese perfeita entre o homem de Estado e o poeta, mas outros apresentam reflexões interessantes sobre a existência humana. Não hesita, por exemplo, em salientar o progresso intelectual trazido pela idade, quando diz: «envelheço aprendendo sempre muitas coisas».
Numa sociedade que, tal como a nossa, tinha em grande conta a beleza física e o frescor da juventude, era preciso alguma coragem para remar contra a corrente e afirmar as vantagens que a velhice pode trazer consigo. Esta consciência da evolução do homem está presente, de forma mais clara, num poema onde Sólon reflecte sobre as várias fases da vida. Não é dos mais belos, mas é curioso na sua simplicidade. O autor divide a existência humana em períodos sucessivos de sete anos, valor que tem alguma importância ainda nos nossos dias, pois, à imagem de outros números (como o três e o dez), denota a conclusão de um ciclo.
É essa reflexão que lhes proponho. Gostaria de o poder fazer na língua original, mas como infelizmente poucos a entenderiam, apresento-a na tradução directa a partir do grego. Não lhes peço que concordem ou que discordem das palavras de Sólon: exorto-os somente a que escutem uma voz com mais de dois mil e seiscentos anos.
A criança, menino ainda de tenra idade, a barreira dos dentes
que lhe nascera muda pela primeira vez aos sete anos.
Quando a divindade leva ao seu termo um novo ciclo de sete,
Revelam-se os indícios da puberdade a despontar.
No terceiro período, quando os membros ainda crescem, o queixo
Cobre-se de penugem e muda-se a flor da pele.
No quarto ciclo de sete anos, todos alcançam o cume
da sua força, que os homens consideram termo de virtude.
No quinto, é tempo de o homem pensar no casamento
e de assegurar a geração futura dos filhos.
No sexto, para tudo está preparado o espírito do homem
e já não deseja, como antes, praticar acções reprováveis.
No sétimo ciclo de sete anos, o espírito e a palavra alcançam o cume,
e também no oitavo — somando ambos catorze anos.
No nono, ainda tem vigor, mas são mais apropriadas,
para uma grande virtude, a sua palavra e sabedoria.
Se alguém alcançar o décimo e dele preencher a medida,
não será fora de sazão, se o atingir o mandato da morte.
O QUE É INVESTIGAR?
Texto do meu livro "Curiosidade Apaixonada" (Gradiva, 2005), esgotado no editor:
Suponha o leitor que lê no seu jornal favorito o seguinte título em letras garrafais:
“INVESTIGADORES EM GREVE GERAL”.
Ficaria preocupado? Será que o trabalho dos investigadores científicos é assim tão importante que não admita uma interrupção? Provavelmente, o leitor não ficaria sobressaltado, por pensar que de tal greve não adviria mal maior ao país ou ao mundo. A situação já seria diferente se se tratasse de uma greve dos padeiros ou dos motoristas de autocarros. Ninguém gosta de não ter pão fresco de manhã ou de não ter o autocarro a horas para ir trabalhar.
No entanto, quer o fabrico do pão quer os serviços de autocarros têm a ver, de uma maneira ou de outra, com resultados alcançados em processos de investigação científica. A investigação ou pesquisa científica, que basicamente consiste em saber mais sobre qualquer assunto, acaba por estar relacionada com o quotidiano de todos nós. Se outras razões não houvesse, bastaria essa para nos interrogarmos sobre o que vem a ser a “investigação”. O que é investigar?
A palavra “investigação” surgiu só no século XV, pouco antes da Revolução Científica que deu origem à ciência moderna. Provém do latim: resultou de juntar “in” a “vestigium”, o que literalmente significa ir atrás de pegadas, seguir o rasto de alguém. De acordo com a etimologia, o investigador científico vai atrás de marcas. A sua tarefa é semelhante à de um detective. Um cientista é um Sherlock Holmes, que de lupa em riste, examina os mínimos vestígios para saber quem é o criminoso...
Curioso é notar que o título do jornal escrito acima poderia afinal preocupar os portugueses se eles pensassem que os investigadores em causa não eram os investigadores científicos, mas sim os investigadores da Polícia Judiciária. Haveria boas razões para isso: Uma greve geral desse corpo de polícia, ao deixar os criminosos incólumes, colocaria em risco a segurança dos cidadãos...
As semelhanças entre um investigador científico e um polícia judiciário são reais e podem ser aprofundadas. Se se consultar um dicionário moderno, como o da Academia de Ciências de Lisboa, encontra-se que investigar é realizar uma “pesquisa crítica e sistemática, com base por exemplo na experimentação, que se destina a rever conclusões aceites à luz de factos novos.” Trata-se de uma boa definição. Pesquisa significa procura cuidadosa (em inglês, a palavra é “research” e em francês “recherche”, quer uma quer outra traduzidas à letra dão “procura repetida”). Os atributos “crítica” e “sistemática” reforçam aquilo que uma pesquisa é. O investigador tem de se interrogar permanentemente sobre se estará ou não a cometer erros. E o investigador tem de executar um conjunto de procedimentos o mais completo possível. Usando a linguagem do famoso personagem de Conan Doyle, o investigador tem de inquirir a si próprio se está na pista certa e tem de explorar todas as pistas.
Continuando a decifrar o dignificado do dicionário, atente-se na expressão “por exemplo” antes de experimentação. Ela significa que a investigação pode ter ou não carácter experimental. Tem, decerto, nas ciências físico-químicas ou nas ciências biológicas. Pelo contrário, em ciências sociais e humanas, as possibilidades de experimentar são muito reduzidas, pelo que a investigação nessas áreas não é experimental. Mas, em casos de polícia, fazem-se muitas vezes experiências para apurar o modo como tudo se passou. A investigação criminal apoia-se em larga medida em procedimentos laboratoriais das ciências físico-químicas e das ciências biológicas. E fazem-se também reconstituições de crimes, que são verdadeiras experiências.
O fundamental da definição de investigar vem talvez no fim: “rever conclusões aceites à luz de factos novos”. Investigar não é procurar à toa, mas sim avançar uma hipótese, que é tacitamente aceite, e procurar saber se ela está ou não errada. Se ela se revelar inconsistente com um dado facto que antes não se conhecia, então terá de ser substituída. Por exemplo, no caso de um detective, a hipótese inicial pode ser “o criminoso é o mordomo”. No entanto, descobertos novos vestígios, o criminoso pode muito bem ser o jardineiro ou o motorista (havia pistas falsas!). É aqui que reside a dificuldade do trabalho investigativo. É que não se trata apenas de procurar de uma maneira cuidadosa, o que estaria ao alcance de muita gente. Mas sim de chegar a um resultado que anteriormente não era conhecido. Isso só está ao alcance de um verdadeiro Sherlock Holmes...
Muitas vezes usa-se a palavra “investigar” numa acepção trivial. Quando alguém estuda um dado assunto por um livro, poderá chegar a conclusões novas para si. Porém, essas conclusões não são decerto novas para o autor ou autores do livro. Na verdadeira acepção de “investigar”, o sujeito tem de chegar a conclusões que são novas não apenas para ele, mas novas para toda a gente. Tal exige outras qualidades para além da mera perseverança, nomeadamente a inteligência e a criatividade. Ele tem de ver mais do que toda a gente antes dele viu. Se possível, o resultado a que chega deve ser simples, isto é, deve ser evidente para toda a gente uma vez revelado publicamente. “Elementar, meu caro Watson!”. Einstein dizia que uma “teoria deve ser tão simples quanto possível, mas não mais simples do que isso.”
Não é fácil ser investigador. Existirão no mundo cerca de um milhão de cientistas (números redondos). Em Portugal não passarão de dez mil (também números redondos). Essas pessoas, depois de um treino prolongado – demora bastante o treino para investigador – adquiriram a capacidade manifestamente rara de chegar a conclusões diferentes das que são aceites, examinando com atenção a evidência disponível (aquilo que se pode chamar a “prova”, que no caso do Sherlock Holmes pode ser uma impressão digital deixada no local do crime).
Esta analogia entre um investigador científico e um investigador judiciário, apesar de fecunda, é também ilusória (como são, aliás, todas as analogias). Normalmente um crime só é investigado, em segredo, por um pequeno grupo de investigadores. Ora, em ciência, o “crime” é um facto respeitante à Natureza ou ao Homem e vários grupos de investigadores perseguem ao mesmo tempo esses factos, em saudável competição uns com os outros, anunciando os seus resultados uns aos outros. Normalmente, alguém chega primeiro, mas os outros não desistem e acabam por confirmar (ou não) o resultado de quem chegou primeiro. Mas mais: Um investigador criminal faz o seu trabalho em geral sozinho, ou em pequenas equipas; porém, dada a magnitude das tarefas exigidas, muitos cientistas experimentais trabalham hoje em grandes equipas. Por outro lado, na investigação judiciária, quem acaba por atribuir a culpabilidade não é o detective mas sim um juiz, ao passo que na investigação científica quem proclama uma determinada conclusão acaba por ser a comunidade científica na área em causa, que funciona como uma espécie de colectivo de juízes. Não é verdade que os cientistas passem a vida a contradizer-se uns aos outros: eles acabam por se entender ao proferir os seus acórdãos comuns.
Além disso, na investigação judiciária, apesar de serem possíveis erros (os famosos erros judiciais) um crime acaba por ficar resolvido, não se falando mais nisso. Pelo contrário, na investigação científica as conclusões alcançadas só são válidas provisoriamente. Novas procuras permitirão rever as conclusões estabelecidas, alcançando outras que de alguma forma têm de abarcar as antigas. A ciência é cumulativa ao incorporar em cada ocasião de descoberta o essencial das descobertas anteriores.
Há mais diferenças. Tirando uma ou outra excepção, num caso de polícia acaba por se conhecer a verdade. Em ciência, porém, a verdade só idealmente é alcançável. Para alcançar a verdade, ou melhor, para detectar o erro, o trabalho dos investigadores científicos tem de ser permanente. E é por isso que uma interrupção desse trabalho – a tal greve de que falava no início – é um atraso na procura da verdade, um atraso de que os cidadãos deveriam reconhecer o prejuízo.
II Congresso de Língua Portuguesa
II Congresso de Língua Portuguesa, a 26 e 27 de Novembro, em Almada, com sessão sobre "O Português como livro de ciência". Ver aqui.
João Baptista Carbone (1694 - 1750)
Texto recebido da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra relativo a um dos cientistas portugueses que foram membros da Royal Society de Londres (exposição na Biblioteca Joanina a inaugurar a 15 de Novembro):
Astrónomo. Foi eleito membro da Royal Society em 6 de Novembro de 1729.
Padre jesuíta, natural de Nápoles, Itália, veio para Portugal em 1722, onde permaneceu durante 28 anos, até à sua morte. Foi bastante próximo do rei D. João V, que tinha em alta consideração os seus conhecimentos de astrónomo e que lhe mandou erigir um observatório astronómico em Lisboa, no Terreiro do Paço, apetrechado com os melhores instrumentos comprados no estrangeiro. Recebeu o título de matemático régio e foi reitor do Colégio de Santo Antão, em Lisboa, onde contribuiu para a instalação do observatório astronómico dessa famosa escola da Companhia de Jesus.
Efectuou inúmeras observações astronómicas. Dez das mais importantes foram comunicadas à Royal Society por Sequeira Samuda e Castro Sarmento, tendo sido publicadas nas Philosophical Transactions entre 1724 e 1730. A primeira observação publicada foi realizada em colaboração com o padre italiano Domenico Capacci (1694-1736), que esteve em Portugal entre 1722 e 1729, e foi apresentada à Royal Society por António Galvão de Castelo Branco. Fez também chegar à sociedade observações de outros sábios portugueses e estrangeiros.
Teve um papel fundamental na entrada de Portugal nos meios científicos internacionais no que respeita à astronomia, estabelecendo relações com algumas das mais altas personalidades dessa área de investigação, tais como Bradley, Cassini e Maraldi, Molineaux, Delisle e Bianchini.
Artigos do Padre Carbone publicados nas Philosophical Transactions (e contemporâneos da construção da Biblioteca Joanina):
- Observatio Lunaris eclipsis habita Ulyssipone in Palatio Regio Die 1. Novembris 1724. Communicante Excellentissimo Domino, Dno de Galvaon… Philosophical Transactions. London. 33 : 385 (1724) 180-185.
- Meridianorum Ulyssiponensis, Parisiensis & Londinensis differentia... ad Isaacum Sequeyra Samuda… Philosophical Transactions. London. 33 : 385 (1724) 186-189.
- Observationes astronomicae habitae Ulyssipone, anno 1725, & sub init. 1726… Communicante Isaaco Sequeyra Samuda… Philosophical Transactions. London. 33 : 394 (1726) 90-92.
- De poli elevatione Ulyssipone. Philosophical Transactions. London. 33 : 394 (1726) 92-95.
- Observationes altitudinum Solis meridianarum ad poli elevationem investigandam Ulyssip. Philosophical Transactions. London. 33 : 394 (1726) 95-100.
- Observatio Solaris deliquii celebrati die 25. Septemb. 1726. habita Ulyssipone in Observatorio Regii Palatii. Philosophical Transactions. London. 35 : 400 (1727) 335-338.
- Lunaris eclipsis celebrata die 10. Octob. an. 1726. & in Observatorio Collegii D. Antonii Magni observata ab Eodem. Philosophical Transactions. London. 35 : 400 (1727) 338-342.
- Observationes astronomicae habitae Ulyssipone, anno 1726… Communicante Isaaco Sequeyra Samuda… Philosophical Transactions. London. 35 : 401 (1728) 408-413.
- Observationes astronomicae…communicante Is. de Seguera Samuda… Philosophical Transactions. London. 35 : 403 (1728) 471-479.
- Observatio Lunaris eclipseos, Ulissipone habita die 2 Februarii, an. 1730, N. S. in Collegio Divi Antonii Magni... Ex ejusdem Cl. Viri Epistola ad Jacobum de Castro Sarmento… Philosophical Transactions. London, 36 : 414 (1730) 363-365.
Lançamento de "Breve História da Ciência em Portugal"
Informação recebida da Imprensa da Universidade de Coimbra:
O Director da Imprensa da Universidade de Coimbra e o Director do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra têm o prazer de convidar V. Ex.ª para o lançamento da obra Breve História da Ciência em Portugal, da autoria de Carlos Fiolhais e de Décio Ruivo Martins, numa co-edição da Imprensa da Universidade de Coimbra e da Gradiva Publicações, Lda.
A cerimónia terá lugar no dia 3 de Novembro de 2010, pelas 18h00, no Anfiteatro do Gabinete de Física do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, estando a apresentação a cargo do Prof. Doutor Fernando Catroga.
Será realizada uma visita guiada às colecções expostas no Gabinete de Física, orientada pelos autores do livro.
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Diplomas do 12.º ano do Ensino Secundário e certificados das Novas Oportunidades
“O verdadeiro progresso democrático não é baixar a elite ao nível do povo, mas elevar o povo ao nível da elite” (Gustave Le Bon, sociólogo francês, 1841-1931).
Uma coisa é certa! Ninguém ousará deixar de ter como dado adquirido a euforia dos formandos das Novas Oportunidades com o maná que lhes caiu do céu ao receberem certificados de frequência - com o mesmo valor facial de um diploma do 12.º ano do ensino secundário regular - impressos em rotativas de gritante injustiça social por se tratar de um contentamento não legítimo, mas legitimado por um dos maiores atentados que se cometeram nestes últimos tempos contra a credibilidade do ensino em Portugal. Atentado só comparável aos diplomas de licenciatura da extinta Universidade Independente, situação em que o escândalo público gerado obrigou ao seu encerramento depois de balões de oxigénio que adiaram a sua longa e desnecessária agonia.
Mas o mais grave parece-me ser o contentamento, ou mesmo deleite oficial, pela obra já feita e a continuar ser feita para “convergirmos com a Europa em menos de dez anos quando com o ritmo anterior levaríamos 60 anos”, Luís Capucha dixit. Perpassa neste desígnio nacional, em mãos de um dedicado prestável de Maria de Lurdes Rodrigues - que o foi buscar “à Escola de ambos, o Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, em Lisboa, colocando-o numa das direcções gerais do seu ministério” (Público, 23/10/2010) -, o percurso em caminhos ínvios para que a equivalência ao diploma do 12.º ano fique à mão de semear do maior número de portugueses com a rapidez de batoteiros que correm por fora das pistas da decência.
Numa linguagem para agrado das massas, Luís Capucha evocou as elites que reagiram mal às Novas Oportunidades como causa das críticas que são feitas a esta espécie de formação. Concedamos que assim seja, mas não pelos motivos apresentados pelo entrevistado de que a “democratização do acesso implica a verdadeira abertura social e de mobilidade, o que cria pressão junto de determinadas elites que não deixaram de reagir". Ou seja, abusivamente, confunde ele a democratização do ensino com a sua mediocratização sem ter em atenção um questão tão simples como esta: como explicar aos progenitores que fazem enormes sacrifícios para darem o 12.º ano aos filhos dizendo-lhes para estudarem, a fim de serem alguém na vida, quando os seus rebentos sabem, de antemão, que outros "predestinados" atingem esse objectivo com pouco ou nenhum esforço?
E isto é tanto ou mais desconforme na medida em que um parecer do Conselho Nacional de Educação, já sob a presidência de Ana Maria Bettencourt, dado a conhecer pelo Público (05/06/2009), com o promissor título “CNE quer ensino secundário com mais qualidade”, defendeu que “o alargamento da escolaridade [até ao 12.º ano] deve servir para melhorar o ensino e não contribuir para a sua degradação”.
História do PVC em Portugal
A Escolar Editora e a Profª Maria Elvira Callapez têm o grato prazer de convidar V. Ex.ª para a sessão de apresentação e lançamento do livro "História do PVC em Portugal - CIRES um caso de sucesso," a realizar no próximo dia 27 de Outubro de 2010, pelas 18:30 horas, na Livraria Escolar Editora da Faculdade de Ciências.
A sessão de apresentação do livro será feita pelo Prof. Dr. Nuno Madureira (ISCTE).
If it isn't Portugal, then it must be the European Union
terça-feira, 26 de outubro de 2010
AMOR DE PERDIÇÃO NA JOANINA
-
Usa-se muitas vezes a expressão «argumento de autoridade» como sinónimo de «mau argumento de autoridade». Todavia, nem todos os argumentos d...
-
Perguntaram-me da revista Visão Júnior: "Porque é que o lume é azul? Gostava mesmo de saber porque, quando a minha mãe está a cozinh...
-
Cap. 43 do livro "Bibliotecas. Uma maratona de pessoas e livros", de Abílio Guimarães, publicado pela Entrefolhos , que vou apr...