quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Acontecia no Lyceu de Lisboa

Agradecemos a João Boaventura ter-nos enviado o recorte de imprensa que se pode ler a seguir, publicado no jornal O Académico, n.º 2, Ano 2, no dia 7 de Janeiro de 1903.

Ao que parece os pedagogos da altura não partilhavam os ideais da Educação Nova, que fervilhavam um pouco por toda a Europa e pelos Estados Unidos: "Os pedagogos actuaes", diz-se aqui, "segundo nos affirmam, acham um certo prazer em bater nos filhos alheios".

"Apezar do muito que n`estes últimos tempos se tem fallado do que se passa no lyceu de Lisboa, chega-nos agora, por pessoa que nos merece confiança, a noticia de que no lyceu se passam coisas com tal carácter de gravidade que não podemos deixar de a ella nos referirmos, esperando que a auctoridade superior d´aquelle estabelecimento indague o que há a tal respeito e a provar-se que seja verdade o que nos affirmam castigue os delinquentes.

Trata-se dos espancamentos que os alumnos mais possantes do ltceu dão segundo nos consta nos mais pequenos. Isto é inacreditável mas, n´esta terra já nada é para admirar e por isso o que nos parece necessário e urgente é apurar-se o que de verdadeiro existe sobre este assumpto. Até nos dizem que já houve quem tivesse de ir receber curativo. Nós admiramo-nos que isto succeda tanto mais quanto é certo que frequentámos o lyceu no tempo em que a policia era feita apenas por dois empregados, que ainda lá estão, e n´esse tempo em que hoje se apregoa ser aquelle estabelecimento quasi um covil de bandidos não havia espancamentos e mais ainda nenhum professor batia nos seus discipulos como dizem hoje que sucede. A pancada estava, pois, n´esse tempo posta de parte, mas os pedagogos actuaes segundo nos affirmam, acham um certo prazer em bater nos filhos alheios.

Tanto a pancada entre os rapazes como a que os professores, como paes espirituaes lhe ministram, podem um dia trazer consequências desagradáveis, porque ás vezes póde apparecer um pae verdadeiro que não esteja pelos ajustes e como o direito de bater não está por emquanto consignado senão no mais forte, vá pedir satisfações e por sua vez imprima, a quem pela primeira vez bateu a lição dura e crua que o abuso da pancadaria originou. E depois que se hade dizer aos rapazes se elles declararem que batem nos condiscipulos menos forte seguindo o que fazem os professores?

O exemplo é a melhor base de toda a educação e não nos parece bom os rapazes verem que lhes bate quem não tem o direito algum para o fazer. A pancada está hoje tão reprovada que até é prohibida nas escolas primárias officiaes onde pela diversidades de castas e índole dos rapazes que ali agglomeram ella chega muitas vezes a ser o único meio para cohibir certos abusos. Mas se ali é prohibida porque razão se permite ou se fecha os olhos sabendo-se como se diz que ella existe no lyceu? Não queremos acreditar que todos os professores batam mas se alguns há lá que o fazemos, pedimos ao sr. dr. Clemente Pinto que cohiba esse abuso que póde trazer conflictos a todos os respeitos desagradáveis."

2 comentários:

DIFERENTES SOMOS TODOS NÓS disse...

nas escolas primárias officiaes onde pela diversidades de castas e índole dos rapazes que ali agglomeram ella chega muitas vezes a ser o único meio para cohibir certos abusos.
Cohibam-se certos abusos!

Semisovereign People at Large disse...

alumnos mais possantes do ltceu?

e os chineses do ltseu faziam o quê em Lisboa

coibam-se os professores de serem tão alarves como os seus alunos....

não é possível creio
o contágio é gritante

têm falta de visão lateral

35.º (E ÚLTIMO) POSTAL DE NATAL DE JORGE PAIVA: "AMBIENTE E DESILUSÃO"

Sem mais, reproduzo as fotografias e as palavras que compõem o último postal de Natal do Biólogo Jorge Paiva, Professor e Investigador na Un...