segunda-feira, 25 de outubro de 2010

"Críticas, mentiras e afirmações de quem não quer mentir mas fala do que não sabe"

Sigo uma recente entrevista de Bárbara Wong a Luís Capucha, director da Agência Nacional para a Qualificação, criada para acolher a Iniciativa Novas Oportunidades (INO) e o ensino profissional e artístico especializado”. Devo dizer que encontro nessa entrevista indícios muito preocupantes de total ausência de atitude científica, que sistematicamente tem vindo ao de cima por parte de quem tem responsabilidades na educação formal. Dou os seguintes exemplos:

1. Em vez de se encararem as críticas ou, pelo menos, algumas delas como uma possibilidade de análise e de correcção de eventuais erros, descredibiliza-se, menoriza-se, acusa-se, calunia-se quem as faz.
À pergunta de Wong "a opinião publicada tem colocado reservas à INO. Muitos dizem que esta só serve para dar diplomas. É assim?” o senhor acima referido responde: "Surgem críticas, mentiras e afirmações de quem não quer mentir mas fala do que não sabe".

Quem critica só pode, pois, ser mentiroso. E se não for mentiroso será ignorante!

Mais adiante, respondendo a outra pergunta - "Porque é que não se fez antes esta mudança?" - acrescenta: "A democratização de acesso implica verdadeira abertura social e de mobilidade, o que cria pressão junto de determinadas elites que não deixaram de reagir. Há uma democratização mal tolerada do acesso aos diplomas escolares".

Quem critica é, portanto, necessariamente, preconceituoso e anti-democrata...

2. Em vez de se esclarecem dúvidas que se colocam a quem está de fora, mas que legitimamente quer conhecer e compreender, recorre-se a arrazoados a redundâncias que nada esclarecem, antes confundem... ainda mais.
À pergunta de Wong “uma das críticas é que os adultos não aprendem disciplinas formais”, o mesmo senhor responde: “Desminto. Há regras a cumprir que têm a ver com o cumprimento dos procedimentos necessários.
Se “há regras a cumprir”, que regras são essas que não podem ser claramente referidas?... Se "têm a ver com o cumprimento dos procedimentos necessários”, que procedimentos são esses, que não podem ser enunciados?

3.
Em vez de se sistematizarem racional e objectivamente argumentos, recorre-se a crenças, a convicções individuais ou colectivas (não, isso não é filosofia da educação!).
À pergunta de Wong "Nessa velocidade não se perde qualidade?", o dito senhor responde: "O primeiro pilar da qualidade é a quantidade. Digo-o com toda a convicção. Sabemos que alunos de determinadas vias de ensino aprendem a fazer exames e a tirar notas, mas não sabemos se sabem alguma coisa quando acabam."
4. Em vez de se recorrer a conhecimento pedagógico sólido e aos meios que faculta ao ensino, à formação, à aprendizagem... recorre-se a sensiblidades de mercado e a opiniões que, acresce, serem opiniões em causa própria.
À insistência de Wong na pergunta "no processo de RVCC, as pessoas são avaliadas pelo que sabem e não pelo que aprenderam. Concorda?", o senhor em causa responde: "Há dois grandes indicadores que mostram que as pessoas saem mais capacitadas, preparadas para os desafios: a adesão das empresas à INO e os testemunhos das pessoas".

8 comentários:

Ana Cristina Leonardo disse...

é terrível esta conversa de chacha. e o mais terrível é que há cada vez mais gente a falar assim. uma novilíngua?

Anónimo disse...

O ponto 3 lembra-me Estaline "Quantidade tem sempre uma Qualidade em si propria"...
JCSilva

joão boaventura disse...

OS DOIS SEBASTIANISTAS

Como quem cumpre uma sina,
dois velhinhos, a tremer,
do alto de Santa Catrina
vão todos os dias - ver...

Passaram há muito a conta
dos oitenta, e entanto ainda
nos olhos de eles aponta
a esperança moça e linda !

Enquanto os mações franceses
andam por aí a mandar,
eles, suspirando às vezes,
pões os olhos no mar.

E silenciosos, e sem
uma palavra trocarem,
os velhos, como a esperarem,
olham o mar, para além...

Oh ! a Nau empavezada,
quando há de apar'cer ela,
a gloriosa caravela
por entre a névoa dourada?

Sempre calados... Inda hoje
não chegou o Encoberto.
Mas a esperança não foge
e a Manhã há de vir perto!

Enfim, como num segredo,
despedem-se em termos tais:
-Amanhã venha mais cedo,
para conversarmos mais.

Afonso Lopes Vieira
1915

Actualização:

Onde está,
na 3.ª quadra: os mações franceses
Deverá ler-se: as Novas Oportunices

Com as minhas desculpas ao poeta
Afonso Lopes Vieira

joão boaventura disse...

Aí estão os novos explicadores do séc. XXI com o nome de executores.
Ou os Benefícios do Não Estudar

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ANÚNCIO

Executam-se trabalhos - Novas Oportunidades — Porto
• Localização: Porto, Porto, Portugal
• Data de publicação: Outubro 6
Professores com experiência de 2 anos na àrea, executam trabalhos para alunos das novas oportunidades.
Se não tiver tempo de concluir o seu trabalho, nós fazemos por si.
Para mais informações contacte:
… … … … … … … … … … … …
::::::::::::::::::::::::::::::::
Ver aqui.

O sociólogo Capucha tem razão, as Novas Competências (dos executores, claro) dos Novos Oportunistas, escondem a verdade.

Mas, como um sociólogo não é obrigado a perceber de pedagogia, conclui-se que, pelas NO, obteve as competências para conferir e atestar novas competências a novos oportunistas.

Posto isto, e ele sabe do que falo,ele representa o ideal-tipo de Weber, na área que ora se vem desenvolvendo.

A melhor forma de vender um livro é dizer mal dele.
E nós vamos fazendo o mesmo: a melhor propaganda das Novas Oportunidades, é criticá-las, e falar muito delas.

Anónimo disse...

Nem sei que diga! resta-me agradecer o artigo de H. Damião!
eguindoa lógica do crânio da INO seria desejável , num futuro próximo, criar uma iniciativa Novas Oportunidades para os estudantes universitários que, por diversíssimas razões, não acabaram os seus cursos. Certamente que apreceriam o valor social do diploma.
O 1.º Ministro dá o exemplo...

José Batista da Ascenção disse...

Palavras para quê?
Há alguém que precise mais esclarecimentos?
Quem quiser que enfie a capucha!

JCC disse...

Adorei a crença no valor da quantidade: "O primeiro pilar da qualidade é a quantidade."

Fartinho da Silva disse...

A arrogância desta gente é inquietante.

O QUE É FEITO DA CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS?

Passaram mil dias - mil dias! - sobre o início de uma das maiores guerras que conferem ao presente esta tonalidade sinistra de que é impossí...