domingo, 17 de outubro de 2010

A propósito do ranking das escolas

Joaquim Azevedo, Doutorado em Ciências da Educação, conhecedor dos meandros do Ministério da Educação devido aos cargos que nele exerceu, actualmente membro do Conselho Nacional de Educação e presidente do Centro Regional do Porto da Universidade Católica, entrevistado pelo Público (de 15 de Outubro) a propósito dos rankings das escolas, afirmou o que todos sabemos e que não nos deve deixar indiferentes: o acesso às escolas onde se ensina e se aprende não é para todos. E o critério é aquele que nas últimas décadas pensávamos que tínhamos conseguido superar ou, pelo menos, que estávamos no caminho da respectiva superação: a origem e condição cultural, social e económica dos alunos.

"Por que é que todos os anos as escolas privadas ganham terreno às públicas?

Estamos a cair num lamaçal perigoso: as escolas públicas são as escolas de ocupação social dos meninos e as escolas privadas são as escolas que ensinam os meninos. Isto é uma coisa perigosíssima, nomeadamente para a escola pública. Mesmo as pessoas que se dizem arautos da escola pública e escrevem livros sobre isso não põem sobre a mesa esta questão brutal que levará a que, qualquer dia, a escola pública seja o lugar onde se faz a ocupação social dos meninos porque é melhor tê-los numa escola do que na rua.

Foi essa a lógica que presidiu à aposta nos CEF e nos cursos profissionais...

Quer os CEF quer os cursos profissionais, pela maneira avassaladora e repentina como foram introduzidos nas escolas secundárias, e os CEF também no básico, vieram criar um clima que estava à vista claríssima que não ia dar bom resultado, na medida em que foram introduzidos a uma velocidade que era incompatível com qualidade. Hoje, uma boa parte dos que abandonam e reprovam são esses alunos dos cursos profissionais e dos CEF no secundário – no básico é ligeiramente diferente. O que está a acontecer no básico e está a passar para o secundário é que há escolas que tratam da ocupação social dos meninos com níveis de insucesso muito elevados e depois temos as outras – onde as privadas, embora não só, pontuam – que são as escolas dedicadas ao ensino e onde se ensina e se aprende direitinho."

5 comentários:

Fartinho da Silva disse...

Aí está!

A escola pública foi transformada num centro de guarda e entretenimento de crianças e jovens, como tenho denunciado desde que por lá passei como professor.

Anónimo disse...

"é melhor tê-los numa escola do que na rua". Mas nalguns casos deviam estar na cadeia.
Ensinar nas escolas descritas é uma aventura todos os dias. Nem sei como ainda há alguns alunos que conseguem bons desempenhos neste ambiente.

Anónimo disse...

100% de acordo.

joão mMoreira

Manuel de Castro Nunes disse...

Como é que um alto responsável do sistema tem a displicência de pronunciar tais enormidades?
O ''ranking'' das escolas privadas assenta numa astuta selecção e na exclusão social que a escola pública não pode praticar.
E ainda me hão de explicar o que é ''ensinar os meninos direitinho''
Querem exemplos de que um aluno pode ser vítima de exclusão numa escola privada por ser preto?

Manuel de Castro Nunes

Manuel de Castro Nunes disse...

Continuo a não compreender porque razão proliferam tantos comentadores anónimos. Para poderem proferir impunemente enormidades?

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