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terça-feira, 31 de julho de 2012

"A ESPIRAL DA VIDA"



Recensão crítica publicada primeiramente na imprensa regional.

A Espiral da Vida - As Dez Mais Notáveis Invenções da Evolução”, da autoria do eminente Bioquímico e divulgador científico Nick Lane, é o novo título, nº 194, da incontornável colecção “Ciência Aberta” da editora Gradiva. É a 1ª edição portuguesa (Julho de 2012) de “Life Ascending—The Ten Great Inventions of Evolution” (publicado em 2009 – ano do bicentenário de Darwin), que venceu em 2010 o prémio para livros de ciência atribuído pela Royal Society.


Realce para a tradução para o português do original inglês efectuada por Alexandra Nobre, do Departamento de Biologia da Universidade do Minho, que conseguiu manter a linguagem acessível mesclada com a frontalidade, o humor e a ironia que caracterizam a escrita de Nick Lane. Mas talvez o aspecto mais positivo da tradução seja o ter mantido a beleza da escrita recorrentemente poética de Nick Lane, que nos oferece inúmeras sínteses poéticas de aspectos da evolução da vida. Frases para mais tarde recordar. De facto, muitas das frases originais que preenchem o livro sobre fenómenos essenciais à vida permanecerão na memória do leitor que revisitará este livro como fonte de informação e inspiração futura.

“Se Charles Darwin saísse do túmulo, eu dar-lhe-ia este livro fabuloso para o animar” disse sobre este livro Matt Riddley, autor de “Genoma” e “A Rainha de Copas” (também publicados pela Gradiva). De facto, se a vida é só por si uma realidade fascinante, enveredar pela aventura espantosa de apreender como é que ela evoluiu desde as primeiras moléculas até à complexidade da consciência, torna-a ainda mais deslumbrante. É este um dos aspectos mais cativantes deste terceiro livro de divulgação científica de Nick Lane, que nos oferece uma admirável compreensão da relação entre a história da vida e do planeta em que evoluiu. A componente animadora reside na perspectiva de que há válidas razões para esperarmos que através do método científico possamos revelar e compreender o longínquo desconhecido berço da vida.

Nick Lane surpreende-nos magistralmente numa síntese original, rigorosa mas acessível, do conhecimento acumulado nos últimos 150 anos sobre a evolução da vida que permitiu que hoje estejamos aqui a ler este texto.

Ao longo de 10 capítulos dedicados a outros tantos marcos evolutivos substanciais à vida, Nick Lane problematiza e actualiza-nos o conhecimento sobre a sua evolução. “Começamos com a origem da vida em si e terminamos com a nossa própria morte e procura de imortalidade, passando por pontos altos como o ADN, a fotossíntese, as células complexas, o sexo, o movimento, a visão, o sangue quente e a consciência”, resume o autor na Introdução.


Nick Lane, Bioquímico, escritor e divulgador científico


Nick Lane transmite, de forma original, questões complexas com uma facilidade cativante. Com coragem intelectual confronta teorias concorrentes, relata episódios de como a ciência se processa e produz conhecimento, pelo que acresce a este livro uma dimensão didáctica sobre como a ciência funciona. Ao longo da leitura do livro, sentimo-nos em cima do promontório do conhecimento actual, sentados na sua fronteira a contemplar o desconhecido no horizonte que se espraia em todas as direcções do tempo (passado, presente e futuro), e sentimos a vertigem do abismo que nos atrai para o erro, que evitamos e minimizamos, nesta humanidade conscientemente falível.

A Espiral da Vida que recebeu as melhores críticas internacionais, é por tudo o que se disse, de leitura aconselhável e agradável para todos, mas imprescindível para todos os que se interessam pela aventura da vida no Universo.

António Piedade
Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

sábado, 7 de maio de 2011

A pedagogização do sexo

A ideia de que, em contexto de ensino formal, o educador ou professor deve denotar uma atitude de absoluta neutralidade, sobretudo quando estão em causa valores, está perfeitamente implantada no nosso sistema educativo, apesar de não ser exclusiva dele.

É afirmada e reafirmada a cada passo nos documentos normativo-legais e curriculares produzidos ao nível do Ministério da Educação e das Escolas, e não é raro encontrá-la em documentos de orientação pedagógica produzidos pelas mais diversas entidades e pessoas a ela ligadas (que, assinalo, não são apenas afectos às Ciências da Educação, são afectos aos mais diversos sectores do saber...).

Apesar de ser uma ideia absurda (na verdade, educar implica sempre a tomada de decisões, nem que a decisão seja a de não educar), pelo que me é dado perceber tem acolhimento muito generalizado, mesmo entre educadores e professores.

A introdução da educação para a cidadania (com carácter transversal) no currículo do Ensino Básico já havia tornado a referida ideia incontornável, mas foi recentemente corroborada e destacada com a obrigatoriedade da educação sexual (também com carácter transversal).

Para os leitores interessados em discutir esta ideia no quadro desta última preocupação curricular, recomendo a leitura do artigo A pedagogização do sexo da autoria de Valentim Alferes, publicado na Revista Portuguesa de Pedagogia, em 1996.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Depois de dez anos de uso pacífico... uma queixa.

Professores, algo atónitos, têm-me pedido opinião acerca de livros de apoio à Educação Sexual no Ensino Básico que, como se sabe, se tornou, recentemente, obrigatória e tranversal no currículo. Fraca opinião posso dar, por ficar igual e invariavelmente... atónita.

Assim, percebo que outros educadores, por exemplo, pais e mães, fiquem no mesmo estado. Digo isto apesar de nunca ter falado com nenhum a este propósito. Li, no entanto, hoje uma notícia no jornal Sol (on line) que corrobora o que acima disse.

Ao que parece, uma mãe norte-americana folheou o livro que a sua filha de dez anos usava na escola para sustentar as aprendizagens nesta área e... interrogou-se sobre a pertinência educativa do seu conteúdo. Mas não ficou por aqui: fez uma queixa formal contra a escola.

Parece que foi a primeira queixa em dez anos de uso do dito livro (na imagem), pelo qual cerca de 25 000 alunos já haviam estudado.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

SEXO E PODER


Minha crónica no "Público" de hoje:

O jornal El País de 24 de Outubro, com base no recente Relatório da Economia Mundial do FMI, divulgou a nossa posição no ranking mundial do crescimento económico (medido em percentagem de aumento do PIB) na década passada. Em 180 nações, o nosso lugar é o antepenúltimo (com 6,5 por cento), só ficando atrás de nós a Itália (2,4 por cento) e o Haiti (-2,4 por cento, o único que decresce). Um artigo intitulado "A década perdida de Itália e Portugal" informava que a dívida pública portuguesa ronda os 80 por cento do PIB ao passo que a de Itália se aproxima dos 130 por cento.

Piores que nós parecem, portanto, estar, a avaliar por esses indicadores, os italianos. Mas estarão preocupados com isso? Bem, o assunto em Itália, por estes dias, não é a economia, mas sim a vida sexual do primeiro-ministro Sílvio Berlusconi. Funciona como uma cortina para tapar a crise. Já tinha havido uma sua relação mal esclarecida com uma menor de Nápoles, que lhe custou o divórcio (a esposa censurou os “pais que oferecem as suas virgens ao imperador”). E já tinha havido uma relação bem esclarecida, esclarecida até demais, com uma prostituta de luxo de Bari, a quem Il Cavaliere não se coibiu de recomendar técnicas sexuais. Mas agora foi anunciado o caso de uma menor de origem marroquina, Karima El Mahroug, refugiada na Sicília, que, tendo rumado ao Norte em busca da fama que só a televisão e a moda podem dar, acabou por entrar na rede que alimentava as casas do chefe de governo de Itália e por participar em festas que a própria designou como bunga-bunga referindo-se a orgias rituais africanas. Pelos escritos dos autores clássicos sabemos que Nero e Calígula terão cometido os seus excessos. Pelos jornais de hoje sabemos que Berlusconi os quer ultrapassar.

O escândalo que enche as bocas do mundo mostra que a mistura de sexo e poder é, em certas proporções, explosiva. Ora vejamos.A marroquina, de nome artístico Ruby, viu-se em apuros financeiros, apesar de ter sido paga com dinheiro e jóias pelas suas visitas à casa de Berlusconi em Milão, e terá roubado uma companheira brasileira. Tudo não passava de um mero caso de polícia, que estava a ser tratado na esquadra, quando um telefonema do próprio primeiro-ministro exigiu a libertação da detida, alegando que ela era sobrinha do presidente egípcio Mubarak. A jovem, apesar de estar em situação ilegal, não tardou em ser libertada, tendo sido entregue a uma pessoa de confiança de Berlusconi. A justiça procura agora averiguar os factos. Instado pela imprensa a esclarecer, o chefe do governo italiano não esteve com papas na língua ao comentar: “É melhor gostar de mulheres bonitas do que ser gay”. E admitiu ter ajudado a garota. Não é preciso saber muito de história para reconhecer que, no que respeita aos costumes, há um recuo relativamente aos antigos imperadores, que tanto gostavam de mulheres como de rapazes bonitos. Mas ressalta a retórica política: Berlusconi já tinha dito que quem não era por ele era contra Itália, agora diz que quem não é por ele é homosexual.

Portugal tem, na economia, óbvias parecenças com Itália. Tem-nas decerto, além da estagnação do PIB e do crescimento da dívida, nas assimetrias regionais (em Portugal a diferença é entre o Litoral e o Interior e não tanto entre o Norte e o Sul, para já não falar do desmesurado centralismo da capital) e na corrupção ao mais alto nível (um deputado do PS revelou que o chefe de gabinete do secretário-geral do partido lhe ofereceu um cargo bem remunerado numa empresa pública a troco da desistência numa eleição partidária!). Mas na mistura de sexo e poder não conseguimos competir. O Presidente do Governo Regional da Madeira, talvez o político nacional mais parecido com Berlusconi, desfila mascarado no Carnaval, mas não faz, que se saiba, festas bunga-bunga. É certo que há escabrosas histórias sexuais no futebol nacional, mas o Presidente do Porto, a quem não faltam semelhanças com o Presidente do Milão (Berlusconi, para quem não saiba), não tem a mesma ambição política. A nossa situação é má, mas podia ser pior...

Na imagem: Ruby Rubacuore (Ruby Roubacorações), alias Karima El Mahroug.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Não era o fumo...

Primeiro vi a notícia numa daquelas revistas que só com muito boa vontade se designam por cor-de-rosas, depois vi uma entrevista num canal de televisão generalista. E o que vi foi algo que se não lido nas palavras de João Bénard da Costa, eu teria alguma dificuldade de entender. O melhor é explicar…

Imagine-se que em título, na tal revista, se lia: “Filho fuma e a mãe, que já o viu fumar, não se importa”.

Ainda que o filho fosse maior de idade com certeza que nos indignaríamos. Que mãe não se importaria que o seu rebento fizesse perigar a sua saúde!? E se o caso fosse à televisão seria certo e sabido que umas tantas associações viriam exigir pelo menos o mesmo tempo de antena para, em primeiro lugar, reclamar o destaque que a comunicação social dava a um comportamento de risco, abeirado do pecado, e, em segundo lugar, para listar todos esses riscos, deixando no ar a promessa de que, uma vez evitados, era possível encontrar a salvação (que sendo apenas carnal, não deixa de ser salvação!).

Felizmente a notícia em causa não se reportava ao comportamento de fumo, é muito menos preocupante: reportava-se apenas e só a caso de um filho que decidiu fazer filmes pornográficos e a mãe, que já viu a sua representação, não se importa. Instruiu-nos o apresentador de televisão que se trata de uma opção de vida, e que ninguém deve atirar pedras ao ar porque telhados de vidros todos têm.

Foi aqui que me lembrei de uma deliciosa crónica de Bénard da Costa intitulada Era o fumo, publicada no espaço que ele tinha no jornal Público e que se chamava A casa encantada. Contava ele em 22 de Abril de 2007:
Aqui há uns anos, num congresso da Federação Internacional de Arquivos de Filmes (…) houve um simpósio em que cada cinemateca apresentou singularidades das suas colecções.

Belgrado por exemplo mostrou uma colecção de filmes pornográficos dos anos 20 e 30, encontrada no castelo de um arquiduque servo-croata (…) que apreciava orgia e apreciava ainda mais filmá-las. De modo que tinha uma vasta colecção que “documentava” autênticos bacanais, com os convidados a mostrar as suas habilidades (…)

Na mesma sessão, uma cinemateca americana mostrou uns filmes publicitários de antanho, desses que passavam nos intervalos dos cinemas (…) Eram uns filmezinhos de uns cinco minutos se tanto, que contavam uma espécie de história como chamariz para o produto que se queria vender. O que projectaram publicitava os cigarros Philip Morris.

No fim da sessão, em conversa a propósito do que víramos, alguém comentou que os organizadores tinham sido atrevidos ao exibir a pornografia jugoslava. Respondeu-lhe um outro: “…daqui a uns anos o filme dos cigarros nem em congressos muito especiais os vamos ver mais”.

Na altura, anos 80, achei uma boa piada. Hoje tiro o chapéu à clarividência. Ai de quem viesse em público defender a proibição de filmes pornográficos (…) Mas ninguém, nem o mais ousado distribuidor, se atrevia a projectar mesmo para adultos com sólida formação moral o filme da Philip Morris. Quem o censurasse não corria o risco de lhe chamarem nomes feios. Estava a proteger a nossa preciosa saúde e a dos nossos ascendentes e descendentes. Censura? Qual censura, qual carapuça. Com a saúde não se brinca (…).

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

HUMOR: Ponto G homeopático funciona tão bem como o antigo Ponto G


Semanas depois de investigadores ingleses terem revelado que o Ponto G é um produto da imaginação das mulheres alimentado por revista e terapeutas, não havendo nenhuma base fisiológica para suportar a sua existência, os partidários do Ponto G reafirmam a sua existência com uma natureza homeopática: o ponto G existe, mas em quantidades tão diluídas que é impossível de detectar por qualquer método de análise convencional. Mas funciona muito bem. Na realidade, são as moléculas de água das células da vagina que retêm a memória de um Ponto G inicial que foi diluído milhões de vezes. O ponto G também pode ser tomado em comprimidos de açúcar, para os quais foi transferida a memória dessas moléculas de água que se lembram do Ponto G.

David Marçal, no Inimigo Público

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Ciência, sexo e dinheiro


A propósito da vida dupla da doutora Magnanti, noticia recente acerca de uma cientista que terminou o doutoramento em Londres trabalhando como call-girl em part-time, algumas reflexões sobre ciência, sexo e dinheiro. Há pelo menos um exemplo nacional conhecido, a Leonor Sousa, a nossa bióloga stripper (na fotografia em cima), embora com as devidas diferenças.

Na realidade os cientistas, especialmente os jovens, andam à rasca de dinheiro. Um excelente artigo publicado na PLoS sobre como o sistema de financiamento da ciência e dos cientistas transforma os jovens investigadores em burocratas, até ao ponto em que arranjar dinheiro é a sua principal ocupação ficando para trás... a ciência! Desinvestimento esse, que a médio prazo acaba por traí-los num contexto de investigação ultra-competitivo:

“What a strange business this is: We stay in school forever. We have to battle the system with only a one in eight or one in ten chance of getting funded. We give up making a living until our forties. And we do it because we want to help the world. What kind of crazy person would go for that?”—Nancy Andrews, Vice Chancellor for Academic Affairs and Dean of the Duke University School of Medicine
Texto completo aqui.
E a opinião de António Câmara, CEO da Ydreams, acerca da situação dos bolseiros de investigação científica em Portugal e da importância dos bolseiros do Grupo de Análise de Sistemas Ambientais (GASA) da Universidade Nova de Lisboa como geradores do conhecimento que deram origem à Ydreams e a outras empresas:

sábado, 8 de agosto de 2009

Uma lei que merecemos!

Foi publicado o diploma legal que obriga a introdução da educação sexual no ensino básico e secundário. É a Lei n.º 60/2009, de 6 de Agosto. Consultei-a e (infelizmente) não me surpreendeu, por ser em tudo semelhante às restantes que regem a nossa escola.

1. Antes de mais, tenho a dizer que a lei está escrita naquela retórica que, enfim, nos deixa perplexos perante tanta imaginação de manobrar o português. Por exemplo: “valorização da sexualidade e afectividade entre as pessoas no desenvolvimento individual respeitando o pluralismo das concepções existentes na sociedade portuguesa” significa, exactamente, o quê!?

2. Propõe-se a lei, de modo claramente irreal, levar as escolas a resolver, de um momento para o outro, antigos e graves problemas da sociedade (sublinho o que se me afigura serem grandes exageros): “A eliminação de comportamentos baseados na discriminação sexual ou na violência em função do sexo ou orientação sexual”; "A capacidade de protecção face a todas as formas de exploração e de abuso sexuais”.

3. É uma lei politicamente correcta, pois invoca, como sempre, o “respeito”, por tudo e por todos (como se tal fosse possível e, até, desejável): “O respeito pela diferença entre as pessoas e pelas diferentes orientações sexuais”. (Em texto posterior tentarei explicar melhor a imposição do dever de repeito independentemente das circunstâncias).

4. É uma lei que põe em primeiro plano os “clientes do sistema”, ou seja, alunos e famílias, os professores e outros técnicos, a quem se deveria reconhecer competência de decisão em matéria de educação formal, vêm a seguir: “O reconhecimento da importância de participação no processo educativo de encarregados de educação, alunos, professores e técnicos de saúde”; “Os encarregados de educação, os estudantes e as respectivas estruturas respresentativas devem ter um papel activo na prossecução e concretização das finalidades da presente lei” (…) "são informados de todas as actividades curriculares e não curriculares desenvolvidas no âmbito da educação sexual”.

5. Contempla-se na lei que os alunos, além destas grandes responsabilidades (não posso deixar de retomar uma passagem do que acabei de transcrever: “devem ter um papel activo na prossecução e concretização das finalidades da presente lei”), terão outras de igual estatura: haverá nas escolas um gabinete de atendimento, que será organizado com a sua participação, devendo estar “especialmente envolvidos na definição dos seus objectivos”.

6. Como não poderia deixar de ser, a lei imputa aos professores, além da leccionação desta a nova vertente educativa (será que é mesmo nova?), mais tarefas burocrática e de coordenação. Logo em Setembro têm de ter a educação sexual incluída no Projecto Educativo de Escola e no Projecto Educativo de Turma, numa lógica disciplinar, interdisciplinar, transversal. Colaborando entre si, em equipa, têm, ainda, entre outras tarefas de “Promover o envolvimento da comunidade educativa” e “Organizar iniciativas de complemento curricular (…) adequadas”, “estabelecer parcerias”….

7. É uma lei que sobrecarrega o currículo e obriga a (mais) reajustamentos, quando já é tão difícil gerir as suas inúmeras e espartilhadas componentes.

8. É uma lei que dá liberdade às escolas (quer dizer, às comunidades escolares) para escolherem os conteúdos, as temáticas a serem tratadas… Dispensam-se, pois, especialistas no assunto e em psicologia e em organização curricular…, pois tem-se por certo que as populações sabem o que as suas crianças e jovens devem aprender, sendo que estas e estes também o sabem.

9. É uma lei que dá liberdade às escolas… bom, talvez não seja bem assim, pois os seus termos são bem explícitos no controlo exercido sobre elas. Para tanto, os Projectos Educativo de Escola e de Turma terão de ser detalhadíssiomos, devendo o Ministério “garantir o acompanhamento, supervisão e coordenação da educação para saúde e educação sexual nos agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas, sendo responsável pela produção de relatórios de avaliação periódicos baseados, nomeadamente, em questionários realizados nas escolas”.

Porém, tudo o que disse até aqui é de menor importância face ao que refiro de seguida.

1. É uma lei que permite ao Ministério da Educação, imiscuir-se nas opções que cabem aos sujeitos individuais, que derivam da liberdade de escolha de cada um, só assim se percebe que, sem quaisquer reticências, se proponha à “melhoria dos relacionamentos afectivo-sexuais dos jovens”.

2. É uma lei que permite ao Ministério da Educação descurar a ideia, que foi tão difícil de conquistar, que a criança é criança, o jovem é jovem, por outras palavras nem uma em é adulto em miniatura, nem o outro é quase adulto. Descurando esta ideia, nega-se a especificidade das suas idades, atribuindo-lhes a capacidade de decisão consciente, que, por princípio, carasteriza a adultez. Só nesta lógica se percebe que pretenda desenvolver-se competências “que permitam escolhas informadas e seguras no campo da sexualidade” e se “assegura aos alunos o acesso aos meios contraceptivos adequados”.

3. Assim sendo, é uma lei que permite ao Ministério da Educação ultrapassar em muito as suas atribuições educativas e formativas, interferindo directa e operacionalmente em comportamentos e sentimentos das crianças e dos jovens, sendo que, neste particular, os encarregados de educação, a que tanto se solicita participação, ficam, presumo, à margem do aconselhamento proporcionado aos seus educandos em matéria sexual, uma vez que este decorre nas escolas num ambiente de "confidencialidade”.

Chamo à atenção que, em termos legais, os menores (estamos efectivamente a falar de menores, a partir dos seis anos), para participarem em toda e qualquer actividades escolar que saia da rotina, precisam de autorização prévia dos seus pais/encarregados de educação, o mesmo acontecendo na vida em geral, sendo estes os responsáveis máximos pelo seu bem-estar.

4. É uma lei assente no modelo médico, de educação para a saúde, entendida esta no sentido biológico, o qual está bem patente no seguinte objectivo: “compreensão científica do funcionamento dos mecanismos biológicos reprodutivos”. Presumo que se recorre a tal modelo com a preocupação utilitarista e imediatista de se conseguir a “redução de consequências negativas dos comportamentos sexuais de risco, tais como a gravidez não desejada e as infecções sexualmente transmissíveis”.

Trata-se de um modelo que, podendo ter relevância, é nitidamente insuficiente para formar as crianças e jovens em termos afectivos e sexuais, como a lei se propõe. Usado em exclusivo e desta maneira que assinalei, poderemos conjecturar os seus efeitos adversos no desenvolvimento pessoal e relacional. A cautela mandaria ir por outro caminho que não este.

Finalmente, o que dizem os sindicatos, que são sempre ouvidos? E a Confederação Nacional das Associações de Pais que tanto se tem pronunciado sobre o assunto?

Ao que li na imprensa, os primeiros estão muito preocupados com o reduzido número de professores com formação na área e o representante da segunda, com os “protocolos com entidades, como os centros de saúde ou o instituto de apoio à criança, com provas dadas no terreno".

Como afirmei em texto anterior, temos o Ministério da Educação e as leis sobre educação que, como sociedade, merecemos!

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

A SIDA E O NOVO PRESIDENTE DO ANC


No meu livro "A Coisa Mais Preciosa que Temos" chamei a atenção para as posições pouco ortodoxas sobre a SIDA tomadas pelo presidente sul africano Thabo Mbeki. Para ele tratar-se-ia de uma doença associada à "pobreza africana", tendo até dúvidas sobre a sua transmissão pelo vírus HIV. Agora Mbeki foi a votos com Jacob Zuma para a Presidência do ANC, o partido do governo sul-africano, tendo perdido para o seu opositor.

Será que a posição sobre a SIDA do eventual futuro presidente da África do Sul é diferente da do actual? Nem por isso. Em 2006 Zuma foi julgado por alegada violação de uma mulher seropositiva (foi absolvido, por o tribunal não ter dado como provado o não consentimento). Não usou preservativo, mas afirmou ao tribunal que não havia perigo pois "tinha tomado duche no fim".

Moral da história: Quando algo vai mal, pode ainda ir pior.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Erotismo

Já tinha sido afixada aqui esta crónica do psiquiatra José Pio de Abreu (autor de "Quem nos Faz como Somos"), mas foi retirada uma vez que ainda não tinha saído no jornal "Destak". Saiu hoje e damos-lhe maior destaque publicando-a também aqui:

Segundo vários especialistas, o que faz o erotismo é a transgressão. O segredo erótico da moda feminina é ocultar e simultaneamente sugerir o que é proibido. Fruto proibido é o mais desejado.

Se a teoria estiver certa, Portugal é o país mais erótico do mundo. Há leis e proibições para todos os gostos, que toda a gente se entretém a transgredir com gozo e alarde. O fenómeno generalizou-se tanto que ficou sem graça: todos se orgulhavam de fugir aos impostos, de não pagar aos credores, de faltar ao trabalho, de chegar com atraso. Era preciso acabar com isto.

À falta de melhor, o último reduto do erotismo é a estrada. Sabe-se que as grandes velocidades são tão orgásticas quanto perigosas, mas o erotismo inofensivo pode-se cultivar a velocidades menores. Quem é que dispensa o pequeno prazer de andar a 70 à hora quando o limite é 60? Ainda por cima é inofensivo.

Claro que as autoridades já toparam o esquema. Aliás, elas também têm direito ao seu pequeno gozo erótico, em geral mais virado para a variante sádica. Assim, quando devem colocar o limite de 60, elas põem uma placa de 50. E, já se sabe, os automobilistas, que também topam as autoridades, transgridem, mas não andam a mais de 60 quilómetros. De um lado e doutro, todos ficam felizes com a sua pequena dose de perversão. O pior é para aqueles para quem a rodovia não tem nada a ver com a sexualidade.

J.L. Pio Abreu

domingo, 25 de março de 2007

Sexo e ciência: um tributo a Hamilton

No dia 7 de Março, o dia em que nos lançámos nesta experiência na blogosfera, fez sete anos que morreu o cientista que muitos consideram o pai da segunda revolução evolucionista: William Donald Hamilton.

Hamilton revolucionou a biologia com os artigos «The Genetical Evolution of Social Behaviour I e II», publicados no Journal of Theoretical Biology em 1964 e que explicam a base genética do altruismo. Estes artigos, considerados a maior contribuição à teoria da evolução depois de Darwin, foram enviados do Brasil, da UNESP Rio Claro, onde Hamilton mantinha uma colaboração.

Mas Hamilton forneceu igualmente a primeira resposta satisfatória à pergunta: para que serve o sexo? De facto, embora poucos discordem que sexo seja bom, o caso muda de figura quando a interrogação passa para o campo científico. Isto é, em termos biológicos o sexo é bom para quê?

Já em 1889 o biólogo alemão August Weismann tinha afirmado que a função do sexo não poderia ser apenas a de permitir a multiplicação dos organismos. Para a grande maioria das formas vivas, a reprodução assexuada, nas suas muitas variantes, assume-se como a forma predominante de reprodução. E não há indícios de que as bactérias se divirtam no processo, apesar do afinco com que se dedicam à reprodução.

A via sexuada é a forma de reprodução mais dispendiosa na perspectiva biológica, não só a nível fisiológico mas, quando os dois sexos correspondem a indivíduos distintos, também comportamental. Pensemos na energia investida em cantos, danças e outras exibições altamente elaboradas dos comportamentos de corte de muitas espécies, assim como no aparecimento e manutenção de características sexuais secundárias como as majestosas plumas dos pavões macho. Para não falar no desperdício de energia na produção de machos, criaturas quase inúteis do ponto de vista biológico, criadas e alimentadas com a função específica de doarem gâmetas para fertilizar as fêmeas.

Por outro lado, como apontou em 1971 o evolucionista inglês John Maynard Smith, na corrida evolutiva, na qual a passagem dos genes à geração seguinte é um grande objectivo, um indíviduo sexuado está em clara desvantagem em relação a outro que se reproduza assexuadamente já que o primeiro apenas passa à descendência metade do seu material genético. Esta desvantagem ficou conhecida por «o custo da meiose».

Em suma, a propagação genética sexuada é mais «cara» do que a assexuada; o sexo, em termos biológicos, é um «artigo de luxo»! Qual é então a razão para que se invistam tantos recursos neste artigo de luxo?

Maynard-Smith argumentou que o sexo só poderia ter evoluído se um benefício misterioso contrabalançasse o grande custo da meiose. A proposta revolucionária de Hamilton em 1980 para o aparente paradoxo é um corolário da teoria da evolução a que se chamou a hipótese da Rainha Vermelha, denominação inspirada no livro de Lewis Carrol, «Through the Looking Glass», no qual a Rainha Vermelha diz: «Now here, you see, it takes all the running you can do to keep in the same place».

Um meio ambiente em permanente mudança, especialmente no que diz respeito a parasitas (bactérias, vírus, etc., que se reproduzem assexuadamente), é a base desta hipótese de Hamilton sobre a origem e a manutenção do sexo. Os omnipresentes parasitas têm virulência específica, afectando apenas determinados genótipos dos hospedeiros. O tempo de vida dos parasitas é muito mais curto que o dos hospedeiros, ou seja, milhões de gerações dos primeiros sucedem-se durante a vida de um hospedeiro. As incontáveis gerações de parasitas, para os quais a principal fonte de variabilidade é a mutação, traduzem-se em taxas de evolução muito maiores, deixando como única saída para os hospedeiros mais longevos a reprodução sexuada e a produção de filhos diferenciados geneticamente e eventualmente resistentes aos parasitas.

Segundo Hamilton, uma «corrida às armas da adaptabilidade genética» entre hospedeiros e parasitas ocorre desde que a vida surgiu na Terra. Os parasitas estão sempre a furar as barreiras defensivas do genótipo dos hospedeiros, enquanto estes, com a ajuda do sexo, criam continuamente novas defesas. Na ausência do sexo, os hospedeiros permaneceriam geneticamente inalteráveis e seriam exterminados quando os parasitas conseguissem derrotar o sistema imunológico dos hospedeiros.

Hamilton desenvolveu uma visão parasítica do mundo que explica até a evolução de características sexuais secundárias como as cores brilhantes de alguns pássaros: propaganda genética. De facto, as fêmeas são muito exigentes na escolha dos machos com que acasalam e procuram garantias que o macho escolhido tenha «bons genes» contra parasitas. Para isso é necessário que os machos as convençam da excelência dos seus genes. Para evitar «gabarolices», isto é, publicidade enganosa, as provas da boa qualidade genética são muito dispendiosas em energia: apenas indivíduos com bons genes as conseguem exibir.

Os parasitas acompanharam Hamilton até ao fim da sua vida. Em 2000, numa expedição ao Congo, Hamilton contraiu malária tendo morrido pouco depois.

O QUE É FEITO DA CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS?

Passaram mil dias - mil dias! - sobre o início de uma das maiores guerras que conferem ao presente esta tonalidade sinistra de que é impossí...