sábado, 2 de novembro de 2024

RACIONALISMO, HUMANISMO, ILUMINISMO E DESPOTISMO ILUMINADO

Por A. Galopim de Carvalho

Em poucas palavras, para gente com pressa.

Os avanços da ciência, levados a cabo, no Renascimento, por Da Vinci (1452-1519) e Galileu (1564-1542), em Itália, mais tarde, por Nicolau Steno (1638-1686), na Dinamarca, e Isaac Newton (1643-1722), em Inglaterra, na chamada Revolução Científica do século XVII, e o espírito de abertura ao conhecimento fomentado pela exploração do mundo desconhecido pelos navegadores portugueses e espanhóis, foram importantes para a eclosão e consolidação do Racionalismo entendido como uma atitude mental, ou linha de pensamento que aponta o raciocínio lógico, ou seja, a razão (tida como a principal fonte de autoridade e legitimidade) como o caminho para se alcançar a verdade. 

Por sua vez, o Racionalismo foi “caldo de cultura” para o surgimento de uma outra, que marcou o chamado “Século das Luzes”, designada por Iluminismo. Esta outra atitude mental, descrita como um movimento intelectual e filosófico centrado na razão, advogava a liberdade, o progresso, a tolerância, a fraternidade, o governo legitimado pelo povo, o questionamento dos dogmas religiosos e, ainda, o Reducionismo apontado como a via segundo a qual, um sistema composto deve ser dividido nas suas partes que, uma vez estudadas cientificamente, permitem conhecê-lo, no seu todo.

Entre os mais destacados racionalistas sobressaem o francês René Descartes (1596-1650), o alemão Gottfried Leibniz (1632-1677), o holandês de origem portuguesa Bento Spinoza (1632-1677) e os ingleses Thomas Hobbes (1588-1679) e John Locke (1632-1704), estes dois últimos focalizados no pensamento social e político. 

A par do Racionalismo desenvolveu-se uma atitude ética, vinda de trás e se afirmou no Renascimento, conhecida por Humanismo. Emergia assim, de séculos do obscurantismo religioso que caracterizou a Idade Média, uma nova era iluminada pela razão. Ao Teocentrismo, que colocou Deus no centro do das preocupações e dos temores do ser humano, opusera-se o Antropocentrismo que o libertou dessa servidão e o colocou no centro dessas mesmas preocupações.

A História mostrou que a independência dos Estados Unidos, em 1776, e a Revolução Francesa, cerca de um quarto de século depois, em 1789, tiveram por fundamentos as ideias saídas do Racionalismo, do Humanismo e do Iluminismo que teve seu ponto alto com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, publicada em Paris, a 26 de Agosto de 1789.

Os racionalistas tinham grande fé no poder da razão, defendendo que, mediante o uso desta nossa superior capacidade, seria possível um progresso sem limites. O filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), afirmava que era fundamental "ousar conhecer". Surgiu assim, o interesse em reexaminar e pôr em questão as ideias ancestrais, entre as quais as da doutrina da Igreja (a partir de então duramente questionada), cujo declínio foi favorável ao crescimento do Secularismo, entendido como o sistema que defende a separação entre o poder político e as instituições religiosas.

Foram muitos os elementos das elites intelectuais francesas que dilataram e divulgaram o Iluminismo, com destaque para Voltaire (1694-1778), Charles de Montesquieu (1689-1755), Denis Diderot (1713-1784) e Jean-Jacques Rousseau (1712-1788). David Hume (1711-1776), na Escócia, Cesare Beccaria (1738-1794), na Itália, Benjamin Franklin (1706-1790) e Thomas Jefferson (1743-1826), na América do Norte, fizeram outro tanto. Foram as suas ideias que serviram de fundamento ao liberalismo, o político, e, mais tarde, o económico. 

O liberalismo acabou por invadir os círculos do poder, estando na base do Despotismo Esclarecido ou Iluminado, entendido como uma modalidade de governo que partilhava a exaltação de Estado e o poder absoluto do rei com as ideias de progresso e de filantropia defendidas no Iluminismo. Alguns monarcas de então, receosos de perder o poder ou, mesmo, a cabeça, aceitaram respeitar algumas destas ideias (não foi o caso de Luis XVI, que acabou por perdê-la em 1793). Entre eles, destacam-se Frederico II (1712-1786) da Prússia, Catarina II (1729-1796) a Grande, da Rússia, José II (1741-1790), da Áustria e Carlos III (1716-1788), de Espanha.

Em Portugal esta modalidade foi seguida por D. José I ou, melhor dizendo, pelo Marquês de Pombal. O Despotismo Iluminado chegou aqui através dos portugueses letrados que viajavam pela Europa, os chamados estrangeirados, com destaque para o padre Luís António Verney (1713-1792), filósofo, teólogo, professor e escritor, e para Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal (1699-1782) que, antes de ter sido o 1.º ministro de D. José I, foi embaixador em Inglaterra e na Áustria, onde recebeu forte influência das concepções culturais e filosóficas próprias do Iluminismo.

Foi sob esta modalidade de governo que, entre nós, teve lugar a reforma do ensino, a expulsão dos Jesuítas, o apoio às ciências e às artes, com o convite a professores e artistas estrangeiros para ensinarem e trabalharem em Portugal e a criação da Academia Real das Ciências em 1779.

6 comentários:

Anónimo disse...

Com pressa ou não, concordo que seja importante sabermos muitas coisas. Tenho gasto muito dinheiro inútil em livros cheios de pensamento que ponho nas estantes e me farto de lhes limpar o pó . O problema não é o Saber, mas a aplicabilidade da Coisa mental, do Sonho. A Humanidade já atravessou todos os “ismos” possíveis e imaginários, já inventou todas as religiões teístas e não teístas, já abraçou todas as políticas e filosofias e onde vivemos? Num planeta semi-destruído, poluído, a rebentar pelas costuras, onde todos refilam e exigem, onde ninguém respeita Direitos Humanos, onde moram todos os seres animais (não conheço outros), onde o digital reflete o Primitivo e a Criança de sempre, onde a virtualidade do real veio para ficar, empurrando-nos para a vacuidade da qual nunca saímos porque, de facto, somos como o Pai Natal feito de chocolate que se dependura na árvore na quadra de só Cristo ter existido… suspenso e abandonado. Desistam dessa esterilidade intelectual, comam, bebam, divirtam-se e apreciem o último copo de vinho com família e amigos (se os tiverem), façam uma fogueira com todos os conceitos (magnus ustos) e dancem à sua volta, tribalmente, porque é isso que somos e continuaremos a ser.

Anónimo disse...

Caramba, anónimo das 6:22, acerta na muche!
As preocupações com os perigos para a Democracia, pela eleição de um boçal para guiar os USA, e para as democracias, pela influência, agora descaradamente visível, do homem mais rico do mundo, ficam para o que sobrar das celebrações do "macaco nu".

Anónimo disse...

Portanto, Kamala é a solução da democracia. Democracia significa prosperidade para todos, felicidade e o céu é o limite.

Anónimo disse...

Vivemos em democracia. Justiça inoperante, saúde doente, educação hilariante, necessidades básicas pagas a peso de ouro, polícias de multas (não os vejo nas ruas ou vejo-os presos…), prisões a abarrotar, crimes declarados e ocultos, velhos abandonados em hospitais e lares, liberdade de expressão insultuosa, roubos financeiros não repostos, reformas tardias, maus salários… Podridão calma, consentida, carimbada. Democracia.

Anónimo disse...

É isso, é tudo mau. Espécie de mistura entre moralismo e argumentos ad terrorem. Tudo mau.

Reformas tardias - É sinal de aumento exponencial da esperança de vida. Afinal, é provável que a saúde não seja assim tão má como se diz.
Polícias na rua? este Verão fartei-me de ver polícias em bicicleta em Lisboa, curiosamente.
Educação hilariante? talvez, mas Portugal tem mais dentistas do que os Países Baixos, nada mau.
Todos os velhos estão abandonados nos lares? discutível. Seria preciso ir consultar *todos* os lares em Portugal, caso contrário não passa de uma generalização.
Liberdade de expressão insultuosa? Nem sei que é isso, nunca houve tanta liberdade de expressão em Portugal.

Democracia. Gosta de viver no país com a 9ª maior esperança de vida da União Europeia à nascença? Ah, não? Então vá para a Alemanha ou Finlândia, onde se vive menos. lol

Anónimo disse...

Não há ratinho que resista a um bom queijinho! Está exatamente onde eu queria que chegasse. Com que então? Afinal, gosta do país, de cá estar. Vive-se muito porque se trabalha pouco, muitas greves, bons médicos que aumentam a esperança de vida, polícias amorosos, velhinhos bem tratados, línguas viperinas super alimentadas e muitos dentistas a vingar a pseudomoralidade de quem os ordena.
Eu até ia para a Alemanha mas dói-me o braço direito e não uso bigode.
Ah! A minha alegre casinha, tão modesta como eu e o vovô Metralha do meu coração!

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