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quarta-feira, 11 de setembro de 2019

BIOLOGIA E SOCIEDADE



Na próxima 4ª feira, dia 18 de Setembro de 2019, pelas 18h00, vai ocorrer no Rómulo Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra a palestra BIOLOGIA E SOCIEDADE”, por José Matos, Bastonário da Ordem dos Biólogos.

Esta palestra integra-se no já popular ciclo "Ciência às Seis - Terceira temporada", coordenado por António Piedade, Bioquímico, escritor e Divulgador de Ciência.

Sinopse da palestra: “A Biologia é talvez o ramo da ciência que mais pontes estabelece com as outras ciências: Bioquímica, Biofísica, Biomatemática, Bioinformática, são inúmeras as áreas do conhecimento que se renovam e se transcendem (transdisciplinaridade) com base na Biologia, a ciência que estuda a vida.
Por outro lado, o nosso dia-a-dia está repleto de bens, serviços e de conhecimentos de base biológica, na maior parte das vezes sem que nos apercebamos disso. Na Saúde, no Ambiente, na Educação, na Biotecnologia, mas também no lazer e no turismo são inúmeros os exemplos de situações com base no conhecimento biológico, desde o medicamento que tomamos à cor da roupa que vestimos.
Contudo, a faceta mais visível da profissão de biólogo junto da sociedade civil é o ambiente e a sua conservação. Num momento em que, finalmente, todos nós começamos a ter consciência de que os problemas ambientais não são uma questão longínqua que apenas afeta os outros, mas sim um problema global, o que distingue um ecólogo (biólogo especialista em Ecologia) de um ecologista, o que distingue uma medida baseada na ciência de outra baseada na crença?
É a altura certa para debatermos estes temas e tentarmos responder a estas questões.”

ENTRADA LIVREPúblico-Alvo: Público em geral

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

V Conferência do Solstício: Antibióticos

A COMCEPT - Comunidade Céptica Portuguesa vai organizar a sua V Conferência do Solstício, dedicada ao tema dos antibióticos. Para isso, conta com o médico de família Armando Brito de Sá como orador. Eis uma breve sinopse:

"Os antibióticos constituíram um dos progressos centrais da medicina do século XX, senão mesmo de toda a sua história. O seu sucesso, contudo, trouxe consigo comportamentos que ameaçam, sem exagero, o regresso a situações que não conhecemos há décadas. O desafio que lançamos ao nosso convidado é fazer uma análise da evolução do uso dos antibióticos, dos perigos actuais da sua utilização e das soluções que se vislumbram (ou não) para o combate às infecções."

A entrada é gratuita, mas é necessária inscrição!

Mais informações:
Quando: Dia 15 de Dezembro, 18h
Local: Auditório da Escola-Oficina nº1, no Largo da Graça, 58, Lisboa
Organização: COMCEPT


domingo, 18 de dezembro de 2016

"Emocionalmente estável"? Só pode ser ironia!

Imagem retirada daqui.
Quando os "espectáculos reais" surgiram na televisão - e surgiram mais ou menos ao mesmo tempo em várias partes do mundo - muitas pessoas terão pensado que não seria possível conceber nada mais degradante para "divertimento" do público. Afinal, estava ali posta em causa a inteligência humana, bem como a privacidade, a urbanidade e outros valores éticos que temos por adquiridos e que, nessa medida, pensaríamos ser, ainda que em aparência, inatacáveis.

Terão também pensado que a razão iria rapidamente repor a ordem. O atentado a esses valores era de tal modo evidente que a própria sociedade reagiria de alguma forma, por exemplo, não vendo esses programas.

Essas pessoas, eu incluída, enganaram-se redondamente. A uma primeira edição seguiu-se outra e mais outra... num crescendo de degradação por referência ao que se tem por "humano". A dignidade, valor supremo, absoluto, que reconhecemos até ao mais vil criminoso, viu-se progressivamente abastardada.

À medida que isso acontecia mais audiências se ganhavam... São as audiências que contam!
Nada mais conta, rigorosamente, mais nada!

Seria, então, de pensar que não haveria fronteiras, até porque, entretanto, a internet abriu novas possibilidades, mercados... Tudo seria de esperar.

E o que seria de esperar está aí, pago por quem tem dinheiro (ver por exemplo, aquiaqui), inclui morte e o que for preciso para sobreviver (fisicamente). E em directo, para nossa satisfação. Fantástico!

Pode correr quem tiver mais de 18 anos, independentemente do país de pertença, e seja estável emocionalmente.

O "emocionalmente estável" só pode ser ironia!

[Qual a razão da imagem, perguntará o leitor: uma sociedade como aquela em que vivemos, que renega a memória colectiva, que impede que as novas gerações conheçam o passado, que as inibe de ter uma atitude crítica por via do conhecimento, é precisamente aquela que vai buscar terrores passados a que não deveríamos voltar].

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

"Seguimos em frente como se nada tivesse mudado"

Vale a pena ler:

Sem fins lucrativos. Por que a democracia precisa das humanidades.

de Martha C. Nussbaum.
professora de Direito e Ética da Universidade de Chicago.

(Edição consultada: Martins Fontes São Paulo, 2015)

"Estamos no meio de uma crise de enormes proporções e de grave significado global. Não me refiro à crise económica global que começou em 2008 (...) uma crise mundial da educação.

Estão a ocorrer mudanças radicais no que as sociedades democráticas ensinam aos seus jovens e essas mudanças não têm sido bem pensadas.

Obcecados pelo PNB, os países - e os seus sistemas de educação - estão a descartar, de forma imprudente, competências indispensáveis para manter viva a democracia. Se essa tendência prosseguir, todos os países estão produzindo gerações de máquinas lucrativas em vez de cidadãos integros que possam pensar por si próprios, criticar a tradição e entender o significado dos sofrimentos e das realizações dos outros. É disso que depende o futuro da democracia.

Que mudanças fundamentais são essas? [Em todos os níveis de ensino] as humanidades e as artes estão sendo eliminadas em quase todos os países do mundo.

Considerados pelos administradores públicos como enfeites inúteis, num momento em que as nações precisam eliminar todos os elementos inúteis para se manterem competitivas no mercado global, elas perdem rapidamente lugar nos currículos e, além disso, nas mentes e nos corações dos pais e dos filhos.

De facto, o que poderíamos chamar de aspectos humanistas da ciência e das ciências humanas (...) também está perdendo terrenos, já que os países preferem correr atrás do lucro de curto prazo por meio do aperfeiçoamento das competências lucrativas e extremamente práticas adequadas à geração do lucro.

Embora esta crise esteja diante de nós, ainda não a enfrentamos. Seguimos em frente como se nada tivesse mudado, quando, na verdade, são evidentes por toda a parte mudanças importantes.

Ainda não fizémos uma verdadeira reflexão sobre essas mudanças - na verdade, nós não as escolhemos - e, no entanto, elas limitam cada vez mais o nosso futuro."

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Brinquedos que (nos) espiam

“Estamos habituados (...) a falar mais de segurança dos brinquedos no que diz respeito à segurança física: perigo de asfixia, químicos, a questão das idades adequadas… Essas costumavam ser as questões de segurança dos brinquedos, mas aquilo que verificamos é que cada vez mais temos de verificar a segurança dos dados pessoais da criança.”
Palavras de um jurista da Associação Portuguesa para a Defesa dos Consumidores (Deco), Diogo Nunes, a propósito do que o leitor por perceber neste inquietante vídeo.


Notícia consultadas: aqui.

domingo, 4 de dezembro de 2016

É mais fácil e mais barato responsabilizar o indivíduo

Na continuação de texto anterior.

São vários os seus "ingredientes" do novo modo de pensar que se instalou na educação escolar e a determina. Não é fácil reuni-los, captar o seu sentido e operacionalizá-los, nem perceber a sua interligação.

Expressões como auto-estima, auto-conceito, auto-conhecimento; inteligência emocional e, até, espiritual, inteligências múltiplas; afectos e emoções, e gestão dos ditos afectos e emoções; informação e sociedade do conhecimento; tecnologias e múltiplas das suas especificações; games, gamificação, ludicidade; diferenciação e colaboração; terapias várias nas quais se inclui a do riso, empreendedorismo, iniciativa e resiliência; coaching e mindfulness... devem constituir o novo vocabulário de quem se quer mostrar moderno no campo da pedagogia.

Trata-se de expressões que, na sua maioria, são importadas de outros campos, nomeadamente da psicologia (geral e clínica) e das tecnologias, mas, talvez, sobretudo do quotidiano social, com todas as suas forças de expressão e de pressão.

Ainda que correndo o risco de cometer heresia face ao que se encontra estabelecido e é dado como verdade inabalável, algumas pessoas da área da pedagogia e de fora dela começam a publicar reflexões interessantes e importantes a que devemos dar atenção.

Imagem de aqui
Uma dessas reflexões concentra-se na expressão mindfulness, mais precisamente no seu sentido e substância.

Transcrevemos abaixo partes (com adaptações) de um texto publicado no The New York Times, que, de modo muito claro, cumpre esse requisito, até porque o mindfulness é elevado, neste momento, no nosso país, a medida capaz de concorrer para o sucesso escolar (Mind up), tendo, nessa medida, sido adoptado em várias escolas.


Ruth Whippman
A técnica da atenção plena (mindfulness) é, supostamente, uma defesa face às pressões da vida moderna mas, de forma suspeita, começa a tornar-se em mais outra pressão – é um círculo especial do inferno do autodesenvolvimento (...). 
Trata-se de uma filosofia certamente mais recompensadora para aqueles cujas vidas se pautam por momentos privilegiados, em comparação com quem se depara com horas de trabalho, humilhação e exaustão. 
Aconselharem-nos a viver mais no presente, em atenção plena, contém muitas vezes uma dose de presunção moralizante; é uma espécie de "momento de vergonha" dos mais distraídos, como um professor severo que nos repreende por não estarmos concentrados na aula (...). A verdade é que as nossas vidas são muito mais interessantes vivendo fora do presente do que nele (…).
Uma das mais magníficas actividades do nosso cérebro é a capacidade de equacionar alternativas passadas, presentes e futuras em paralelo, de modo a ultrapassar o tédio da vida quotidiana. O que diferencia os humanos dos animais é precisamente esta capacidade de nos desligarmos do que está a acontecer num exacto momento, dando-lhe contexto e significado. (…)
A implicação [da filosofia subjacente ao mindfulness] é que, descurando viver o momento no momento, somos ingratos e não-espontâneos, estamos a desperdiçar as nossas vidas, e portanto, se somos infelizes, a culpa é nossa e só nossa. 
Esta atitude moralista é parte de uma longa história de auto-ajuda baseada no pensamento cultural de policiamento. É o "movimento de pensamento positivo" a transformar os problemas quotidianos em "pensamentos problemáticos". A "atenção plena" torna-se o foco do nosso apetite pelo auto-aperfeiçoamento interior. 
Quando antes se entendia que os problemas, mesmo os mais complexos e enraizados – desde um casamento infeliz ou stress laboral até à pobreza e discriminação racial – deviam ser encarados para serem superados, agora a ideia é "instruir os aflitos" a serem mais conscientes desses problemas.
Isto é uma espécie de neoliberalismo das emoções, em que a felicidade é vista, não como uma resposta às nossas circunstâncias, mas como resultado do esforço mental individual, e, naturalmente, como uma recompensa para quem o consegue e, por isso, o merece. 
O problema não é a nossa renda de casa altíssima ou o salário miserável, os nossos chefes corruptos ou a pilha gigante de pratos sujos para lavar – o problema somos nós. 
É, naturalmente, mais fácil e mais barato responsabilizar o indivíduo pelos seus pensamentos errados do que abordar as causas espinhosas da infelicidade, que, bem vistas as coisas não é só dele. 
Assim, damos aulas de mindfulness em vez de nos debruçarmos sobre a desigualdade educacional e instruímos trabalhadores exaustos para uma respiração atenta, em vez de lhes providenciar férias pagas ou melhores cuidados de saúde. 
Embora alguns dos estudos demonstrem que o mindfulness ou exercícios semelhantes possam ter alguns benefícios, quando comparados com outras técnicas de relaxamento (...), verifica-se que as pessoas não conseguem, com isso, um melhor desempenho (...). 
Assim, em vez de gastarmos a nossa energia lutando para permanecermos no momento presente com atenção plena, talvez devêssemos simplesmente estar gratos pelo facto de o nosso cérebro nos permitir estar noutro lugar.
Maria Helena Damião e Joana Branco 

Designação precisa-se...

As mentalidades ou certos aspectos delas podem mudar muito rapidamente, basta que a orientação (ou pressão) seja a certa, bem engendrada e melhor executada, sempre, claro está, dissimulada.

No campo da educação escolar, há duas décadas, talvez um pouco mais, vimos alicerçar-se um modo de pensar que Marçal Grilo, ex-ministro da educação, designou por eduquês. Não vale a pena voltarmos à sua caracterização pois os leitores deste blogue, sobretudo os que o acompanham tê-la-ão presente.

Acontece que, nos anos mais recentes, esse modo de pensar tem-se desvanecido, foi sendo esquecido, deixou de estar na moda; ao mesmo tempo um outro modo de pensar foi-se infiltrando nos discursos e nas práticas pedagógicas, passando a ser a moda.

Este novo modo de pensar, tal como o anterior, impõe-se como o único válido, como aquele que salvará as novas gerações, o mundo... No caso, sem ele não haverá, não poderá haver, salvação; só ele pode garantir o futuro, o século XXI.

Como já estamos atrasados para o futuro - afinal, já entrámos nesse século -, é preciso mudar rápida e radicalmente a escola, os espaços e os recursos de aprendizagem, os modos de aprendizagem, o rol de literacias e as competências que lhes estão associadas... tudo, mas tudo o que vem de trás, do passado, mesmo que o passado seja presente, por ser catalogado como tradicional, como obsoleto, não serve, tem de ser recusado, mudado, inovado...

Acresce dizer que tal como o velho eduquês, este "modo de pensar" permite estabelecer uma linha bem definida entre "crentes" e "hereges", ou seja, entre aqueles que o aceitam tal e qual e aqueles o submetem, como convém num ambiente intelectual digno desse nome, a crítica.

Também como o anterior modo de pensar, este ganhou reconhecimento académico (surgiram especialistas, livros e artigos, revistas temáticas, teses, congressos e outros eventos, tudo com a marca de científico) e legitimidade curricular (organismos internacionais avançam orientações e recomendações; os poderes, políticos e escolares, acolhem-nas e determinam).

E, assim, o novo modo de pensar, a que falta uma designação, instala-se para ficar. Pelo menos por umas décadas...

"Há uma estupidez enorme nas reformas" do ensino

Nuccio Ordine, autor do livro A inutilidade do inútil, sobre a educação escolar que temos e que teremos.

Em entrevista recente ao jornal Folha de São Paulo:

"O que escrevi é também uma crítica à pedagogia moderna que quer ensinar os jovens através do jogo, da superficialidade sem esforço. É um erro enorme, o saber não é um dom, é uma conquista quotidiana que é preciso fazer." 
"Hoje infelizmente as escolas e as universidades tornaram-se empresas, que vendem diplomas, e os alunos clientes, que compram diplomas; nessa perspectiva, nesse espírito de comércio, as ideias de cultura, de conhecimento e de educação são destruídas." 
"Há uma estupidez enorme nas reformas que estão a ser feitas em países da Europa, segundo a ideia de que a escola moderna deve ser conectada com a internet em todo o lado e que o estudante tenha um tablet ou um computador diante de si. Isso é uma estupidez enorme. A escola moderna não é a conexão, a tecnologia mas a escola com bons professores porque eles geram bons alunos."
E no mencionado livro, na segunda parte, páginas 101 e seguintes:
"... trata-se de uma revolução copernicana que nos próximos anos mudará radicalmente o papel dos professores e a qualidade do ensino. 
Quase todos os países europeus parecem estar orientados para uma redução dos níveis de dificuldade a fim de permitir que os estudantes passem nos exames com maior facilidade, na tentativa (ilusória) de resolver o problema daqueles que não acompanham regularmente os cursos. 
Para diplomar os estudantes no tempo exigido pela lei e para tornar a aprendizagem mais «agradável» não se exigem esforços adicionais mas ao contrário, procura-se seduzir os estudantes com a perversa redução progressiva dos programas e com a transformação das aulas num jogo interactivo superficial, baseado em projecções em power point e na aplicação de questionários de escolha múltipla."

É muito importante tornar a humanidade mais humana

“Não temos consciência de que a literatura e os saberes humanísticos,
a cultura e o ensino constituem o líquido amniótico ideal no qual as ideias
de democracia, liberdade, justiça, laicidade, igualdade, direito à crítica, 
tolerância e solidariedade podem experimentar um vigoroso desenvolvimento”. 

A frase acima reproduzida é de Nuccio Ordine, professor italino de literatura, que recentemente publicou um livro - A inutilidade do inútil - que deveria se lido por todos os que têm responsabilidade no currículo escolar, desde decisores políticos, até aos professores e directores, passando pelos pais e encarregados da educação. O leitor perceberá porquê se vir o pequeno vídeo que se segue:


sábado, 6 de dezembro de 2014

Disse uma pessoa com-abrigo...

ANNE-CHRISTINE POUJOULAT/AFP/Getty Images
Reproduzida no Expresso on line: aqui

Ontem, dia 5 de Dezembro, o jornalista Daniel Ribeiro, correspondente em Paris, publicou um artigo no Expresso on line que importa muito ler (aqui).

Conta ele que a câmara de Marselha obriga todas as pessoas sem-abrigo a identificarem-se da maneira que se percebe na fotografia acima. Cada uma deve ter colada à roupa e em sítio bem visível um triângulo onde consta o seu nome e as doenças de que padece.

"É um simples cartão de socorro e permite aos bombeiros e aos médicos agir com eficácia para salvarem a vida destas pessoas, dificilmente identificáveis sem esse cartão", explica candidamente e, presumo, bastante surpreendida, uma pessoa com-abrigo e com um cargo importante na câmara, quando lhe pediram que explicasse a medida.

A explicação que deu não destoa muito de outras que se vão ouvindo (e, mais do que isso, se vão impondo) neste tempo em que a eficácia, a eficiência, a rentabilidade, a produção, a economia financeira... comandam o mundo. Para dizer a verdade, não a estranhei. O que (ainda) estranhei foi não a ter estranhado.

Acho que isto diz muito do pensamento contemporâneo, que é, afinal, ancestral e, vez em quando, emerge. Se não formos capazes de lhe resistir ele há-de conduzir-nos, de novo, a caminhos que já conhecemos.

sábado, 1 de novembro de 2014

A privacidade nas cidades

Talvez não possamos voltar atrás, talvez não queiramos voltar atrás, talvez não nos interesse voltar atrás... Quem diz voltar atrás, pode dizer dar um passo em frente, pôr em causa, discutir, aceitar ou recusar, (re)ver limites...

Falo de privacidade, de reserva da vida privada e íntima, do direito de estar só... essa invenção que decorre de uma necessidade humana básica: se enveredarmos por uma abordagem histórica, e antropológica e etnográfica, percebemos que a privacidade, não obstante assumir diversas manifestações, tem marcado presença ao longo do tempo e em todas as culturas.

É certo que também tem sido uma constante a tentativa de a superar, de conhecer o "outro" (entendido como uma pessoa ou um grupo mais restrito ou mais alargado) no que lhe é mais reservado, de saber o que faz, diz ou pensa. E isto, sobretudo, como curisiosidade (quem é o outro, o que pode esconder...) e de controlo (prever os comportamentos do outro, conseguir informações que podem jogar a seu desfavor...).

Estas forças de sentido contrário obrigararam a regulação, social e legal, das fronteiras entre o público e o privado. Porém, na contemporaneidade, num quadro do pensamento pós-moderno que, qual capacete, usamos em todas as circunstâncias, qualquer regra é tornada subjectiva e relativa, passando a não valer nada. Acresce que, com os meios técnicos que conseguimos construir e que temos disponíveis, ao acesso de qualquer um, podemos observar tudo e todos a todo o momento. As únicas fronteiras são éticas e, essas, quem as reconhece "passa fome", palavras muitíssimo verdadeiras de uma famosa apresentadora de televisão portuguesa.

Nesta matéria, a técnica é mesmo muito rentável é, portanto, aplaudida: quem inventa artimanhas de captação do rasto, da identificação, da expressão de alguém é reconhecido, ganha prémios.

Fotografia (manipulada) de Gail Albert Halaba
É (só) a técnica, não a ética que interessa! (E, longe de mim, condenar a técnica, no seu sentido mais geral, mas a técnica sem a ética é cega!)

Isoldamente, uma ou outra voz desafia este princípio. Talvez não seja o suficiente, mas é sinal de que ele é interrogado.

Tive, agora, conhecimento da voz, em forma de arte, de Gail Albert Halaban (aqui). Para fazer notar a "falta de privacidade nas cidades", fotografou janelas de prédios de Nova Iorque e Paris e compôs imagens com pessoas do lado de dentro. O resultado, que o leitor pode apreciar aqui, não nos deveria deixar indiferentes.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

O direito à privacidade

Em 1890 foi publicado na Harvard Law Review um artigo intitulado The Right to Privacy. Assinavam-no Samuel D. Warren e Louis D. Brandeis. Recorrentemente referido pelos juristas americanos e europeus quando se trata de questões de privacidade, é tido como um dos escritos mais importantes nesta matéria.

Situados na dinâmica da sociedade de final de século, Warren e Brandeis defendiam, de modo muito determinado, a necessidade de regulamentar a lei geral de protecção de pessoas e bens, pois viam que grandes ameaças, nunca antes consideradas, a podiam pôr em causa. Eram as ameaças ao "direito de estar só", ao "direito de ser deixado só".

À época, recentes invenções - fotografia instantânea - e negócios - aumento de circulação de jornais - conjugavam-se perigosamente para  alimentar o que há de mais primário no ser humano: a intromissão na vida de outrem, apenas e só para apropriação de imagens, sentimentos e acontecimentos que só a eles dizem respeito. A dor, a devastação, que isso pode causar nas pessoas visadas pode ser imensa, conjecturavam.

Assim, seria preciso reconhecer "a principle which may be invoked to protect the privacy of the individual from invasion either by the too enterprising press, the photographer, or the possessor of any other modern device for recording or reproducing scenes or sounds".

Apesar da antecipação que Warren e Brandeis fizeram do futuro, o que eles não previram foi que a economia e o glamour da publicidade que lhe é associada ganhassem (tanta) vantagem ao direito e à ética. Nem previram também que a educação escolar se alheasse do princípio que formularam e, mais do que isso, que acabasse por o subverter.

Foi o que bastou para se configurar o cenário do "panóptico sempre ligado" (H. Rheingolg), onde se desenrola o fantástico “espetátulo da realidade”, pois "tudo vende mais se for real" (P. Sibilia).

Reduzidos a um pensamento que não integra outras palavras além daquelas, muito melosas, que nos são impingidas a que se aliam um inebriamento pelo brilho das luzes que se nos  faz crer estarmos no cento de alguma coisa, consumimos "lampejos da intimidade alheia" (P. Sibilia) e damos a consumir "lampejos da nossa própria intimidade.

É verdade: neste cenário “suave e elegante” (P. Sibilia), nada nos detém no acesso aos outros, na vigilância, e controlo que deliberadamente fazemos dos seus passos; mas também nada nos detém no acesso que permitimos aos outros, que deliberadamente vigiam e controlam os nosso próprios passos.

Por isso, não... notícias como esta ou esta não me surpreendem. Afinal ‘Find My Friends’ e ‘Nearby Friends’ são duas expressões tão... envolventes!
Maria Helena Damião

quarta-feira, 16 de abril de 2014

A nossa mão

Imagem retirada daqui.
O fenómeno é muito geral: às universidades é "pedido" que sejam empreendedoras, que se auto-financiem, que não gastem os dinheiros públicos necessários em sectores "mesmo importantes", que se deixem de dissertações abstractas que não interessam a ninguém e em nada beneficiam a economia, que façam pela vida... e isto se querem sobreviver.

A sociedade, que tanto criticou as "torres de marfim", aplaude de pé: vá, se são tão inteligentes, mostrem do que são capazes: inventem soluções, mecanismos, o que puderem, mas que seja rentável.

E (um certo) pessoal das universidades - alunos incluídos -, produto desse tipo de sociedade, diz, como muitíssimo entusiasmo, "sim senhor", arregaça as mangas e avança... É um pessoal que apenas tem como limites a sua imaginação, porque não conhece outros, nem ninguém lhes diz que os há.

Daí resultam "coisas" que dão acesso à dupla irresistível: fama e dinheiro.

Referi aqui uma dessas "coisas", "made in Portugal", que me impressionou particularmente, tanto quanto outra de que agora tomei conhecimento e que vem da Suécia: o pagamento através da "scanização" da mão, da mão de carne e osso, da nossa mão (ler, por exemplo, aqui e aqui). É como o controlo no trabalho através da impressão digital, mas acho que pior... Ou será da mesma natureza?

Tão distante que Portugal é da Suécia, não apenas em termos de quilómetros, mas também em termos sociais e, no entanto, o mesmo tipo de estudantes universitários: auto-confiantes, pró-activos, sorridentes e, sim, empreendedores, desembaraçados na palavra, como se espera que sejam... Jovens inebriados com o seu próprio sucesso a quem entregamos o futuro e que não parecem vislumbrar nada além da técnica... analfabetos nessa zona esquisita que é a condição humana. Não, não sei se isso se deve à marginalização das humanidades no currículo...

E não são apenas eles, as estrelas, que têm este perfil, os que são ouvidos sobre os "inventos" parecem iguais, não vêem qualquer problema em nada, nem na leitura da expressões faciais de clientes para potenciar a venda de produtos, nem no uso da mão que pertence ao nosso corpo para fazer pagamentos numa caixa registadora... Tudo parece normal, trivial...

Não, estes jovens não surgem do nada, é a nós que devem ser pedidas contas, nós, professores, directores de departamentos e reitores que, nas universidades, somos responsáveis pela formação de pessoas e que aceitamos "projectos" à peça sem perguntarmos o que está em causa.

Mais elucidativas que as minhas palavras é o vídeo que se pode ver aqui.
Maria Helena Damião

quinta-feira, 10 de abril de 2014

As paredes de nada valem

Imagem encontrada aqui

Dizem os espanhóis: "Estou na minha casa, faço o que me dar na gana". 

É uma frase maravilhosa pela força que as suas palavras imprimem à ideia que contém: em casa, na nossa casa, no espaço de intimidade, que as paredes delimitam, podemos dizer e fazer quase tudo.

As paredes confinam e libertam. Marcam fisicamente o espaço em que a nossa vivência e convivência é sobretudo privada.

Ou... não!

Deixemos de fora os casos de escutas electrónicas em situações mais ou menos especiais, legais ou não, mas em que há sujeitos visados. Pensemos nas pessoas comuns, aquelas a quem ninguém liga, as invisíveis.

Há muitos anos, quando vi o filme Blue Tunder (de 1983) percebi que o cenário espanhol era passado, que as paredes das casas podem tornar-se transparentes. Mas, de fora para dentro.

Pois, fiquei agora a saber que as paredes de nada valem, pois para dentro da nossa própria casa pode ser enviada uma janela invisível mas escancarada. Não sabemos que nos vêem e nos ouvem, mas vêem-nos e ouve-nos.

A janela pode ser um bonequinho felpudo, fofo, com o ar mais ternurento que se pode fabricar, electrónico para parecer que tem vida, a que as nossas crianças não resistem e a quem nós fazemos o carinho de oferecer.

Pois é, parece que desde finais dos anos noventa, uma agência de segurança de um país ocidental usou bonecos desses como janelas de espionagem em muitos, muitíssimos locais privados. São milhões as pessoas espiadas. Penso que não havia critério, podia ser qualquer uma.

Por isso, caro leitor, tenha cuidado com o que compra, com o que lhe oferecem, com o que já tem em casa. Quando fizer limpeza aproveite para desmontar a mobília, os candeeiros, os electrodomésticos, os brinquedos da pequenada... E não se admire se descobrir que, afinal, não estava só...

Uma das notícias onde se conta esta história pode ser lida aqui.

Maria Helena Damião

"Espere! Como é que sabe isso sobre mim?"

Imagem recolhida aqui.
Há um sítio da internet "BuzzFeed", nascido na cosmopolita Nova Iorque, que começou por ser de puro entretenimento e passou a ser de investigação jornalística. Usando um humor simpático e inteligente aborda temas sérios que, como cidadãos, nos inquietam ou deviam inquietar.

A privacidade em tempos de "redes" é um deles.

Então, para nos inquietar (precisamos, de facto, de ser inquietados), esse sítio colocou uma equipa nas ruas: enquanto um elemento interpelava transeuntes ao acaso e lhes perguntava o nome, os restantes, escondidos numa carrinha, procuravam no "Facebook" informações pessoais sobre eles, as quais eram incorporadas nas perguntas.

Espanto dos entrevistados: “Espere! Como é que sabe isso sobre mim?”. Fácil: você falou de si em público, pensando que o estava a fazer em privado!

Não deixe o leitor de ver um pequeno filme aqui.

PS: Agradecemos ao leitor que deixou, em comentário, a ligação para uma "brincadeira" semelhante: aqui.

Maria Helena Damião

sábado, 29 de março de 2014

Da publicidade que utiliza a arte à publicidade que produz arte

Texto na continuidade de outro: aqui.

Certo artista foi contactado para fazer um grande mural. O parque de uma cidade portuguesa era o destino. Aceitou.

A sua inspiração foi a fotografia de um rapazito que, descalço, andava, há quase oitenta anos, pelas ruas dessa cidade apregoando a venda de pássaros.

A recente inauguração desse mural teve pompa e muita comoção: o rapazito agora, nos noventa, foi descoberto e compareceu; a presidente da Câmara esteve presente e contribuiu com a devida solenidade; as pessoas do costume deram um toque público ao acto; e... o director-geral da empresa - sim, empresa - que encomendou a obra, "no âmbito de uma estratégia promocional do novo Centro Comercial" qualquer-coisa, teve destaque.

Parece que declarou: "Quisemos desenvolver uma série de atividades na região que envolvessem a população e que, de alguma forma, transmitissem a nossa forma de estar nos sítios onde temos unidades comerciais, em que procuramos ter uma atividade ativa a nível social e de sustentabilidade, desenvolvendo muitos projetos com a comunidade"

O "negrito"é meu - a arte para transmitir a "forma de estar" da empresa "onde tem unidades comerciais" - para salientar que o parque de uma cidade é um espaço público, de todos, portanto, que não deveria ser apropriado por uma entidade privada que tem "uma forma de estar", a qual, nessa medida, impõe aos demais e com (legítimos) fins últimos que não são os estéticos. Apresentam-se como tal, mas são económicos.

O problema (e aqui há um problema) não é da empresa, é das entidades camarárias que, sendo, repito, públicas deviam agir em conformidade. Porém, em tempos em que tudo se mistura e confunde, a senhora presidente "salientou o empenho da [tal empresa] na promoção de atividades culturais, a par da atividade comercial que desenvolve no concelho e que, ainda este ano, será reforçada com a inauguração do centro comercial".

A arte serve para tudo, menos para servir como fim a si própria. Isso já se sabe.

E, em sociedades pretensamente intelectuais, ela é, tenho de admitir, muito apetecível como objecto publicitário, tanto para convencer, como para comover e ainda para agradecer a quem no-la proporciona a custo zero: usa-se a que já existe ou, se for preciso, produz-se, e à medida.

A notícia em que me baseei pode encontrar-se aqui.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Qual é o problema!?

Desenho a que me refiro, encontrada na internet
Pelos anos noventa detive-me num desenho de Quino (do livro Sim... meu amor, datado de 1987) e nunca mais me esqueci dele, pelo disparate que retrata.

Numa cena tradicional, noivos caminham em direcção ao altar, mas na longa cauda do vestido dela e nas costas da casaca dele algo destoa: são os logótipos de marcas que subsidiam a boda.

Há dois ou três anos, em certa circunstância, falando-se entre colegas da publicidade cada vez mais presente nas escolas, incluindo nas universidades, a trocos de subsídios vários, justificados pela necessidade de auto-sustentação, lembrei-me desse desenho e, ironizando, disse que não tardaria sermos obrigados a usar logótipos no traje académico: eis-nos em provas e cerimónias oficiais qual outdoor andante!

A minha interlocutora, percebendo o disparate mas vislumbrando a possibilidade do cenário, perguntou-se se eu estava a falar a sério... Sendo ela uma pessoa inteligente, por breves segundos, hesitara em categorizar a minha piada como piada.

Deste modo percebi a real possibilidade do disparate: uma cena da banda desenhada podia ser transposta para a realidade e mesmo pessoas críticas já, de algum modo, a esperavam.

Em sequência procurei e, claro, encontrei: por exemplo, um pouco por todo o mundo, alunos com uniformes desta ou daquela marca, sobretudo de refrigerantes; em Portugal, estudantes do ensino superior com camisolas estampadas, sobretudo, com marcas de cerveja. Não vi paralelo em relação a professores, mas será passo que se segue.

Esta dissertação é a propósito de uma notícia publicada aquisobre a obrigação que agora recai sobre funcionários de museus, de vestirem roupa com publicidade:
"... por ordem da direção dos dois monumentos, que estão entre os mais visitados do país, os trabalhadores estarem "obrigados a fazer propaganda a [uma] cadeia de supermercados espanhola", a partir da próxima terça-feira. "É absolutamente inconcebível", desabafou João Neto, que questionou em seguida: "Por que é que o Governo não usa uma camisola com o emblema da 'troika' que é o seu mecenas?". Para este responsável, a situação no Mosteiro dos Jerónimos e na Torre de Belém "é bem explícita da política deste Governo relativamente à cultura", e considerou que "não se pode descer mais". De acordo com o sindicato, a medida será aplicada "contra a vontade" dos trabalhadores, "por lhes ter sido entregue, pela direção, uma farda, dita como de uso obrigatório, com o respetivo logotipo da cadeia aposto na frente". "A direção apenas informou que os fardamentos agora distribuídos foram oferecidos ao abrigo da lei do mecenato" (...). Para o sindicato, os trabalhadores circulam diariamente pelos monumentos no exercício das suas funções, acompanhando grupos de visitantes e excursões, e "vão fazer publicidade gratuitamente à cadeia em questão". A agência Lusa pediu uma reação à Secretaria de Estado da Cultura, que tutela os monumentos, sem obter resposta, até ao momento.
Bem pode João Neto, o presidente da Associação Portuguesa de Museus, indignar-se, que além de não conseguir mudar a decisão, decerto devidamente ponderada e formalizada, será olhado pela generalidade das pessoas como... estranho. Afinal, qual é o problema"? Há algum problema"?

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

A privacidade dos funcionários públicos

Recentemente foi apresentada uma nova Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas, que, segundo li, quer afirmar essa entidade mal definida e ainda pior aplicada chamada "transparência". Para tanto, são disponibilizados na internet, em rede aberta, dados pessoais dos funcionários do Estado, dados que, como se sabe, "ficarão disponíveis indefinidamente e são facilmente copiados para outros locais, sem qualquer controlo da sua posterior utilização" podendo "ser extravasada a finalidade a que se destinam e prestarem-se a utilizações indevidas".

Este é o alerta da (recorrentemente ignorada) Comissão Nacional de Protecção de Dados, que foi chamada a elaborar um parecer a respeito (cujo conteúdo foi divulgado pelo Jornal de Negócios), no qual denunciou a invasão da privacidade, que, apesar de anti-constitucional, ficará legitimada em letra de lei

Nesse parecer a Comissão refere que estão em causa: "dados de diversa natureza, como sejam, o nome a categoria profissional, o escalão, o índice ou posição e nível remuneratório do trabalhador, extrato do ato ou contrato celebrado com o empregador público, notificação como arguido em processo disciplinar, colocação em situação de requalificação, entre outros",

E nota que "apenas devem ser publicados os dados estreitamente necessários à finalidade da transparência e apenas esses", sendo que o que está em causa “ultrapassa em muito o objetivo de transparência e o acesso público à informação, permitindo a agregação de informação sobre as pessoas e o estabelecimento de perfis”.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Espelho meu, espelho meu... 1

Imagem retirada daqui
"Espelho meu, espelho meu, há alguém mais belo do que eu?". Esta é a pergunta que, insistentemente, a Madrasta da Branca de Neve faz ao seu Espelho Mágico e que, afinal, se revela numa verdadeira obsessão. Não lhe basta ser bela, quer ser a mais bela! Não lhe basta uma resposta, quer respostas confirmatórias sucessivas!

Os irmãos Grimm souberam captar e apresentar o que de há grande e de pequeno na alma humana, o que há de bom e de perverso, o que há de moderado e de exagerado, e por aí adiante. Nesta tendência particular, do exigir saber-a-todo-o-custo quem/o que está à frente, quem/o que ganha, foram certeiros! Efectivamente, tal tendência transformou-se num das grandes marcas dos tempos que correm, que mobiliza "mundos e fundos".

Tudo e todos têm de ser submetidos à pergunta, em suma, avaliados: Quem vende mais discos e mais livros? Que estação e programa de televisão e de rádio se vêem e se ouvem mais? Quem é mais sexy? Quem é o mais bem e o mais mal vestido? Qual é o melhor restaurante e o melhor chef? Que país está à frente na produção disto e daquilo? Quem é mais popular e mais fotogénico? Que empresa consegui mais lucros e que empresário é o mais dinâmico? Que jogador de futebol marcou mais golos e qual o que mais euros ou dólares ganha? Qual o blogue mais visitado e o vídeoclip mais visto? Qual a página de facebook com mais "amigos"? Qual o jovem mais influente no mundo? Etc, etc. etc... os exemplos não acabam.

As grandes marcas dos tempos denotam ideologias bem delineadas (a tal força social interesseira que arrasta as opiniões), que, para se aguentarem, adoptam formas politicamente correctas (são apresentadas de tal maneira certas e razoáveis, que discordar delas só pode ser um sinal de maldade ou de estupidez). Não há que ver: quem as interroga fica em xeque!

Tudo isto acontece na educação escolar, permeável que se encontra ao pensar e ao agir da sociedade.

Para evitar ser confundida com uma "torre de marfim", como variadíssimas vezes tem sido acusada, aligeira a filtragem em relação ao que é a sua própria vocação adopta as mais diversas tendências sociais, políticas, económicas. É neste contexto que se devem perspectivar os rankings de escolas e outras avaliações que nela e em torno dela se fazem.

Isso será objecto de próximo texto.

sábado, 28 de setembro de 2013

"O amor incerto"

O "pacote" de canais de televisão que agora tenho dá-me acesso a programas inacreditáveis, verdadeiramente inacreditáveis.

Um deles é sobre concursos de beleza de meninas. Meninas muito pequenas, com quatro, cinco, seis anos... As suas mães, em geral, enormes, enraivecidas, apostam nas suas crianças, como quem aposta em cavalos, cães, ou galos... Admitem injectar-lhe botox, obrigá-la a dietas, manipulam-nas descaradamente, gritam umas com a outras, dão murros e pontapés onde calha, insultam o júri. Danadas por ganharem o prémio sujeitam as filhas a tudo. As filhas, pequeninas, procuram acolhimentos nos braços que as enxotam, algumas choram, outras reproduzem as palavras das mães.

Não é preciso ser-se especialmente sensível para se perceber que o instinto maternal é uma ficção e o amor de mãe é mais do que incerto. O espectáculo dá plena razão a Elisabeth Badinter.

Chantal Jouannotem (LIONEL BONAVENTURE/AFP) (Fotografia retirada da citada edição do jornal Público) 
Isto passa-se nesta década, num país que tem ascendente sobre a maior parte dos países do mundo, e também se passa noutros incluindo os da civilizada Europa. Podia passar-se em Portugal. Se alguém trouxesse esse "formato" para uma estação lusa, não faltariam mães-concorrentes, estrelas-júris, espectadores-gulosos, especialistas-que não vêem problema algum, escolas-a reproduzirem o modelo (já aconteceu mas, tanto quanto sei, as crianças eram mais velhas).

Mas, haja esperança! Recentemente, Chantal Jouanno, ex-ministra e actual senadora, conseguiu que o Senado de França se pronunciasse "a favor da interdição dos concursos de beleza para raparigas com menos de 16 anos". O resto da notícia pode ser lida aqui.

SOBRE O GRANITO E A SUA ORIGEM, NUMA CONVERSA TERRA-A-TERRA.

Por A. Galopim de Carvalho Paisagem granítica na Serra da Gardunha. Já dissemos que não há um, mas sim, vários tipos de rochas a que o vulgo...