quinta-feira, 29 de junho de 2023
SONETO À BELEZA
terça-feira, 27 de junho de 2023
segunda-feira, 26 de junho de 2023
A ARTE DE SONHAR
éramos todos grandes heróis:
andávamos de calções de caqui,
mas éramos invencíveis cowboys!
O mar prometia-nos grandes coitas,
viagens de fazer corar Ulisses.
Iríamos correr matos e moitas,
à procura de seduzir Eunices!
Ser pequeno quer dizer sonhar grande
e sonhar é, sabe-se lá, ganhar.
O mundo que, dentro de nós, se expande
ir-se-á, lá fora, acrescentar.
Os dias de Salgari eram dias
de folias mas também de porfias.
Eugénio Lisboa
VAI-SE REFORMAR? COMO ASSIM!?
Na sequência de outros textos aqui, aqui e aqui.
Um texto de Luís Pedro Nunes, publicado no Expresso desta semana, levou-me a ver uma entrevista no programa “Fareed Zakaria GPS”, a Geoffrey Hinton, o designado padrinho da inteligência artificial (IA). Ele é o primeiro signatário de uma carta em que cerca de três centenas e meia de pessoas ligadas à ciência e à tecnologia alertam para o perigo de a IA pode "enganar deliberadamente, tornando-se um risco para a Humanidade". Reproduzo uma parte do texto do jornalista:
“E o que vai fazer?”, perguntou Fareed a Geoffrey Hinton, que se demitiu há semanas da Google por causa deste tema. “Vou-me reformar.” (Silêncio.) “Como assim? Não pode deixar-nos à beira do precipício”, disse Fareed, “é uma criação sua”. “Não tenho forças, outros que o façam, talvez os meus alunos, mas o alerta está dado” (...).Fareed Zakaria perguntava ao “padrinho da IA” (...) como é que se podia acreditar que a IA era uma “ameaça existencial para a Humanidade”. E lá foi ele dizendo que nunca na história da Humanidade houve a arrogância de entes menos inteligentes controlarem outros muito mais inteligentes. “E neste momento, o algoritmo já é melhor do que o cérebro.” Até há pouco tempo, preocupava-se com o desemprego, a maior clivagem entre ricos e pobres, as guerras intermináveis. Há meses, teve uma epifania.
Temos de colocar em cima da mesa o fim da Humanidade. E já não há uma solução simples. Para as alterações climáticas, basta baixar as emissões de CO2. Para a guerra nuclear, é não premir o botão. Mas o problema da IA é que não foi criada com princípios éticos de base. E, agora, não é possível criar barreiras de segurança que contemplem todas as possibilidades. Os militares quererão que se mate. Os governos que se minta. Nada impede o próprio sistema de enganar os humanos. E acontecerá. Quando? Não é daqui a 50 anos. É muito mais cedo.
“E que vai fazer?” “Vou-me reformar.” Já ninguém tem paciência para os catastrofistas da IA. Eu sei, sou um deles. Os próprios 350 cientistas que assinaram a petição para controlar a IA dizem que há apenas 10% de hipóteses de a IA levar à extinção da Humanidade. Mas, como refere Yuval Harari, se lhe dissessem que o avião em que ia entrar tinha 10% de hipóteses de cair durante o voo fazia a viagem?"
UNE QUESTION POSÉE PAR VERLAINE
"DESESPERO E DESÂNIMO", PALAVRAS PERFEITAMENTE COMPREENSÍVEIS
"Lancei esta petição num momento de desespero e de desânimo", disse Dália Aparício, professora de Matemática e de Cidadania, autora da petição "Pela Cessação do Projeto Maia", cuja audição na Comissão Parlamentar de Educação e Ciência teve lugar no passado dia 22 de Junho. Vale a pena ler esse documento, que conseguiu em poucos dias uma quantidade pouco comum de assinaturas.
O registo discursivo de Dália Aparício é sereno, objectivo e honesto, é o registo de alguém que procurou entender e cumprir o que a tutela "oferece", tendo, no entanto, constatado que o que está em causa, mais do que não ser praticável, prejudica os alunos. E, com um louvável sentido ético, decidiu dizer isso mesmo, usando os canais e instrumentos que a democracia oferece. Mas presumo que só o fez quando chegou a um estado de desespero, que compreendo, e de desânimo, que também compreendo.
Tendo analisado os comentários deixados por colegas, diz sobressair a referência ao aumento da burocracia e ao facilitismo no ensino, a par da evidência de que a aprendizagem não está a melhorar, ainda que os resultados melhorem. Tal significa um mascarar do insucesso.
Recomendo especial atenção ao discurso dos outros quatro professores. Bem documentados, explicaram com clareza os dados que recolheram em documentos e na realidade. Infelizmente, não posso dizer o mesmo dos políticos, que além de cometerem erros (deveriam preparar-se melhor), recorreram à negação e à distorção, de resto, muitíssimo desajeitadas.
Notei nesta audição (e nas muitíssimas apresentações, contestações e discussões que o projecto em causa tem desencadeado) a ausência de um duplo argumento que deveria prevalecer: as finalidades que, em nome do beneficio dos alunos, é legítimo imputar à educação; e o conhecimento pedagógico sério que permite (tentar) concretizá-las.
Políticos, académicos e professores, deveriam concentrar-se nisso. É que em nenhuma circunstância (como é bem claro na Constituição da República Portuguesa e na Lei de Bases do Sistema Educativo) a educação dever ser orientada por ideologias partidárias, pedagógicas ou outras. O projecto em causa é um exemplo acabado de determinação em impor uma ideia que não pode ser ancorada em qualquer finalidade educativa digna desse nome, nem consegue suporte pedagógico decorrente de escrutínio científico.
O apoio que recebe de quem, por diversos modos, está comprometido com ele, redunda na repetição dos seus incompreensíveis princípios e ainda mais incompreensíveis métodos. É o caso do Conselho Nacional de Educação, cujo actual Presidente, sendo o próprio mentor do projecto, há pouco assinou (como Presidente desse órgão que, por estatuto, é independente) a resposta a um pedido de informação sobre a dita petição por parte do Presidente da Comissão Parlamentar de Educação e Ciência. Não é, portanto, de estranhar que o final da resposta seja o que se segue (ver aqui):
"Deste modo, conclui-se que o Projeto MAIA é um projeto de formação que parece estar a contribuir para que a inovação, a flexibilidade curricular, as práticas pedagógicas dos docentes e as aprendizagens dos alunos sejam mais consistentes com o que é preconizado nos atuais diplomas legais, acima referidos, nomeadamente os que se referem ao currículo e ao seu desenvolvimento."
sábado, 24 de junho de 2023
VIGILÂNCIA ALÉM DO QUE PODEMOS IMAGINAR
"(...) Shoshana Zuboff notabilizou-se pelo seu livro “Capitalismo de vigilância” [onde diz que] os dados pessoais são objeto de um processo de vigilância massiva na internet, levada a cabo por empresas que nos fornecem serviços online gratuitos, como os motores de busca (Google) e as plataformas de redes sociais (Facebook).Estas empresas recolhem e analisam os nossos comportamentos em linha para produzir dados que podem ser posteriormente utilizados para fins comerciais, monitorizando-os. Na maior parte das vezes, não conseguimos ter noção da extensão da vigilância de que somos alvo.Apesar de tudo, trata-se de plataformas relativamente às quais podemos exercer o nosso direito de [opção]. Contudo, outro tipo de vigilância, mais invasivo, relativamente ao qual não existe [opção] e, em alguns casos, efetuado diretamente pelos Estados e entidades públicas, à margem ou em violação da lei (...).Foi revelado por um consórcio de jornalistas e ONGs (...) que não só países terceiros mas também Estados europeus utilizaram o Pegasus e spyware de vigilância similar contra jornalistas, membros da oposição, diplomatas, advogados e atores da sociedade civil. Na sequência da constituição de uma comissão de inquérito do Parlamento Europeu para investigar a utilização do software espião de vigilância Pegasus e equivalentes, chegou-se a conclusões alarmantes".
O QUE HÁ NUMA PRAIA
quinta-feira, 22 de junho de 2023
Terra, volto a ti com o meu sorriso
Terra, volto a ti com o meu sorriso.
Ao monte, à sombra
lígnea do poente,
Aos outeiros, à luz de
quem preciso,
Aos pousios e ao cheiro
redolente.
Às ruas do regresso, ao rosto
ridente,
Ao brancor da andorinha,
ao sol, ao riso,
Ao céu cerúleo, ao teu
olhar prudente,
Ao belo arrebol e ao
vento indeciso.
Ó minha terra amada, ó
açucena,
Que o amanhecer coras de
rubro,
Rosa a arder em tua face
plena,
Mãe, que oras com o
chôro no escuro,
Onde só Deus escuta a tua
pena
E pequeno é o olhar e é
outro mundo.
quarta-feira, 21 de junho de 2023
INVIOLADA NOIVA DE QUIETUDE
O TAL PRAZER DA ESCRITA
segunda-feira, 19 de junho de 2023
PERGUNTOU-SE À "INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL": PORQUE SORRI A MONA LISA?
Considerando que, mais do que nunca, a tecnologia é uma força motriz da evolução da nossa sociedade, esse poderoso motor está descontrolado e preocupa muitos programadores e cientistas da computação, e os próprios criadores da Inteligência Artificial. Alguns estão mesmo a lançar alertas. É urgente desvendar as bases científicas do "deep learning" e dos novos "algoritmos inteligentes" para entender melhor como as máquinas estão cada vez mais a decidir por nós.
Acontece que... não deu! Os detectores de emoções desenvolvidos por [três empresas] chegam à mesma conclusão: a Mona Lisa nada sente!
Foram analisadas duas outras enigmáticas expressões vindas do cinema. O resultado foi o mesmo.
Por isso, uma das especialistas auscultadas relativiza, com ironia, a leitura da expressão facial em contexto de sala de aula para "aferir" a atenção dos alunos. Reproduzo uma imagem dela em que se vê a reforçar o nonsense com gestos de aspas. Presumo que a sua intenção era dizer "para que não restem dúvidas".
Contudo, e isto sou eu a dizer, as máquinas "inteligentes" estão a entrar nas escolas sob vários pretextos. Em Portugal, nas escolas públicas, para "ajudar" a conseguir o sucesso... Como contribuintes pagaremos a factura, ou já a estaremos a pagar ao abrigo da "transição digital"...
domingo, 18 de junho de 2023
Agora que me retiro
Agora que me retiro,
Através da lezíria,
De renques
De choupos
Frondosos e buliçosos
E aves quietas,
O Bom Retiro tão leve
Sobre mim.
O Bom Retiro,
Como um sonho,
Um ramo no rio
Ou uma lágrima,
Que comigo levo
Até ao fim.
UM TRIBUTO ATRASADO: A UMA OBRA-PRIMA DO CONTO UNIVERSAL
Imagem recolhida aqui. |
sábado, 17 de junho de 2023
DE POESIA FALEMOS
"TENHO DE COMPREENDER"
"Para mim, o que realmente é essencial é compreender (...) eu tenho de entender."
"... a escrita faz parte do processo de compreensão"
Face ao desligamento do mundo, da verdade, que parece real, ganharíamos em voltar às palavras da filósofa alemã.
Ver aqui o apontamento em vídeo.
sexta-feira, 16 de junho de 2023
VOLTANDO AO PROBLEMA DOS TELEMÓVEIS NA ESCOLA
"Somos nós, adultos, que estamos a viciar as crianças em ecrãs. E somos nós que os temos de livrar de um fardo que lhes tira o direito a brincar, conviver e crescer. Estamos a tirar aos nossos filhos capacidades de comunicar, de falar em público, de se relacionarem com os outros. Estamos a tirar-lhes capacidades físicas, tornando-os precocemente sedentários. Até lhes estamos a tirar capacidades afetivas.
Não é por acaso que os pais de Silicon Valley procuram escolas com acesso limitado a tecnologia e alguns obrigam as amas a assinar contratos em que se comprometem a não usar telemóveis enquanto cuidam dos seus filhos. Sabem que há capacidades fundamentais que não se podem desenvolver num ecrã. Que o ecrã é viciante e, como todos os vícios, tem de ser retirado das mãos das crianças para que o resto aconteça.
Com o atual estatuto do aluno, as limitações ao uso de telemóveis cingem-se aos espaços letivos, por razões óbvias de disciplina e concentração. Apesar de estar consciente dos problemas de cyberbullying, acesso a conteúdos impróprios, filmagem e divulgação de momentos da sala de aulas – excelente para tornar a vida de um professor ainda mais difícil –, não é apenas isso que mais me preocupa.
Diz-se muitas vezes, mais por conveniência ideológica do que por convicção, que escola ensina, não educa. A afirmação, que pretende retirar ao professor qualquer papel subjetivo na relação com os seus alunos e dar aos pais uma tutela absoluta que os proteja de regras comunitárias de que discordem, é tão absurda que nem devia merecer debate. Ninguém que esteja horas com uma criança ou um adolescente pode deixar de o educar (...).
A ideia de que a escola deixa de cumprir a sua função nos intervalos das aulas é um apelo à negligência. É ali que aqueles seres humanos aprendem a integrar-se, a integrar os outros, a resolver conflitos, a ser tolerantes, a medir forças (...). A escola não deve ser um espaço anacrónico, onde a tecnologia está interdita. Mas a tecnologia, a que a escola garante a todos, deve ser usada nos momentos em que é necessária, fazendo aquilo que a escola faz: pedagogia. A escola não pode ser uma bolha no quotidiano de crianças e jovens. Mas também não pode ser a mera repetição do que está errado na sua vida (...).
A ideia de que devemos ensinar os menores a gerir um vício é generosa, mas ingénua. É um vício e são menores a quem, por natureza, faltam capacidades de gestão dos seus impulsos. Ter um tempo no dia em que os telemóveis estão inacessíveis é, à partida, a melhor forma de lhes ensinar a gerir a frustração e a ansiedade, levando-os a descobrir outras formas de divertimento. Coisa que inevitavelmente acontecerá. A mais antiga de todas: interagirem entre si, expressando emoções com o instrumento que naturalmente temos para o fazer (o corpo), reforçando laços de empatia. Serem, enfim, seres humanos. Isso também se aprende.
E não se aprende em bandos de zombis virados para ecrãs, perdendo capacidades indispensáveis para animais gregários como nós.
A escola, essa, é um espaço comunitário onde cada criança é individualmente educada, mas também se educa uma geração. E isso diz-nos respeito a todos. Como sociedade, não estamos a saber lidar com a tecnologia que devia servir para melhorar as nossas vidas (...). Estamos a ser coletivamente negligentes."
quinta-feira, 15 de junho de 2023
OS GRANDES MALFEITORES DA HUMANIDADE LIVROS CUJA LEITURA PODE CAUSAR GRAVES DANOS DE SÁUDE
Por Eugénio Lisboa
A DIVINA COMÉDIA – Dante
PARADISE LOST - John Milton
LA CHANSON DE ROLAND - ?
AUTO DA ALMA – Gil Vicente
LES MISÉRABLES – Victor Hugo
A JANGADA DE PEDRA – José Saramago
ATÉ QUE AS PEDRAS SE TORNEM MAIS LEVES QUE A ÁGUA – António Lobo Antunes
UMA VIAGEM À ÍNDIA – Gonçalo M. Tavares
ULISSES – James Joyce
FINNEGANS WAKE – James Joyce
O CAPITAL – Karl Marx
PAMELA – Samuel Richardson
ON THE ROAD – Jack Kerouac
TODA A OBRA DE – Agustina Bessa-Luis
TODA A OBRA DE FICÇÃO DE – Maria Velho da Costa
UNDER THE VOLCANO – Malcolm Lowry
PALE FIRE – Vladimir Nabokov
ORLANDO FURIOSO – Ariosto
L’ÊTRE ET LE NÉANT – Jean-Paul Sartre
CRITIQUE DE LA RAISON DIALECTIQUE – Jean-Paul Sartre
FENOMENOLOGIA DO ESPÍRITO – Hegel
OBRA DRAMÁTICA DE – Bertolt Brecht
PENDENNIS – William Thackeray
O MATERIALISMO DIALÉTICO E O MATERIALISMO HISTÓRICO – Joseph Staline
ENTRE O NADA E O INFINITO
quarta-feira, 14 de junho de 2023
O IMPARÁVEL MOVIMENTO CONTRA A ESCOLA PÚBLICA DENTRO DE ESCOLAS PÚBLICAS
Imagem recolhida aqui |
Desta notícia, muito completa ainda que nada questionadora, publicada aqui, extraio breves passagens que ilustram o que acima disse:
Foram os filhos que, sem saber, juntaram um grupo de mães e pais que cresce todos os dias, com o objetivo de criar uma Comunidade de Aprendizagem (...), no seio da Escola Pública. Por esta altura aproximam-se de 700 os membros de um grupo no Facebook, parte de um movimento que nasceu há alguns meses, de olhos postos no exemplo do Agrupamento... (...)
A mudança aconteceu no início deste ano letivo, liderada pela diretora... que decidiu implementar um projeto-piloto em três escolas básicas, nas aldeias de ... [A directora] encontrou no grupo de professores do [seu] agrupamento a recetividade e entusiasmo necessários (...) o envolvimento com a comunidade ganhou espaço (...).
[Uma mãe] percorre mais de meia centena de quilómetros para que a filha possa frequentar a Escola Básica (...) mas dispõe-se a fazer o caminho sabendo que, naquela aldeia, há uma escola onde as crianças têm "a oportunidade de aprender e crescer de outra forma" (...) ]Um pai diz que] a escola "tradicional" não lhe fazia sentido. Nem a ele nem a centenas - ou milhares - de pais. Foi essa certeza, de resto, e uma busca constante por alternativas que fizeram [uma mãe ter] mobilizado outros pais para esta mudança, que espera ver ocorrer no âmbito da Escola Pública.
O grupo está empenhado em começar essa mudança já no próximo ano letivo. É esse sentido de inclusão que a maioria destes ativistas da educação - e sobretudo da aprendizagem - no contexto da Escola Pública quer ver nascer na comunidade (...).
Foi assim que se cruzou com a... Academy, que funcionava como Centro de Explicações, apoio ao estudo e tempos livres, tornando-se co-proprietária do espaço (...). Desde fevereiro que a filha era acompanhada, à distância, pelos professores da americana ..., uma "comunidade global de estudantes, famílias, educadores, mentores e parceiros", estrutura criada há 50 anos, nos Estados Unidos da América, e que atua também em Portugal (...). Os alunos não têm que estar matriculados na escola americana. Podem estar na escola pública, ou noutra qualquer, e na altura da matrícula optar por ensino doméstico" (...)
1) os professores do sistema público, que se vêem como tal, como profissionais de ensino, mais cedo ou mais tarde, passem a defender, com palavras e acção, a escola que é de todos e para todos. E que procurem, com todos os meios que estão ao seu alcance melhorá-la;2) os directores escolares façam o mesmo;3) os responsáveis políticos, a começar pelos ministros da educação, não permitam que a preciosa herança que é a escola pública seja dissolvida;4) os académicos, não percam de vista a finalidade última da educação escolar, conduzindo o seu trabalho por ela, declinando interesses que a negam.
DEZ LEIS FELINAS
A TERRÍVEL SOLIDÃO DE PUTIN
e o americano está nas lonas.
Bolsonaro sumiu-se pelo cano
e o Jinping detesta intentonas!
Assim, fica Putin solitário
e também um bocado vulnerável,
fechado naquele Kremlin lunário,
ruminando ambição imparável!
Putin recorda os tempos de Staline
e do seu esplendoroso império,
que sucedeu à morte de Lenine.
Considerava-se, então, impropério
discordar das ordens do partido,
em vez de as acatar, enternecido!
Eugénio Lisboa
Podes correr para mim
Podes correr para mim.
Podemos
correr para o mar.
Correr
sobre o mar
Até
ao fim…
segunda-feira, 12 de junho de 2023
PELA DEFESA DAS HUMANIDADES, DA HUMANIDADE E DA EDUCAÇÃO
“... pela sua defesa das Humanidades e o seu compromisso com a educação e os valores enraizados no pensamento europeu mais universal. Ordine estabelece um diálogo com a sociedade contemporânea para transmitir, em especial aos mais jovens, que a importância do saber se encontra no próprio processo de aprendizagem. A utilidade da educação deve entender-se em termos de paixão pela busca do conhecimento e do melhor de cada pessoa, sem se circunscrever a um interesse económico. O seu trabalho académico centrado em figuras relevantes do Renascimento destaca a necessidade de recuperar a riqueza do Humanismo para as novas gerações."
A MINHA PÁTRIA NÃO É A LÍNGUA PORTUGUESA
de quem não consiga ter mais nenhuma,
para os que julgam bastar-lhes uma.
Ninguém vive de uma pátria só,
porque é isso um bem pobre viver:
a míngua de pátrias mete dó,
como faminto não ter de comer.
Quanto mais pátrias se tem, mais se quer,
como o mais comer mais fome faz ter.
Cada pátria mais outra pátria quer
e esta ainda outra requer!
Só de muitas pátrias, eu me sustento,
só elas todas me são alimento!
Eugénio Lisboa
In memoriam — Nuccio Ordine
"Esta ideia de profissionalizar o estudo no ensino é uma loucura total. A melhor resposta a tudo isto encontra-se em Aristóteles: quando lhe perguntaram na sua época para que serve a filosofia, respondeu que era inútil. Não serve porque a filosofia não é servil, a filosofia ensina-te a ser um homem livre.
Quando surge esta ideia do saber útil, de profissionalizar a escola, de olhar unicamente para o mercado, significa que perdemos totalmente a ideia da importância do conhecimento como experiência em si: estudar para ser melhores.
É muito importante alimentar o corpo para viver, mas se não alimentarmos também o espírito, o homem não pode encontrar-se.
Estou convencido de que hoje em dia parece ser fundamental a importância de um bom professor. No entanto, muita gente pensa, pelo contrário, que é necessário investir muito dinheiro em tecnologia mas não se formam nem se remuneram adequadamente os professores. E isso é uma estupidez: um bom professor pode ganhar pouco, mas é fundamental para o futuro de uma nação e dos seus jovens.
A dignidade do ensino é quase inexistente em todo o mundo, porque hoje o valor da pessoa é o dinheiro que ganha. A mercantilização da educação é internacional. Em todo o mundo há esta ideia de pensar que o estudo deve estar ao serviço de uma profissão.
Penso que os estudantes devem escolher as disciplinas que amam e que a paixão é melhor que o dinheiro. Porque a paixão pode fazer com que possamos viver uma vida feliz.
Conheci muita gente que tem muito dinheiro, mas que não é feliz, porque está a fazer um trabalho só para ganhar cada vez mais dinheiro. Se se ama o trabalho que se realiza, a situação muda.
Eu sou um homem feliz porque em cada dia da minha vida me levanto e me pagam para fazer coisas que para mim não são um trabalho, são a alegria da minha vida."
domingo, 11 de junho de 2023
NOVA ATLÂNTIDA
NOVIDADES EDITORIAIS
Série “Autores Gregos e Latinos” [textos]
- Maria de Fátima Silva, Pausânias. Descrição da Grécia. Livro IV. Introdução, tradução do grego e notas (Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2023). 184 p. DOI: https://doi.org/10.14195/978-989-26-2442-6
[Pausânias é o nosso único testemunho de literatura periegética e o autor de um relato precioso sobre a Grécia da época de ocupação romana (séc. II d.C.). A sua descrição é a de alguém que viajou e sintetiza o que ‘viu’, com um olhar que não é só o de um turista curioso, mas de um intelectual que dispõe de uma sólida formação cultural e de uma informação ampla, em resultado de uma recolha criteriosa de todo o tipo de fontes, orais e escritas. Para com Pausânias mantemos em aberto uma enorme dívida: a de ter salvado um lastro de monumentos, de acontecimentos históricos, de figuras e de tradições que, sem ele, se teriam em definitivo apagado da memória dos homens.]
- Francisco Oliveira, Cornélio Nepos. Vidas de Epaminondas, Catão e Ático. Fragmentos. Introdução, tradução do latim e notas (Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2023). 237 p. DOI: https://doi.org/10.14195/978-989-26-2440-2
[O presente volume procura oferecer uma tradução científica rigorosa, com comentário e notas, das biografias de Epaminondas, Catão e Ático, bem como dos fragmentos. É também apresentada uma súmula de cada uma das restantes vidas de Comandantes Excelentes de Povos Estrangeiros, da autoria de Cornélio Nepos (c.110-c.24 BC). O volume abre com uma introdução sobre a vida e a época de Nepos, a obra, as fontes e seu tratamento, sua transmissão e organização, o género literário, o destinatário, a língua e estilo, a influência e reputação, e, por fim, a temática. Houve o intento de demonstrar que Cornélio Nepos é um autor com méritos vários, inovador, atento ao leitor, à linguagem e à estética, importante testemunho dos seus tempos conturbados, aberto à diferenças de valores e de culturas.]
"ENSINAR" POR EUGÉNIO LISBOA
ENSINAR
À minha Amiga
Maria Helena
Damião
Será que gostar de aprender se ensina?
Ou é que um tal gosto contamina?
Não é certo que gostar de gostar
é o melhor modo de semear?
Só quem gosta ensina a gostar,
como só quem ama suscita amar.
Quem aprende a gostar de aprender
aprende, para sempre, a crescer!
Se ensinar, com gosto, é sementeira,
a terra fecundada agradece:
nenhuma semente fica solteira,
seu gosto de parir não desfalece!
Ensinar é generoso doar
de tesouro que vai sempre ficar.
Eugénio Lisboa
A fome é a última solução
A fome é a última solução.
Com o odor das tílias,
Voltas de longe, coração.
sábado, 10 de junho de 2023
LOURENÇO NO CÉU
Dois cardeais encomendaram-no,
para grande raiva de muçulmanos,
que queriam-no e não lograram-no!
S. Pedro deu-lhe hotel de cinco estrelas,
que Lourenço achou insuficiente
e disse a Deus que nada de balelas
nem de intimidade impertinente!
Deus encarquilhou-se, humildemente,
para deixar Lourenço subir ao trono,
podendo ali ficar eternamente.
Dali, sua glória não perde o sono,
bem acarinhada no JOTA EL
e noutros santuários de papel!
Eugénio Lisboa,
O MAIOR DITADO NA MAIOR SALA DE AULA DO MUNDO
Por Maria Helena Damião e Isaltina Martins
Imagem colhida aqui |
Acontecimento admirável: na passada semana, com o Arco do Triunfo ao fundo, a avenida dos Champs-Élysées, sem carros, transformou-se na maior sala de aula ("tradicional") do mundo, com mais de 5.000 pessoas de várias idades, muitas delas alunas do sistema de ensino. A "aula" consistiu na realização de um ditado.
A ideia foi chamar a atenção do país para o crescente analfabetismo funcional da população escolarizada e, de modo particular, para as dificuldades que revelam na escrita, sobretudo em suporte de papel. Mas também foi de esperança, de que alguma coisa pode ser feita para superar problemas ligados à educação formal.
O Ministério da Educação Nacional podia ter sido o único organizador do evento, conferindo-lhe um carácter "desinteressado". Mas, como passou a ser normal, teve "parceiros": a fundação de uma empresa forneceu canetas e o acontecimento ficou atestado no Guinness Book. Se fosse noutro país, seria o mesmo, estamos na era das parcerias e elas estão bem consolidadas na educação.
Ainda assim, admitamos a (boa) intenção dos intervenientes de tornar, através da escola, os miúdos mais letrados e, no futuro, mais conscientes e críticos.
Um dos vídeos que documentam o acontecimento está aqui.
AINDA SOBRE "AS FITAS DA EDUCAÇÃO “
1. É uma ideia feita com várias declinações: a educação deve estar ao serviço da economia, as instituições do ensino superior devem adaptar os seus cursos às necessidades das empresas. E é, claro, uma ideia errada. Nenhuma descoberta importante para o nosso desenvolvimento tecnológico resultou da busca de uma aplicação, mas da procura de respostas para a nossa curiosidade (...). Os tempos da economia e da educação não coincidem, nem há nada mais prático do que uma sólida formação geral, como, já em 1957, o dizia Isaac Asimov com a competência dos grandes contadores de histórias.
2. No livro Nove Amanhãs, Isaac Asimov reuniu nove contos de ficção científica, o primeiro dos quais intitulado Profissões. Nele é descrito um mundo futuro no qual as profissões se aprendem por meio de ligações diretas entre computador e cérebro, para o qual é transferido o conhecimento gravado nas "fitas da educação". Neste mundo do futuro, os dias mais importantes na vida das crianças e dos jovens são o Dia da Leitura e o Dia da Educação.
No Dia da Leitura, todas as crianças com 8 anos comparecem no centro da educação da sua terra, para, por meio de fitas, aprenderem a ler e a escrever num ápice. No Dia da Educação, todos os jovens que atingem os 18 anos comparecem nos centros de educação para, pelo mesmo método, aprenderem uma profissão (...). Através de exames prévios são avaliadas as potencialidades dos jovens e em função dos resultados recebem, por indução através de uma ligação cérebro-computador, o conhecimento específico para a profissão adequada às suas potencialidades e pré-gravado nas fitas.
No entanto, em todas as gerações existem jovens aparentemente incapazes de aprender por meio de fitas. Jovens cujas mentes não se prestam a receber qualquer espécie de saber induzido. Estes jovens são então encaminhados para a Casa dos Pobres de Espírito para aprenderem pelos métodos tradicionais, isto é, "aprender por meio de livros... aprender aos poucos... página por página...".
3. Neste mundo descrito por Asimov, o mercado de trabalho é muito amplo e estruturado, constituído por vários planetas com desiguais níveis de desenvolvimento. O planeta Terra tem o monopólio da produção de fitas da educação e exporta técnicos para os restantes planetas, que disputam entre si a captação dos melhores e mais atualizados. A Terra domina porque todos os anos introduz novos conhecimentos em novas fitas da educação, tornando obsoletos os diplomados das gerações anteriores e tornando necessário voltar a contratar profissionais formados com fitas mais atualizadas.
George, um jovem em fuga da Casa dos Pobres de Espírito, tenta convencer o governante de um dos planetas a criar um novo sistema de ensino para ultrapassar a dependência do planeta Terra:
"As fitas a meu ver são pouco recomendáveis. Ensinam demasiado e de uma forma demasiado fácil. Uma pessoa que aprenda dessa forma nunca mais pensará em aprender de outra maneira. Aprende num ápice (...) e fica a saber apenas aquilo durante o resto da sua vida. Aqueles que, pelo contrário, aprendem sem fitas da educação – por meio de livros – têm também a possibilidade de vir a aprender mais e de continuar a fazê-lo durante toda a vida, por força do hábito e por necessidade (...). O que interessa é que se habituem a estudar quando for necessário e não dependam toda a vida do que aprenderam aos dezoito anos!"
E, mais adiante, explica ainda:
"O mais importante é a habilidade de aprender mais. Um homem que aprende por si próprio tem muito mais facilidade em pensar em novos desenvolvimento e adaptações, novas técnicas que nenhum especialista atual pode sequer antecipar. Teria no seu planeta um reservatório de pensadores originais."
4. No fim, George descobre que a Casa dos Pobres de Espírito, para onde vão os jovens cujas mentes recusam conhecimentos previamente preparados, não é mais do que o Instituto de Altos Estudos onde aprendem e estudam aqueles que preparam as fitas da educação: são homens e mulheres que têm a oportunidade de ter pensamentos originais, para inventar e preparar as fitas com novas técnicas, aprendendo eles próprios por meio de livros, página a página, pouco a pouco. São eles, afinal, que ocupam o topo da hierarquia das profissões. São eles, afinal, que detêm um saber poderoso que lhes permite determinar o conhecimento a que os outros podem aceder e a vitalidade das diferentes economias.
A PILA DO CUTILEIRO NO CONTEXTO DA JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE CATÓLICA
DINAMARCA, MAIS UM PAÍS A COLOCAR TRAVÃO AO DIGITAL
"A utilização de ecrãs pelas crianças tem vindo a aumentar rapidamente nos últimos anos e cada vez mais estudos sugerem que não é saudável".
_______________________
Nota: Cf. Relatório Eurydice (2019). A Educação Digital nas Escolas da Europa. Comissão Europeia.
quinta-feira, 8 de junho de 2023
RESSURGIMENTO DO DEBATE ACERCA DO SUPORTE DE LEITURA: ECRÃ OU PAPEL
Notícia do jornal Le Monde (aqui) |
Notícia do jornal La Vanguardia (aqui) |
— Quanto tempo devem ocupar os ecrãs nos colégios? O seu uso está a afetar a aquisição de competências consideradas essenciais? Gera desigualdades entre escolas? Os dados conseguidos por meios digitais são fiáveis?
Estes são os temas que têm ocupado o debate nos últimos tempos na Suécia: que lugar devem ocupar as tecnologias digitais nas escolas, incluindo o tempo de exposição, algo que é questionado pelos profissionais da saúde. (Essa mesma atitude tomou o Ayuntamiento de Barcelona para as suas escolas infantis, eliminando os aparelhos tecnológicos nas aulas).
Fruto desse debate a nova ministra da Educação da Suécia escreveu um artigo contra a “atitude acrítica que considera a digitalização como algo bom, independentemente do seu conteúdo”, o que leva a “deixar de lado” os livros de texto, que, como assinalou, têm “vantagens que nenhum tablet pode substituir” A ministra não nega a aprendizagem da competência digital das crianças, não elimina os ecrãs, mas não vai investir mais na tecnologia e dá ênfase ao papel.
Diz: “Os resultados PIRLS (sobre a compreensão leitora) são um sinal de que temos uma crise de leitura nas escolas suecas. No futuro, o Governo quer ver mais livros de texto e menos tempo de ecrãs na escola” (...). Em sua opinião, é preocupante que a capacidade leitora esteja a diminuir entre as crianças e jovens, pelo que as escolas suecas devem voltar ao básico. É preciso centrarmo-nos em competências básicas como a leitura, a escrita e o cálculo" — afirmou.
Para remediar a situação, o Governo desbloqueou, no passado dia 15 de Maio, 685 milhões de coroas (equivalente a 60 milhões de euros) para este ano e 500 milhões (44 milhões de euros) anuais para 2024 e 2025, para acelerar o regresso dos livros de texto às escolas. O objectivo é garantir um livro por aluno e por disciplina (...).
De acordo com Enric Prats, professor de Educação na Universidade de Barcelona, há diversos estudos que confirmam que o formato em papel é melhor do que o digital para a aprendizagem da leitura. "Sabemos que o que mais ajuda é a leitura em papel, longa e, se acompanhada em voz alta, muito melhor".
Noutro jornal diz-se:
A Suécia "que ficou em 9.º lugar no PIRLS alerta para o risco de se criar uma geração de "analfabetos funcionais". A ministra consultou mais de 60 especialistas sobre o digital nas aulas, entre eles o Instituto Karolinska, um dos principais centros educativos do mundo na área da neurociência. Todas as organizações consultadas chegaram à mesma conclusão: "Toda a investigação do cérebro das crianças mostra que não há benefícios com o ensino baseado em ecrãs."
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