Passou na RTP um excelente documentário com assinatura de Jean-Christophe Ribot sobre a agora muito falada Inteligência Artificial (ver
aqui). É assim apresentado:
Considerando que, mais do que nunca, a tecnologia é uma força motriz da evolução da nossa sociedade, esse poderoso motor está descontrolado e preocupa muitos programadores e cientistas da computação, e os próprios criadores da Inteligência Artificial. Alguns estão mesmo a lançar alertas. É urgente desvendar as bases científicas do "deep learning" e dos novos "algoritmos inteligentes" para entender melhor como as máquinas estão cada vez mais a decidir por nós.
Explica, de modo simples e claro mas, ao mesmo tempo, amplo e profundo questões que, para leigos como eu, são transcendentes.
A
leitura da expressão facial foi uma das questões a que prestei particular atenção, dado o seu uso, cada vez mais extensivo, na escola. Alegando-se o superior interesse dos alunos, essa leitura tem diversas justificações, desde detectar o seu envolvimento nas tarefas até ao
ajustamento do currículo para potenciar a sua felicidade.
Respirei fundo com a explicação, muito sustentada em dados científicos, de quem me pareceu saber:
primeiro, a teoria de base está longe de reunir consenso, é demasiado simplista no respeitante às emoções do ser humano, ainda que isso seja bom em termos de programação;
segundo, as máquinas funcionam a partir da informação rudimentar e, em certos casos, falaciosa que nelas é introduzida;
terceiro, quem as põe a funcionar promove a ideia de que nada lhes escapa para exercer poder sobre quem é observado;
quarto, as empresas com negócios na área asseguram sempre que qualquer engenho é extraordinário. O que aqui temos é explicado pela Psicologia Social: facilmente nos deixamos convencer, sobretudo se vemos em quem nos aborda alguém com "autoridade" num assunto que não dominamos.
Passemos a um dos estudos apresentados, que partiu da pergunta: "a inteligência artificial pode dizer-nos objectivamente o que sente Mona Lisa por Da Vinci?"
Excelente pergunta atendendo a que o sorriso que acima recupero é um dos maiores enigmas da pintura. Se a máquina nos supera em inteligência, há-de dar-nos "a" resposta e resolvemos o enigma.
Acontece que... não deu! Os detectores de emoções desenvolvidos por [três empresas] chegam à mesma conclusão: a Mona Lisa nada sente!
Leonardo não conseguiu pôr naquele rosto uma leve emoção! Não é, afinal, como pensávamos, um génio. Andávamos enganados durante séculos. Este comentário é meu, não consta no documentário.
Foram analisadas duas outras enigmáticas expressões vindas do cinema. O resultado foi o mesmo.
Por isso, uma das especialistas auscultadas relativiza, com ironia, a leitura da expressão facial em contexto de sala de aula para "aferir" a atenção dos alunos. Reproduzo uma imagem dela em que se vê a reforçar o nonsense com gestos de aspas. Presumo que a sua intenção era dizer "para que não restem dúvidas".
Contudo, e isto sou eu a dizer, as máquinas "inteligentes" estão a entrar nas escolas sob vários pretextos. Em Portugal, nas escolas públicas, para "ajudar" a conseguir o sucesso... Como contribuintes pagaremos a factura, ou já a estaremos a pagar ao abrigo da "transição digital"...
1 comentário:
Já me não lembro quem foi, mas presumo que terá sido Somerset Maugham a escrever que a Mona Lisa "sorria de insatisfação sexual".
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