Depois da Suécia, que por mão da Ministra da Educação, decidiu reduzir abruptamente o investimento no digital, nas escolas, voltando a investir, de forma emergencial, no livro em papel, é a vez de, na Dinamarca, se propor a proibição de ecrãs em instituições de ensino para crianças dos 0 aos 6 anos de idade, conforme noticiado aqui e aqui, afirmando o Ministro da Educação, Mattias Tesfaye que:
"A utilização de ecrãs pelas crianças tem vindo a aumentar rapidamente nos últimos anos e cada vez mais estudos sugerem que não é saudável".
Já no ano passado tinha sido proibido, nas escolas deste país, o uso do workspace da Google, o Gmail, por constituir uma ameaça à privacidade das crianças e jovens.
Na era pós-digital, estando estas plataformas e ferramentas socialmente estabelecidas, importa abandonar o confortável discurso dicotómico, a favor ou contra, mas perceber o que se deve priorizar, em que situações, em que moldes e para que idades, devem ser integradas as tecnologias ao serviço da pedagogia, e não o contrário, como (ainda) parece ser tendência.
Para isso, requer-se a responsabilidade do Estado, entidade que melhor pode regular estas “plataformas de distração massiva”, responsáveis pelo estímulo constante, indutor do multitasking, pela superficialidade dos conteúdos que disponibilizam, resultando na, igualmente, superficial assimilação dos mesmos, para não esquecer o fator distrativo que representam, quando é necessária uma atenção extrema – como é o caso da aprendizagem escolar.
Crianças e jovens, sem a disciplina e discernimento necessários, a aceder a dispositivos com aplicações e ferramentas altamente aliciantes, só poderá ter mau resultado, se quisermos que aprendam, efetivamente.
E as provas estão à vista: a Suécia, com uma “Estratégia Nacional para a Educação Digital”, e a Dinamarca, com um “Plano de Ação para as Tecnologias na Educação”, desde 2017 [nota] são países que, pela já larga experiência no uso massivo das tecnologias em ambiente escolar, estão em condições de aliar os resultados da investigação às suas práticas e concluir pela nocividade desta tendência.
No caso português, desfasados que estamos destas investidas, com o “Plano de Ação para a Transição Digital”, arriscamo-nos a seguir medidas que, noutros sistemas de ensino, estão já a colapsar.
Seria tempo, para evitar uma catástrofe maior, olhar para estes, como estamos habituados a fazer, e segui-los, evitando os mesmos prejuízos.
_______________________
_______________________
Nota: Cf. Relatório Eurydice (2019). A Educação Digital nas Escolas da Europa. Comissão Europeia.
1 comentário:
Só pela referência de que a Dinamarca se propõe proibir a utilização desenfreada de ecrãs em instituições de ensino para crianças dos 0 aos 6 anos de idade, leva-me a suspeitar que - nesse país altamente civilizado, onde as pessoas aprendem, nos bancos da escola, que a boa educação não passa por dizer que um rei que vemos nu vai luxuosamente vestido - lá não há a carreira única dos professores dos ensinos básico e secundário e dos educadores de infância. Bohr, um dos grandes fundadores da Física Atómica, era dinamarquês. Custa-me imaginar que nesse reino do norte tratem profissionalmente, da mesma maneira, um educador de infância, que leciona o gato das botas, por exemplo, ou um professor de Física dos últimos anos do secundário.
Em Portugal é o que se vê:
A instituição da carreira única levou a uma infantilização do ensino em todos os graus pré-universitários. Nesta nova situação, em cada final de ano letivo, é ver os professores a serem chamados à pedra pelos seus alunos que não obtiveram as classificações mais elevadas da escala, e das negativas já ninguém fala porque deixaram de estar praticamente previstas na própria lei. Não são mais do que aberrantes exceções. Assim, dando livre curso à estupidez nas escolas e continuando sem dinheiro, cada vez estamos mais longe do Reino da Dinamarca!
Enviar um comentário