domingo, 31 de maio de 2009
NOVO VINHO PARA BRINDAR AO ANO INTERNACIONAL DA ASTRONOMIA
Informação recebida da organização nacional dop Ano Internacional da Astronomia:
No dia 31 de Maio às 12 horas, terá lugar uma iniciativa inédita do Ano Internacional da Astronomia 2009, que é uma cortesia dos alunos da Escola EBS de Moimenta da Beira e que se segue à grande concentração nacional de telescópios. O Clube das Ciências aliou-se à Cooperativa Agrícola do Távora e à Câmara Municipal de Moimenta da Beira para apresentar oficialmente um novo rótulo de vinho, alusivo ao Ano Internacional da Astronomia. Ao todo, irão ser lançadas cerca de 500 garrafas com o novo rótulo. A apresentação da iniciativa decorre na Cooperativa Agrícola do Távora, em Moimenta da Beira, e contará com uma prova de vinhos, acompanhada pela degustação de alguns produtos regionais.
"Este evento, além de ser uma comemoração do AIA 2009, revela também a nossa preocupação em dar a conhecer mais a Astronomia à comunidade local e proporcionar-lhes a possibilidade de verem e observarem por telescópios de tipos e tamanhos diferentes, que de outra forma dificilmente teria essa oportunidade. Paralelamente também considero este evento como uma forma engraçada de assinalar os 10 anos do Clube das Ciências, do qual sou fundador e coordenador. Será uma iniciativa que ficará na minha memória, na memória dos alunos actuais do Clube das Ciências, na memória de alguns ex-alunos e também de certeza ficará na memória de todos os participantes que se deslocarem a Moimenta da Beira", garante Paulo Sanches.
A organização do evento tem o apoio do Agrupamento de Escolas de Moimenta da Beira, do Município de Moimenta da Beira, da Cooperativa Agrícola do Távora e de várias entidades locais.
MUTANTES
Informação recebida da Gradiva sobre um novo livro da colecção "Ciência Aberta":
"Mutantes - Forma, variações e erros do corpo" de Armand Marie Leroi
Quem são os mutantes? Todos somos mutantes.
Porque nasce a maioria de nós com um só nariz, duas pernas, dez dedos e vinte e quatro costelas – e outros não? Porque interrompe a maioria de nós o seu crescimento durante a adolescência – e outros continuam a crescer? Porque têm alguns de nós cabeças revestidas de cabelo ruivo – e outros não têm cabelo nenhum?
O genoma humano, dizem-nos, faz de nós o que somos. Mas como?
Este é um livro de histórias: de uma menina, aluna num convento de freiras, que deu consigo a mudar de sexo na puberdade; de crianças que, trazendo-nos à memória os ciclopes de Homero, nascem com um único olho a meio da testa; de uma aldeia croata de anões de idades invulgarmente avançadas; de uma família hirsuta que foi conservada na corte do reino da Birmânia durante quatro gerações (e inspirou a Darwin uma das suas mais certeiras visões acerca da hereditariedade); e do povo dos pés de avestruz: os Wadoma, do vale do Zambeze.
Em Mutantes, Armand Marie Leroi brinda-nos com uma brilhante narrativa da nossa gramática genética, falando-nos das pessoas cujos corpos no-la revelaram. Passando aparentemente sem esforço do mito para a biologia molecular, o objecto desta obra elegante e esclarecedora somos todos nós.
O QUE SE DIZ SOBRE O LIVRO:
«Instrutivo e esclarecedor, mistura brilhante de curiosidades históricas e ciência actual, elegantemente escrito.» (Spectator)
«A descoberta de um cientista eminente que escreve com tal talento e estilo é certamente motivo de júbilo.» (Nature)
«Leroi eleva-nos de um horror instintivo pelo bizarro a um sentido mais profundo de deslumbramento.» (Sunday Times)
"Poético, filosófico, profundo, inteligente e provocador.» (The Guardian)
«Este é o livro que devem ler aqueles que desejam verdadeiramente conhecer as suas origens sem recorrerem a um tomo académico e árido.» (The Economist)
«Outrora, as vítimas de mutações desfiguradoras ou bizarras eram consideradas monstruosas. Hoje em dia, proporcionam-nos pistas vitais acerca da dança de genes que tem lugar durante o crescimento do corpo. Para nos contar esta história apaixonante, Armand Leroi combina um meticuloso trabalho de investigação histórica e um conhecimento actualizado dos últimos avanços no campo da genética com uma aptidão consumada para a palavra escrita.» (Matt Ridley)
O AUTOR
Armand Marie Leroi é professor de Biologia Evolucionista do Desenvolvimento no Imperial College de Londres. Com interesses variados, investiga actualmente o controlo genético do crescimento e desenvolve um projecto ambicioso no âmbito da etnomusicologia, com Brian Eno.
A revisão científica da tradução foi de Paulo Gama Mota.
"Mutantes - Forma, variações e erros do corpo" de Armand Marie Leroi
Quem são os mutantes? Todos somos mutantes.
Porque nasce a maioria de nós com um só nariz, duas pernas, dez dedos e vinte e quatro costelas – e outros não? Porque interrompe a maioria de nós o seu crescimento durante a adolescência – e outros continuam a crescer? Porque têm alguns de nós cabeças revestidas de cabelo ruivo – e outros não têm cabelo nenhum?
O genoma humano, dizem-nos, faz de nós o que somos. Mas como?
Este é um livro de histórias: de uma menina, aluna num convento de freiras, que deu consigo a mudar de sexo na puberdade; de crianças que, trazendo-nos à memória os ciclopes de Homero, nascem com um único olho a meio da testa; de uma aldeia croata de anões de idades invulgarmente avançadas; de uma família hirsuta que foi conservada na corte do reino da Birmânia durante quatro gerações (e inspirou a Darwin uma das suas mais certeiras visões acerca da hereditariedade); e do povo dos pés de avestruz: os Wadoma, do vale do Zambeze.
Em Mutantes, Armand Marie Leroi brinda-nos com uma brilhante narrativa da nossa gramática genética, falando-nos das pessoas cujos corpos no-la revelaram. Passando aparentemente sem esforço do mito para a biologia molecular, o objecto desta obra elegante e esclarecedora somos todos nós.
O QUE SE DIZ SOBRE O LIVRO:
«Instrutivo e esclarecedor, mistura brilhante de curiosidades históricas e ciência actual, elegantemente escrito.» (Spectator)
«A descoberta de um cientista eminente que escreve com tal talento e estilo é certamente motivo de júbilo.» (Nature)
«Leroi eleva-nos de um horror instintivo pelo bizarro a um sentido mais profundo de deslumbramento.» (Sunday Times)
"Poético, filosófico, profundo, inteligente e provocador.» (The Guardian)
«Este é o livro que devem ler aqueles que desejam verdadeiramente conhecer as suas origens sem recorrerem a um tomo académico e árido.» (The Economist)
«Outrora, as vítimas de mutações desfiguradoras ou bizarras eram consideradas monstruosas. Hoje em dia, proporcionam-nos pistas vitais acerca da dança de genes que tem lugar durante o crescimento do corpo. Para nos contar esta história apaixonante, Armand Leroi combina um meticuloso trabalho de investigação histórica e um conhecimento actualizado dos últimos avanços no campo da genética com uma aptidão consumada para a palavra escrita.» (Matt Ridley)
O AUTOR
Armand Marie Leroi é professor de Biologia Evolucionista do Desenvolvimento no Imperial College de Londres. Com interesses variados, investiga actualmente o controlo genético do crescimento e desenvolve um projecto ambicioso no âmbito da etnomusicologia, com Brian Eno.
A revisão científica da tradução foi de Paulo Gama Mota.
MAIS HUMOR DE DAVID MARÇAL NO INIMIGO PÚBLICO
Centro de reprodução de fósseis em cativeiro de Silves vai receber Idas
Oito linces ibéricos ricos e incestuosos vão em breve chegar a Silves, mas as contrapartidas ambientais da barragem de Odelouca não ficam por aqui. O programa vai ser alargado a outras espécies extintas, como a Ida, o elo perdido entre os lémures e o autarca português. Um centro de reprodução de fósseis de Ida em cativeiro deverá surgir em breve para compensar as motas de água, a construção nas dunas, os campos de golfe nas arribas junto ao mar e os ingleses embriagados. Não é avistado um excremento de Ida há 47 milhões de anos e de lince ibérico desde o PREC. A pequena Ida morreu com nove meses e 53 centímetros, vítima de violência e maus tratos, intoxicada pelas gases tóxicos do lago Messel, na região da Alemanha. O último lince ibérico morreu afogado numa barragem, para onde foi projectado na sequência de um atropelamento por moto quatro.
David Marçal
sexta-feira, 29 de maio de 2009
COMO ERA A PASSAROLA?
Fig. 1 Gravura austríaca de 1709.
Neste Ano Gusmão, celebrado em Portugal e no Brasil, vale a pena voltar ao tema da forma da Passarola, o primeiro balão construído pelo Padre Bartolomeu de Gusmão. E vale a pena transcrever o excerto relevante do livro de Rómulo de Carvalho "História dos Balões" (3ª edição da Atlântida de 1976; há uma reedição mais recente da Relógio d'Água; para uma minha recensão do livro ler aqui):
"Os desenhos da Passarola do padre Voador
Um dos assuntos relativos às experiências de Gusmão que maior curiosidade tem despertado é o de conhecer o feitio que teria a sua Passarola. Infelizmente nada sabemos de certeza embora existam desenhos da época que foram divulgados como representação da máquina voadora.
O desenho mais antigo que se conhece é de Maio de 1709, isto é, anterior de três meses à data das experiências de Lisboa, e faz parte dum folheto publicado em Viena de Áustria! A partir dessa data aparece o mesmo desenho reproduzido noutras publicações, com algumas diferenças de pormenor.
A fantasiosa estampa (ver fig.1) foi imaginada pelo próprio Bartolomeu de Gusmão que desse modo infeliz se quis divertir com a ansiosa expectativa dos lisboetas nas vésperas das anunciadas experiências. Fingiu o inventor que perdera o desenho da sua máquina, deixando-o cair do bolso em qualquer lugar público. Este desenho, ou sua cópia, depressa seria conhecido na Áustria por intermédio da correspondência da rainha [a esposa de D. João V era austríaca].
Mais de meio século depois da publicação da estampa de Viena de Áustria, editou-se em Lisboa outra estampa, muito semelhante à anterior (ver fig.2) e que é a primeira que se conhece impressa em Portugal. Esta estampa é acompanhada duma explicação relativa a cada uma das letras que nela se vêem. Comparem-se as duas figuras e repare-se que na de Viena as letras têm a mesma disposição excepto as G e H que estão trocadas.
Fig. 2 Gravura de 1774
Como se vê, trata-se de uma barca em forma de ave. A letra A indica o "velame, que servirá para fazer cortar os ares"; B a cauda da ave, que faz de leme; C o corpo da barca, construído de modo a esconder, dentro de si, um conjunto de canos ligados a foles destinados a fornecerem o vento necessário à deslocação da Passarola, quando lhes faltassem o vento natural! Em D estão as asas laterais que equilibrarão a barca.
Começa agora a parte mais fantasiosa da descrição, relativa às esferas assinaladas com as letras E. São de metal e contêm pedaços de magnetite, pedra natural de poder magnético, a que os antigos portugueses chamavam pedra de cevar. Para facilitar a elevação da Passarola seria o seu corpo, que era construído de madeira, todo forrado de chapas de ferro. A pedra de cevar, contida nas esferas, atrairia as chapas de ferro, fazendo-a subir!...
A parte das figuras indicada com a letra F não tem, em ambas, igual configuração, Na estampa de Viena, vê-se uma rede que cobre a barca; na de Lisboa vê-se uma fila de pequenos corpos suspensos, que fazem lembrar as borlas duma cortina. A aplicação que acompanha esta última diz que "F) Mostra a coberta feita de arames, a modo de rede, em cujos fios se tem enfiado muita soma de alambre..."
"Alambre" é forma antiga da palavra "âmbar". É sabido que esta substância, quando friccionada com um pedaço de lã, se electriza e adquire a propriedade de atrair certos corpos leves como, por exemplo, pedaços de palha. Este fenómeno já é conhecido desde tempos anteriores a Cristo.
O autor do desenho da Passarola, que não era ignorante destas coisas, reforçava a acção da pedra de cevar, para tornar mais fácil a ascensão da barca, cobrindo-a interiormente de palha de centeio que seria atraída pelos pedaços de âmbar suspensos"! Juntando o útil ao agradável, também a palha servia "para a comodidade da gente, que levará até dez homens, e com o seu inventor onze".
A letra G da estampa de Lisboa indica a agulha de marear, para a orientação dos navegadores aéreos.
Em H vê-se o aeronauta, servindo-se de um instrumento com o qual "toma a altura do sol, para ver sonde se acha". A seus pés encontram-se as cartas de navegação.
Finalmente em I, dum lado e doutro da barca, vêem-se as combinações de roldanas para o manejo do velame indicado com a letra A.
O gracejo do Padre Gusmão, ao divulgar o falso desenho da máquina, saiu-lhe bem caro. Muitos estudiosos dos assuntos respeitantes à história da conquista do ar não têm dado apreço nem crédito às experiências do nosso compatriota, julgando-as fantasiosas, só por deitarem os olhos à excêntrica máquina voadora representada na estampa. No decorrer do tempo apenas serviu para desprestigiar o inventor.
Sem forçarmos a nota de patriotismo podemos afirmar que Bartolomeu Lourenço de Gusmão foi o inventor dos aeróstatos. Não há dúvida nenhuma sobre a efectivação das suas experiências em Lisboa, durante as quais fez subir, ao ar, alguns balões feitos de arames, papel grosso e madeira fina. Também não há dúvida de que se serviu do fogo para os fazer subir. Seriam, portanto, balões de ar quente. "
RÓMULO DE CARVALHO
CHU SOBRE ENERGIA
O Secretário de Estado da Energia norte-americano Steve Chu numa entrevista recente à "Technology Review" do MIT faz algumas revelações sobre opções que vai seguir: o projecto do grande depósito de resíduos nucleares da Yucca Mountain vai ser parado, existindo em alternativa soluções de reactores de reprocessamento, e o mesmo acontece com o programa de células de combustível para transportes que vinha da presidência Bush por ser tecnicamente inviável. Recomenda poupança energética e avisa que a energia solar não é neste momento uma opção por ser demasiado cara. Ler aqui.
Porquê a Europa?
Post sobre a Europa recebido do historiador António Mota de Aguiar:
Sou dos que pensam que os portugueses têm boas razões para votar no próximo dia 7 de Junho nas eleições para o Parlamento da União Europeia (UE). Cada um de nós vota segundo a sua consciência, mas o importante, na minha opinião, é votar. Apoio-me nas seguintes premissas para esta conclusão.
Ao longo dos séculos a oligarquia portuguesa foi-se apropriando dos bens de outros povos. Primeiro, expulsou os árabes e os judeus, tendo ficado com as suas riquezas. Mais tarde apropriou-se das riquezas de outros povos e continentes(ouro, açúcar, café, petróleo, diamantes, escravos, etc,) e, na última fase histórica, do produto do trabalho de milhões de emigrantes portugueses, que ao longo do tempo foram enviando as suas poupanças para Portugal.
Apesar de todas estas riquezas vindas do exterior, nunca, ao longo da nossa história, como, por exemplo, os suíços e os holandeses fizeram, conseguimos criar uma indústria competitiva que nos permitisse uma mínima independência nacional. Fomos sendo o apêndice de outros e, nos últimos dois séculos, quase sempre vivemos sob golpes de estado, guerras civis ou ditaduras. Uma vez que as riquezas provenientes do exterior nunca foram distribuídas pelo povo português, pois ficaram sempre na posse de uma minoria, que as gastou, ou sumptuosa ou inutilmente, quando se deu o 25 de Abril de 1974 quase não havia em Portugal riqueza para distribuir.
Por isso, quase tudo o que temos hoje provém do nosso relacionamento com a UE e, por acréscimo, também a paz social de que hoje gozamos. Não tivéssemos nós entrado na UE e andaríamos agora em verdadeira turbulência sociopolítica.
Mas a UE para nós não representa apenas o desenvolvimento económico e o bem-estar social que usufruímos nestas últimas duas décadas e meia. Com a entrada na UE fortalecemos a presença nacional no seio da comunidade internacional, passámos a ser minimamente ouvidos e respeitados, o que foi muito raro acontecer no passado. A UE é também um projecto político, isto é, não se adere só por interesse, também se adere por partilhar valores comuns: liberdade, democracia, direitos humanos, etc.
A partir dos primeiros anos da década de 60, mais de um milhão de portugueses emigrou para a Europa. Gerações de portugueses já lá nasceram. Muitos dessas pessoas são culturalmente europeias, fizeram uma síntese entre a cultura lusa e a cultura dos países que os acolheram e lhes deram um nível de vida decente. Portanto, para todos mas em particular para os nossos compatriotas que vivem em países europeus, a UE é também um projecto cultural.
Apesar de tudo, a UE tem, como é sabido, os seus cépticos. Alguns pensam que a sociedade de bem estar será, para os povos europeus, uma meta difícil de manter ou de atingir, pelo menos nos próximos anos. Penso também que sim. Mas é melhor enfrentar as dificuldades juntos do que sozinhos. Porque somos todos diferentes (felizmente!), cada país contribuirá para o “bolo comum” segundo as suas possibilidades, recolhendo depois conforme o que for justo e adequado.
Outros põem em destaque algumas dificuldades que a UE enfrenta quanto à criação de instituições comuns aos 27 países membros, como seja, por exemplo, a ratificação do Tratado de Lisboa pela Irlanda. Ou ainda as questões de novos alargamentos. É claro que há dificuldades, mas sou dos que acreditam que, paulatinamente, os europeus saberão encontrar o peso político, económico e cultural a que têm direito no concerto da nova geografia mundial. Não vai ser certamente fácil: os portugueses levam oito séculos de gestação e a EU, com apenas seis décadas de vida, ainda não passou do berço. Creio que o projecto da UE há-de chegar a bom porto e é por isso que vou votar nas próximas eleições para o Parlamento Europeu.
António Mota de Aguiar
O CENTRO DEMOGRÁFICO DE PORTUGAL
Acabou de sair o nº 157 da "Gazeta de Matemática", revista da Sociedade Portuguesa de Matemática dirigida por Jorge Buescu.
Entre vários interessantes artigos, destaco o artigo do matemático da Universidade de Coimbra João Filipe Queiró, intitulado "A Demanda do Centro de Portugal". O autor lembra-nos que o centro geográfico no país (sem Açores e Madeira) fica no concelho de Mação, entre as povoações de Amêndoa e Arganil, não muito longe do pico da Melriça, Vila de Rei. Mas informa-me, o que eu já não sabia, que o centro demográfico de Portugal fica, de acordo com o último censo, bem mais a Norte, na fronteira entre os concelhos de Soure e Pombal. Se o centro geográfico está fixo, o centro demográfico tem mudado. Ouçamos o autor:
"O centro demográfico de Portugal encontrava-se, em 1864, perto de S. Miguel de Poiares, cerca de 17 km a leste de Coimbra. Depois moveu-Se lentamente para sul e um pouco para oeste, até 1930, altura em que o movimento passou a ser para oeste. O salto mais pronunciado deu-se entre 1960 e 1970, o que corresponde sem dúvida à forte emigração que se verificou nessa década a partir dos meios rurais, nomeadamente do interior. "
EINSTEIN ESTEVE ENTRE NÓS
Hoje passam exactamente 90 anos após o aniversário do eclipse do Sol que foi observado por Eddigton na ilha do Príncipe e que confirmou a teoria da relatividade geral de Einstein. Sobre um evento que assinala a data transcrevemos informação recebida do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra (em cima fotografia obtida por Eddington na Ilha do Príncipe; cópia pertencente ao espólio do Observatório Astronómico de Lisboa, remetida pelo próprio Eddington, como agradecimento pela colaboração prestada na preparação da expedição):
A teoria da relatividade geral, que imortalizou o físico Albert Einstein, passou para a história em solo que, na altura, era português. Mas por que é que os astrónomos lusos deixaram passar ao lado uma das mais relevantes observações científicas de todos os tempos? E o que tem o almirante Gago Coutinho, pioneiro na travessia aérea do Atlântico Sul, a ver com Einstein? Os investigadores Paulo Crawford e Carlos Fiolhais vão estar no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra (UC) para revelar algumas das histórias mais interessantes e desconhecidas da História da Ciência em Portugal. A sessão tem lugar no dia 29 de Maio às 15 horas. A entrada é livre.
Quem foi afinal o filósofo que trouxe Einstein para Portugal? Por que é que o almirante Gago Coutinho não gostou da relatividade? E que físico de Coimbra, discípulo de Marie Curie, foi um grande entusiasta das novas ideias? Se a teoria da relatividade foi comprovada pelo astrofísico inglês Arthur Eddington na Ilha do Príncipe (então território português) e se os astrónomos portugueses ajudaram nos preparativos, por que motivo não participaram eles nas observações que comprovariam a teoria de Einstein? Noventa anos depois das observações de Eddington, o astrofísico Paulo Crawford, do Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa (CAAUL), e o físico Carlos Fiolhais, do Centro de Física Computacional (CFC) da Universidade de Coimbra, recuperam em Coimbra fragmentos da recepção portuguesa à obra de Einstein, numa sessão que poderá surpreender.
A viagem da polémica
Se as observações feitas por Eddington em território português contribuíram decisivamente para a aclamação de Einstein, elas também têm gerado polémica, lembra o astrofísico Paulo Crawford. "No Museu da Ciência vou procurar desmentir uma história que lançava uma suspeita científica acerca de um dos mais famosos exemplos de 'experiência crucial' na História da Física, e que estava amplamente difundida entre cientistas e o público leigo", avança o também sub-director do CAAUL.
Para Paulo Crawford, "as observações de 1919, apesar dos erros inerentes aos equipamentos da época, provam sem ambiguidade que a teoria da gravitação de Einstein, a relatividade geral, é melhor que a teoria de Newton".
"O grande triunfo da relatividade geral teve lugar após a observação do encurvamento dos raios luminosos, durante o eclipse de 29 de Maio de 1919, levada a cabo por Eddington na ilha do Príncipe e Andrew Crommelin no Sobral, Brasil. Quando em 6 de Novembro desse ano Sir Frank Dyson e Arthur Eddington anunciam em Londres que as observações de 29 de Maio confirmavam as previsões da teoria da relatividade geral, Einstein é aclamado como o génio que destronou Newton", explica.
A comprovação teve "consequências astronómicas", refere Paulo Crawford. "Especialmente a partir dos anos 70, foi difundida a ideia de que as observações de 1919 não constituíram uma experiência decisiva. Por um lado, entre os físicos, evidencia-se a falta de rigor das observações. E por outro lado, mais grave, num artigo de dois filósofos da ciência, John Earman e Clark Glymour, publicado em 1980, Eddington e seus colaboradores são acusados de eliminarem dados que favoreciam a previsão da teoria de Newton, insinuando que os dados de observação teriam sido interpretados abusivamente de modo a rejeitar a teoria newtoniana. Esta crítica apoia-se numa concepção subliminar de um Eddington antecipadamente favorável à teoria de Einstein, por motivações pouco científicas", frisa.
Que motivações obscuras poderia ter Eddington para forjar os resultados da observação? Como é que a teoria da relatividade geral tem sobrevivido às críticas? Qual é o verdadeiro alcance da teoria de Einstein? Estas são algumas das questões a que Paulo Crawford vai responder numa sessão subordinada ao tema “Eddington e a expedição à ilha do Príncipe para provar a Relatividade Geral, uma teoria física com consequências astronómicas”.
Einstein em Portugal
"A obra de Einstein chega a Portugal em 1912 [sete anos depois de publicada] pela pena do filósofo de Felgueiras Leonardo Coimbra", explica Carlos Fiolhais.
"O primeiro físico a falar de Einstein é, porém, o astrónomo de Coimbra Francisco Costa Lobo, que, em 1917, refere a recém-estabelecida teoria da relatividade geral na revista 'O Instituto', órgão da academia de Coimbra com o mesmo nome", refere. Mas esse mesmo investigador acabaria por constituir-se um dos mais notáveis opositores portugueses às ideias de Einstein.
"O movimento anti-relativista tornou-se nítido em 1923 quando Costa Lobo fez uma comunicação anti-einsteiniana num congresso em Salamanca, uma atitude que será seguida pelo Almirante Gago Coutinho em 1930. Mas os dois não passaram sem respostas", avança o também director da Biblioteca Geral da UC.
Outro dos muitos episódios que Carlos Fiolhais vai referir no Museu da Ciência da UC foi a viagem que Einstein fez a Lisboa. "1925 é o ano em que Einstein, a caminho do Brasil, passa por Lisboa anónimo. Ele escreveu no seu diário: 'Dá uma impressão maltrapilha mas simpática. A vida parece correr confortável, bonacheirona, sem pressa ou mesmo objectivo ou consciência'. Albert Einstein acabou até por se associar à Academia das Ciências de Lisboa. "Para além da nomeação, em 1932, de Einstein como sócio da Academia de Ciências de Lisboa (acto que ele simpaticamente agradeceu), os contactos mais íntimos do grande físico com Portugal deram-se através de cartas a judeus portugueses, por altura da Segunda Guerra Mundial, e, em 1946, através de cartas trocadas com o físico 'estrangeirado' António Gião, natural e então residente em Reguengos de Monsaraz", sublinha o físico Carlos Fiolhais.
Foram vários os nomes da Ciência e da Cultura portuguesas que acusaram a recepção da relatividade geral. Os matemáticos Mira Fernandes e Ruy Luís Gomes e o físico de Coimbra Mário Silva, discípulo de Marie Curie, são alguns dos nomes que o público poderá conhecer melhor no Museu da Ciência, precisamente no dia em que passam 90 anos sobre o dia do eclipse solar observado por Eddington.
AS ARTES ENTRE AS LETRAS
Dirigido pela jornalista Nassalete Miranda, já está nas bancas (custa 2 euros o número avulso e 50 euros a assinatura anual) o novo quinzenário cultural "As Artes Entre as Letras" que de certo modo sucede ao suplemento cultural do "Primeiro de Janeiro" de longa tradição "Das Artes e das Letras". Trancrevemos o Estatuto Editorial:
ESTATUTO EDITORIAL
“As Artes entre As Letras” é um jornal quinzenal que nasce em Maio para florir entre debates de ideias, da História e do Património, das Artes Plásticas e da Arquitectura, da Música e da Ciência, da Filosofia e da Literatura, do Teatro e do Cinema, da Dança e da Fotografia, mas também da Lusofonia e do Ensino e Educação. São estes os nossos pilares, que assumimos sem preconceitos como jornal livre e independente.
Sem complexos haverá lugar para a opinião e para a crítica, no respeito pela liberdade de expressão, mas também pelos códigos da Ética e da Deontologia jornalísticas.
A Cultura é o nosso meio e o nosso fim, privilegiando a informação que escasseia ou é inexistente na imprensa portuguesa.
Propomo-nos contribuir para o desenvolvimento cultural do nosso País através da palavra escrita e da imagem impressa.
Somos um projecto jornalístico cultural mas também cívico, na convicção de que Cultura e Cidadania devem caminhar a par.
Faremos do passado o nosso futuro, num exercício permanente de criatividade e de inovação sem perder o vínculo às nossas raízes.
Lusofonia - nossa Mátria. Portugal - nossa Pátria. Cultura – nosso Mundo. Porto – nosso berço
Porto, 27 de Maio de 2009
ESTATUTO EDITORIAL
“As Artes entre As Letras” é um jornal quinzenal que nasce em Maio para florir entre debates de ideias, da História e do Património, das Artes Plásticas e da Arquitectura, da Música e da Ciência, da Filosofia e da Literatura, do Teatro e do Cinema, da Dança e da Fotografia, mas também da Lusofonia e do Ensino e Educação. São estes os nossos pilares, que assumimos sem preconceitos como jornal livre e independente.
Sem complexos haverá lugar para a opinião e para a crítica, no respeito pela liberdade de expressão, mas também pelos códigos da Ética e da Deontologia jornalísticas.
A Cultura é o nosso meio e o nosso fim, privilegiando a informação que escasseia ou é inexistente na imprensa portuguesa.
Propomo-nos contribuir para o desenvolvimento cultural do nosso País através da palavra escrita e da imagem impressa.
Somos um projecto jornalístico cultural mas também cívico, na convicção de que Cultura e Cidadania devem caminhar a par.
Faremos do passado o nosso futuro, num exercício permanente de criatividade e de inovação sem perder o vínculo às nossas raízes.
Lusofonia - nossa Mátria. Portugal - nossa Pátria. Cultura – nosso Mundo. Porto – nosso berço
Porto, 27 de Maio de 2009
NOVA GAZETA DE FÍSICA
Mensagem recebida da Directora da Gazeta de Física, revista da Sociedade Portuguesa de Física:
Vimos convidá-lo a visitar o sítio da Gazeta de Física, que acabou de ser renovado.
Nele pode encontrar publicado, por exemplo, e em antecipação à versão impressa, o último número da Gazeta de Física em formato .pdf, bem como um arquivo em construção, com os números anteriores no mesmo formato electrónico.
No sítio da Gazeta de Física encontra também artigos para lá dos publicados em papel, bem como extensões de artigos publicados. Poderá ainda, a partir do sítio da Gazeta de Física aceder ao Blogue da Gazeta de Física na página do semanário Expresso (Blogues> Blogues Educação e Ciência > Física).
Teresa Peña, Directora da "Gazeta de Física"
E agora?
Um relatório da EIA divulga hoje as previsões da evolução do consumo mundial de energia. Se o relatório estivesse disponível umas horas antes, praticamente toda a apresentação no debate sobre energia nuclear de Joanaz de Melo, que não saiu da dimunuição dos consumos, tinha ido directamente para o lixo: a EIA prevê,até 2030, um aumento do consumo mundial de energia de 44%, com os países em desenvolvimento a assegurar a maior fatia deste aumento, cerca de 2/3.
quinta-feira, 28 de maio de 2009
PROFESSORES QUE FIZERAM A DIFERENÇA
Depoimento meu sobre "Professores que fizeram a Diferença" que saiu na "Visão" de hoje:
"Tive muitos e bons professores, mas o meu melhor professor não foi, para grande pena minha, meu professor. Por isso limitei-me a conhecê-lo através dos livros. Falo de Rómulo de Carvalho, o professor de Física e Química que foi também o poeta António Gedeão. Estou certo de que os meus professores, a quem tanto devo, perdoarão que os homenageie a todos na pessoa de um professor singular."
A Viagem perdida de Darwin
Informação recebida da FNAC
Documentário National Geographic comentado pelo investigador Thiago Carvalho
29 Mai Sex 19h 00 Vasco da Gama
Documentário National Geographic comentado pelo investigador Thiago Carvalho
29 Mai Sex 19h 00 Vasco da Gama
Através dos limites selvagens da terra, e tendo como pano de fundo uma espectacular fotografia aérea, subaquática e da vida selvagem, o biólogo evolucionário Armand Leroi, conduz-nos numa viagem inesquecível que reproduz a aventura que inspirou o trabalho revolucionário de Darwin. Aproveitando este mote, convidámos Thiago Carvalho, biólogo, investigador do Instituto Gulbenkian de Ciência e comissário-adjunto da exposição de Darwin, a trazer-nos a sua reflexão sobre o planeta e a viagem do Beagle. Este é o convite que fazemos ao público FNAC no último dia do Ciclo: Condomínio Terra.
"PODEM SAIR"
A herança que a actual equipa do Ministério da Educação recebeu era bem pesada. Mas a que vai deixar é ainda mais pesada. O pior de tudo foi talvez o apoucamento dos professores, que causou um dano na educação que vai levar anos e anos a sarar. Para degradar o papel dos professores já havia o Magalhães e a Srª D. Margarida Moreira. Mas agora sabemos que também há o "Manual do Aplicador", que achincalha o corpo docente de uma maneira que não julgávamos possível. Como eu compreendo os professores a quem apetece aplicar uma das frases do "Manual" à equipa que escreveu e promulgou tal documento: "Podem sair"!
quarta-feira, 27 de maio de 2009
Relação da Viagem Aerostática feita no Porto em 1820
O Porto, a cidade que, no S. João, se enche de balões, foi desde cedo palco de experiências de balonismo. Graças de novo a João Boaventura eis o relato da Gazeta de Lisboa n.º 161, 10/Julho/1820 da primeira ascensão em balão realizada no Porto:
Porto, 28/Junho/1820, Relação da Viagem Aerostática feita nesta Cidade a 25 de Junho de 1820, por Mr. Robertson, filho
"Tendo o Professor Robertson pai, recebido em Lisboa as mais lisonjeiras provas de geral satisfação em todas as suas experiências, que tiveram um feliz sucesso, julgou que não devia deixar Portugal sem oferecer à cidade do Porto o raro espectáculo de uma viagem aerostática. Todas as pessoas eruditas, que se achavam na mesma cidade empenhar-se-ão em favorecer uma subscrição para este objecto: anunciando-se esta experiência para o domingo 25 de Junho, e sendo destinada para celebrar-se a festa do nome de S.M. Fidelíssima Rei do Reino Unido foi desempenhada felizmente no dia referido na bela Quinta do Prado, que pertence ao Excelentíssimo e Reverendíssimo Bispo do Porto.
A chuva, que desde as dez horas até ao meio dia caiu repetidas vezes, fez recear que a experiência fosse diferida; mas ao depois, serenando a atmosfera, Mr. Robertson principiou às três horas o trabalho necessário para a formação do gás hidrogénio, e às 5 horas a máquina, inteiramente cheia esperava o Aeronauta.
O Professor Robertson tinha prometido a sua sobrinha, a esposa do jovem Malabar, o prazer de a deixar elevar-se, estando a barquinha presa por uma corda; por isso antes da partida de Mr. Eugénio Robertson ela subiu a certa altura. Esta jovem, desejando há muito tempo fazer uma viagem aerostática, tinha escondido um canivete, e uma carta no seu lenço, e intentava cortar as prisões, que a retinham: apenas o seu intento foi descoberto por Mr. Eugénio Robertson, que se assustou, e não queria ceder o seu lugar a pessoa alguma, lançou mão rapidamente da corda principal e conduziu o balão até ao recinto. Então esta Dama cheia de coragem saiu da barquinha e Mr. Eugénio Robertson, substituindo o seu lugar, sustentando-se em pé, e tendo na mão a bandeira portuguesa elevou-se majestosamente às 5 horas e meia bradando: ”Viva El-Rei; Viva D. João VI”; e, lançando várias peças de versos em honra da Nação Portuguesa, análogas a tão brilhante circunstância.
Elevando-se o balão, o quadro que se desenvolvia debaixo dos pés do aeronauta tornava-se mais interessante; pois que o Douro, correndo ao longe, já parecia esconder-se por entre as montanhas, já descobrir-se de momentos a momentos. O viajante por uma parte via o Porto como num pequeno quadro; mas sem perder a menor circunstância, por outra parte divisava ao longe verdes florestas, deliciosos jardins, e campos cercados de parreiras que atraíam e encantavam seus olhos, e qual uma serpente, que dá tortuosas voltas para entrar na sua cova, assim o Rio Ave parecia dirigir-se para o mar.
O objecto mais tocante, que o aeronauta observou nesta viagem, foi a vista de mar, que brilhava debaixo de seus pés, e lhe parecia incendiado por todos os lados, efeito da reflexão do Sol que se ocultava no horizonte, e que sem dúvida foi a causa do viajante não sentir na altura a que se remontou o frio activo, que de ordinário se experimenta.
Mr. Eugénio Robertson viu certa poeira, que se levantava da terra, e julgando serem cavaleiros, que vinham ao seu encontro, tomou o óculo para melhor observar; mas era simplesmente o declive de alguns montes de terra argilosa, feridos pelos raios do sol que já declinava.
O Aeronauta, depois de ter subido em meia hora a uma grande altura, e achando-se por cima de uma floresta, escolheu um sítio sem árvores, e apto para findar a sua viagem; ele o conseguiu descendo tranquilamente perto da freguesia de Ferreiro um lugar além do Rio Ave, distante uma légua de Vila do Conde, e 5 léguas do Porto. As primeiras pessoas que apareceram no momento em que tocou a terra o nosso viajante foram dois caçadores, que presenciaram as duas ascensões, que fez em Lisboa; depois chegou a cavalo o Ajudante das Milícias de Vila do Conde, Lima, que tendo descoberto o aeróstato da varanda da casa do seu Tenente Coronel se dirigiu com ele para o sitio, em que lhes parecia cair o balão.
O Viajante recebeu dos mesmos Senhores todos os socorros possíveis, e os maiores testemunhos de estima; e, depois de ter pernoitado em casa do Ilustríssimo Major das Ordenanças em Bagunte, para onde o conduziu seu Filho o Ilustríssimo Tenente Coronel António Luiz, entrou no Porto no dia 26 quase ao meio dia, recebendo em todos os lugares por onde passou imensas provas de grande satisfação, e os aplausos que sempre costuma excitar em toda a parte esta rara e maravilhosa experiência. Reinou por toda a parte a maior ordem e harmonia em tão imenso concurso, efeito das sábias ordens que foram dadas pelo Ilustríssimo Desembargador Encarregado da Polícia, e pelo Ilustríssimo e Excelentíssimo Tenente General, Governador das Armas. – A tranquilidade, o contentamento, e a boa ordem que resplandeciam por toda a parte, e esta experiência feita em tais circunstâncias, parecia terem tornado este espectáculo uma verdadeira festa. No mesmo dia da viagem o público à noite deu provas da afeição que tinha ao jovem aeronauta, mostrando apenas acabou o teatro a sua impaciência, e o desejo de tornar a vê-lo; porém, não lhe foi possível voltar na referida noite ao mesmo teatro, como tencionava, para cumprimentar a tão respeitável reunião, e mostrar-lhe a sua eterna gratidão.
NOTA: Mr. Eugénio Robertson pela observação do barómetro avaliou a sua altura num quarto de légua no momento da maior elevação."
Publicidade institucional
Em particular depois do Manifesto pela Divulgação da Energia Nuclear, discutir o nuclear está na ordem do dia. O Técnico não poderia deixar de se associar ao esclarecimento da opinião pública sobre o tema e assim amanhã terá lugar um debate que terei o prazer de moderar. Todos os nossos leitores estão desde já convidados para uma sessão que se espera muito animada.
Programa
14:15 – 14:30 Sessão de boas vindas
14:30 – 15:45 – Apresentação sobre “A Energia Nuclear em Portugal”
15:45 – Coffee Break
16:00 – Debate: “Energia Nuclear: Uma opção para Portugal?”
Programa
14:15 – 14:30 Sessão de boas vindas
14:30 – 15:45 – Apresentação sobre “A Energia Nuclear em Portugal”
15:45 – Coffee Break
16:00 – Debate: “Energia Nuclear: Uma opção para Portugal?”
Ideias Simples
Obama's climate guru: Paint your roof white!
O Nobel Steven Chu, o secretário da Energia de Obama, na abertura de um simpósio de três dias que decorre no Palácio Saint-James, em Londres, sugeriu pintar de branco telhados, estradas e pavimentos sortidos como forma de combater as alterações climáticas.O evento, que reúne para um debate de soluções científicas para este problema global 60 cientistas e 20 prémios Nobel, pretende encontrar novas propostas para apresentação na Conferência de Copenhaga, a conferência promovida pela ONU que terá lugar em Dezembro onde será feita a revisão do Protocolo de Quioto.
Acerca do direito das crianças a serem protegidas
Em 26 de Setembro de 1924 a Assembleia da, então, Liga das Nações enunciou o direito que toda a criança tem de ser protegida. Esse direito ficou reconhecido na Declaração de Genebra dos Direitos da Criança.
Passados 22 anos, em 1946, as Nações Unidas, acolheram uma recomendação para que a essa Declaração “obrigasse os povos” a reconhecer tal direito.
Em de 20 de Novembro de 1959, na Assembleia Geral das Nações Unidas, aprovou-se, por unanimidade, a Declaração dos Direitos da Criança, onde se plasmou, de modo inequívoco, “que a humanidade deve à criança o melhor de seus esforços”.
Em 20 de Novembro de 1989 foi adoptada também por unanimidade, e também na Assembleia Geral das Nações Unidas, a Convenção sobre os Direitos da Criança, a qual foi ratificada em Portugal em 21 de Setembro de 1990.
À luz da investigação psicológica, estes documentos têm pleno sentido, pois todos os estudos de carácter transversal (quando os sujeitos são observados num determinado momento) e longitudinal (quando os sujeitos são observados ao longo dum período de tempo alargado, que pode ser o tempo de vida), indicam, de modo inequívoco, a importância das relações precoces entre a criança e uma ou várias figuras adultas com características maternais, para a qualidade do seu estado físico, cognitivo, afectivo e social. A falta destas figuras ou a sua inadequação compromete, portanto, estas áreas de desenvolvimento.
De modo mais específico, tem-se apurado que esse comprometimento depende de vários factores internos e externos à criança, nomeadamente daqueles que se prendem com as suas próprias características e estado geral de saúde (algumas crianças são mais vulneráveis, outras mais resistentes), da idade em que são expostas a adversidades, do tempo de exposição, das condições materiais e relacionais que lhe são proporcionadas.
Tem-se apurado, também, que esse comprometimento pode ser mais ou menos pronunciado, mas ocorre sempre. E, mais: perdura ao longo da infância, da adolescência e da adultez. Ainda que se possa diluir ao longo da vida, caso as relações interpessoais sejam repostas a um nível aceitável, certas sequelas mantêm-se, traduzindo-se no défice de bem-estar físico e psicológico, na opção por percursos marginais, nas ligações ocasionais com outrem, e na própria incapacidade de se tornar pai ou mãe.
Ou seja, a razoabilidade e o conhecimento científico de que dispomos indicam-nos, de modo inequívoco, que, pelo facto de, como humanos, não nascermos terminados, temos uma obrigação: não só manter como reforçar a nossa Humanidade. Essa obrigação passa, antes do mais, por proteger o mais que for possível a infância e a juventude.
Os casos mediáticos, e aqueles que não o são, de crianças que, por motivos estranhos, se fazem passar de mão em mão, não podem deixar de nos interrogar: será que estamos, de facto, a mostrar a nossa Humanidade?
Imagem: Mãe e filho, de Gustav Klimt (1862-1918).
Passados 22 anos, em 1946, as Nações Unidas, acolheram uma recomendação para que a essa Declaração “obrigasse os povos” a reconhecer tal direito.
Em de 20 de Novembro de 1959, na Assembleia Geral das Nações Unidas, aprovou-se, por unanimidade, a Declaração dos Direitos da Criança, onde se plasmou, de modo inequívoco, “que a humanidade deve à criança o melhor de seus esforços”.
Em 20 de Novembro de 1989 foi adoptada também por unanimidade, e também na Assembleia Geral das Nações Unidas, a Convenção sobre os Direitos da Criança, a qual foi ratificada em Portugal em 21 de Setembro de 1990.
À luz da investigação psicológica, estes documentos têm pleno sentido, pois todos os estudos de carácter transversal (quando os sujeitos são observados num determinado momento) e longitudinal (quando os sujeitos são observados ao longo dum período de tempo alargado, que pode ser o tempo de vida), indicam, de modo inequívoco, a importância das relações precoces entre a criança e uma ou várias figuras adultas com características maternais, para a qualidade do seu estado físico, cognitivo, afectivo e social. A falta destas figuras ou a sua inadequação compromete, portanto, estas áreas de desenvolvimento.
De modo mais específico, tem-se apurado que esse comprometimento depende de vários factores internos e externos à criança, nomeadamente daqueles que se prendem com as suas próprias características e estado geral de saúde (algumas crianças são mais vulneráveis, outras mais resistentes), da idade em que são expostas a adversidades, do tempo de exposição, das condições materiais e relacionais que lhe são proporcionadas.
Tem-se apurado, também, que esse comprometimento pode ser mais ou menos pronunciado, mas ocorre sempre. E, mais: perdura ao longo da infância, da adolescência e da adultez. Ainda que se possa diluir ao longo da vida, caso as relações interpessoais sejam repostas a um nível aceitável, certas sequelas mantêm-se, traduzindo-se no défice de bem-estar físico e psicológico, na opção por percursos marginais, nas ligações ocasionais com outrem, e na própria incapacidade de se tornar pai ou mãe.
Ou seja, a razoabilidade e o conhecimento científico de que dispomos indicam-nos, de modo inequívoco, que, pelo facto de, como humanos, não nascermos terminados, temos uma obrigação: não só manter como reforçar a nossa Humanidade. Essa obrigação passa, antes do mais, por proteger o mais que for possível a infância e a juventude.
Os casos mediáticos, e aqueles que não o são, de crianças que, por motivos estranhos, se fazem passar de mão em mão, não podem deixar de nos interrogar: será que estamos, de facto, a mostrar a nossa Humanidade?
Imagem: Mãe e filho, de Gustav Klimt (1862-1918).
terça-feira, 26 de maio de 2009
A aposta na cultura
Com a devida vénia transcrevemos a coluna de opinião de Miguel Gonçalves no "I" de ontem:
Está ali na prateleira com muitas folhas que ameaçam fugir da obra: Cosmos, de Carl Sagan, na sua 1ª edição. Em breve, voltará a aparecer nas livrarias. Sobre a obra apenas refiro que deveria ser de leitura obrigatória no ensino secundário em tantas disciplinas; prefiro antes referir a importância de Guilherme Valente, editor e fundador da Gradiva e alguém que, por direito e sacrifício próprio, é já uma instituição em Portugal. Não conhecendo totalmente a história, não deverá ser difícil supor estórias sobre a génese da Gradiva. Certamente foram muitos os que lhe terão dito que apostar em cultura científica seria um erro crasso no Portugal do início da década de 90, sobretudo com a paixão, competência e espírito de missão que o mesmo demonstra ainda hoje. Afinal, desde quando Ciência é cultura? E, sobretudo, como apresentar a Ciência a um país que, na altura (só na altura?), tinha "horror" à mesma? A loucura intelectual e monetária teve uma recompensa: criou e moldou toda uma geração que navegou pelo genoma de Ridley, no prazer da descoberta de Feynman, nas equações de Guillen, no segundo de Reeves, na beleza da vida de Gould e nos infinitos de Dyson! E mostrou-nos que a beleza da partilha da ciência também tem mestres lusos: Nuno Crato, Carlos Fiolhais, Jorge Buescu, Manuel Paiva, António Manuel Baptista, e tantos outros. Melhor do que ninguém, sabe que ainda falta fazer muito mas, em nome da minha geração, muito obrigado!
Miguel Gonçalves
Coordenador Nacional da The Planetary Society
Está ali na prateleira com muitas folhas que ameaçam fugir da obra: Cosmos, de Carl Sagan, na sua 1ª edição. Em breve, voltará a aparecer nas livrarias. Sobre a obra apenas refiro que deveria ser de leitura obrigatória no ensino secundário em tantas disciplinas; prefiro antes referir a importância de Guilherme Valente, editor e fundador da Gradiva e alguém que, por direito e sacrifício próprio, é já uma instituição em Portugal. Não conhecendo totalmente a história, não deverá ser difícil supor estórias sobre a génese da Gradiva. Certamente foram muitos os que lhe terão dito que apostar em cultura científica seria um erro crasso no Portugal do início da década de 90, sobretudo com a paixão, competência e espírito de missão que o mesmo demonstra ainda hoje. Afinal, desde quando Ciência é cultura? E, sobretudo, como apresentar a Ciência a um país que, na altura (só na altura?), tinha "horror" à mesma? A loucura intelectual e monetária teve uma recompensa: criou e moldou toda uma geração que navegou pelo genoma de Ridley, no prazer da descoberta de Feynman, nas equações de Guillen, no segundo de Reeves, na beleza da vida de Gould e nos infinitos de Dyson! E mostrou-nos que a beleza da partilha da ciência também tem mestres lusos: Nuno Crato, Carlos Fiolhais, Jorge Buescu, Manuel Paiva, António Manuel Baptista, e tantos outros. Melhor do que ninguém, sabe que ainda falta fazer muito mas, em nome da minha geração, muito obrigado!
Miguel Gonçalves
Coordenador Nacional da The Planetary Society
Morcegos garantem conservação dos livros
Notícia distribuída ontem pela Lusa:
"Centenas de morcegos vigiam diariamente duas das mais antigas bibliotecas de Portugal, na Universidade de Coimbra e no Palácio de Mafra. É a sua habilidade para capturar insectos que assegura a preservação dos livros.
Os morcegos são o único mamífero capaz de voar e só o fazem de noite, emitindo sons de alta frequência inaudíveis ao Homem e que dificultam a observação e estudo das 26 espécies deste animal que se sabe que existem em Portugal.
Numa noite do ano passado, Jorge Palmeirim, investigador de aves e morcegos na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, apetrechou-se com equipamento para medição sonora e deslocou-se à biblioteca Joanina de Coimbra para tentar perceber que morcegos continuavam a usar os abrigos daquele espaço, onde estão instalados há mais de 200 anos.
“Não consegui ver, só ouvir, mas cheguei à conclusão, pelos excrementos que encontrei, que estão lá pelo menos duas espécies de morcegos”, conta o professor.
Em todo o país, e além de Coimbra, só se conhece um outro abrigo de morcegos em bibliotecas, no Palácio de Mafra, supondo-se que a preferência da espécie por estes espaços possa estar relacionada com o revestimento antigo de madeira.
“Os morcegos são também muito conservadores nos abrigos. Têm tendência para repetir por várias gerações os mesmos locais de abrigo e preferem edifícios antigos”, explica Jorge Palmeirinha.
Em Coimbra existem documentos com cerca de 200 anos que comprovam a compra, nesse tempo, de peles semelhantes às que ainda hoje a biblioteca Joanina utiliza para, diariamente , cobrir mesas antigas de forma a protegê-las dos excrementos dos morcegos.
“Os morcegos habitam na biblioteca desde que há memória. As mesas da biblioteca são protegidas com peles todas as noites, porque são também antiguidades, e os morcegos circulam livremente, comendo os insectos”, diz o director da biblioteca da Universidade de Coimbra, Carlos Fiolhais.
Em Mafra também são os morcegos, e as boas condições climatéricas proporcionadas pelas paredes altas e a madeira do século XVIII, que explicam o “óptimo estado de conservação” dos livros, segundo a responsável pela biblioteca, Teresa Amaral.
Um morcego pode devorar 500 insectos por dia e, por isso, ninguém questiona que durante a noite se ausentem das bibliotecas para caçar. Estas entradas e saídas são facilitadas pelas fendas e orifícios comuns nas bibliotecas antigas.
“Uma pequena colónia de dez morcegos come um quilo de insectos por noite. Imagino quantos insectos são precisos para um quilo..”, comenta Jorge Palmeirim.
Das 26 espécies destes mamíferos que habitam em Portugal, e que representam várias centenas de milhares de morcegos, as que vivem nas grutas são as mais ameaçadas.
“Durante anos as grutas foram bloqueadas por pastores para proteger as suas ovelhas e também por pessoas que estigmatizavam a espécie' porque os morcegos são muitas vezes associados a bruxaria, conta Jorge Palmeirim.
Também os pesticidas da agricultura, por contaminarem insectos ingeridos por morcegos, têm sido responsáveis pelo decréscimo de algumas espécies."
OS MISTÉRIOS DOS ÚLTIMOS CALHAUS A CONTAR DO SOL
Informação recebida do Museu de Ciência da Universidade de Coimbra (na foto Nuno Peixinho na sala de controlo do telescópio Subaru no Hawai):
Junto ao Sol não há só planetas, cometas e asteróides: há centauros, troianos, objectos de Kuiper, plutóides e plutinos, entre outros objectos de nomes estranhos. O astrónomo Nuno Peixinho vai estar no Museu da Ciência da UC hoje pelas 16 horas (entrada livre) para dar a conhecer a face oculta - e perigosa - do sistema em que vivemos
É a face oculta do sistema solar e pode trazer-nos "consequências catastróficas": o investigador Nuno Peixinho vai estar no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra (UC) para dar a conhecer os mistérios dos "últimos calhaus a contar do Sol".
Especialista no estudo dos pequenos corpos do sistema solar, Nuno Peixinho vai revelar os mais recentes avanços na investigação dos objectos que podem atingir a Terra. É que no sistema solar não há apenas planetas, uma estrela, cometas e asteróides: há centauros, troianos, objectos de Kuiper, plutóides e plutinos, entre outros objectos de nomes estranhos que, embora pequenos e difíceis de observar, podem colidir com o nosso planeta, produzindo "consequências catastróficas".
"Os pequenos corpos do Sistema Solar são largamente desconhecidos pelo público em geral. Porém, entre eles, encontramos os asteróides e os famosos cometas. Estes são apenas uma pequena parte do conjunto. Outro objectos, com nomes como centauros ou troianos são também muito numerosos e presentemente muito estudados, dado pouco ainda se saber sobre eles", reconhece Nuno Peixinho, investigador do Centro de Física Computacional e do Observatório Astronómico da UC.
"Crê-se que a maioria destes corpos têm algum grau de parentesco, mas muito está ainda por determinar. Quase tudo o que se sabe sobre estes pequenos corpos é obtido estudando a luz que estes reflectem do Sol", avança. De resto, explica o investigador, "o sistema solar está repleto de pequenos corpos muito difíceis de observar devido, precisamente, às suas pequenas dimensões, com nomes mais ou menos exóticos e de difícil pronunciação. São, porém, esses mesmo pequenos corpos que poderão atingir a Terra e trazer consequências catastróficas".
Nos últimos anos, têm-se multiplicado, portanto, as descobertas relativas aos pequenos corpos do sistema solar, uma área que Nuno Peixinho tem investigado a fundo. "Para além da órbita de Neptuno existe uma vasta população de pequenos corpos gelados chamada de Cintura de Kuiper. Especulou-se sobre a sua existência na primeira metade do século XX, mas o assunto acabou por cair no esquecimento. A sua surpreendente descoberta em 1992 abriu uma nova janela para as Ciências Planetárias. Em apenas 17 anos identificaram-se mais de 1300 destes objectos e 'perdeu-se' um planeta [Plutão, que deixou de ser considerado como tal]", explica.
O que são afinal "os últimos calhaus a contar do Sol"? Como foram descobertos? De que são feitos? Como são estudados e que avanços se têm registado no seu estudo? Estas são algumas das questões que Nuno Peixinho irá explorar no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra.
Pensada para o público em geral, a sessão "Os Últimos Calhaus a Contar do Sol" é a quarta do ciclo "Astronomia à Terça" que, no âmbito das comemorações do Ano Internacional da Astronomia (AIA2009), já levou a Coimbra Pawel Haensel (Nicolaus Copernicus Astronomical Center, Polónia), Orfeu Bertolami (Instituto Superior Técnico) e Fernando Figueiredo (especialista da UC em História da Astronomia).
Licenciado em Física/Matemática Aplicada pela Universidade do Porto e mestre em Astronomia e Astrofísica pela Universidade de Lisboa, Nuno Peixinho é investigador do Centro de Física Computacional e do Observatório Astronómico da UC. Em 2005, doutorou-se em Astronomia e Astrofísica, numa tese repartida entre o Observatoire de Paris (França) e o Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa. Possui um Pós-Doc na mesma área de investigação pelo Instituto for Astronomy da Universidade do Havai (EUA), coordenado por David Jewitt, e pelo Grupo de Astrofísica da UC, orientado pelo coordenador nacional do AIA2009, João Fernandes.
Depois de Nuno Peixinho, o ciclo "Astronomia à Terça" prossegue a 16 de Junho com uma viagem pela história da medição do tempo, orientada pelo investigador José António Paixão, do Departamento de Física da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).
O ECLIPSE DE 1919 NO MUSEU DA CIÊNCIA DE COIMBRA
Na próxima sexta-feira, dia 29 de Maio, pelas 15 horas, os físicos Paulo Crawford e Carlos Fiolhais falam sobre o famoso eclipse de 29 de Maio de 1919 observado na ilha do Príncipe (a expedição britânica ficou na Roça de Sundi, no norte da ilha) no Museu de Ciência da Universidade de Coimbra: notícia aqui.
PIRATAS E LADRÕES
Sobre o tema ora candente (veja-se a popularidade do Partido Pirata na Suécia) da pirataria na Net leia-se este artigo do escritor espanhol José María Guelbenzu no "El País" de domingo: aqui:
Temas clássicos na ficção - 1
Os sistemas de ensino ocidentais, uns mais do que outros, têm reduzido progressivamente o lugar de várias áreas do saber por as considerarem supérfulas, pouco apelativas para "as massas" que frequentam as escolas, sem interesse para a vida quotidiana, etc.
.
Por outro lado, mesmo aqueles que chegam a patamares mais avançados na escolaridade - no nosso caso, secundário e superior -, têm de fazer escolhas quanto ao seu percurso académico as quais afastam necessariamente outras: a opção pelas áreas científicas e tecnológicas, em geral, exclui as humanidades e o contrário também é verdade. A existência de "duas culturas" que não comunicam, denunciada há cinquenta anos por C. P. Snow, continua a orientar a organização do currículo e, afinal, a educação formal.
Estas duas razões têm concorrido para deixar muitas pessoas ignorantes, ou praticamente ignorantes, em relação a vários saberes. E muitas mais seriam se não houvesse, por parte de escritores, investigadores, tradutores, editores, cineastas, encenadores, actores e sociedade em geral, a vontade de manter ou tornar certos saberes vivos e partilháveis.
.
Na área da ciência tem-se feito, nas últimas décadas, um excelente trabalho de divulgação, acessível ao grande público, fundamental para melhorar a sua "literacia científica", sendo que a ficção não se pode excluír deste resultado.
Mas, também as humanidades parecem estar bastante empenhadas em dar a conhecer os seus saberes: com alguma facilidade encontramos obras, de compreensão acessível a todos, de história, de literatura, de filosofia, de cultura clássica...
.
Em relação a esta área e, para ir direita ao assunto deste texto, assinalo que tem surgido um número considerável de livros de carácter ficcional – contos, romances, teatro – sobre temas da cultura e história da Grécia e Roma Antigas.
Por gentileza de José Ribeiro Ferreira, professor do Instituto de Estudos Clássicos da Universidade de Coimbra, disponibiliza-se aos leitores do De Rerum Natura, com uma regularidade semanal, informação sobre algumas dessas obras, cuja leitura nos esclarece acerca das origens do nosso pensamento.
A primeira a que fazemos referência tem por título Ramsés, é da autoria de Christian Jacq e foi publicada entre nós, pela Bertrand, nos anos noventa. Dois dos cinco volumes que a compõem – O Filho da Luz (1995), O Templo dos Milhões de Anos (1996), A Batalha de Kadesh (1996), A Dama de Abu Simbel (1996), Sob a Acácia do Ocidente (1997) – tratam a Questão Homérica ou têm-na subjacente.
“Como o título indica, o escritor e egiptólogo francês explora a vida e longo reinado desse famoso faraó do Egipto. Não é, porém, essa a razão que me leva a uma referência mais longa aos dois primeiros volumes, mas por ecoar na sua acção alguns aspectos da Questão Homérica e a versão menos divulgada do mito de Helena, segundo a qual é um fantasma da rainha de Esparta que vai para Tróia e não ela própria em pessoa – versão que Eurípides utilizou na sua Helena. Em especial nos dois primeiros volumes, com os títulos Ramsés – O Filho da Luz e Ramsés – O Templo dos Milhões de Anos, deparamos com referências aos Hititas, à Guerra de Tróia, à destruição dessa poderosa cidade da Ásia Menor pelos Micénios, os Gregos. Na viagem de regresso à pátria, Menelau passa pelo Egipto e aí encontra a verdadeira Helena, como hóspede dos reis.
Contudo, ao contrário do que acontece no mito, ela não pretende regressar a Esparta, mas continuar no Egipto. Só acede a acompanhar o marido para salvar a vida dos reféns egípcios que o Atrida fizera no intuito de obrigar o Faraó a entregar-lhe a mulher. Todavia, libertados os reféns, Helena suicida-se, logo que as amarras se levantam e a armada grega se começa a afastar.
Nos navios gregos, com Menelau, vinha Homero que não acompanhará o rei de Esparta na sua viagem de regresso, mas fica no Egipto, sob a protecção de Ramsés. Aí, no país do Nilo, a um escriba desse faraó ditará ele a Ilíada, poema que relata um episódio da referida Guerra de Tróia. E assim o romance de Christian Jacq, incorpora na acção a célebre “tese do ditado”, proposta em 1953 por Albert B. Lord e hoje conta com a relativa aceitação dos estudiosos dos Poemas Homéricos.
Deste modo é deslocado para o Egipto o local da composição da epopeia e para o século XIII a.C. a data em que foi realizada, quando hoje se aceita que essa composição se verificou no século VIII como corolário de uma longa tradição de transmissão oral.”
José Ribeiro Ferreira
segunda-feira, 25 de maio de 2009
Astronomia na Joanina
Abriu no passado dia 23 de Maio no espaço das Prisões Académicas, na cave da Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra, uma Mostra Evocativa do Ano Internacional da Astronomia. Estão patentes ao público as seguinte obras, indicadas por ordem cronológica de publicação, dos ricos fundos daquela Biblioteca (em particular é exposta uma edição da "Astronomia Nova" de Kepler, de há exactamente 400 anos):
COPÉRNICO, Nicolau, 1473-1543
Nicolai Copernici Torinensis De revolutionibus orbium coelestium libri VI … Basileae : Ex officina Henricpetrina, 1566.
R-52-11
SACRO BOSCO, Joannes, fl. 1230
Sphaera Ioannis de Sacro Bosco, emendata. Eliae Vineti Santonis scholia in eandem sphaeram, ab ipso auctore restituta. Adiunximus huic libro compendium in sphaeram per Pierium Valerianum ..., et Petri Nonii ... Demonstrationem eorum,... Parisiis : apud Hieronymum de Marnef, & Guilielmum Cauellat, 1572.
RB-13-2
NUNES, Pedro, 1502-1578
Petri Nonii Salaciensis De arte atque ratione navigandi libri duo. Eiusdem in theoricas planetarum Georgij Purbachiij annotationes... Eiusdem De erratis Orontij Finoei liber unus. Eiusdem De crepusculis lib. I cum libello Allacen De causis crepusculorum. Conimbricae : in aedibus Antonij à Marijs, 1573.
RB-29-9
CLAVIUS, Christoph, 1538-1612
Christophori Clavii Bambergensis ex Societate Iesu, In sphaeram Ioannis de Sacro Bosco commentarius ... Lugduni : sumptibus Fratrum de Gabiano, 1593.
S.P.-F-2-10
BRAHE, Tycho, 1546-1601
[Tychonis Brahe Astronomiae instauratae mechanica]. [Noribegae : apud Levinum Usium, 1602].
4 A-34-12-8
KEPLER, Johannes, 1571-1630
Astronomia nova … seu Physica coelestis, tradita commentariis de motibus stellae Martis, ex observationibus G. V. Tychonis Brahe … [S.l. : s.n.], 1609.
4 A-26-15-18
Astronomia nova … seu Physica coelestis, tradita commentariis de motibus stellae Martis, ex observationibus G. V. Tychonis Brahe … [S.l. : s.n.], 1609.
4 A-26-15-18
KEPLER, Johannes, 1571-1630
Ioannis Kepleri … Dioptrice seu Demonstratio eorum quae visui & visibilibus propter Conspicilla non ita pridem inventa accidunt. Augustae Vindelicorum : typis Davidis Franci, 1611.
4 A-28-11-12
Ioannis Kepleri … Dioptrice seu Demonstratio eorum quae visui & visibilibus propter Conspicilla non ita pridem inventa accidunt. Augustae Vindelicorum : typis Davidis Franci, 1611.
4 A-28-11-12
COPÉRNICO, Nicolau, 1473-1543
Nicolai Copernici Torinensis Astronomia instaurata, libris sex comprehensa, qui de revolutionibus orbium coelestium inscribuntur. Amstelrodami : excudebat Wilhelmus Iansonius, 1617.
4 A-26-23-12
Nicolai Copernici Torinensis Astronomia instaurata, libris sex comprehensa, qui de revolutionibus orbium coelestium inscribuntur. Amstelrodami : excudebat Wilhelmus Iansonius, 1617.
4 A-26-23-12
KEPLER, Johannes, 1571-1630
Ioannis Keppleri Harmonices mundi libri V. Lincii Austriae : sumptibus Godofredi Tampachii : excudebat Ioannes Plancus, 1619.
4 A-27-23-17
KEPLER, Johannes, 1571-1630
Prodromus dissertationum cosmographicarum, continens mysterium cosmographicum de admirabili proportione orbium coelestium … Francofurti : recusus typis Erasmi Kempferi : sumptibus Godefridi Tampachii, 1621.
4 A-7-1-2
BRAHE, Tycho, 1546-1601
Tychonis Brahe, … Opera Omnia, sive Astronomiae instauratae progymnasmata … Editio ultima nunc cum indicibus & figuris prodit. Francofurti : impensis Ioannis Godofredi Schonwetteri, 1648.
4 A-28-11-7
Ioannis Keppleri Harmonices mundi libri V. Lincii Austriae : sumptibus Godofredi Tampachii : excudebat Ioannes Plancus, 1619.
4 A-27-23-17
KEPLER, Johannes, 1571-1630
Prodromus dissertationum cosmographicarum, continens mysterium cosmographicum de admirabili proportione orbium coelestium … Francofurti : recusus typis Erasmi Kempferi : sumptibus Godefridi Tampachii, 1621.
4 A-7-1-2
BRAHE, Tycho, 1546-1601
Tychonis Brahe, … Opera Omnia, sive Astronomiae instauratae progymnasmata … Editio ultima nunc cum indicibus & figuris prodit. Francofurti : impensis Ioannis Godofredi Schonwetteri, 1648.
4 A-28-11-7
HEVELIUS, Johannes, 1611-1687
Johannis Hevelii Epistolae IV. I. De observatione deliquii solis anno 1649 habitâ … II. De eclipsi solis anno 1652 observatâ … III. De motu lunae libratorio … IV. De utriusq[eu] luminaris defectu anni 1654 … Gedani : sumtibus autoris, typis Andreae Julii Molleri, 1654.
1-(b)-14-7
HEVELIUS, Johannes, 1611-1687
Johannis Hevelii Mercurius in sole visus Gedani, anno christiano MDCLXI, d. III Maji, St. n. cum aliis quibusdam rerum coelestium observationibus, rarisq[ue] phaenomenis … Gedani : autoris typis, et sumptibus, imprimebat Simon Reiniger, 1662.
2-18-17-8
Johannis Hevelii Epistolae IV. I. De observatione deliquii solis anno 1649 habitâ … II. De eclipsi solis anno 1652 observatâ … III. De motu lunae libratorio … IV. De utriusq[eu] luminaris defectu anni 1654 … Gedani : sumtibus autoris, typis Andreae Julii Molleri, 1654.
1-(b)-14-7
HEVELIUS, Johannes, 1611-1687
Johannis Hevelii Mercurius in sole visus Gedani, anno christiano MDCLXI, d. III Maji, St. n. cum aliis quibusdam rerum coelestium observationibus, rarisq[ue] phaenomenis … Gedani : autoris typis, et sumptibus, imprimebat Simon Reiniger, 1662.
2-18-17-8
GALILEI, Galileo, 1564-1642
Systema cosmicum, authore Galilaeo Galilaei, … in quo quatuor dialogis de duobus maximis mundi systematibus, Ptolemaico et Copernicano … Londini : prostat voenale apud Thomam Dicas, 1663.
2-(3)-3-6
HEVELIUS, Johannes, 1611-1687
Johannis Hevelii Prodromus Cometicus, quo historia, cometae anno 1664 exorti cursum, faciesq[ue] diversas capitas ac caudae accuratè delineatas complectens. Gedani : autoris typis, et sumptibus, imprimebat Simon Reiniger, 1665.
3-14-5-3
GALILEI, Galileo, 1564-1642
Galilaei Galilaei, … Systema cosmicum in quo dialogis IV de duobus maximis mundi systematibus. Ptolemaico & Copernicano, rationibus utrinque propositis indefinitè ac solidè disseritur. Lugduni Batavorum : apud Fredericum Haaring, et Davidem Severinum, 1699.
4 A-26-16-3(1)
Systema cosmicum, authore Galilaeo Galilaei, … in quo quatuor dialogis de duobus maximis mundi systematibus, Ptolemaico et Copernicano … Londini : prostat voenale apud Thomam Dicas, 1663.
2-(3)-3-6
HEVELIUS, Johannes, 1611-1687
Johannis Hevelii Prodromus Cometicus, quo historia, cometae anno 1664 exorti cursum, faciesq[ue] diversas capitas ac caudae accuratè delineatas complectens. Gedani : autoris typis, et sumptibus, imprimebat Simon Reiniger, 1665.
3-14-5-3
GALILEI, Galileo, 1564-1642
Galilaei Galilaei, … Systema cosmicum in quo dialogis IV de duobus maximis mundi systematibus. Ptolemaico & Copernicano, rationibus utrinque propositis indefinitè ac solidè disseritur. Lugduni Batavorum : apud Fredericum Haaring, et Davidem Severinum, 1699.
4 A-26-16-3(1)
NEWTON, Isaac, 1642-1727
Traité d’optique sur le reflexions, refractions, inflexions, et les couleurs, de la lumiere. Seconde edition françoise, beaucoup plus correct que la premiere. A Paris : chez Montalant, 1722.
4 A-14-51-18
NEWTON, Isaac, 1642-1727
Optice sive De reflexionibus, refractionibus, inflexionibus et coloribus lucis, libri três. Editio novíssima. Lausannae & Genevae : Sumpt. Marci-Michaelis Bousquet & Sociorum, 1740.
2-10-11-22
Traité d’optique sur le reflexions, refractions, inflexions, et les couleurs, de la lumiere. Seconde edition françoise, beaucoup plus correct que la premiere. A Paris : chez Montalant, 1722.
4 A-14-51-18
NEWTON, Isaac, 1642-1727
Optice sive De reflexionibus, refractionibus, inflexionibus et coloribus lucis, libri três. Editio novíssima. Lausannae & Genevae : Sumpt. Marci-Michaelis Bousquet & Sociorum, 1740.
2-10-11-22
GALILEI, Galileo, 1564-1642
Opere di Galileo Galilei divise in quattro tomi, in questa nuova edizione accresciute di molte cose inedite. In Paduva : nella Stamperia del Seminario : appresso Gio. Manfrè, 1744.
1-8-6-9/12
NEWTON, Isaac, 1642-1727
Isaaci Newtoni Enumeratio linearum tertii ordinis; sequitur illustratio ejusdem tractatus auctore Jacobo Stirling. Parisiis : impensis J. B. M. Duprat, 1797.
3-20-10-12
Opere di Galileo Galilei divise in quattro tomi, in questa nuova edizione accresciute di molte cose inedite. In Paduva : nella Stamperia del Seminario : appresso Gio. Manfrè, 1744.
1-8-6-9/12
NEWTON, Isaac, 1642-1727
Isaaci Newtoni Enumeratio linearum tertii ordinis; sequitur illustratio ejusdem tractatus auctore Jacobo Stirling. Parisiis : impensis J. B. M. Duprat, 1797.
3-20-10-12
O Lego como brinquedo
O Lego foi inventado nos anos de 1930 pelo dinamarquês Ole Kirk Christiansen, que o apresentou como um brinquedo para "brincar bem”.
Trata-se, como toda a gente sabe, dum conceito inovador que se traduz num conjuntos de peças de encaixe que possibilitam inúmeras combinações, permitindo às crianças obter formas várias, em função da sua imaginação e/ou da reprodução que fazem do real.
Este brinquedo, originalmente de madeira, foi um sucesso logo nos primeiros anos da sua comercialização, sucesso que aumentou quando, na década de 50, passou a ser fabricado em plástico e em larga escala, tendo sido divulgado um pouco por todo o mundo.
Coincidiu esta divulgação com a aceitação generalizada de princípios educativos a que vulgarmente chamamos princípios da "pedagogia moderna".
Um desses princípios – que não é moderno, mas muito antigo –, afirma que as crianças aprendem melhor se lhe forem proporcionadas situações lúdicas. Luís António Verney, por exemplo, escreveu que “seria preferível o estudo entrar na cabeça dos meninos, sem parecer que estudam mas que se divertem.”.
Acresce que os anos de 1960 e seguintes foram muito marcados pela pedagogização do brinquedo. Estratégias comerciais e outras fizeram pais, avós, professores e educadores em geral acreditar que, caso os brinquedos tivessem certas e determinadas características, desenvolveriam a inteligência.
Ora, como os adultos estavam nessa altura, e ainda estão, legitimamente preocupados com o desenvolvimento da inteligência das crianças e jovens, o Lego foi rapidamente apropriado pela escola, desde os níveis mais básicos até à universidade, ainda que com fins diferentes.
Quando as crianças estão nos primeiros anos de escolaridade, o Lego é recomendado para estimular a concentração, a criatividade, a motricidade, a orientação espacial, a percepção, a cognição. Mas também se remete para o conhecimento do mundo, uma vez que incide na construção de objectos (torres, carros, comboios etc.) e de contextos físicos e sociais (cidades, estações de serviço, castelos). Isto no que diz respeito aos módulos mais tradicionais. Módulos mais recentes, criados a partir de histórias clássicas (como A pequena sereia, ou A rainha das neves), ou de histórias mais actuais (como Harry Potter) e de aventuras (como A guerra das estrelas), são recomendados para explorar aspectos linguísticos, morais, afectivos, emocionais...
Para anos de escolaridade avançados têm sido criadas, por exemplo, linhas tecnológicas específicas, para que os sujeitos adquiram ou aperfeiçoem competências de design ou de robótica, que requerem um grau de abstracção elevado. Nesta linhas, contam-se criações Lego bastante arrojadas, como aquelas que reproduzem obras de Maurits Cornelis Escher, com a que se pode ver na figura.
Mas voltando aos primeiros anos de aprendizagem, o que podemos dizer acerca da validade do Lego como brinquedo?
Ante de mais que, como brinquedo, apresenta uma mais-valia inquestionável que é aquela pela qual se afirmou: permitir que as crianças se confrontem com objectos inacabados, que os manipulem, construam e reconstruam, e que, neste exercício, testem ideias, inventem formas e, eventualmente, criem histórias…
Os aspectos questionáveis surgem quando transpomos este brinquedo e a sua lógica de brinquedo para o contexto de sala de aula, sem o integrarmos numa estratégia pedagógica estruturada, crendo que a exploração livre que a criança faz dele proporciona aprendizagens várias, nomeadamente as que se referem à matemática. Neste particular, parece-nos importante clarificar pelo menos três aspectos:
1. A recomendação por idades, que é uma das características do sistema Lego pode levantar problemas, se dermos à criança apenas o que se estabelece que é para a sua idade, não a deixando confrontar-se com desafios cognitivos e emocionais de idades mais avançadas;
2. É preciso ter bem presente que aprender em contexto de sala de aula é diferente de brincar. Nas aprendizagens formais é preciso recorrer a metodologias muito direccionadas para o que se pretende que os alunos saibam, devendo, neste caso, o ensino ser muito bem organizado em função dos conteúdos e nas competências que estão estabelecidas no currículo. A ideia de que se aprende a brincar, complementada com a ideia de que se brinca a trabalhar em actividades ligadas às aprendizagens formais, são muito discutíveis e não tem encontrado sustentação em estudos teóricos e empíricos. De facto, a aprendizagem implica esforço e trabalho, o que é muito diferente de brincar. É preferível apostar num modelo educativo que contemple tempos de aprendizagem e tempos de brincadeira. Tais tempos devem ser separados para que a criança tenha a noção de que há um espaço/tempo de trabalho e outro em que pode e tem o direito de brincar livremente.
3. Nos guias Lego para professores, faz-se frequente apelo ao aprender fazendo e aprender pela descoberta. O aprender fazendo faz sentido, pois sabemos que o treino/fazer é necessário, mas só se houver subjacente um objectivo muito preciso a orientar o que o aprendiz faz. Por outro lado, sabemos que a aprender pela descoberta, sobretudo se esta for deixada à iniciativa espontânea das crianças, se não for guiada pelo professor, tem muitas limitações.
Em suma, o Lego poderá contribuir para desenvolver certas aprendizagens escolares – no que respeita ao desenvolvimento de competências cognitivas, sociais e motoras, bem como à aquisição de conhecimentos em várias áreas disciplinares, nomeadamente na matemática – mas não podemos esquecer que estas aprendizagens desenvolvem-se com uma boa didáctica delas próprias. Didáctica que, ela sim, que poderá incluir o Lego e outros recursos.
Maria Helena Damião e Maria Isabel Festas
Trata-se, como toda a gente sabe, dum conceito inovador que se traduz num conjuntos de peças de encaixe que possibilitam inúmeras combinações, permitindo às crianças obter formas várias, em função da sua imaginação e/ou da reprodução que fazem do real.
Este brinquedo, originalmente de madeira, foi um sucesso logo nos primeiros anos da sua comercialização, sucesso que aumentou quando, na década de 50, passou a ser fabricado em plástico e em larga escala, tendo sido divulgado um pouco por todo o mundo.
Coincidiu esta divulgação com a aceitação generalizada de princípios educativos a que vulgarmente chamamos princípios da "pedagogia moderna".
Um desses princípios – que não é moderno, mas muito antigo –, afirma que as crianças aprendem melhor se lhe forem proporcionadas situações lúdicas. Luís António Verney, por exemplo, escreveu que “seria preferível o estudo entrar na cabeça dos meninos, sem parecer que estudam mas que se divertem.”.
Acresce que os anos de 1960 e seguintes foram muito marcados pela pedagogização do brinquedo. Estratégias comerciais e outras fizeram pais, avós, professores e educadores em geral acreditar que, caso os brinquedos tivessem certas e determinadas características, desenvolveriam a inteligência.
Ora, como os adultos estavam nessa altura, e ainda estão, legitimamente preocupados com o desenvolvimento da inteligência das crianças e jovens, o Lego foi rapidamente apropriado pela escola, desde os níveis mais básicos até à universidade, ainda que com fins diferentes.
Quando as crianças estão nos primeiros anos de escolaridade, o Lego é recomendado para estimular a concentração, a criatividade, a motricidade, a orientação espacial, a percepção, a cognição. Mas também se remete para o conhecimento do mundo, uma vez que incide na construção de objectos (torres, carros, comboios etc.) e de contextos físicos e sociais (cidades, estações de serviço, castelos). Isto no que diz respeito aos módulos mais tradicionais. Módulos mais recentes, criados a partir de histórias clássicas (como A pequena sereia, ou A rainha das neves), ou de histórias mais actuais (como Harry Potter) e de aventuras (como A guerra das estrelas), são recomendados para explorar aspectos linguísticos, morais, afectivos, emocionais...
Para anos de escolaridade avançados têm sido criadas, por exemplo, linhas tecnológicas específicas, para que os sujeitos adquiram ou aperfeiçoem competências de design ou de robótica, que requerem um grau de abstracção elevado. Nesta linhas, contam-se criações Lego bastante arrojadas, como aquelas que reproduzem obras de Maurits Cornelis Escher, com a que se pode ver na figura.
Mas voltando aos primeiros anos de aprendizagem, o que podemos dizer acerca da validade do Lego como brinquedo?
Ante de mais que, como brinquedo, apresenta uma mais-valia inquestionável que é aquela pela qual se afirmou: permitir que as crianças se confrontem com objectos inacabados, que os manipulem, construam e reconstruam, e que, neste exercício, testem ideias, inventem formas e, eventualmente, criem histórias…
Os aspectos questionáveis surgem quando transpomos este brinquedo e a sua lógica de brinquedo para o contexto de sala de aula, sem o integrarmos numa estratégia pedagógica estruturada, crendo que a exploração livre que a criança faz dele proporciona aprendizagens várias, nomeadamente as que se referem à matemática. Neste particular, parece-nos importante clarificar pelo menos três aspectos:
1. A recomendação por idades, que é uma das características do sistema Lego pode levantar problemas, se dermos à criança apenas o que se estabelece que é para a sua idade, não a deixando confrontar-se com desafios cognitivos e emocionais de idades mais avançadas;
2. É preciso ter bem presente que aprender em contexto de sala de aula é diferente de brincar. Nas aprendizagens formais é preciso recorrer a metodologias muito direccionadas para o que se pretende que os alunos saibam, devendo, neste caso, o ensino ser muito bem organizado em função dos conteúdos e nas competências que estão estabelecidas no currículo. A ideia de que se aprende a brincar, complementada com a ideia de que se brinca a trabalhar em actividades ligadas às aprendizagens formais, são muito discutíveis e não tem encontrado sustentação em estudos teóricos e empíricos. De facto, a aprendizagem implica esforço e trabalho, o que é muito diferente de brincar. É preferível apostar num modelo educativo que contemple tempos de aprendizagem e tempos de brincadeira. Tais tempos devem ser separados para que a criança tenha a noção de que há um espaço/tempo de trabalho e outro em que pode e tem o direito de brincar livremente.
3. Nos guias Lego para professores, faz-se frequente apelo ao aprender fazendo e aprender pela descoberta. O aprender fazendo faz sentido, pois sabemos que o treino/fazer é necessário, mas só se houver subjacente um objectivo muito preciso a orientar o que o aprendiz faz. Por outro lado, sabemos que a aprender pela descoberta, sobretudo se esta for deixada à iniciativa espontânea das crianças, se não for guiada pelo professor, tem muitas limitações.
Em suma, o Lego poderá contribuir para desenvolver certas aprendizagens escolares – no que respeita ao desenvolvimento de competências cognitivas, sociais e motoras, bem como à aquisição de conhecimentos em várias áreas disciplinares, nomeadamente na matemática – mas não podemos esquecer que estas aprendizagens desenvolvem-se com uma boa didáctica delas próprias. Didáctica que, ela sim, que poderá incluir o Lego e outros recursos.
Maria Helena Damião e Maria Isabel Festas
Carta aberta ao Ministro Mariano Gago
Post de Rui Baptista sobre o candente problema das equivalências universitárias causado pelo Acordo de Bolonha:
“Há lágrimas espremidas pelas mãos da prepotência e a lei acobarda-se de levar aos olhos dos fracos o lenço que vela os olhos da Justiça” (Camilo Castelo Branco).
No seguimento do “Acordo de Bolonha”, as entidades oficiais portuguesas, ao contrário dos países anglo-saxónicos que atribuíram aos três primeiros anos de estudos superiores o grau académico de bachelor (em tradução para português, bacharel) resolveram “alcunhá-lo” de licenciado contra a opinião de sectores importantes da vida cultural nacional. E isto é tanto mais insólito por o grau de bacharel ter longa tradição em terra lusitana (Eça de Queirós era bacharel em Direito), tendo sido recuperado décadas atrás, ainda que em existência efémera de crisálida, em algumas faculdades para os três anos iniciais de estudos.
Com a intenção, reconhecida por Adriano Moreira, de “estar nas decisões para não vir a ser apenas objecto delas”, levou a efeito o Conselho Nacional das Profissões Liberais, nos dias 12 e 13 de Novembro de 2004, em Coimbra, um seminário intitulado Reflexos da Declaração de Bolonha. Neste evento, a que assisti como convidado, todos os presentes, em parte representados por docentes universitários de todo o país, manifestaram-se contra a atribuição do grau de licenciado para o ciclo inicial de estudos superiores defendendo o de bacharel. A este clima, não deve ter sido estranho ter pairado no espírito dos presentes uma licenciatura, como disse, também, Adriano Moreira, “com o prestígio da Universidade que lhe deu a primeira credencial de título académico nobilitante”.
No ano seguinte, em crítica ao poderes públicos por não terem tido em conta este importante seminário, escrevi em artigo de opinião: “Começo a convencer-me que em Portugal, à sombra de princípios tidos como democráticos, há um prazer sádico dos seus governantes em auscultar os parceiros sociais, mesmo que possuidores de um estatuto de ‘interesse público’, para decidir precisamente o contrário” (Público, 13/06/2005).
Em disparates sucessivos, numa altura em que era pedido pelas instâncias europeias “a adopção de um sistema de graus comparável e legível”, viria a ser adoptado, em território nacional, a terminologia de licenciado colocando, com isso, em dificuldade qualquer indivíduo que pretenda estabelecer a comparação e legibilidade entre este nosso grau e o grau de bacharel extra-fronteiras. Deste statu quo dei conta, quando escrevi:
“Assim ,julgo – e penitencio-me se estiver errado! - que se desatendeu a uma possível solução a dar aos actuais mestrados outorgados pela universidade, após estudos complementares com a duração de dois anos e apresentação de uma tese. É compreensível o prejuízo que daqui poderá advir passando a haver mestrados com igual ou menor duração das actuais licenciaturas universitárias (Diário de Coimbra, 14/12/2004).
E porque, como escreveu George Canning, “para cada problema há uma solução que é fácil, clara e…errada”, não poucas vezes, o desejo de querer ser diferente ou original tem o seu quê de caricato!
Corre actualmente na Net a recolha de assinaturas para uma petição a apresentar na Assembleia da República para que aos mestrados universitários antes de Bolonha - quatro ou cinco anos de licenciatura e mais dois anos de estudo com apresentação de tese - seja dada equivalência aos actuais mestrados, em verdadeiro escândalo alguns deles obtidos no ensino politécnico em quatro anos apenas!...
Trata-se de uma atitude em que aparece a pedir quem se encontra, como escreveu Jorge de Sena, “privado em extremo de justiça justa”. Assim, a petição deveria incidir, no mínimo, sobre a equivalência das antigas licenciaturas universitárias aos actuais mestrados e a atribuição de uma espécie de pós-graduação aos antigos mestrados universitários que os superiorizasse relativamente aos mestrados actuais. Se outros motivos de qualidade e exigência curricular não houvesse, uma simples conta de somar justificaria uma petição destas e a sua mais que justa aprovação na Assembleia da República. Mas menos do que isto deixará um travo amargo na boca por transportar para os dias de hoje o desalento de Manuel Laranjeira : “Num povo onde essa minoria intelectual, que constitui o capital de orgulho de cada nação se vê condenada a cruzar os braços com inércia desdenhosa, ou a deixá-los cair desoladamente sob pena de ser esterilmente derrotada” (in Jornal “O Norte”, 1908).
Mas a proposta desta praxis (ou seja, aquilo que os filósofos gregos tinham como “a acção comum tendo em vista os melhores objectivos para a cidade” ) devia ser assumida pelo próprio ministro Mariano Gago para libertar o Portugal democrático da má sina em procastinar um problema nacional que deveria já ter merecido uma solução justa, rápida e eficaz por parte dos homens com assento na Assembleia da República com o voto do povo. A dignidade dos antigos diplomas da universidade portuguesa assim o deve exigir como um princípio ético e um direito inalienáveis!
Rui Baptista
“Há lágrimas espremidas pelas mãos da prepotência e a lei acobarda-se de levar aos olhos dos fracos o lenço que vela os olhos da Justiça” (Camilo Castelo Branco).
No seguimento do “Acordo de Bolonha”, as entidades oficiais portuguesas, ao contrário dos países anglo-saxónicos que atribuíram aos três primeiros anos de estudos superiores o grau académico de bachelor (em tradução para português, bacharel) resolveram “alcunhá-lo” de licenciado contra a opinião de sectores importantes da vida cultural nacional. E isto é tanto mais insólito por o grau de bacharel ter longa tradição em terra lusitana (Eça de Queirós era bacharel em Direito), tendo sido recuperado décadas atrás, ainda que em existência efémera de crisálida, em algumas faculdades para os três anos iniciais de estudos.
Com a intenção, reconhecida por Adriano Moreira, de “estar nas decisões para não vir a ser apenas objecto delas”, levou a efeito o Conselho Nacional das Profissões Liberais, nos dias 12 e 13 de Novembro de 2004, em Coimbra, um seminário intitulado Reflexos da Declaração de Bolonha. Neste evento, a que assisti como convidado, todos os presentes, em parte representados por docentes universitários de todo o país, manifestaram-se contra a atribuição do grau de licenciado para o ciclo inicial de estudos superiores defendendo o de bacharel. A este clima, não deve ter sido estranho ter pairado no espírito dos presentes uma licenciatura, como disse, também, Adriano Moreira, “com o prestígio da Universidade que lhe deu a primeira credencial de título académico nobilitante”.
No ano seguinte, em crítica ao poderes públicos por não terem tido em conta este importante seminário, escrevi em artigo de opinião: “Começo a convencer-me que em Portugal, à sombra de princípios tidos como democráticos, há um prazer sádico dos seus governantes em auscultar os parceiros sociais, mesmo que possuidores de um estatuto de ‘interesse público’, para decidir precisamente o contrário” (Público, 13/06/2005).
Em disparates sucessivos, numa altura em que era pedido pelas instâncias europeias “a adopção de um sistema de graus comparável e legível”, viria a ser adoptado, em território nacional, a terminologia de licenciado colocando, com isso, em dificuldade qualquer indivíduo que pretenda estabelecer a comparação e legibilidade entre este nosso grau e o grau de bacharel extra-fronteiras. Deste statu quo dei conta, quando escrevi:
“Assim ,julgo – e penitencio-me se estiver errado! - que se desatendeu a uma possível solução a dar aos actuais mestrados outorgados pela universidade, após estudos complementares com a duração de dois anos e apresentação de uma tese. É compreensível o prejuízo que daqui poderá advir passando a haver mestrados com igual ou menor duração das actuais licenciaturas universitárias (Diário de Coimbra, 14/12/2004).
E porque, como escreveu George Canning, “para cada problema há uma solução que é fácil, clara e…errada”, não poucas vezes, o desejo de querer ser diferente ou original tem o seu quê de caricato!
Corre actualmente na Net a recolha de assinaturas para uma petição a apresentar na Assembleia da República para que aos mestrados universitários antes de Bolonha - quatro ou cinco anos de licenciatura e mais dois anos de estudo com apresentação de tese - seja dada equivalência aos actuais mestrados, em verdadeiro escândalo alguns deles obtidos no ensino politécnico em quatro anos apenas!...
Trata-se de uma atitude em que aparece a pedir quem se encontra, como escreveu Jorge de Sena, “privado em extremo de justiça justa”. Assim, a petição deveria incidir, no mínimo, sobre a equivalência das antigas licenciaturas universitárias aos actuais mestrados e a atribuição de uma espécie de pós-graduação aos antigos mestrados universitários que os superiorizasse relativamente aos mestrados actuais. Se outros motivos de qualidade e exigência curricular não houvesse, uma simples conta de somar justificaria uma petição destas e a sua mais que justa aprovação na Assembleia da República. Mas menos do que isto deixará um travo amargo na boca por transportar para os dias de hoje o desalento de Manuel Laranjeira : “Num povo onde essa minoria intelectual, que constitui o capital de orgulho de cada nação se vê condenada a cruzar os braços com inércia desdenhosa, ou a deixá-los cair desoladamente sob pena de ser esterilmente derrotada” (in Jornal “O Norte”, 1908).
Mas a proposta desta praxis (ou seja, aquilo que os filósofos gregos tinham como “a acção comum tendo em vista os melhores objectivos para a cidade” ) devia ser assumida pelo próprio ministro Mariano Gago para libertar o Portugal democrático da má sina em procastinar um problema nacional que deveria já ter merecido uma solução justa, rápida e eficaz por parte dos homens com assento na Assembleia da República com o voto do povo. A dignidade dos antigos diplomas da universidade portuguesa assim o deve exigir como um princípio ético e um direito inalienáveis!
Rui Baptista
domingo, 24 de maio de 2009
A criatividade, e não a cópia
Eis um post convidado da autoria de Ludwig Krippahl sobre um tema que tratei aqui em vários posts polémicos: a cópia digital gratuita.
«As palavras que profiro penetram os vossos sentidos de tal forma que todos as têm sem que nenhum as retenha dos outros. Sem as ter, as palavras não vos poderiam informar. E se as retivessem não poderiam informar outros. […] Não me preocupa que, por as dar todas a um, os outros sejam privados delas. Espero, em vez disso, que todos consumam tudo; que sem as negar a outra mente ou ouvido, as tomem todas para vós mas as deixem todas para os outros» Santo Agostinho de Hipona, 384-430, via Lessig Blog
«Tudo o que quero é chamar a atenção […] que é preciso pagar aos criadores. E que a maneira mais simples de o fazer é pagar quando usufruímos dos seus trabalhos. [… Q]uem quer usufruir dos produtos desse criador deve pagar.», Desidério Murcho, De Rerum Natura
Agradeço ao Desidério a oportunidade de discordar dele aqui. O Desidério propõe incentivar-se a criatividade pagando pelo acesso e pelo usufruto do que é criado. Segundo ele, é a forma mais simples de incentivar a criatividade e é um dever moral de quem usufrui de ideias alheias. Penso que o Desidério está enganado nestes três pontos. No dever, no incentivo e na suposta simplicidade da solução.
No domínio digital, uma vez paga a infraestrutura, o custo de copiar um ficheiro é irrisório. Por isso qualquer mercado competitivo arrastará o valor da cópia para zero. É o que acontece com os copos de água nos restaurantes, com as casas de banho nos centros comerciais e com o acesso aos programas de rádio. É caro construir uma estação de rádio e produzir programas mas, uma vez pago este custo, não há encargos adicionais por ouvinte. Cem ou cem mil não faz diferença. Por isso não é economicamente viável cobrar pelo usufruto. A solução do Desidério é inviável porque se passa o mesmo no domínio digital. Copiar ficheiros tem um custo marginal nulo, o que num mercado livre torna impossível lucrar com a cópia, o acesso e a distribuição. E dar valor à cópia de ficheiros por força da lei exige uma intromissão inaceitável na nossa vida pessoal, tal como seria se legislássemos custos de acesso a programas de rádio.
Outro problema é que, não se tratando de bens materiais que se desgastem, pagar o usufruto de conteúdos digitais só serve para recompensar a popularidade. E isto não é financiar a criatividade. Por exemplo, compare-se o sucesso comercial da máquina dos peidos com o da máquina de Turing. Não me importa o gosto de ninguém, e até acho que o sucesso comercial de uma aplicação para fazer esses sons no telemóvel é sinal de um mercado saudável. Nem defendo que as pessoas devam pagar por um formalismo matemático do qual nunca ouviram falar, por muito importante que seja. Mas a máquina de Turing está na base de toda a computação e é um exemplo importante da criatividade que queremos incentivar. A máquina dos peidos não. Isto demonstra a ineficácia de pagar pelo usufruto quando queremos incentivar a criatividade. É legítimo que se venda o acesso à máquina dos peidos a quem o quiser comprar. É a grande vantagem de um mercado livre. Mas é incorrecto defender que isto incentiva o progresso cultural, e ainda pior tentar forçá-lo como se fosse um bom meio para esse fim.
Finalmente, há a questão moral. O Desidério afirma que «quem quer usufruir dos produtos desse criador deve pagar». Estes “produtos” são sequências de números, como é tudo o que esteja no computador. São informação em abstracto. E a nossa civilização assenta no usufruto gratuito da informação e das ideias que outros tiveram. O acesso à informação é um direito fundamental. Tudo o que os nossos pais nos ensinam, o que aprendemos na escola e todo o conhecimento científico. Toda a cultura, que mais não é que o conjunto de ideias dos outros que podemos usar de graça. Usufruir de informação não obriga ninguém a pagar. A título de exemplo, peço ao leitor que estime quanto dinheiro me deve por ter lido até aqui. Quanto mais próximo de 0€ for a sua estimativa, mais de acordo estamos neste ponto.
Pagar pelo usufruto é aceitável como um acto voluntário, pois não prejudica ninguém, mas não é um mecanismo prático para incentivar a criatividade no mundo digital nem é aceitável obrigá-lo. Aceder à informação não cria o dever de pagar, recompensar a popularidade não é um incentivo eficiente à cultura e o serviço de cópia digital vale zero. O trabalho criativo deve ser pago como o serviço de criar e não como o serviço de cópia ou acesso. Se eu quisesse remuneração por este texto devia ter negociado com o Desidério quando ele me convidou. Agora que o escrevi e o pus à vossa disposição, de livre vontade e sem ninguém se comprometer pagar-me, não tenho justificação moral para exigir dinheiro.
Os autores e artistas devem trabalhar com orçamento e contrato, nem que seja verbal, como qualquer profissional. E se um músico ou escritor não arranjar umas centenas ou milhares de admiradores que se comprometam a pagar pelo seu próximo projecto então terão de viver de outra profissão. E se decidem criar mesmo sem ninguém lhes prometer pagamento então assumem-se como amadores. E tal como qualquer arquitecto, médico ou engenheiro, o artista e o escritor devem também estar preparados para passar uns anos a mostrar o que valem antes de haver compradores para o seu trabalho. E esqueçam a ideia de ganhar com a cópia daquilo que criaram em vez de pelo trabalho de o criar. Isso era quando imprimir um milhão de exemplares custava mais que escrever o livro. Agora, com o .pdf ao preço que está, é melhor venderem o que têm de valor.
Obviamente, o mercado não resolve tudo. Nunca será uma boa fonte de financiamento para a investigação fundamental ou para a filosofia. Por isso eu e o Desidério temos de dar aulas e trabalhar para o estado. Não é perfeito, mas é adequado. É o que se faz com escolas, hospitais e polícia. Há serviços que interessa garantir e que não se adequam aos caprichos do mercado. Esses exigem financiamento pelo estado. Não me parece que seja o caso do software ou da música, mas também não seria contra haver mais investimento público em escolas ou cursos avançados de formação que permitam aos jovens talentos mostrar o que valem enquanto encontram quem esteja disposto a pagar o seu trabalho.
No último século, o mais importante era financiar a cópia. Era caro copiar discos, imprimir livros e distribuí-los. Nessa altura o sistema do Desidério fazia sentido. Pagava-se pelo acesso. Hoje, tanto o músico como o programador criam coisas que se podem exprimir como números e distribuir sem custo por todos os interessados. Tal como sempre aconteceu com os matemáticos, não faz sentido cobrar pelo acesso, pela cópia ou pela distribuição. A proposta do Desidério é como querer curar a tosse deixando de tossir. Nem é prática de implementar nem resolve o problema.
«As palavras que profiro penetram os vossos sentidos de tal forma que todos as têm sem que nenhum as retenha dos outros. Sem as ter, as palavras não vos poderiam informar. E se as retivessem não poderiam informar outros. […] Não me preocupa que, por as dar todas a um, os outros sejam privados delas. Espero, em vez disso, que todos consumam tudo; que sem as negar a outra mente ou ouvido, as tomem todas para vós mas as deixem todas para os outros» Santo Agostinho de Hipona, 384-430, via Lessig Blog
«Tudo o que quero é chamar a atenção […] que é preciso pagar aos criadores. E que a maneira mais simples de o fazer é pagar quando usufruímos dos seus trabalhos. [… Q]uem quer usufruir dos produtos desse criador deve pagar.», Desidério Murcho, De Rerum Natura
Agradeço ao Desidério a oportunidade de discordar dele aqui. O Desidério propõe incentivar-se a criatividade pagando pelo acesso e pelo usufruto do que é criado. Segundo ele, é a forma mais simples de incentivar a criatividade e é um dever moral de quem usufrui de ideias alheias. Penso que o Desidério está enganado nestes três pontos. No dever, no incentivo e na suposta simplicidade da solução.
No domínio digital, uma vez paga a infraestrutura, o custo de copiar um ficheiro é irrisório. Por isso qualquer mercado competitivo arrastará o valor da cópia para zero. É o que acontece com os copos de água nos restaurantes, com as casas de banho nos centros comerciais e com o acesso aos programas de rádio. É caro construir uma estação de rádio e produzir programas mas, uma vez pago este custo, não há encargos adicionais por ouvinte. Cem ou cem mil não faz diferença. Por isso não é economicamente viável cobrar pelo usufruto. A solução do Desidério é inviável porque se passa o mesmo no domínio digital. Copiar ficheiros tem um custo marginal nulo, o que num mercado livre torna impossível lucrar com a cópia, o acesso e a distribuição. E dar valor à cópia de ficheiros por força da lei exige uma intromissão inaceitável na nossa vida pessoal, tal como seria se legislássemos custos de acesso a programas de rádio.
Outro problema é que, não se tratando de bens materiais que se desgastem, pagar o usufruto de conteúdos digitais só serve para recompensar a popularidade. E isto não é financiar a criatividade. Por exemplo, compare-se o sucesso comercial da máquina dos peidos com o da máquina de Turing. Não me importa o gosto de ninguém, e até acho que o sucesso comercial de uma aplicação para fazer esses sons no telemóvel é sinal de um mercado saudável. Nem defendo que as pessoas devam pagar por um formalismo matemático do qual nunca ouviram falar, por muito importante que seja. Mas a máquina de Turing está na base de toda a computação e é um exemplo importante da criatividade que queremos incentivar. A máquina dos peidos não. Isto demonstra a ineficácia de pagar pelo usufruto quando queremos incentivar a criatividade. É legítimo que se venda o acesso à máquina dos peidos a quem o quiser comprar. É a grande vantagem de um mercado livre. Mas é incorrecto defender que isto incentiva o progresso cultural, e ainda pior tentar forçá-lo como se fosse um bom meio para esse fim.
Finalmente, há a questão moral. O Desidério afirma que «quem quer usufruir dos produtos desse criador deve pagar». Estes “produtos” são sequências de números, como é tudo o que esteja no computador. São informação em abstracto. E a nossa civilização assenta no usufruto gratuito da informação e das ideias que outros tiveram. O acesso à informação é um direito fundamental. Tudo o que os nossos pais nos ensinam, o que aprendemos na escola e todo o conhecimento científico. Toda a cultura, que mais não é que o conjunto de ideias dos outros que podemos usar de graça. Usufruir de informação não obriga ninguém a pagar. A título de exemplo, peço ao leitor que estime quanto dinheiro me deve por ter lido até aqui. Quanto mais próximo de 0€ for a sua estimativa, mais de acordo estamos neste ponto.
Pagar pelo usufruto é aceitável como um acto voluntário, pois não prejudica ninguém, mas não é um mecanismo prático para incentivar a criatividade no mundo digital nem é aceitável obrigá-lo. Aceder à informação não cria o dever de pagar, recompensar a popularidade não é um incentivo eficiente à cultura e o serviço de cópia digital vale zero. O trabalho criativo deve ser pago como o serviço de criar e não como o serviço de cópia ou acesso. Se eu quisesse remuneração por este texto devia ter negociado com o Desidério quando ele me convidou. Agora que o escrevi e o pus à vossa disposição, de livre vontade e sem ninguém se comprometer pagar-me, não tenho justificação moral para exigir dinheiro.
Os autores e artistas devem trabalhar com orçamento e contrato, nem que seja verbal, como qualquer profissional. E se um músico ou escritor não arranjar umas centenas ou milhares de admiradores que se comprometam a pagar pelo seu próximo projecto então terão de viver de outra profissão. E se decidem criar mesmo sem ninguém lhes prometer pagamento então assumem-se como amadores. E tal como qualquer arquitecto, médico ou engenheiro, o artista e o escritor devem também estar preparados para passar uns anos a mostrar o que valem antes de haver compradores para o seu trabalho. E esqueçam a ideia de ganhar com a cópia daquilo que criaram em vez de pelo trabalho de o criar. Isso era quando imprimir um milhão de exemplares custava mais que escrever o livro. Agora, com o .pdf ao preço que está, é melhor venderem o que têm de valor.
Obviamente, o mercado não resolve tudo. Nunca será uma boa fonte de financiamento para a investigação fundamental ou para a filosofia. Por isso eu e o Desidério temos de dar aulas e trabalhar para o estado. Não é perfeito, mas é adequado. É o que se faz com escolas, hospitais e polícia. Há serviços que interessa garantir e que não se adequam aos caprichos do mercado. Esses exigem financiamento pelo estado. Não me parece que seja o caso do software ou da música, mas também não seria contra haver mais investimento público em escolas ou cursos avançados de formação que permitam aos jovens talentos mostrar o que valem enquanto encontram quem esteja disposto a pagar o seu trabalho.
No último século, o mais importante era financiar a cópia. Era caro copiar discos, imprimir livros e distribuí-los. Nessa altura o sistema do Desidério fazia sentido. Pagava-se pelo acesso. Hoje, tanto o músico como o programador criam coisas que se podem exprimir como números e distribuir sem custo por todos os interessados. Tal como sempre aconteceu com os matemáticos, não faz sentido cobrar pelo acesso, pela cópia ou pela distribuição. A proposta do Desidério é como querer curar a tosse deixando de tossir. Nem é prática de implementar nem resolve o problema.
O dever de educar para a Matemática
Décima quarta sessão do ciclo O dever de educar, no próximo dia 26 de Maio, pelas 18h15, na Livraria Minerva Coimbra.
Centramo-nos nesta sessão no dever de educar para a matemática, uma das prioridades dos sistemas educativos actuais. Esta prioridade tem sentido? Estaremos a assumi-la correctamente? E, o que podemos fazer para melhorar a educação das crianças e dos jovens nesta área?
A convidada é Natália Bebiano, professora do Departamento de Matemática da Universidade de Coimbra, responsável por diversas iniciativas de divulgação e educação matemática.
Local: Livraria Minerva (Rua de Macau, n.º 52 - Bairro Norton de Matos), em Coimbra.
Próxima sessão: 9 de Junho.
As sessões deste ciclo são abertas ao público.
Centramo-nos nesta sessão no dever de educar para a matemática, uma das prioridades dos sistemas educativos actuais. Esta prioridade tem sentido? Estaremos a assumi-la correctamente? E, o que podemos fazer para melhorar a educação das crianças e dos jovens nesta área?
A convidada é Natália Bebiano, professora do Departamento de Matemática da Universidade de Coimbra, responsável por diversas iniciativas de divulgação e educação matemática.
Local: Livraria Minerva (Rua de Macau, n.º 52 - Bairro Norton de Matos), em Coimbra.
Próxima sessão: 9 de Junho.
As sessões deste ciclo são abertas ao público.
Subscrever:
Mensagens (Atom)
MANIFESTO PARA O ENSINO E APRENDIZAGEM EM TEMPO DE GenAI
Por Maria Helena Damião e Cátia Delgado Assinado por académicos de diversos países do mundo, foi publicado no passado dia 29 de Novembro, ...
-
Perguntaram-me da revista Visão Júnior: "Porque é que o lume é azul? Gostava mesmo de saber porque, quando a minha mãe está a cozinh...
-
Usa-se muitas vezes a expressão «argumento de autoridade» como sinónimo de «mau argumento de autoridade». Todavia, nem todos os argumentos d...
-
Cap. 43 do livro "Bibliotecas. Uma maratona de pessoas e livros", de Abílio Guimarães, publicado pela Entrefolhos , que vou apr...