terça-feira, 19 de maio de 2009

O valor inestimável da liberdade

Crónica do Jornal de Notícias, Coluna Universidade Pública, de 10 de Maio de 2009, da autoria de J. Norberto Pires:

Tenho muita dificuldade em entender a forma como celebramos o 25 de Abril em Portugal. Entrou na rotina, com comemorações militarizadas, bolorentas e discursos de circunstância. Esquecer o que mudou nesse dia, apesar de todos os desvios e efeitos secundários, é não valorizar verdadeiramente a liberdade.

É verdade que muito do que aconteceu em Portugal nestes 35 anos nos deixa profundamente decepcionados.

Ainda hoje falamos de controlo da comunicação social, e verificamos abusos por parte de quem detém o poder. É verdade. Mas podemos denunciar e todos temos acesso à informação. Basta estar interessado. Apesar de menos incisivo, o jornalismo de investigação tem a capacidade de colocar os poderosos a responder. E para quem faz jornalismo o lápis azul já não corta e molda o que se escreve e diz, apesar de outras formas de lápis mostrarem grande eficácia nesse propósito.

É verdade que escândalos como o do BPN são ainda possíveis sem serem imediatamente esclarecidos, punidos os responsáveis e defendido o interesse público. Sim, é verdade. Mas podemos exigir explicações sem sermos visitados de noite, arrancados de casa e atirados para um quarto escuro qualquer às mãos de obscuros agentes de segurança interna.

É verdade que ainda existe fome em Portugal, e analfabetismo, e um número escandaloso de jovens que abandonam o secundário, e desigualdades entre homens e mulheres, e gritantes desigualdades sociais e de acesso à educação, e problemas graves na justiça, e um serviço nacional de saúde muito deficiente, e muitas outras coisas que se prometeu resolver naquele dia de luz. É verdade que só reconhecemos o direito das mulheres ao aborto em Fevereiro 2007, permitindo que as mulheres em consciência e liberdade pudessem decidir sobre o seu corpo. É verdade que ainda hoje não fazemos um planeamento familiar responsável, e vivemos agarrados a dogmas que tentam limitar e condicionar a vida das pessoas. É verdade que ainda hoje responsáveis religiosos dizem coisas sobre doenças sexualmente transmissíveis como esta: “o preservativo não resolve o problema da SIDA, muito pelo contrario, só o agrava”. É verdade que continuamos a ser mal governados, e continua a não existir uma estratégia para Portugal e tudo isto parece muito frágil e medíocre. É verdade. Mas podemos escrever tudo isto em jornais, na Web, organizar grupos de discussão, debater, podemos manifestar a nossa revolta e indignação em público e assim contribuir para a mudança que urge cumprir 35 anos depois.

Comemorar o 25 de Abril tem de ser a celebração da liberdade, do reforço do espírito crítico, do incentivo ao debate e à denúncia sistemática dos abusos de poder e da tentativa de controlo de informação. Essa é a melhor forma de construir um pais livre e de dar sentido àquele dia de Abril de 1974.

J. Norberto Pires

4 comentários:

Anónimo disse...

ATOMISMO E CRISTIANISMO

Tito Lucrécio Caro, nunca reclamou, para os seus escritos, qualquer inspiração divina. No seu poema Rerum Natura, limitou-se a escrever o que pensava. Era um louco e suicidou-se.

Para ele, o Universo, a vida e o homem têm uma origem irracional. No caso de Tito Lucrécio Caro, o seu fim foi igualmente irracional.

A presença de informação codificada no núcleo da célula, em quantidade, qualidade e densidade inabarcáveis pela mente humana, refuta a sua visão do mundo.


Jesus Cristo, afirmou ser o Messias, o Filho de Deus. Ele disse que os céus e a Terra passarão, mas as suas Palavras nunca irão passar. Ele é o centro do Livro mais influente da história da humanidade. Era um Sábio, que morreu e ressuscitou.

Para ele, o Universo, a vida e o homem têm uma origem racional. No caso de Jesus Cristo, Ele não tem princípio nem fim. Ele é Razão eterna.

A presença de informação codificada no núcleo da célula, em quantidade, qualidade e densidade inabarcáveis pela mente humana, corrobora a sua mensagem.

Anónimo disse...

eia! C'um carago. A mensagem anterior é... digamos, não sei... gira!
:-D

Isabel Saraiva disse...

Sem comentários ...

RTP2 - A Luz das Nações (AEP) - 10/04/2009

"A Vitória de Cristo na Cruz!”

Sara Narciso: entrevista com a Prof.ª e Missionária Verónica Penido.00m47s – 00m52s:

"Foi precisamente numa sexta-feira que Ele foi crucificado, para 3 dias depois ressuscitar."

Helena Ribeiro disse...

Também eu, tenho muita dificuldade em entender as comemorações "bolorentas" do 25 de Abril. Ainda me lembro de, por volta dos 12 anos, ir para casa da minha vizinha ouvir José Afonso às escondidas.

E nunca é demais lembrar que as pessoas que eram “arrancadas” de suas casas durante a noite, eram torturadas: atrocidades como apagar cigarros nos mamilos das mulheres eram cometidas... e os filhos das mulheres que davam à luz na prisão eram-lhes retirados para sempre (para serem educados dentro do regime).

Enfatiza-se frequentemente a revolução dos cravos sem derramamento de sangue. Também me orgulho de pertencer a um país que fez tal revolução. Mas é preciso mostrar o horror às gerações mais novas, sob pena de acontecer exactamente o que é referido neste post.

É preciso mostrar o horror para que a catarse possa acontecer na intimidade das células, só assim se pode combater eficazmente o horror, parece-me.

Gostei muito do seu texto.

UM CRIME OITOCENTISTA

Artigo meu num recente JL: Um dos crimes mais famosos do século XIX português foi o envenenamento de três crianças, com origem na ingestão ...