Texto de João Boavida, antes publicado no semanário As Beiras, sobre um curioso episódio da nossa animada realidade social e educativa.
Na semana passada alguns jornais noticiaram, em grande, que a Escola Básica de Pinhal Novo tinha proibido saias curtas em excesso, decotes demasiado promissores e calças a cair, como agora muita malta nova abusa e usa. Tratava-se de uma emenda ao regulamento interno da escola «resultado de situações verificadas na sala de aula», e que refere como deveres do aluno «apresentar um aspecto asseado e limpo, vestindo-se de forma adequada ao espaço da sala de aula». Não faltou logo quem aproveitasse este facto, como o da Loja do Cidadão, de Faro.
Desde logo fazer disto uma grande notícia, puxando ao escândalo, é disparate, porque todos vemos e percebemos a razão da coisa. Depois, era inevitável, alguns políticos, cavaleiros de triste figura do politicamente correcto, porque está em perigo a liberdade individual et cetera e tal. E, inevitavelmente, um ou outro programa dessa televisão deslavada e sem miolo, que anda para aí aos caídos e não sabe o que fazer a tantas horas de emissão.
Como não há meio de aparecer ninguém por cá com a gripe porcina, por mais que o desejem e a puxem, toca a inventar notícias e a tentar meter a ridículo uma escola que decide não fechar os olhos às situações inaceitáveis.
Ó meus amigos, deixem-se de coisas, uma escola tem obrigação de ter um regulamento interno. E como é sempre possível aparecer quem queira andar vestido de modo impróprio para a maioria, e muitos até fazem gala nisso, a direcção da escola tem o direito (e o dever) de não permitir que nela as pessoas andem como lhes apetece, visto nem todas saberem comportar-se em público. Sobretudo jovens, sobre quem as modas e os media e toda uma infernal indústria e um diabólico consumismo pressionam e condicionam até ao ridículo puro e à parvoíce completa, impondo uma moda anti-anatómica, fatalmente estúpida, que aperta onde devia alargar e dá largas ao que devia cingir. Embora com armas muito desiguais e lutando contra impérios, os educadores, se o são, têm o direito de impor o bom senso a quem não o tem.
É engraçado que não se vê nenhum partido político denunciar os fabricantes que por força querem impor outro corpo aos jovens, nem os atacam pela situação ridícula a que os sujeitam promovendo e pondo a circular calças e outra farpelas que são um desastre a todos os níveis. Nem a exploração descarada que é venderem, por alto preço, produtos previamente degradados, ou fragilizados, impondo-os como um must. Nem o que significa para certas famílias terem que ceder, com o dinheiro que muitas vezes não têm, às exigências de muitos jovens, de cabeça feita por um consumismo descabelado e sem quaisquer preocupações sociais. Era contra essas multinacionais do ridículo e da parvoeira, e que se estão borrifando para o mal que provocam, que certos partidos à esquerda deviam avançar a direito, como gostam de se mostrar. Seriam úteis e ficaríamos gratos.
Ganhar (?) votos e tentar entalar o Governo à custa de uma escola que procura, com quantas dificuldades, aguentar alunos e problemas, é baixa política. É certo que os pais é que devem habituar os filhos às boas maneiras, mas a própria notícia nos diz que foi preciso convencer alguns de que não era muito correcto o modo como os próprios filhos se apresentavam. E, sendo assim, será preciso dizer mais alguma coisa?
A escola e os professores têm obrigações para com a comunidade e são agentes de formação pagos pelo Estado. Até pode ser que a Escola não tenha razão, que não haja motivo, que aquele conselho executivo exagerou. Mas não custa acreditar que tem razão, pelo que se vê nas ruas. Portanto.
João Boavida
quinta-feira, 21 de maio de 2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
35.º (E ÚLTIMO) POSTAL DE NATAL DE JORGE PAIVA: "AMBIENTE E DESILUSÃO"
Sem mais, reproduzo as fotografias e as palavras que compõem o último postal de Natal do Biólogo Jorge Paiva, Professor e Investigador na Un...
-
Perguntaram-me da revista Visão Júnior: "Porque é que o lume é azul? Gostava mesmo de saber porque, quando a minha mãe está a cozinh...
-
Usa-se muitas vezes a expressão «argumento de autoridade» como sinónimo de «mau argumento de autoridade». Todavia, nem todos os argumentos d...
-
A “Atlantís” disponibilizou o seu número mais recente (em acesso aberto). Convidamos a navegar pelo sumário da revista para aceder à in...
8 comentários:
Que saudades dos artigos da Professora Palmira...
Helena Damião, que calha de se um decote promissor ? para quem ? que ideia mais moralista das coisas , isto vê-se mesmpo que foi feito para meia dúzia de casos, em que a responsabilidade é dos pais , e não dos alunos.
Uma escola pública não tem o direito de impor regras de vestimenta que não estejam já especificadas na lei geral do estado de direito. É ridículo, eu adoraria ver esse regulamento e os acéfalos que o criaram. Será que se lembraram de mensionar t-shirts as frases autorizadas a serem estampadas ? será que pensaram nas capas dos livros e no tipo de papel de encadernação permitido ? sempre pode ter imagens porno: ) eu se andasse nessa escola iria divertir-me com isso.
“vestindo-se de forma adequada ao espaço da sala de aula” que raio de definição é esta ? quem determina ? onde está o regulamento e porque aquele e não outro? a especificidade ? ou é a arbitrariedade completa ? o bom senso não existe e não é igual para todos, oq eu uma saia curta ? quantos centímetros ?Ridículo
Claro que está em causa a expressão da individualidade , porque se uma anta estilo conservadora achar que um aluno ter o cabelo comprido não é próprio para uma sala de aula, ou ser gótico ou algo do género, é mesmo a questão da liberdade que está em causa. Já agora um uniforme, estilo bibe….
Qual a legalidade de uma imposição arbitrária que pode ir contra a lei geral ? acho que se um aluno for vestido de uma forma que não agrade aos professores( notar que não se percebe quais os parâmetros a usar) , o que é que eles vão fazer ? impedir de ir às aulas ? com o ensino a ser obrigatório e com uma regra aprovada à canzana, que nem sequer sei se é legal , como descalçam a bota ?
Normas internas não podem ir contra normas gerais, e as pessoas podem-se vestir como queiram e não podem ficar privadas do ensino apenas porque uns moralistas do século passado estão chocados ou invejosos com os corpos dos alunos e das alunas.
De facto a porcaria do nosso ensino deve ter decaído de forma tenebrosa, quando é necessário definir este tipo de coisas é porque os professores são muito fraquinhos, em vez de ensinarem, dedicam-se a moralismos e aulas de moda.
Este moralismo bacoco parece-me uma desculpa
É só fumaça .
Concordo com o comentário do Paulo. Vá a:
http://jugular.blogs.sapo.pt/user/palmirafsilva
Ó Nuvens:
Eu sei o que é um decote promissor...Para quem? Ó Nuvens não goze.
E já agora, se um garoto resolve aparecer em cuecas? E se for com o pénis de fora? Ou uma garota com as mamas de fora? Se calhar há limites, não?
Ó anónimo
a lei geral estipula já essas regras, também se aparecer alguém a vender droga , não é necessário existir um regulamento a dizer,: é proibida a venda de droga na escola :((((
Agora se uma rapariga for com um decote maior quem decide o limite do decote ?
depende provavelmente do tamanho das mamas vs decote, mas em função também da transparência do material assim como, se for sem decote e sem nada por baixo com um fato de licra é capaz de ser pior.
Sabe, este tipo de tema é tão estúpido e estéril como saber o sexo dos anjos.
é uma boa maneira de se arranjar problemas, porque continuo na minha, se um aluno invocar o direito a andar como quiser quais são as sanções ? chumba-se um aluno pelos calções ?
é este tipo de disparate que se podia evitar, fazendo os professores o papel deles, que é ensinar e integrar. Chamando os pais, mas isso dá trabalho , é complicado , e sempre é melhor meter num papelucho uma regra mais do tempo do bolor de botas.
Numa época onde temos de levar com a vida amorosa do homem que tinha galinhas em são bento, porque não umas bucazitas nas escolas ?
enfim haja pachorra, anda tudo maluco, moralista , e chato
era burcazitas , e não bucazitas, fica a correcção
Pensando bem, você é capaz de ter razão. Também tenho essa experiência: há coisas que as pessoas podem resolver mas se se metem a fazer regras, aquilo é um nunca mais acabar de casos e subcasos em que ninguém se entende mas em que se ultrapassam facilmente a raias do rídiculo. Acho que estou de acordo consigo.
Anónimo das 15:52
Enviar um comentário