sábado, 2 de maio de 2009
Requiem pela Plataforma Sindical?
Mais um post sobre educação - ainda a posição dos sindicatos dos professores sobre a avaliação dos professores - da pena de Rui Baptista:
“Aquele que luta com monstros deve ter muito cuidado para não se transformar também num monstro” (Friedrich Nietzsche)
No jornal Público (30/04/2007), como que para manter o fogo sagrado de uma santa aliança sindical - a exemplo daqueles casamentos de conveniência que se fazem sabendo-se, de antemão, estarem condenados, mais tarde ou mais cedo, ao divórcio -, o grande timoneiro da Plataforma Sindical, Mário Nogueira, anunciou, urbi et orbi, um plano de acção que tanto pode vir a acontecer como a não acontecer. Aquilo que pode ser tomado por uma acção de marketing para a prospecção de um produto a lançar, ou a não lançar, no mercado, em função da análise dos dados recolhidos junto do público alvo.
Mas que plano é esse que anuncia o óbvio da luta da Fenprof em horizontes de discórdia de natureza política, a exemplo da demissão do Partido Comunista de quatro dirigentes do Sindicato dos Professores do Norte por esta força partidária “se imiscuir na vida interna da estrutura sindical“ (Semanário Sol, 24.Nov.2008)? Esse plano, reporta-se a “um calendário de acções que vão prolongar-se pelo 3.º período e poderão mesmo chegar ao início do próximo ano lectivo, em pleno período de campanha para as legislativas”. Ou seja, “nil novi sub sole”!
Como se leu, tempo atrás, na imprensa “Mário Nogueira reconhece que está a travar ‘um combate político-partidário’” (Jornal de Notícias, 8.Nov.2008). Intenção logo reforçada, na mesma altura e local, por Manuel Grilo, seu “compagnon de route”, em exortação bélica que ecoou pelo país fora: “Vamos para esta guerra para ganhar” . Ambos, certamente sabiam, como soube Eça de Queiroz, que “quando se quer fazer marchar um regimento não se lhe explica com a subtileza de um protocolo os motivos que levam à guerra: desdobra-se uma bandeira, faz-se soar um clarim e o regimento arremete”.
Mas, para estragar a estratégia que antecede os dias das grandes batalhas, a Federação Nacional dos Sindicatos de Educação (FNE), integrada na Plataforma Sindical, parece não comungar de idênticas soluções pelo que se deduz das seguintes declarações: “’Estivemos a analisar vários cenários mas ainda não ficou nada decidido’, diz Lucinda Manuela, dirigente da FNE. Para esta federação é mais importante, em tempo de campanha eleitoral, fazer chegar aos partidos o que cada sindicato pensa e informá-los sobre ‘o que é que os professores não querem’ do que fazer acções conjuntas com os outros sindicatos” .
É uma possível borrasca que se abate sobre uma nau que sempre navegou com terra à vista ou fundeada no porto da indecisão e de conveniências ocasionais agora em colisão de metodologia na rota a prosseguir por parte de uma federação sindical tida como a segundo mais forte e representativa do país e sem conotação política que a tolha de ter ideias próprias que cerceiem a sua liberdade de acção.
“Et pour cause”, uma organização sindical sem necessidade do protagonismo que advém de estar integrada numa Plataforma Sindical norteada pela agulha de uma bússola que gira desnorteada conforme os ditames do respectivo porta-voz, que ora fala em representação da Plataforma Sindical, ora fala em nome da Fenprof. No que respeita aos interesses de outros pequenos sindicatos satélites da Plataforma serve esta para lhes dar “uma pingadeira de glória”, como diria Eça, ainda que, por vezes, em denegação de princípios estatutários aprovados em assembleia de sócios.
Esta é uma opinião pessoal, embora sabendo eu que as opiniões de cada um valem o que valem. Cs analistas políticos, apesar de toda uma ciência e anos de tarimba, também sabem que nem sempre aquilo que é parece e nem sempre aquilo que parece é. Nada mais do que isto!
Rui Baptista
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29 comentários:
Mário Nogueira merecia ser afastado da carreira de professor. Está a dar um péssimo exemplo a todos os alunos e professores portugueses. As pessoas devem dialogar e chegar a um consenso. Os sindicatos dos prefosseres e o Ministério da Educação deviam estar empenhados nisso. Ao invés disso, brincam às guerras. Desses dois não se sabe quais vão ganhar a guerra. Mas já se sabe que vão haver dois perdedores, os alunos e o país.
Enquanto Mário Nogueira brinca às guerrinhas para ver se arrebanha mais uns tachinhos, o essencial não é discutido, a qualidade do ensino e dentro disso a avaliação dos professores, que foi o motivo disto tudo.
Creio que a batalha está perdida por parte deste senhor, Sócrates vai ganhar ainda que sem maioria absoluta e dar o suspiro de safa que está a aguentar até lá, depois vai ser intransigente, vai manter a avaliação dos professores.
Se a honestidade existir na maior parte deles, vão aceitar o facto de haver avaliação, contrariando sim o modelo da mesma, mas há que tomar 1 decisão, aceitar ou não o facto de haver avaliação, independentemente do modelo, coisa que os próprios professores não concordam na totalidade.
Deixem-se de guerrinhas, façam mas é 1 ordem profissional para discutirem seriamente os problemas, ou cheguem a um consenso, está visto que com oportunistas como o Mário Nogueira, não vão lá.
Ai como aqui no Brasil, os sindicalistas dão os piores exemplos.
Abraços, RUI
Marta Bellini
Marta, é sempre uma alegria voltar a vê-la por aqui, a comentar neste blogue. É uma voz independente e lúcida que nos chega do Brasil autora de um blogue (que se tornou leitura obrigatória para mim), igualmente, sem "Arcas Encoiradas", titulo de um livro de Mestre Aquilino Ribeiro, como tal, fechadas a sete chaves a uma discussão aberta de todas as temáticas por mais incómodas que sejam, ou possam parecer, a interesses instalados que se agarram à sua defesa como o macaco à banana.
Passe um certo plebeísmo da metáfora, mas julgo ser a que melhor se aplica na circunstância.
Bem-haja! Um abraço de gratidão deste lado do Atlântico e das margens do Mondego, que banha a vestuta Universidade de Coimbra, para uma ilustre professora universitário de Terras de Santa Cruz.
Substituir "vestuta" po vetusta.
Como é meu hábito, responderei a todos os comentários dirigidos a este meu post. Fá-lo-ei, como é óbvio, oportunamente, aos dois comentários iniciais que, desde já, agradeço.
Caro "anónimo":Mário Nogueira devia ser afastado da carreira docente? Mas não está ele já afastado há muitos anos que lhes perdi a conta?
Fez-se ele sindicalista profissional, sempre a espreitar uma oportunidade de subida nessa hierarquia ou no alcance do cargo de "senador" de um país que lho tem negado nas urnas, mais de uma vez.
No alcance deste último desiderato perderia o País, mas respirariam de alívio os professores que têm servido de carne para canhão para as suas guerras que nada têm de "mangerico e mangerona".
A luta dos professores deixou, portanto, de estar sob a respectiva alçada transformando-se numa espécie de luta do gato e do rato em que a Fenprof e o ministério da Educação tudo fazem para ganharam ou não perderem votos nas eleições que se avizinham. As formas de luta desse período, que a Fenprof fez já saber publicamente, mais do que as prenunciam, anunciam-as.
E numa guerra total pouco importam as baixas e o rasto de vítimas deixadas, porque entre mortos e feridos alguém há-de escapar. O ministério da Educação? A Fenprof?
Atrevo-me a acrescentar ao número de vítimas desta batalha campal que, para si,em gesto de bondade, são os alunos e o país, os professores, aqueles que se deixaram instrumentalizar e os que tudo fizeram para não deporem, aos pés da ministra da Educação, o pendão de uma causa justa.Todos eles, uns mais, outros menos, acabarão por sofrer.
Prezado Armando Quintas: Julgo poder encontrar na minha resposta ao comentário do “anónimo algumas respostas ao seu comentário.
Várias vezes, tenho sido contemplado com textos seus que têm o mérito de me obrigarem a repensar o que escrevo ou me dão a certeza de encontrar eco na sua maneira de pensar.
Julgo (e peço-lhe que me corrija, se for caso disso) que é o caso da avaliação dos professores em que, embora a minha posição possa ser, ou parecer, politicamente incorrecta, não quero deixar de expressar a minha opinião. O que, até, pouco mérito tem por não me poder levar a perder ou a ganhar votos nas eleições legislativas que nos batem à porta.
Antes do aborto da nova avaliação, a antiga sofria do vício em não separar o trigo do joio. Ou seja, ou todos os professores eram bons e atingiam o topo da carreira docente ou todos eram maus e atingiam-no na mesma. Mesmo aqueles que defendiam a “tese” de todos os professores serem merecedores de chegarem ao topo, hoje, grande maioria deles contesta a qualidade daqueles que ascenderam à categoria de professor-titular por um bambúrrio da sorte que lhes amoldou caricatamente o corpo desajeitado a um fato pronto-a-vestir. E com isso deixou mal amanhados professores de melhor qualidade científica, pedagógica ou humana.
Mas, por Deus!, criar quotas para esse acesso é caso para dizer “pior a emenda que o soneto” de uma avaliação que, por vezes, era condicionada a simpatias políticas e afinidades clubisticas geradas no circuito fechado da escola e do respectivo conselho directivo ocupado, por vezes, abstraindo as inúmeras e honrosas excepções, por professores que os ocuparam por exclusão de outros candidatos, só porque eram professores de nomeação definitiva em que o mérito académico era subalternizado.
Desta forma, defendo que o acesso aos lugares de topo da carreira docente deve estar condicionada, também, a entidades estranhas à escola e não a um processo de auto-avaliação sempre difícil de crédito. Aqueles que tem uma auto-estima do tamanho do mundo, mas capaz de preencher, apenas, as paredes do seu quarto, avaliar-se-ão por cima. Os de sinal contrário serão modestos nessa avaliação a ponto de poderem ficar a anos-luz do seu verdadeiro valor. Não se verifica isso mesmo, outrossim, na avaliação por parte dos alunos? E não serão os verdadeiros professores, também eles, “alunos” toda a vida pela avidez salutar em aumentaram os seus conhecimentos?
Chegámos, finalmente, à questão da Ordem dos Professores que deixou de ser tabu retirando-me o estatuto de proscrito pela defesa que tenho mantido na sua criação. Não o fazer é deixar a opinião pública pensar, cheia de razão, que aos professores só interessam questões sindicais: vencimentos, horários de trabalho, etc. E com isso estarem completamente desinteressados de questões pedagógicas (qualidade do ensino, manuais, programas, etc.), deixando essa fatia profissional para a tutela ministerial e sindicatos que se degladiam e se aproveitam avidamente, enquanto os professores deixam passar para o exterior a ideia de não sentirem capacidade para se auto-tutelarem , como se fossem um rebanho que segue o pastor (seja ele o ministério ou os sindicatos) e os seus cães-de-fila desde que os encaminhem para pastos verdejantes.
Entretanto, injustiça seria não dar mérito às associações de professores das diversas disciplinas curriculares que existem em esforço descoordenado, como se o todo fosse a soma das partes ao arrepio do que nos diz o gestaltismo.
Não será a altura, como reconhece, aliás, em preciosa ajuda, de ser criada uma ORDEM DOS PROFESSORES, em prol dos seus deveres e direitos? Mas será que o problema reside nos deveres, já que os direitos se acolhem à sombra dos inúmeros sindicatos de professores ou de uma travestida unicidade sindical representada ocasionalmente pela actual Plataforma Sindical?
Estou pronto a discutir, uma vez mais, e tantas quantas as necessárias, esta temática que está longe de dormir o sono dos justos, apenas espera que a despertem com argumentos prós ou contras em clima de elevação e honestidade que se não contentem com argumentos deste teor: estou a favor porque estou. Ou estou contra porque estou.
O tiro de partida foi dado por ambos. Assim não surjam argumentos dopados numa espécie de ridícula competição entres os defensores da Ordem dos Professores e o grande número de sindicatos que crescem como cogumelos no terreno húmido de interesses políticos ou, apenas, dos seus dirigentes que se agarram aos cargos com quem presta um prestimoso serviço ao País que melhor seria servido por uma rotatividade de chefia não enquistada em vícios que se arrastam anos ou mesmo decénios.
Que venham, portanto,os comentários que vierem por bem, nunca como quem "manda bocas"|
Sobre as guerras entre Ministério e Fenprof, como aliás em todas as guerras, não há vencedores nem vencidos.
Só há um resultado: todos perdem.
Perde o Ministério, perde a Fenprof, e, pior de tudo, perdem os professores e os alunos.
PERDEM A PAZ DO ESPÍRITO, PERDEM A LUCIDEZ, PERDEM A INTELIGÊNCIA, PERDEM A VISÃO, E TRANSMITEM ÀS FUTURAS GERAÇÕES A PIOR MANEIRA DE DIALOGAR.
Mas somos portugueses, não é?
Caro Rui, acho que o passo seguinte é definir o modelo de avaliação, e nisso os professores têm que se impor.
Se seguir os meus comentários até pode achar que me estarei a contradizer por defender uma ordem profissional, já que sou contra essas coisas corporativas.
Mas neste momento e dada a situação creio que seria o melhor a fazer.
Creio também e reflectindo pelo que escreveu, que se passou anos, por parte dos professores e também da sociedade e descurar certas tarefas e responsabilidades que foram cair na mão de burocratas e pseudo-pedagogos do ministério da (des)educação.
Uma das coisas que referiu é a elaboração dos manuais escolares, que eu defendo só poderem ser elaborados por pessoas da respectiva área cientifica e com experiência de docência. Muito me molesta que na minha área (história) ver os manuais a serem elaborados por economistas e sociólogos, e depois encontrar erros científicos que seriam de principiante para alguém da área.
Falou-se em tempos, de uma comissão para certificar os manuais, actualmente nem sei como isso está, creio haver algo do género mas não uma certificação oficial, não sei se estou correcto.
Tal como o Rui, para mim essa coisa de professor titular, quotas e géneros afins, são tretas, tratam-se de esquemas para reservar os lugares de topos aos amigalhaços.
Seria melhor um sistema em que as pessoas tivessem continuamente a ser avaliadas, avaliação séria e rigorosa mas não "vigiadas" e que periodicamente a quando da subida dos escalões, fosse feita uma retrospectiva do seu trabalho e junto uma avaliação teórica e prática, por alguém ou algo de forma isenta e descomprometida do poder. Assim os melhores iriam subindo progressivamente e os piores iam ficando na base da pirâmide, quanto aos péssimos, seriam afastados.
Mas isso também nos remete para outra questão, a formação universitária dos docentes, reduzir vagas e melhorar a qualidade, não formar professores como se fazem pães num forno em tiradas de 3 ou 5 anos com centenas de candidatos e sem contar que ainda temos o ensino privado.
Avaliar as universidades, os seus professores e criar regras contratuais claras para estes, por exemplo por concursos públicos, ao invés dos professores convidados que abundam e que por vezes podem nem ser bons profissionais.
creio que neste momento crucial tem que haver orientação e decisão por parte dos professores, definirem com clareza as regras do jogo, dizerem ao governo e à sociedade, o que defendemos é isto e as nossas reivindicações são aquilo, por isto e por aquilo. para de uma só vez, haver uma só voz a negociar com o governo.
Há que fazer entrar a sociedade nesta luta, no espaço que lhe deve estar reservado, que é o de pedir responsabilidades a quem as tem, de pedir medidas concretas e úteis e lutar contra a porcaria que se vem vindo a fazer no ensino nestes anos.
Prestes a sair da profissão (por "antiguidade")digo-lhe que:
Não me parece ter sentido a divisão na carreira. Os titulares são titulares de quê? Há bons e maus professores em todas as idades. Não tem qualquer sentido vedarem-se funções a excelentes profissionais porque são jovens; não tem sentido obrigar a desempenhar funções por "velhice".
A avaliação, como se tornou claro pelo processo encetado, não melhora a qualidade. A antiga avaliação não separava o trigo do joio nem ninguém estava interessado nisso. Pelo contrário. Facilitar a vidinha a gente que pouco punha os pés na escola, que nada se preocupava com os alunos era excelente porque se traduzia em apoios. As avaliações comportam sempre este lado - a troca de favores. Esta continuará a não poder fazer essa distinção trigo/joio. A distinção, aliás, tem pouco ou nenhum sentido. Ou melhor, joio há pouco e, se quem gere as escolas quisesse, distinguia-o com facilidade nos primeiros anos de actividade. Joio é o turista que atrás descrevi. De resto as pessoas têm diferentes qualidades e formações variadas e não há parâmetros que valham a isto. As escolas são também organismos diferenciados. O trabalho cooperativo permitirá os ajustes e os avanços mas este tipo de trabalho é absolutamente anulado por essas intenções avaliadoras e por uma estulta divisão. E a avaliação, tal como a divisão na carreira, pretenderam apenas reduzir gastos. Nada disto tem a ver com a qualidade do trabalho.
Os sindicatos vão gerindo as suas "oportunidades" mas não vejo o que uma ordem podia fazer neste contexto. O que são os lugares de topo nesta profissão? E a avaliação por externos distingue o quê e com que resultados?
E não sei o papel que estão a ter as "associações de professores de disciplinas". No que toca à matemática, será que a associação avaliza os formadores deste plano de formação que por aí anda? Se sim, está doente. Uma ordem resolvia estes problemas? Acho que não. Os formandos deviam ter um papel a cumprir mas, no sistema, sujeitam-se.
Todos estes processos apressados e em modo de faz de conta alimentam o desastre.
Como sou a favor da Meritocracia e da Justiça Social em simultâneo, parece-me ser a avaliação dos professores necessária. Mas é preciso fazê-la bem. E não se consegue de um dia para o outro, porque é a mentalidade, acredito eu.
Pela primeira vez na vida fui a uma manifestação. Fui à segunda grande manifestação de professores (à primeira não fui, porque era organizada pelos sindicatos). E ouvi coisas que me desgostaram. Em vez do discurso da bom senso e da argumentação, ouvi, entre os meus pares, o discurso do ódio, indigno de qualquer ser do século XXI, e muito menos em contexto europeu.
Não vou generalizar, evidentemente, mas isto não vai com greves ou afins, isto vai quando os professores tomarem a rédea do destino da escola. Nomeadamente, na elaboração de manuais, como já foi dito neste blogue, já não se aguentam os erros científicos.
Na minha opinião, há um sinal positivo: aproximar os diferentes níveis de ensino, desde a base, que começa a ser feito, até ao topo, que é necessáro fazer.
Há pouco li uma biografia de alguém que era filho de professora universitária (com todos os detalhes da faculdade e curso) e de professor do ensino secundário, (nem a área do pai é mencionada). Bem sei que foi na wikipédia, obviamente que não é de fiar, mas esta mentalidade existe.
Quem pesquisa está nas universidades. Seria importante mudar a mentalidade e acontecerem reais intercâmbios com os professores desde o 1º ano até ao final dos estudos universitários, para que estes últimos assumissem, juntamente com os outros colegas de ensino, o destino do ensino em Portugal. A interculturalidade é um bem para todos. E para mim o ensino é como a música, é uma linguagem universal que a todos diz respeito.
I have a dream?
Yes we can!
Vamos ver...
Caro Armando: Obrigado, uma vez mais, pelo seu contributo. Na verdade, nesta guerra de titãs ou de anões entre o ministério e a Plataforma Sindical, em que a política se fez dona e senhora, o mais importante quase se tornou acessório: a avaliação professores.
Diz o povo "que quem não deve não teme". Não é o caso. O ministério e a Plataforma Sindical devem aos professores, ou mesmo ao País, uma explicação para o facto de todos dizerem que querem avaliar e, outros tantos, jurarem a pés juntos que querem ser avaliados, mas...
E no mas é que reside o busílis de uma questão que corre o risco de se eternizar com os professores mais válidos a marcarem o passo no acesso a escalões superiores da carreira docente com a canga dos medíocres a pesarem-lhe nas costas. Ou seja (e aqui vai um outro dito da "vox populi"): "Paga o justo pelo pecador".
Quanto à Ordem dos Professores fico satisfeito que a sua criação, posta inicialmente de parte por si, agora mereça agora uma reflexão que entra no domínio das mihas dúvidas que se esbatem pela certeza de que o óptimo é inimigo do bom. Contentemo-nos com o bom, portanto!
Na antepenúltima linha do último §, há um "agora" repetido. Deve ser excluído um deles.
"setora": Quando nos metemos nos caminhos da educação , entra-se num labirinto de asneiras em que a saída se torna um verdadeiro quebra-cabeças, face ao “mare magnum” de asneiras de que enforma (ou fizeram enformar), por se tratar de raizes que apodrecem a árvore do Saber.
É trazida por si à colação as diferenças de formação dos professores. Fui dos que aplaudiu com as mãos ambas a elevação das escolas do antigo magistério primário a ensino superior politécnico para a formação de professores do 1.º do básico. Como pateio, agora, o seu desvirtuamento em escolas de formação para o 2.º ciclo, em competição com licenciaturas universitárias num “mercado de trabalho” já então saturado. Como se a diminuição da qualidade de formação dos docentes produzisse o verdadeiro milagre de melhorar a qualidade do ensino.
E o que dizer, então, das tentativa de Ana Benavente, ao tempo secretária de Estado da 5 de Outubro, em estender esta regalia aos diplomados pelas escolas superiores de educação, no que respeita ao 3.º ciclo do ensino básico? Em linguagem militar, sacode ela agora a água do capote, atirando-se contra a actual equipa ministerial da Educação pelos atentados cometidos na actualidade. Cheia de razão, não se desse o caso de estar a chorar sobre bilhas de leite começadas a derramar durante o seu consulado.
Mas até se compreende: quer ela, agora, iludir a realidade, porque “a maior paixão da humanidade é iludir a realidade”, segundo Freud. O mal deixou de estar verdadeiramente nela, mas no perigo que representa a sua recente nomeação para um alto cargo em que poderá continuar a dar asas à sua imaginação criativa...
De quando em vez surge uma voz no silêncio do disparate que nos alerta para o crime de lesa-pátria que se está a cometer no avivar de teorias educativas bem caracterizadas pelo seu perigo no livro de Nuno Crato, “O Eduquès em Discurso Directo” (Gradiva, 2006). Alerta que se perdeu no deserto da indiferença de todos nós, uns com mais responsabilidade neste “statu quo”, outros com menos. Mas todos responsáveis.
Falemos então na criação da Ordem dos Professores. Não se pense, nem eu nunca pensei, que a sua criação curaria de imediato a constipação que atacou o sistema educativo, mas seria um vasoconstritor de narinas entupidas com secreções de inoperância sindical. Aliás, entrando, por vezes, em questões que dizem respeito a uma ordem profissional, esquecendo o seu verdadeiro papel em criarem um clima propício que possa levar a bom porto os lídimos direitos dos professores que se não compaginam com manobras sindicais ziguezagueantes em que cada sindicato puxa para o lado dos seus interesses nem que para isso tenha que vender a alma ao diabo.
Tem absoluta razão quanto à formação dos professores do 2º ciclo pelas ESES. Pior do que supomos porque permitiu que alguns daqueles jovens que sempre odiaram matemática fizessem a sua formação para as línguas do 2º ciclo e fossem depois ser professores no 1º ciclo, pressupondo-se que vão abrir os caminhos nessa área. E os que sempre se debateram com dificuldades no português, fizeram a sua formação para a matemática e ciências do 2º ciclo e lá foram parar ao 1º iniciando, com pouca habilidade, a leitura e escrita. Alguns passaram rapidamente a efectivos e lá se encaminharam para o 2º ciclo nas respectivas áreas. A situação é má mas não se corrige com avaliação.Pode distribuir uns quantos prémios (por quotas) mas impede o trabalho que podia ir anulando todas estas insuficiências de base. E para que se pudesse melhorar aprendizagens havia que apostar no 1º ciclo.
Não falou nos problemas que levantei. O que são os lugares de topo no ensino básico e secundário? A avaliação externa dos professores servirá para quê? A Helena, defendendo o mérito, quer a avaliação. Ninguém se debruça sobre o que é isto de mérito na profissão e como se descobre.
As escolas são organismos diferenciados em função do espaço em que se inserem. E não há um modelo único para professor por mais parâmetros que queiram engendrar.
Não encontro papel para a Ordem a não ser que faça implodir o ME. Em 74 ainda fui na onda sindical mas depressa voltei para a praia.
"setora":
1 - Os lugares de topo são os lugares mais elevados de uma determinada hierarquia. Hierarquia que ainda apanhei e em que o topo era a letra A, para os licenciados, letra B, para os bacharéis e letra C, para os indivíduos com cursos médios, se a memória me não atraiçoa.
Com a publicação do novo (velho) Estatuto da Carreira Docente, promulgado, no tempo do então ministro Roberto Carneiro em período conturbado e numa Torre de Babel de negociações com trinta sindicatos e organizações afins de professores, os licenciados quedaram-se pelo 8.º escalão de uma carreira docente que passou a ter dez escalões, penando um certo tempo para chegarem ao respectivo topo: 10.º escalão.
Com a revisão do antigo estatuto do tempo de Roberto Carneiro assistiu-se, agora, ao aparecimento de um novo estatuto com um novo escalão para os professores-titulares a que terão acesso uns tantos privilegiados pela roda da fortuna,de entre eles, dirigentes sindicais, que vão subindo na hierarquia de uma forma facilitada que faz com que se agarrem à profissão de sindicalista (pois passou a tratar-se de uma verdadeira profissão) com unhas e dentes, enquanto juram que se sacrificam por a sua verdadeira vocação ser o ensino e aquilo que gostam de fazer na vida é dar aulas!
Poderíamos ainda falar dos bacharéis em que na carreira docente dos dez escalões o topo da respectiva carreira era o 9.º escalão, estando reservado o 10.º escalão apenas aos licenciados. Espreitando o furo legal de os diplomados com cursos médios terem sido equiparados a bacharéis,unicamente para efeitos de docência e prosseguimento de estudos, logo foram criadas, do dia para a noite, escolas privadas que, em negócio rendoso, transformaram muitos desses bacharelatos (gerados em barrigas de aluguer)em licenciaturas com planos de estudo com a duração de meia dúzia de meses.
2 - Falemos agora da avaliação externa dos professores e para que serve. Antes de mais, julgo que já escrevi isso em comentário anterior, serve para evitar que essa avaliação se faça em circuito fechado e em ambiente familiar onde os avaliadores de hoje possam ser os avaliado de amanhã e vice-versa. Todos os que vivemos o ambiente escolar sabemos que nas escolas se formam grupos com afinidades políticas ou de mera amizade que forçosamente podem retirar o clima de isenção tão necessário neste difícil e complexo processo. Ora, se para além de uma avaliação interna houver uma avaliação externa com avaliadores forrasteiros sem quaisquer ligações com os avaliados essa avaliação terá a garantia de uma avaliação mais isenta.
Outro assunto. Por mais voltas que se dê ao assunto, ou por mais que se doure a pílula, todos nós sabemos que unicamente numa sociedade robótica os professores poderão ser todos igualmente bons ou igualmente maus. Não sendo o caso, haverá uma diferenciação que merece ser contemplada para que distinga o mérito de cada um e, por via disso, a sua ascenção na carreira docente ou a sua retenção em escalões inferiores. Esse erro ocorreu com a extinção dos exames nacionais para alunos como forma de os não traumatizar com avaliações ocasionais que não davam a medida exacta do seu grau de aprendizagem. Este facto benefício os cábulas que nos trabalhos de grupo se encostavem ao alunos mais estudiosos para parasitarem o seu esforço. E desta forma os alunos, "como cão por vinha vindimada", passavam de ano sem nada saber.
3 - Chegou a vez de falarmos dos professores-titulares (para já uma aberração de nomenclatura que faz com que os dcentes sem essa "categoria" não usufruam do título de professor). Um autêntico disparate que teve o único mérito de fazer com que os que diziam, para esconderem a sua mediocridade, que os profesores eram todos iguailmente bons, reconheçam que há uns mais iguais do que outros. Ou seja, passando a dizer pelos corredores das escolas ou até publicamente que foram preteridos para o cargo de professores-titulares por colegas de menor habilitação académica e de de menor qualidade científica-pedagógica. Repito, a criação do cargo de professor-titular, foi para além de um desastrado erro de semântica, uma maneira desesperada de o ministério quebrar a espinha de uma certa homogeneidade profissional e criar a desavença entre parceiros da actividade docente.
4 - "Last but not least", deparo-me, mais uma vez, com dúvidas acrca da criação da Ordem dos Professores de que me tenho feito defensor. Quem quiser encontrar fundamentos para essa criação, poderá encontar, para além de inúmeros artigos e de um livro meu "Do Caos à Ordem dos Professores" (2004), neste blogue posts da minha autoria sobre esta temática.
Entretanto, numa espécie de aperitivo para essa pesquisa, lanço daqui a pergunta: tendo as ordens profissionais detractores entre a classe docente, como se explica, não só a existência de tantas ordens profissionais, como se perfilarem no horizonte a criação de novas ordens? Ainda recentemente foi criada a Ordem dos Psicólogos e os Assistentes Sociais forcejam no seu alcance.
Para não me repetir na história daquela mãe que ao ver o filho desfilar em vistosa parada com o passo trocado se vira orgulhosa para os circustantes dizendo que todos levam o passo trocado só o meu filho é que leva o passo certo, trago aqui uma outra história do género.
Roda um casal de velhinhos numa autoestrada quando ouve no rádio do carro: "Atenção,atenção!, circula na autoestrada Lisboa/Porto um automóvel em contramão". Vira-se, então, a mulher para o marido, exclamando: "Um? Todos!"
Prezada Helena:
É com prazer que me reencontro consigo para uma troca de impressões sobre esta temática.
Começo por encontrar concordância de opiniões quando diz ser a favor da Meritocracia e da Justiça Social. Infelizmente foram elas substituídas pela Mediocracia da igualdade entre desiguais. Como diz há que mudar rapidamente esta mentalidade que está a minar os alicerces de uma sociedade mais valiosa, mais justa e mais fraterna.
Comungo também do seu desencanto por um sindicalismo docente que se manifesta ruidosamente e com insultos à mistura como se a razão se aquilatasse em decibéis e grosserias que pouco dignificam uma classe por maior que seja a sua razão. Por não concordar com a adesão do Sindicato Nacional dos Professores Licenciados (de que fui presidente da respectiva assembleia geral durante anos que lhes perdi a conta) à Plataforma Sindical demiti-me desse cargo em Abril do ano passado.
Refere a Helena o caso de uma biografia em que é celebrada a profissão de professora universitária da mãe do biografado e como que secundarizada a profissão de professor do ensino secundário por parte do pai. Indo a época passada do antigo professor do liceu encontra-se entre ele e outras profissões desempenhadas igualmente por licenciados uma identificação de prestígio social, talvez com a excepção dos médicos por lidarem com a doença e serem a esperança na sua cura. Depois de 25 de Abril, assistiu-se a “professores” a darem aulas a alunos com habilitações que o não aconselhavam ou justificavam. Conta-se até o caso de um desses “professores” de uma determinada disciplina dizer no dia de apresentação aos alunos que lhe podiam fazer todas as perguntas sobre todos os assuntos menos aquelas que dissessem respeito à disciplina a leccionar! Tempos houve, nessa época, que certos sindicatos de professores dando aval a esta aberrante situação aceitavam a inscrição de indivíduos sem qualquer habilitação específica para o desempenho de funções docentes. Tudo isto criou na sociedade portuguesa o descrédito de uma profissão que mereceu o dito de “quem sabe faz, quem não sabe ensina”. Mudar esta mentalidade popular leva o seu tempo e muito se atrasa até quando para o ensino de um mesmo grau de ensino são admitidos licenciados por universidades e licenciados por escolas superiores em promiscuidade que não dignifica nem uns nem outros.
Termina o seu comentário parafraseando uma mensagem de esperança de Obama:”I have a dream? Yess you can!” Surge, agora, de si idêntica pergunta: “Eu tenho um sonho?”. Como escreveu alguém, “o sonho é a esperança do homem acordado”. E o pesadelo pelo qual os professores estão a passar será um sonho ou uma triste realidade?
Rectifico a citação que fiz de cor, nas derradeiras linhas do último § do meu comentário anterior, para: "A esperança é o sonho do homem acordado"
Rui Baptista,
Também é para mim um sincero prazer trocar impressões consigo.
"I Have a dream" é uma paráfrase de Martin Luther King, peço desculpa por não ter identificado.
Quanto à sua pergunta, esta porra (passo a expressão) é as duas coisas que na mesma enuncia:
- É um sonho, vivo momentos diários únicos com os alunos, na maioria das aulas, os miúdos são curiosíssimos (apesar das lacunas indiscutíveis)e são criativos, quando estimulados nesse sentido.
- É uma triste realidade - um pesadelo de papéis, - cargos administrativos estéreis, - horários desesperantes que põrm mesmo em causa a saúde dos professores, reuniões pouco relevantes ao fim dum dia de aulas, tudo somado, um enorme stress, à mistura com Encarregados de Educação, ora que querem ir para a frente com os filhos, ora marados (passo a expressão) de todo... e, completamente atroz, a crescente falta de qualidade dos textos e os erros científicos.
Assim, a minha resposta à sua pergunta final é: "o copo tanto pode estar meio-cheio como meio-vazio", depende da perspectiva.
A minha opção é, "malgré les mauvais momments", que o copo está meio cheio, senão vejamos:
1 - A mentalidade que discriminava, entre pares, os professores que trabalham está mais tolerante. Já não é tão necessários esconder o trabalho que se faz, até já se é, em algumas escolas, encorajado a trabalhar com qualidade.
2 - A permeabilidade dos professores entre o 2º ciclo e o secundário se, de início, me inquietou, agora estou encantada com tanta disponibilidade para aprender. E como tenho noção do trabalho a fazer nos anos posteriores, a tarefa do que se deve ensinar aos alunos fica imediatamente facilitada(defendo os Programas, assim como a necessidade de uma Ordem de Professores e Exames Nacionais Externos, supervisionados por entendidos dignos de confiança na matéria).
Conclusão: entre os "Requiem dos Sindicados" e o Requiem de Mozart, escolho o segundo.
PS - Já reparou na nova publicidade da Coca Cola? Dá que pensar.
Boa noite
Helena:Dos diálogos que tive o prazer de, em mais de uma ocasião, manter consigo extraí a ilação que é bem mais salutar, em nome da paz de espírito, trocar impressões em clima de cordialidade do que tornar uma ou outra divergência possível, entre quem se atreve a pensar pela própria cabeça num mundo de servilismo a certas conveniências, numa justa medieval em que as lanças se cruzam até um dos contendores ficar prostrado no solo. Razão teve Voltaire, quando escreveu: “A paixão de dominar é a mais terrível de todas as doenças do espírito humano”.
Depois há sempre algo a aprender, como eu aprendi consigo, por exemplo, ao ser-me facultada a autoria da mensagem de esperança (“I have a dream.Yes we can”), que finalizou, com a chave de ouro de uma homenagem póstuma a Martin Luther King, o momento solene do discurso de Barak Obama , na cerimónia de posse de presidente dos Estados Unidos da América, tido como o país mais poderoso do mundo, em recuperação de cicatrizes de um intolerável e doloroso racismo.
P.S.: Ainda não vi ou reparei no anúncio da Coca-Cola que refere. Prometo estar atento.
Cordialmente
A avaliação serve para que uns subam na carreira e outros não saiam da cepa torta - diz o Rui por outras palavras e disse a ministra.
O que é que isto tem a ver com maior qualidade no trabalho que fazemos? O erário será poupado mas todos os profes continuarão o seu bom ou mau trabalho num clima de isolamento e mal estar.Em vez de avaliação, melhor seria formação.
E como se determina o mérito? Professores com métodos diferentes e diferentes modos de se relacionarem com os alunos podem ter êxito idêntico na passagem do conhecimento. Não há um formato único.O espartilhamento paramétrico tem como consequência a castração, impede que se ouse encontrar caminhos. "Foste um bom robot hoje" será a pergunta para determinar o mérito?
Para além do conhecimento científico das matérias que se lecciona (entra aqui o problema da formação), esta profissão tem muito de arte. Há os artistas que o são desde o início e até ao fim da carreira e há os menos dotados que só poderão ir dominando a arte num clima de cooperação.
Que diabo, eu que sou velha tive professores excelentes, bons, satisfatórios e maus. Tive um ou dois que preferia não ter conhecido. Com todos os outros fui aprendendo qualquer coisa.
Será que o Rui e a Helena só tiveram excelentes professores?
Das Ordens sei que vêm da Idade Média mas conheço mal a história. Irei tentar arranjar tempo para ler os seus escritos sobre o assunto. Sei que a seguir ao 25 de Abril as poucas Ordens que havia foram abandonadas pelos "ordenados". E aqui, Rui, os problemas são semelhantes aos dos sindicatos - as quotas, as profissionalizações, ai, ai, ai. Lá houve reordenação e as Ordens saíram do coma.Inscrição obrigatória, quota elevada. Têm algumas funções que acabam por voltar-se contra o público cujos "ordenados" servem. Por exemplo o poder disciplinar - o médico erra, o advogado erra mas a Ordem é protectora.
Vou tentar instruir-me sobre o assunto.
"setora": Se outra vantagem não tivesse tido a discussão por mim levantada sobre a criação da Ordem dos Professores, uma pelo menos teve em promessa final sua: "Vou tentar instruir-me sobre o assunto".
Divisa-se, assim, no horizonte da indiferença daqueles que deviam pronunciar sobre esta temática, e o não fazem, uma nova esperança trazida pela sua tentativa que desejo que se concretize não caindo nas garras de procrastinação.
Todavia, para já, apenas, um breve, mas necessário, pedido de esclarecimento quando escreve: "Sei que seguir ao 25 de Abril as poucas Ordens que havia foram abandonadas pelos 'ordenados'".Não tenho elementos estatísticos que me permitam avaliar a extensão desse êxodo que, a ter-se verificado, trouxe como resultado o abandono da profissão. E aqui surge, outrossim, a dúvida sobre as razões que presidiram a esta situação.
Quanto à hipótese que levanta de tanto eu como a Helena só termos tido "excelentes professores", não tendo o direito de falar por ela, pela minha parte lhe digo que tive excelentes e péssimos professores. Esta uma realidade que os sindicatos não querem, ou não podem, reconhecer quando se opõem a toda e qualquer forma de avaliação que permita essa distinção. Distinção que, aliás, o professor é obrigado a fazer no que respeita aos respectivos alunos e que tem sido prostituída por um ensino, anterior ao secundário, em que eles passam, quer saibam ou não, para satisfação, apenas, do ego de governantes que vivem sob a sombra de um sucesso educativo não confirmado por confrontos com alunos de outros pontos do globo.
Uma questão não abordada, mas que considero de muita importância para o sucesso do aproveitamento escolar, depende de uma coisa tão simples como isto: a empatia que se estabelece entre o aluno e o respectivo professor. Qualidade que nasce com o indivíduo e se projecta na sua personalidade futura perseguindo-o como a sombra de si próprio quando caminha sob os raios solares.
Finalmente, penitencio-me por estar a argumentar mesmo antes da promessa que fez e que eu citei no 1.º§ deste meu comentário. Mas encontro o lenitivo de me não conseguir subtrair ao interesse apaixonado que me desperta tudo quanto se reporta à criação de uma Ordem dos Professores.
Cordialmente
P.S.: Não quero deixar de abordar a sua tirada final:"o médico erra,o advogado erra mas a Ordem é protectora". Julgo ser uma generalização, aliás como todas as generalizações perigosas que me leva à pergunta:a própria Escola não pode ser, e , por vezes, não é, ela própria, protectora quando passa uma esponja sobre certos actos menos recomendáveis do respectivo corpo docente? Se entramos pelo caminho das excepções teremos de tomar em atenção, também, os exemplos das ordens que castigam os seus membros, vedando-lhes até, o exercício profissinal para todo o sempre!
Só duas ou três coisas.
Os que abandonaram a Ordem a seguir ao 25 de Abril não abandonaram a profissão. As Ordens perderam sentido durante algum tempo, julgo que por colisão estatutária com a Constituição. Assunto a estudar.
Teve excelentes e péssimos professores. Já esperava que mo dissesse. E deve ter tido alguns menos extremados. A opinião dos seus colegas não será absolutamente coincidente com a sua. O que para si foi um excelente método para o colega do lado pode não ter sido como tal considerado. E não me responde ao problema - avalia e vamos imaginar que consegue distinguir - que faz depois? Fica com os excelentes e deita fora os outros? Ficam no sistema continuando a "ensinar" mas no fundo da carreira ainda com menor vontade de melhorar a performance?
E qual é a profissão que só tem profissionais excelentes? E nem está para aqui definida a excelência, nem conseguimos fazê-lo, julgo eu.
A ligação aos alunos foi abordada. Falei-lhe nos artistas. É aquele prof matemático que chega à escola, colocado no 2º ciclo, e dão-lhe um horário de ciências da natureza (os formados em biologia estão todos a leccionar matemática). Prepara-se rapidamente e faz o melhor que pode. Depois larga o ensino básico, vai para o superior - matemática aplicada à medicina e aí vai encontrar alunos que lhe dizem ter sido por sua causa que ali foram parar. Tinham sido seus alunos naquele ano já afastado em que leccionara ciências. Há artistas.
Quanto à protecção é verdade que generalizei. Mas conhece os casos de impedimento de exercício da profissão? O que foi preciso para que tal acontecesse? E quantas apreciações ligeiras das ordens redundaram em impedimento de justa reparação de utentes lesados?
Claro que também há escolas e serviços centrais do ME que protegem indevidamente ou fecham os olhos e assobiam para o lado quer em relação aos professores quer em relação aos próprios orgãos de gestão. Não há excelência. É a vida.
1 - Sobre a temática das ordens profissionais, retive a sua promessa: “Vou tentar instruir-me sobre o assunto”.
Costuma o bom povo dizer que “a rico não devas e a pobre não prometas”. Bem sei que sou apenas remediado. Será que o ditado da Roma Antiga, “vox populi, vox Dei”, não se aplica aos remediados, ficando eu, assim, excluído do cumprimento da sua promessa?
Partindo desta premissa, comecemos pelo princípio do seu comentário que julgo ter sido o “leitmotiv” das sua respostas ao meu “post”, entre elas, esta, quando escreve: “Os que abandonaram a Ordem a seguir ao 25 de Abril não perderam a profissão . As ordens perderam sentido durante algum tempo. Julgo que por colisão estatutária com a Constituição. Assunto a estudar”.
Vou tentar encaminhá-la nesse estudo. A datação “a seguir ao 25 de Abril” pressupõe que esse período de tempo se possa dilatar até aos nossos dias. Concedo que não tenha sido essa a sua intenção e que tenha buscado, em seu favor, o exemplo do “Processo Revolucionário em Curso” (PREC). Neste período conturbado (melhor dito, de verdadeiro regabofe) da vida portuguesa, até concedo (porque não tenho provas que sustentem ou deitem por terra a sua opinião) que possa ter havido casos em que “os que abandonaram a Ordem…não perderam a profissão”.
Mas esse facto nada teve a ver com uma “colisão estatutária com a Constituição”, num período em que se vivia o vazio de uma regra jurídica suprema da nação portuguesa, porque para haver colisão tem que haver duas coisa que se choquem entre si. Não era essa, portanto, a situação!
Só a partir da 25 de Abril de 76 passou a vigorar a nova Constituição da República Portuguesa (sujeita de lá para cá, a sete revisões) que estabeleceu o direito à criação de associações públicas (como é o caso das ordens profissionais), através do respectivo art.º 267, n.º 4, que passo a transcrever: “As associações públicas só podem ser constituídas para a satisfação de necessidades específicas, não podem exercer funções próprias das associações sindicais e tem organização interna baseada no respeito dos seus membros e na formação democrática dos seus órgão”. Este articulado legislativo continua em vigor.
2 - Mas o leito do rio da criação da Ordem dos Professores foi por si desviado do seu curso para a construção de uma barragem que alimenta outro tipo de discussão em caudal. Dissequemos os argumentos dessa discussão, um por um, salvo alguma omissão involuntária da minha parte. Na verdade, julguei estarem implícitos, entre as balizas dos excelentes e péssimos professores, os muito bons, os bons, os assim-assim, os medíocres e os maus. Faltará algum espécime de professores? Quanto às qualidades dos professores que fomos encontrando pela vida fora de estudantes, é-nos dada uma pista pelo escritor e professor norte-americano William Arthur Ward, quando escreve: “O professor medíocre diz, o bom professor explica, o professor superior demonstra , o grande professor inspira”!
3 – Diz que a opinião dos meus antigos colegas “não será coincidente com a minha”. Tem toda a razão. No caso do aluno aplicado a exigência do professor é uma qualidade; no caso do aluno cábula é um defeito.
4 – Defronta-me depois, com uma certa dose de maldadezinha, com o complexo problema da avaliação que está longe de encontrar uma solução que agrade a gregos e troianos nem uma resposta única por parted os “sábios” das ciências da educação nacionais ou estrangeiros. Mas é generosa para comigo quando me acha capaz de avaliar os professores, mas logo armadilha o meu caminho com outra pergunta: “Fica com os excelentes e deita fora os outros”? Claro que acho excelente para o sistema educativo que permaneçam os excelentes e que sejam afastados do ensino os professores, relatado nos jornais e vistos na televisão, assumidamente pedófilos ou que agridem selvaticamente os alunos mais jovens. Ou será que se deva conservar numa escola “inclusiva” todos os energúmenos que nela leccionam?
Vejamos o caso dos professores não atingidos por esta visão catastrófica da docência. Numa sociedade que preze o mérito, entendo que os bons professores devem ter acesso aos lugares cimeiros da respectiva carreira que serão vedados aqueles que fazem o frete de ensinar contando os anos, os meses, os dias, as horas e os segundos que lhes faltam para se reformarem. Com isto não estou a defender, vade retro!, a divisão da carreira em professores e professores- titulares, mas numa única carreira com prestação de provas públicas que separe o trigo do joio, não alimentando, como coisa de “laissez faire, laissez passer”, a mediocridade.
Repare que a antiga carreira docente tinha em mente fazer essa separação na passagem do 7.º para o 8.º escalão, mas logo desvirtuada pela passagem em massa d os professores independentemente do respectivo perfil de competência científica e pedagógica e de qualidades humanas. Vezes sem conta, tenho pedido ao ministério da Educação, num tempo em que os dados estatísticos parecem ser a sua preocupação, sobre a percentagem de professores que não atravessaram esse possível Cabo das Tormentas, logo transformado em Cabo da Boa-Esperança, sem ser pelo facto de se terem reformado ou falecido antes ou desistido simplesmente da profissão. Por aí poderíamos avaliar a justeza dos meus cálculos quando julgo não ultrapassarem o dígito, na melhor das hipóteses.
5 – Apresenta-me, bem a propósito, criticando cheia de razão o facto aberrante dos professores com diploma de licenciatura universitária em Matemática estarem a leccionar ciências da natureza no 2.º ciclo do básico e de professores licenciados em Biologia se encontrarem a ministrar a disciplina de matemática. Como é sabido, por uns e desconhecido por outros, a génese de tudo isto ficou-se a dever ao facto das escolas superiores de educação formarem docentes em 4 anos curriculares “aptos” a ministrarem simultaneamente matemática e ciências da natureza. Os 4 anos curriculares encontram-se seccionados da forma seguinte : 3 anos de tronco comum quer os alunos se destinem ao futuro ensino do 1.º ciclo (antigo ensino primário) quer se destinem ao ensino do 2.º ciclo (antigo ciclo preparatório) e, apenas , mais um ano (o quarto) para conseguir o milagre de capacitar esses alunos para num único ano poderem a vir leccionar matemática e ciências da natureza em paridade de “competência” com aqueles que seguiram a via universitária em que tiveram estudos com a duração de 5 anos para leccionarem Matemática “ou” Biologia, e não Matemática “e” Biologia Vai desculpar-me copiar a sua expressão bem a propósito: “Há artistas”.
6 – Quanto a penas de impedimento do exercício da profissão por expulsão das ordens profissionais elas estão cominados em lei. E as raríssimas excepções noticiadas publicamente, servem, quanto mais não seja, para confirmar a regra. Como reconhece e bem diz, também, os órgãos de gestão das escolas e o próprio Ministério da Educação assobiam muitas vezes para o lado em casos semelhantes. Vou-lhe, agora, roubar (embora por uma boa causa) outra expressão sua: “É a vida”.
Errata: Na 6.ª linha, a contar do fim, do número 4 do meu comentário, deverá ser substituido "sobre a percentagem" por, apenas, "a percentagem"
Começo por dizer-lhe que já encomendei o seu livro. Na próxima semana já o terei e espero ter tempo para o ler.
Há alguma demagogia no ponto 3. Bons alunos têm opiniões diferentes sobre o mesmo professor.
No ponto 4. levanta o problema dos profes que preferíamos que não existissem. Esses têm sido protegidos pelas hierarquias, pela própria inspecção. Não é necessário qualquer processo de avaliação para se detectarem e não é essa avaliação que vai excluí-los. Chama-lhes energúmenos e eu também. Mas há na hierarquia quem os defenda e promova - afirmo com segurança e provas.
Não era a estes que me referia, claro. Era aos outros, professores normais que no processo ficam fora da excelência.
A prova pública não resolve estes problemas, ainda por cima se houver quotas. Devo dizer-lhe que prestei prova pública para passar ao 8º escalão. Acrescento que tive a nota máxima - muito bom, na época. E explico-lhe que só me trouxe dificuldades. Ganhei as turmas mais complicadas, os piores horários,obstáculos de toda a ordem ao trabalho que fazia.
Também lhe conto que nessa altura uma colega, excelente professora, optou por não se apresentar à prova pública por se considerar incapaz (por timidez)de defrontar um júri. Esse crivo também não é fiável.
No ponto 5 há "erros" que serão explicáveis pela sua juventude. Antes dessas formações aberrantes promovidas pelas ESES já se baralhavam as "ciências". O caso que relatei passava-se com professores com licenciaturas universitárias em biologia que apenas leccionavam matemática, atirando-se os de matemática para as ciências da natureza. Esta cena é um pouco anterior a 1974.
A coisa vem de longe. Veja a quantidade de professores que sem nunca terem tido acesso a disciplinas de linguística e com a literatura portuguesa do ensino secundário são professores de português.
E mais esquisito ainda - vi hoje num teste, como introdução ao tema a desenvolver pelos alunos, aquele belo soneto "Amor é fogo que arde sem se ver" atribuído ao Fernando Pessoa. A professora está "habilitada" a trabalhar o português com o 3º ciclo e secundário.
Esquisitíssimo mesmo é ver aquela senhora professora de matemática, que ignora que sete meios é maior que a unidade, desconhece o significado de rigor de linguagem, andar por aí com o papel de formadora nesse plano de formação em curso. Esta vai ter com certeza excelente na avaliacão a que se candidatou.
É a vida.
“stora”:
Obrigado pelo seu comentário julgando poder deduzir da sua leitura, como diz a letra da canção de Rui Veloso, que são mais as coisas que nos unem do que aquelas que nos separam. Atrevimento meu?
Todavia, quando, no ponto 3, me acusa de alguma demagogia por ter escrito, segundo diz, “bons alunos têm opiniões diferentes sobre o mesmo professor”, entendo necessário o seguinte esclarecimento. O que eu escrevi, “ipsis verbis”, foi: “No caso do aluno aplicado a exigência do professor é uma qualidade; no caso do aluno cábula é um defeito”. Ou seja, um mesmo professor dando as mesmas aulas aos mesmo alunos é avaliado em perspectivas diametralmente opostas.
Quanto ao ponto 4 estamos ambos de pleno acordo sobre a protecção de que gozam certos energúmenos, “mas há na hierarquia quem os defenda e promova – afirmo com segurança e provas”, com escreve, tomando como exemplo a inspecção.
Escreve a dada altura que “a prova pública não resolve estes problemas, ainda por cima se houver quotas”. Gostaria que me fizesse a justiça de se lembrar que no meu comentário anterior escrevo, preto no branco, não concordar com a divisão da carreira docente entre professor e professor-titutular assim como não concordo com uma carreira docente que não premeie os melhores professores penalizando os piores. Como escreveu Cesare Cantú, “a democracia fundada sobre a igualdade absoluta é a mais absoluta prova de tirania”.
Quanto à justiça que deveria presidir (e nem sempre preside) num processo aleatório de avaliação (seja ela de professores, de alunos ou de qualquer outra espécie de avaliados) sofre, por vezes, daquilo para que Sófocles nos alertou: “Há um ponto em que até a justiça é injusta”. E é injusta porque posta em mãos em que a perfeição depende de condicionalismos inerentes à própria condição humana, ela própria imperfeita. Mas nada fazer naquilo que pode estar nas nossas mãos é deixar que os sindicatos façam por nós ou, melhor dito, pelos seus desígnios políticos, ou de qualquer outra natureza menos conveniente . Ora com escreveu o crítico literário Eugénio Lisboa: “Para tudo isto os sindicatos têm dado uma eficaz mãozinha, não raro intervindo, com desenvoltura, em áreas que não são, nem da sua vocação nem da sua competência”.
O caso que diz de haver professores licenciados em biologia a darem matemática e vice-versa, um mau exemplo, não justifica, ou deve justificar, o que se passa no ensino básico em que a matemática ministrada por diplomados pelas escolas superiores de educação tem motivado tratos de polé que se reflectem no estado lastimoso do rendimento dos alunos, motivando até uma espécie de reciclagem constante desses docentes para aprenderem o suficiente para ensinarem os seus alunos.
Mas esta situação má (eu diria mesmo péssima) preparação dos professores das letras, em que é atribuído, num teste ministrado aos alunos, a autoria dum soneto de Camões a Fernando Pessoa, vem a propósito a transcrição deste naco de prosa:
. “Como se avalia este professor, ouvido há tempo numa livraria: - Bom dia, queria a Aparição do Fernando Pessoa. - Desculpe do Vergílio Ferreira – Francamente, quer-me ensinar a mim que dou aulas de português há 15 anos? Há pessoas que não deviam estar em certos lugares.(Caricato??? Mas verdadeiro. È piada ainda hoje nessa livraria) Conversa entre mim e uma professora sobre a questão dos A.T.L. – haaaaa! Conheço-a bem (refere-se a Maria Montessori) ainda o ano passado estive com ela numa acção de formação. (incrível mas verdadeiro) conversa entre mim e a colega que dá a cadeira de Português – Não li os Contos Exemplares nem vou ler. Eles (alunos) que leiam. Já comprei um estudo de obra para lhes dar aquilo. – E como vais dar se nunca leste nem analisaste?- Da mesma forma que dei o Felizmente há luar, pelos resumos. (Sem comentários)”.
E aqui a Ordem dos Professores teria um papel importante na defesa da qualidade cientifica e pedagógica dos seus associados, a exemplo da Ordem dos Engenheiros que, com a sua acção em não permitir a inscrição de licenciados sem o devido preparo, impediu a continuação de cursos de engenharia feitos por “fax”. E é bom que se diga que essa ordem profissional não pode ser acusada de elitismo (na má acepção da palavra), porquanto permite a inscrição de uns tantos licenciados em engenharia por institutos politécnicos tendo vedado essa inscrição a um curso de engenharia ministrado na Universidade da Beira Interior. Essa inscrição veio a ser permitida depois de uma reformulação dos seus currículos supervisionada por ela.
Com respeito aos cursos de formação entendo deverem ser ministrados por professores que primeiro deviam ser formados, porque para ensinar há uma condição, “sine qua non”: Saber.
Mas o que dizer de cursos de formação, para subir na carreira docente, em que os professores de matemática chegaram a frequentar cursos de literatura, os de biologia cursos de música, os de francês cursos de educação visual, e por aí adiante?
Tudo isto foi possível, outrossim, por estes cursos de formação se terem tornado numa fonte de receita para os cofres dos sindicatos. E desta forma se justifica, como escreve, por exemplo, o caso que relata: “Esquisitíssimo mesmo é ver aquela senhora professora de matemática, que ignora que sete meios é maior que a unidade, desconhece o significado de rigor da linguagem, andar por aí com o papel de formadora nesse plano de formação em curso”.
Mas que melhor desfecho para esta troca de ideias, ou de experiências vividas no dia-a-dia da docência, que a transcrição final que encontrou para o seu comentário que deve merecer a atenção dos pais com filhos em idade escolar para que a escola pública se não degrade para além do razoável ou mesmo da decência: “Esta vai ter com certeza excelente naavaliação a que se candidatou”.
Mas que quer? É a vida, a vida que resistiu aos anos em que o aforismo secular está sempre presente. “Quem não tem padrinhos morre mouro”! Mas nada melhorará daqui para a frente? Apesar de tudo, como escreveu Vergilio Ferreira, “tenho esperança; é o que me vem sustentando: a esperança de que amanhã é que é”!
Ainda bem que tem esperança. Vou ler o seu livro e cá virei depois.
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