segunda-feira, 25 de maio de 2009

O Lego como brinquedo

O Lego foi inventado nos anos de 1930 pelo dinamarquês Ole Kirk Christiansen, que o apresentou como um brinquedo para "brincar bem”.

Trata-se, como toda a gente sabe, dum conceito inovador que se traduz num conjuntos de peças de encaixe que possibilitam inúmeras combinações, permitindo às crianças obter formas várias, em função da sua imaginação e/ou da reprodução que fazem do real.

Este brinquedo, originalmente de madeira, foi um sucesso logo nos primeiros anos da sua comercialização, sucesso que aumentou quando, na década de 50, passou a ser fabricado em plástico e em larga escala, tendo sido divulgado um pouco por todo o mundo.

Coincidiu esta divulgação com a aceitação generalizada de princípios educativos a que vulgarmente chamamos princípios da "pedagogia moderna".

Um desses princípios – que não é moderno, mas muito antigo –, afirma que as crianças aprendem melhor se lhe forem proporcionadas situações lúdicas. Luís António Verney, por exemplo, escreveu que “seria preferível o estudo entrar na cabeça dos meninos, sem parecer que estudam mas que se divertem.”.

Acresce que os anos de 1960 e seguintes foram muito marcados pela pedagogização do brinquedo. Estratégias comerciais e outras fizeram pais, avós, professores e educadores em geral acreditar que, caso os brinquedos tivessem certas e determinadas características, desenvolveriam a inteligência.

Ora, como os adultos estavam nessa altura, e ainda estão, legitimamente preocupados com o desenvolvimento da inteligência das crianças e jovens, o Lego foi rapidamente apropriado pela escola, desde os níveis mais básicos até à universidade, ainda que com fins diferentes.

Quando as crianças estão nos primeiros anos de escolaridade, o Lego é recomendado para estimular a concentração, a criatividade, a motricidade, a orientação espacial, a percepção, a cognição. Mas também se remete para o conhecimento do mundo, uma vez que incide na construção de objectos (torres, carros, comboios etc.) e de contextos físicos e sociais (cidades, estações de serviço, castelos). Isto no que diz respeito aos módulos mais tradicionais. Módulos mais recentes, criados a partir de histórias clássicas (como A pequena sereia, ou A rainha das neves), ou de histórias mais actuais (como Harry Potter) e de aventuras (como A guerra das estrelas), são recomendados para explorar aspectos linguísticos, morais, afectivos, emocionais...

Para anos de escolaridade avançados têm sido criadas, por exemplo, linhas tecnológicas específicas, para que os sujeitos adquiram ou aperfeiçoem competências de design ou de robótica, que requerem um grau de abstracção elevado. Nesta linhas, contam-se criações Lego bastante arrojadas, como aquelas que reproduzem obras de Maurits Cornelis Escher, com a que se pode ver na figura.
Mas voltando aos primeiros anos de aprendizagem, o que podemos dizer acerca da validade do Lego como brinquedo?

Ante de mais que, como brinquedo, apresenta uma mais-valia inquestionável que é aquela pela qual se afirmou: permitir que as crianças se confrontem com objectos inacabados, que os manipulem, construam e reconstruam, e que, neste exercício, testem ideias, inventem formas e, eventualmente, criem histórias…

Os aspectos questionáveis surgem quando transpomos este brinquedo e a sua lógica de brinquedo para o contexto de sala de aula, sem o integrarmos numa estratégia pedagógica estruturada, crendo que a exploração livre que a criança faz dele proporciona aprendizagens várias, nomeadamente as que se referem à matemática. Neste particular, parece-nos importante clarificar pelo menos três aspectos:

1. A recomendação por idades, que é uma das características do sistema Lego pode levantar problemas, se dermos à criança apenas o que se estabelece que é para a sua idade, não a deixando confrontar-se com desafios cognitivos e emocionais de idades mais avançadas;

2. É preciso ter bem presente que aprender em contexto de sala de aula é diferente de brincar. Nas aprendizagens formais é preciso recorrer a metodologias muito direccionadas para o que se pretende que os alunos saibam, devendo, neste caso, o ensino ser muito bem organizado em função dos conteúdos e nas competências que estão estabelecidas no currículo. A ideia de que se aprende a brincar, complementada com a ideia de que se brinca a trabalhar em actividades ligadas às aprendizagens formais, são muito discutíveis e não tem encontrado sustentação em estudos teóricos e empíricos. De facto, a aprendizagem implica esforço e trabalho, o que é muito diferente de brincar. É preferível apostar num modelo educativo que contemple tempos de aprendizagem e tempos de brincadeira. Tais tempos devem ser separados para que a criança tenha a noção de que há um espaço/tempo de trabalho e outro em que pode e tem o direito de brincar livremente.

3. Nos guias Lego para professores, faz-se frequente apelo ao aprender fazendo e aprender pela descoberta. O aprender fazendo faz sentido, pois sabemos que o treino/fazer é necessário, mas só se houver subjacente um objectivo muito preciso a orientar o que o aprendiz faz. Por outro lado, sabemos que a aprender pela descoberta, sobretudo se esta for deixada à iniciativa espontânea das crianças, se não for guiada pelo professor, tem muitas limitações.

Em suma, o Lego poderá contribuir para desenvolver certas aprendizagens escolares – no que respeita ao desenvolvimento de competências cognitivas, sociais e motoras, bem como à aquisição de conhecimentos em várias áreas disciplinares, nomeadamente na matemática – mas não podemos esquecer que estas aprendizagens desenvolvem-se com uma boa didáctica delas próprias. Didáctica que, ela sim, que poderá incluir o Lego e outros recursos.

Maria Helena Damião e Maria Isabel Festas

6 comentários:

roza disse...

olá. como comentário deixo 2 casos da minha educação:

o professor universitário de matemática (para arquitetos, 1º ano) que interrompia (e aliciava nesse sentido) a aula caso algum aluno trouxesse um problema daqueles que podem ser retirados de um caderno de quebra cabeças (sendo a real diversão uma questão de postura física, colectiva, experimental, contrária à individual, em relação com a avaliação)

todos os jogos da minha pré primária, no contexto joão-de-deus; jogos ainda de madeira, hoje em dia substituidos,que, ao que me contaram, parecem estar relacionados com quantidades, volume, etc... Guardo memória de "diversão", uma estranha diversão, é facto, mas a mamória é que gostava, era bom, do jogo tangram. Havia uma clara distinção entre brincadeiras "profanas" (fora da aula, altamente indisponíveis) e brincadeiras educativas.

Carlos Medina Ribeiro disse...

Julgo que, mais interessante ainda do que o Lego, é o saudoso Meccano.

Anónimo disse...

olha, ide-vos fuder.

Helena Ribeiro disse...

Por acaso sempre achei mais piada a "fuder" com "u" do que com "o": é muito mais expressivo.

Helena Ribeiro disse...

A respeito de brincar bem...

http://www.youtube.com/watch?v=e1f1Pl-qIWw

Anónimo disse...

Olá, gostaria de pedir licença para divulgar a loja virtual de brinquedos Casa China Online, www.casachinaonline.com.br Obrigado!!!

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