quinta-feira, 14 de maio de 2009
COMO CAMÕES E PEREIRA DA SILVA ESCREVERAM PORTUGAL NAS ESTRELAS
Informação recebida do Museu de Ciência da Universidade de Coimbra:
Canto V, Estância 14 d'Os Lusíadas:
Já descuberto tínhamos diante,
Lá no novo Hemisperio, nova estrela,
Não vista de outra gente, que, ignorante,
Alguns tempos esteve incerta dela.
Vimos a parte menos rutilante
E, por falta de estrelas, menos bela,
Do Pólo fixo, onde inda não se sabe
Que outra terra comece ou mar acabe.
O poeta d'Os Lusíadas atribuiu aos portugueses a descoberta de uma nova constelação. Historiadores internacionais desmentiram. Mas Luciano Pereira da Silva, um estudioso de Camões, tratou de inscrever o nome dos portugueses nas estrelas. Será que demos novos céus ao mundo?
É uma polémica de estrelas: além de novas terras, os portugueses terão também descoberto novos céus, mas o feito continua sem reunir consensos. Camões atribuiu a identificação da constelação Cruzeiro do Sul, que figura em bandeiras de países como o Brasil e a Austrália, aos marinheiros lusos, mas essa descoberta foi desmentida pelos historiadores. A 21 de Maio, os investigadores Carlota Simões e Luís Silva Pereira vão estar no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra (UC) para darem a conhecer a astronomia que está por detrás d'Os Lusíadas.
A sessão "Novos Céus" é a segunda de um ciclo de três conferências sobre a Ciência que povoa a obra portuguesa mais famosa de todos os tempos, depois de uma primeira palestra dedicada às "Novas Terras" que Os Lusíadas puseram a descoberto e que perduram no imaginário português, determinando ainda hoje a forma como viajamos. O ciclo "Camões, o Céu e a Terra" é organizado pelo Museu da Ciência da UC em parceria com o Centro Interuniversitário de Estudos Camonianos (CIEC). A entrada é gratuita.
"O mérito dos navegadores portugueses em relação a esta constelação foi posto em causa por Alexandre de Humboldt e pelos historiadores de Astronomia que o seguiram, ao afirmarem que a mais antiga referência ao Cruzeiro do Sul estaria numa carta de Andrea Corsali ao duque Julião de Medicis, a 6 de Janeiro de 1515", explica a matemática Carlota Simões.
Mas será que foram os portugueses os primeiros a identificar a constelação que permitiu aos navegadores orientarem-se no hemisfério sul? "A investigação que Luciano Pereira da Silva desenvolveu em torno da estância 14 do Canto V é decerto o ponto alto da sua obra A Astronomia dos Lusíadas, contestando opiniões que dominavam já a literatura internacional e demonstrando que foram de facto os marinheiros portugueses quem descobriu quer a constelação quer o seu uso náutico", defende a também professora da Universidade de Coimbra.
A tese de Luciano Pereira da Silva (1864 - 1926) foi publicada entre 1913 e 1915 na Revista da Universidade de Coimbra e está disponível na íntegra online. Neste trabalho, o matemático, que se notabilizou pelas obras sobre a história da navegação portuguesa, demonstra que "Camões tinha um conhecimento claro e seguro dos princípios da Astronomia, como ela se professava no seu tempo", directamente colhido na obra de outro dos portugueses mais notáveis de todos os tempos: o "Tratado da Sphera", de Pedro Nunes.
"Luís de Camões podia estar ao corrente das teorias de Copérnico, mas a concepção geocêntrica do universo servia-lhe maravilhosamente para cumprir, por um lado, com as exigências técnicas de um poema épico; e, por outro, como faz no canto X de Os Lusíadas, para formular poeticamente o destino radical do ser humano, uma filosofia do Amor e do Conhecimento, uma visão do destino de Portugal, uma concepção da História do mundo", refere, por outro lado, o investigador Luís Silva Pereira.
Professor de Literatura Portuguesa na Faculdade de Filosofia da Universidade Católica Portuguesa de Braga e especialista na obra camoniana, Luís da Silva Pereira tem-se destacado também como poeta e cronista. No âmbito da sua actividade literária foi já distinguido com os prémios Jornal de Notícias e Adolfo Simões Müller.
Licenciada em Matemática Pura pela Universidade de Coimbra, Carlota Simões é doutorada pela Universidade de Twente (Países Baixos). É professora auxiliar no Departamento de Matemática da UC.
Depois da sessão sobre os novos céus d'Os Lusíadas, o ciclo "Camões, o Céu e a Terra" prossegue a 24 de Junho às 16 horas com uma conferência dedicada às referências antropológicas da obra de Camões. Os convidados serão o antropólogo Luís Quintais, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, e o director do CIEC, José Carlos Seabra Pereira.
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1 comentário:
É possível a identificar a autoria da imagem de Luís de Camões apresentada neste post?
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