Novo texto sobre o ensino nacional de Rui Baptista:
[A educação] “é um desastre completo. Nem daqui a 30 ou 40 anos nos livramos dos erros que andamos a fazer hoje” (José da Silva Lopes, 2004).
Volto a abalançar-me a uma descida às profundezas do inferno do actual sistema educativo português. O estado calamitoso do ensino nacional é revelado, entre outros exemplos, pelas “Novas Oportunidades”, por mim apelidadas, em textos anteriores, de “Novos Oportunismos”, e pelas “Provas de Acesso ao Ensino Superior para Maiores de 23 anos”.
Isto porque as “Novas Oportunidades” são uma forma fácil de, em curto espaço de tempo, alcançar um papelucho com o imprimatur do Estado que se substitui a doze longos anos de estudo escolar, embora, também ele, hoje facilitado, mas sem tão grande escândalo e desfaçatez. Depois, para arrebanhar matéria-prima para o ensino superior (a exemplo do acontecido, em tempos, às portas das lojas lisboetas da Rua dos Fanqueiros, em que quase eram agarrados pelo braço os incautos transeuntes para nela fazerem as compras), surgem provas de acesso ao ensino superior, em substituição do 12.º ano do ensino secundário ou, até mesmo, dos antigos e sérios exames ad hoc.
Estas facilidades (somadas às vantagens concedidas aos atletas de alta competição para o ingresso na universidade) deram azo a que um jovem, apenas com o 5.º ano do ensino básico incompleto, entrasse no curso de Medicina - pela sua participação nos “Jogos Olímpicos de Pequim” – aquando do seu regresso ao torrão natal com as malas vazias de medalhas. Um “saber de experiência feito” em artes marciais será suficiente para a aquisição de conhecimentos básicos necessários à continuação de estudos em Física Médica ou Bioquímica, por exemplo, matérias de exigente estudo universitário?
Pelos vistos, para o ministério da tutela do ensino superior, chegam e sobram para fazer face à carência de alunos para o ensino superior privado, que criou perigosas metástases (com excepção de cursos dos Medicina, todos eles estatais), e que começa agora a criar enxaquecas ao ensino superior estatal que dificilmente cederão a simples aspirinas.
A propósito de aspirinas: Numa sessão realizada em Coimbra, quando se discutia o malfadado “Processo de Bolonha”, Adriano Moreira, com a seriedade de que reveste as suas intervenções, para denunciar o dislate de poderem ser encaradas licenciaturas com a duração de apenas três anos [como aliás viria a acontecer com a maioria dos cursos superiores], não se conteve em ironizar: "Se um médico, com três anos de formação, me receitasse uma aspirina eu não a tomava!” (Diário de Coimbra, 14.Dez.2004).
Chegado a esta altura é natural que o leitor se interrogue: Mas como é isto possível? A resposta é-nos dada pelo italiano Mario Perniola, professor de Estética na Universidade Tor Vergata de Roma, quando escreve:
”Os fautores da tradição, que apelam para os valores, para o classicismo, para o cânone, são postos fora de jogo por esses funâmbulos, esses equilibristas, esses acrobatas, que também querem ser eternizados no bronze e no mármore. E quem diz que o não conseguem? Há sempre uma caterva de ingénuos prontos a escrever a história da última idiotice, a solenizar as idiotices, a encontrar significados recônditos nas nulidades, a conceder entrada às imbecilidades no ensino de todas as ordens e graus, pensando que fazem obra democrática e progressista, que vão ao encontro dos jovens e do povo, que realizam a reunião da escola com a vida”.Ou seja, em Portugal e na Itália más fadas há!
Rui Baptista
32 comentários:
«Estas facilidades (somadas às vantagens concedidas aos atletas de alta competição para o ingresso na universidade) deram azo a que um jovem, apenas com o 5.º ano do ensino básico incompleto, entrasse no curso de Medicina - pela sua participação nos “Jogos Olímpicos de Pequim” – aquando do seu regresso ao torrão natal com as malas vazias de medalhas.»
Referência por favor.
Com exames nacionais obrigatórios acabava-se esta parvoíce, foi a possibilidade de se ter as notas das escolinhas privadas a contar, mais a treta das médias.
Não há nada mais injusto que um exame, mas mesmo assim é mais justo do que a alternativa que é : quem tem dinheiro tem bons estudos e quem não tem está entregue à sorte de calhar numa boa ou má escola.
Mas já no meu tempo era assim, eu fui colocado como a viver em casa da minha avó para estudar numa escola e não noutra. Por isso, sempre houve escolas muito melhores que outras, mas desde que o ensino particular distorceu as médias e as possibilidades de entrada, foi o fim, o dinheiro instalou-se como o verdadeiro critérios de distinção.
Mas…
Um curso de 5 anos tem no último ano imensas cadeiras para encher “chouriços” , e para subir as médias, enfim haja pachorra.
Quem inventou estas aldrabices ? quem criou cadeiras e mais cadeiras sem valor curricular só para engordar os cursos ?
Como num policial a pergunta é simples quem lucrou com tudo isto ? a resposta é claramente quem ensina, quem tirava doutoramentos para depois ter uma cadeirinha numa universidade que se multiplicaram como cogumelos.
Em Portugal houve o sub prime universitário, universidades de vão de escada vendidas a centenas de euros por mês. Houve até universidades que obrigavam à compra de portáteis, parece que todas as pessoas já se esqueceram. A promiscuidade, como sempre, enorme, a corrupção?? bem basta ver as Modernas e todos os escândalos do que se tem passado. Até o curso do PM... enfim. O que era preciso era um curso para se fazer parte da cunha nacional, cunha, corrupção e ensino são a base desta treta toda.
E todas as pessoas pactuaram com este sistema, ninguém teve a coragem de vir a público denunciar . porque ?
Porque estava tudo a mamar na teta da grande vaca publica e privada. Agora , com o fim da festa, a falência da mama, pode ser que finalmente apareçam por aí algumas vozes contra …mas duvido, ainda há muito taxo para distribuir.
Agora atribuir ás novas oportunidades o mal todos... o Mal nasceu muito antes, quando se abriu a caixa de pandora do ensino superior sem qualidade, agora como sair daqui ?
"Anónimo":A seu pedido, aqui vão as referências. Trata-se de Pedro Póvoa, atleta de "Tuewkwond", com diploma de estudos secundários obtidos através das "Novas Oportunidades".
O atleta em questão não entrou em Medecina entrou em Psicologia na Universidade do Minho, não tinha o 5 ano mas sim o 12 ano incompleto e tinha as especificas feitas por exame nacional para ingressar no curso de psicologia
Não estou a ver o problema de se abrirem oportunidades de entrada, desde que não se estrague a qualidade do ensino ministrado e uma avaliação justa.
Eugénio
Ainda não consegui verificar quer a informação do autor, quer a do picoa. (só sei que estuda ou estudou Psicologia na Universidade do Minho)
Até a agora o que consegui ver foi que o tal Pedro Póvoa realmente um atleta de nível mundial e não apenas um daqueles que foi aos olímpicos encher quota.
Obtive a informação daqui.
Ainda não consegui confirmar ou infirmar que o atleta em questão tenha "entrado" no curso de Medicina como o autor escreveu no artigo.
Peço assim mais uma vez ao autor o favor de nos apresentar uma referência que o comprove ou em alternativa que nos diga de onde obteve essa informação.
Obrigado.
E o maior problema com as mudanças no ensino é a criação de quadros superiores baratos e fáceis de recambiar ao sabor das necessidades de flexiblização, ou seja, de lucro do capital. Uma minoria poderá pagar os seus estudos e constituir uma elite privilegiada, dócil a servir e a justificar cientificamente quem lhe paga. Ainda uma camada intermédia, com o engodo poder de aceder a essa elite enfronha-se na competição com os pares.
Sugiro que vejam esta entrevista de Wim Wenders...
http://www.youtube.com/watch?v=nkaWzVQM2LU
Anónimo 14:27
CONCORDO!!!
Caro "Manel":Das coisas que mais me incomodam é cometer injustiças ainda que involuntárias. Assim, faço a seguinte correcção ao meu “post”: onde escrevi (3.ª linha,3.º §)"5.º ano do ensino básico incompleto", deve ser retirada a palavra "incompleto" que a revisão do texto por mim feita deixou passar. Ao atleta em causa e ao leitor, as minhas desculpas
Agora, por me ter sido por si pedida "uma referência que comprove ou em alternativa que nos diga onde obteve essa informação"[sobre a formação académica do atleta em causa], informação que antecipadamente agradece, fá-lo-ei sem antes esclarecer que nunca foi por mim desmerecida a categoria de nível internacional do atleta em causa. A sua participação nos Jogos Olímpicos o comprova.
Apenas, me referi ao facto (e contra factos não há argumentos, na voz do povo) do seu regresso "ao torrão natal com as malas vazias de medalhas". Como é óbvio, por ser referido no meu texto, referia-me ao regresso dos "Jogos Olímpicos de Pequim".
Entro agora no assunto das "Novas Oportunidades". As fontes de que me servi constam de imensos blogues (que poderá consultar) e que nunca mereceram desmentidos dignos de crédito. A seu pedido, dou-lhe uma referência: Blogue "5dias.net”, com o título "As maravilhas das novas oportunidades"(29.Dez.2008).
Tendo procurado fonte digna de crédito, "Site Oficial da Missão de Portugal aos Jogos da XXIX Olimpíada"(2008), verifiquei que dele consta a seguinte informação curricular académica: "aluno do Programa Novas Oportunidades (12.º ano)".
Por outro lado, no blogue "Taekuond (8.Fev.2008) é transcrita uma entrevista por si dada de que extraio esta parte: "Fiquei com algumas disciplinas do 12.º ano por fazer e vou tentar agora regressar ao programa 'Novas Oportunidades'.Quero entrar para a Universidade. E que curso gostaria de seguir? Gosto de psicologia, desporto, de informática e também tenho jeito para línguas. Por isso, ainda não sei. É algo que decidirei quando esse momento chegar". Da entrevista ficámos sem saber quantas disciplinas do 12.º ano lhe faltavam: uma, duas, muitas, todas? Mas por outro lado, ficámos a saber do seu eclético gosto por várias áreas do saber. Simples gosto ou reconhecimento das suas capacidades, pelo menos, para as línguas, ele o afirma?
Ao contrário do que consta em todos os blogues, quando se referem à sua entrada em Medicina, recentemente, leu-se que a sua escolha acabou por recair no Curso de Psicologia da Universidade do Minho, aliás curso que ocupa a primazia na referida entrevista, onde frequenta aulas do 1.º ano.
Entrada em Medicina ou em Psicologia pouco altera a chamada de atenção, ou mesmo crítica acérrima, que se fizeram a este “statu quo” na Net. E de que eu comungo por estarmos a assistir neste país que tão maltrata a Educação, a uma educação a duas velocidades. Meteórica e fácil para uns, e prolongada e difícil para outros. Querer saber é louvável, mas a ignorância ser avalizada com diplomas oficiais é outra que faz com que a deveres diferentes correspondam direitos iguais. Como diria Eça, “ora cebo”!
Se a intenção do ministério da Educação é (como parece) matar o ensino secundário oficial não deverá mantê-lo vivo à custa da máquina dos cuidados intensivos das “Novas Oportunidades”. Deve desligar a máquina que ainda o mantém numa vida quase vegetativa com a hemorragia que representam para a sua sobrevivência as “Novas Oportunidades” e a diminuição de natalidade.
Se é essa a intenção do ministério da Educação, repito, fechem-se as escolas do ensino secundário deste país, cada vez com menor população escolar, e lancem-se no mercado “novos oportunismos” para cujo ingresso se exige, apenas, um papel que ateste estar o candidato empregado nem que seja na fábrica do papá onde estacionam à porta carros de alta cilindrada do patrão e do filho/empregado ou do empregado/filho!
Outra sugestão, ainda: fechem-se as escolas do ensino secundário e das “novas oportunidades” em prol da fazenda pública. Para que mantê-las abertas com a despesa que implicam para os impostos que pagamos? “As provas de acesso ao ensino superior para maiores de 23 anos” farão o resto, embora desfalcadas de universidades privadas que fecharam sem antes terem distribuído diplomas de licenciatura (a.b., antes de Bolonha) como quem distribui promessas em vésperas eleitorais!
Há males com a responsabilidade de fazerem que "nem daqui a 30 ou 40 anos nos livremos dos erros que andamos a fazer hoje". E não me venham com a desculpa latina de que "errare humanum est". Nesta caso é verdadeiramente desumano!
Quem vai obter um grau através das Novas Oportunidades fá-lo porque, ou não teve possibilidades financeiras e sociais de o obter, ou teve uma escola pouco atractiva com funestos professores que só se preocupam com carreiras e o recibo ao fim do mês como, tudo indica, ainda abunda por aí.
O próprio mercado de trabalho saberá distinguir entre os "vários" tipos de 12º ano. Isso, claro está, só não se aplicará a cerca de 700 mil privilegiados neste país onde apenas serve o diploma e não a competência.
Se algum deles ingressar na Universidade ficará a marcar passo em todos os cursos realmente cruciais para o país (onde a matemática seja incontornável). Quanto aos outros cursos (das ditas "ciências" sociais e humanas) não causarão dano algum á sociedade, se alguma vez o terminarem numa dessa universidades de vão de escada (leia-se privadas e algumas públicas).
E no entanto, Rui Baptista, a Grécia parece-me que está sozinha... se vê notícias (para as más línguas, eu às vezes passo mais de uma semana sem ver televisão!)
Muito bem perspectivado, José Mesquita
Helena: Acabo de ver o vídeo que atribui uma das causas do 11 de Setembro ao ódio que se criou contra os Estados Unidos, através (cito de memória) do enorme fosso criado entre ricos e pobres.
Mas visto sobre a óptica do sistema educativo, julgo poder dizer que a maior pobreza é passar a um ignorante o diploma de uma sabedoria que não possui num país de faz-de-conta. E nesse aspecto os Estados Unidos são de uma prodigalidade ímpar. Haja em vista os cotados, na bolsa do saber, diplomas passados por Harvard, por exemplo, e os doutoramentos que vendem na Net e que não valem um tostão furado.
Ora, no caso português não posso deixar de dar razão a Vasco Pulido Valente, quando escreveu no “Público”:”A educação, objecto de tanto palavrório, passa moeda falsa: promete o mundo e não dá saber ou trabalho”.
Mas Helena, se quer que lhe diga, para mim o mais grave não é os candidatos a um diploma universitário entrarem pela porta de cavalo pelos claustros adentro do último reduto do saber (até se não quisermos acreditar naqueles que nos dizem ser hoje a Net ), a Universidade. Ainda que em amarras, muitas vezes, do modelo napoleónico na sua dificuldade em se auto-reformar. E quando se reforma à força nem sempre é pelas melhores razões.
Mas esta é uma discussão, qual caixa de Pandora, difícil de fechar depois de aberta. Temo mesmo que o infinito seja a sua fronteira. O que não invalida que se não deva encarar esta discussão já encetada e nunca terminada por outros, tantas vezes que já lhes perdi a conta.
Por fim sabemos ambos, a Helena e eu, que as excepções de alunos com preparação convenientemente certificada (muitas vezes suportada no autodidactismo), confirmam a regra dos diplomas das “Novas Oportunidades” que nãovalem um caracol.
Nem tudo é um mar de rosas, ainda mesmo no ensino regular das escolas secundárias, também elas, vítimas de orientações superiores de facilitismo curricular que levem a estatísticas ao serviço do sucesso escolar. Mais dia menos dia, temo mesmo que sejam criadas quotas a roçar os 100% para um sucesso escolar que nos aumente o ego nacionalista de sermos os melhores do mundo!
"José Mesquita": Perspectiva as "Novas Oportunidades" de uma forma interessante (embora julgue ser um tanto ou quanto eivada do discurso do coitadinho) quando escreve "quem vai obter um grau através das Novas Oportunidades fá-lo porque ou não teve possibilidades financeiras em o obter ou…” Acho desnecessário citar a alternativa que pode ser consultada no seu comentário.
Mas veja-se este mesmo problema à luz de uma outra óptica. Dois indivíduos em iguais condições financeiras à partida. Um deles limitou-se a tirar um curso médio, que lhe exigiu como condição de entrada o actual 9.º ano do básico (antigo 5.º ano dos liceus). Ao ser-lhe dada equivalência a um bacharelato, para prosseguimento de estudos dirige-se a uma escola privada onde obtém uma licenciatura em pouco mais de 6 meses (ou seja, em 4 anos da antiga primária, 5 anos de liceu, 2 anos de curso médio, e 6 meses de ensino superior, num total de onze anos e meio de escolaridade).
Confrontemos agora o seu caso com o de um seu colega que, quando o ensino era exigente, resolveu obter uma licenciatura: teve que voltar ao liceu para em mais dois anos obter o sétimo ano e depois de 5 anos de ensino superior obteve a sua licenciatura (o que perfaz 4 anos de ensino primário, sete anos de liceu, 2 anos de ensino médio, 5 anos de ensino superior num total de 18 anos a estudar a sério para ganhar o pão que o diabo amassou).
Nos filmes antigos era vulgar aparecer uma legenda que dizia o seguinte: “Qualquer semelhança com a realidade é pura ficção”. Ora estes dois casos são pura realidade, uma realidade que bem se ajusta às palavras de Fernando Pessoa: “É preciso violentar todo o sentimento de igualdade que sob o aspecto de justiça ideal tem paralisado tantas vontades e tantos génios, e que, aparentando salvaguardar a liberdade é a maior das injustiças e a pior das tiranias”.
A páginas tantas escreve no seu comentário: “Quanto aos outros cursos (das ditas "ciências" sociais e humanas) não causarão dano algum á sociedade, se alguma vez o terminarem numa dessa universidades de vão de escada (leia-se privadas e algumas públicas)”.
Reconheci no meu "post", e, logo, concordo consigo, haver cursos ditos “científicos (para utilizar os seus comas) que exigem bases matemáticas, físicas, químicas, etc, que a não existirem tornam um inferno dantesco o seu prosseguimento em áreas do conhecimento científico a nível universitário, com excepção de cursos de licenciatura em certas universidades privadas de triste memória que só tardiamente foram encerrados.
Seja como for, a discussão entre ciências moles e ciências duras levar-nos-ia muito longe com os seus licenciados a defenderem, com toda a razão e veemência, a sua capelinha com argumentos válidos tanto uns com outros. O próprio curso de Psicologia tem hoje um suporte biológico com incidência no complexo estudo do sistema nervoso muito forte carecedor de uma sólida preparação bioquímica, por exemplo.
Finalmente, achei oportuníssima a referência que faz “às universidades de vão de escada (privadas e algumas públicas)”, embora eu não generalize (aliás, as generalizações são sempre perigosas de se fazerem) o caso das privadas, podendo cometer com isso a injustiça tremenda de nelas poder incluir o Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), por exemplo.
Ou seja, há privadas que merecem confiança e há até uma com um estatuto, não sei se lhe hei-de chamar público/privado, que dá cartas no âmbito do prestígio alcançado quer em Portugal, quer no estrangeiro. Refiro-me, está bem de ver, à Universidade Católica Portuguesa.
E porque falei da Universidade Católica Portuguesa, trago aqui a opinião dum dos seus professores, de nome Sérgio Ribeiro, quando escreveu com amarga verve: “Onde antes havia uma pastelaria ou uma pequena mercearia, hoje tende a haver uma universidade ou uma escola superior, onde ontem se compravam pastéis de nata e garrafas de groselha, hoje conseguem-se licenciaturas e encomendam-se doutoramentos”. Para que me não seja pedida a fonte desta prosa tão caricatural, mas tão verdadeira, aqui a deixo: “Revista Exame”, 4.Nov.96”. é caso para dizer, mudam-se os tempos mas nem sempre se mudam as vontades!
Em relação ao vídeo… felizmente Obama: não me centrei no 11 de Setembro, que foi uma consequência óbvia da cretina política de Bush. Felizmente Obama, mas o fosso pobres/ricos é a base do problema, como diz Wim Wenders
Visto sobre a óptica do sistema educativo, concordo inteiramente com tudo o que aqui diz!
Caixa de Pandora: não tema que o infinito seja a fronteira, porque quando falamos de mitos, podemos estar a falar de “Universais Humanos”, e esses, (que já grande estranheza causaram a Luís de Camões - “Ah, estranha condição humana…”) são, felizmente, eternos - pelo menos enquanto a humanidade habitar este planeta nos moldes em que o conhecemos.- Dizem respeito a qualquer ser humano, em qualquer época, desde o início da civilização (grega). Por isso são tão estimulantes.
Não tenciono deixar esta discussão senão por motivos de força maior, que vão acontecer em breve e até ao fim das aulas e das reuniões do ensino básico. Depois disso, terei um ritmo de trabalho menos exigente e terei todo o gosto em continuar esta, ou outras, discussões / conversas.
Novas Oportunidades: pois, aqui tenho um problema, tenho um amigo com carreira artística responsável que está a fazer um excelente trabalho para obter conclusão do 12º ano, apesar de nem tanto lhe ser exigido… e eu não consigo libertar-me da minha experiência pessoal, porque também eu sou uma sobrevivente. Se em dada altura não houvesse ensino nocturno gratuito, eu não teria tirado a minha licenciatura.
Nem tudo é um Mar de Rosas. Então sente-se: no ensino secundário, em cursos profissionais, colocam-se professores de Português (e não só) a dar aulas de Turismo (Este curso tem licenciatura), sem livros, sem textos para os alunos que são… da pesada… sente-se ou ria-se, como queira!
É sempre um sincero prazer conversar consigo.
Boa noite
A prova do prazer que tmbém eu tenho em conversar consigo prova-se pelo interesse que me merecem as suas intervenções que me levam às minhas extensas respostas redigidas com muito gosto.
Uma boa noite também para si.
"Nuvens de fumo": Obrigado pelo seu comentário.
Dele retenho a seguinte frase:"o dinheiro instalou-se como o verdadeiro critério de distinção".
Já tenho escrito, e escrevo-o outra vez sem a preocupação de o fazer “ipsis verbis”: “ Infelizmente a deusa Minerva foi substituída pelo rei Midas”.
Em post anterior, publicado recentemente neste blogue, disso mesmo dou conta.Trata-se do post “A carestia do ensino superior em Portugal” (7.Maio.2009). Se bem me recordo, como diria Vitorino Nemésio, escreveu igualmente um comentário nele.
Mas onde põe mesmo o dedo na ferida é quando se refere à falta de exames que garantam a passagem dos diversos patamares do ensino com as matérias bem aprendidas(do 1.º para o 2.º, do 2.º para o 3.º ciclo, etc.) . Razão assiste a Saint-Exupèrie quando nos diz: “Se cada tijolo não estiver no seu lugar. Não haverá construção”.
E esta falha é tanto mais gritante porquanto o ministério da Educação empenha-se até ao paroxismo na avaliação dos professores e por outro lado, estranhamente, é tão permissivo em relação à avaliação dos alunos.
Eu até vou (e tenho-o escrito) mais longe. Advogo o regresso de exames de aptidão ao ensino superior como forma de democratizar esse ensino pondo-o ao serviço dos mais aptos que nem sempre são os que trazem as melhores classificações do secundário. Uns porque estiveram num ensino privado ou mesmo oficial mais permissivo em que a sua nota de 16, por exemplo, corresponde a um 12 de uma escola mais exigente.
Finalmente, que a madrugada já vai alta, julgo que me fará a justiça de reconhecer que não atribuo "às novas oportunidades o mal todo". Outros males há, como reconhece no seu comentário.
Mas todos os outros males do nosso ensino não invalidam que se diga ao povo que assiste ao cortejo dessas asneiras que o rei vai nu. As novas oportunidades vieram pôr em destaque essa nudez.
"Agora como sair daqui?", pergunta. Boa pergunta! A resposta imediata será evitar a instrumentalização política do sistema educativo, quer pelo governo, quer pelos partidos, quer pelos sindicatos, procurando gente capaz para tomar as rédeas de um ensino que não ensina.
"Nuvens de fumo": Tendo consultado agora o meu post "A carestia do ensino superior em Portugal", verifico não ter sido aí publicado nenhum comentário seu.
O que não invalida o facto deste seu comentário ter contribuído para uma mais ampla discussão encarada sob inúmeros pontos de vista por se tratar de uma temática da vida nacional, subalternizada por novos oportunismos com a chancela estatal que avaliza a sua bondade.
Voltando ao post original de R. Baptista:
Estranha-se que numa discussão que se pretende séria se inclua levianamente o factóide do tal lutador que teria entrado num curso de Medicina "pela sua participação nos JO de Pequim". Mais se estranha a crítica de escacha-pessegueiro, em que a modernidade é o descalabro total, em que tudo se resume à mensagem monocórdica de que bom era dantes, nos tempos que por definição só poderão voltar nos suspiros dos fadistas.
E o comentário de A. Moreira sobre Bolonha tampouco é para levar a sério, pois é evidente que nem o repescado corifeu do Estado Novo ignorará que em lado nenhum da Europa da "malfadada" Bolonha os médicos (mesmo os que apenas receitam aspirinas) somente tenham três anos de formação.
Alberto Sousa
Sobre educação, sugiro mais um vídeo:
- Reparem bem nas crianças e adolescentes
- Tenho para mim que a educação deve andar, também, próxima da alegria
http://www.youtube.com/watch?v=mcfcGsX-3bw
Há por aí alguém com vontade de escrever um post sobre música?
(sem querer fazer disto um "Post's Pedidos")
http://www.youtube.com/watch?v=dM7MwP5RpSQ
Desculpem o oportunismo, mas estou em convalescença...
Numa estação em Antuérpia.
Vocês dançariam?
http://www.youtube.com/watch?v=7XbeoqAS8Hw
Ainda o tema da ligação Ensino/Música, deixo-vos esta pérola: espero que apreciem tanto quanto eu!
http://www.youtube.com/watch?v=rEs1wtsw_IA
Mas o Inferno é directamente proporcional ao paraíso. "Estranha condição humana" (Luís de Camões)
http://www.youtube.com/watch?v=x_lqtkCXi6Y
Helena Ribeiro
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"Em relação ao vídeo… felizmente Obama: não me centrei no 11 de Setembro, que foi uma consequência óbvia da cretina política de Bush."
Foi e de muitos outros que andaram a brincar com o fogo ao semear a pobreza e ao afastar da educação as gerações futuras. Não é preciso ser-se um grande génio para perceber que quando condenamos à barbárie gerações inteiras não podemos esperar grandes resultados.
Se houver dinheiro e abundância com alguma tolerância e pouco fanatismo religioso , gera-se crime, gangs, zonas out limits como em África do Sul é um exemplo acabado. Basta passear em joanesburg e ver a segurança armada, as mansões patrulhadas etc
Se , como no caso destes países, não houver nenhuma tolerância e a esmagadora maioria da população for miserável e fundamentalista aparecem as madrassas, onde , desde do berço as crianças são instrumentalizadas e estupidificadas ao ponto de se quererem supliciar por um imã que naturalmente vive até provecta idade. Ele prefere conhecer o criador de forma natural…
Quanto a cá e à nossa educação, felizmente melhor que no Paquistão, é cada vez mais fraquinha. O futuro não será muito auspicioso , mas , dependendo da versão , o último mal da caixa para uns era a esperança, para outros esta lá ficou. Algo do género, divertido, ou nem por isso.
As novas oportunidades, e bolonha , vão ser um manjar dos deuses para muita gente (mais bolonha), que mais uma vez vai vender gato por lebre. Basta abrir o expresso e ver a miríade de mestrados que agora são oferecidos. Variam entre os simpáticos 2000, a 35.000 euros. Como se vê , já começou de novo a caça ao pato.
O problema, as usual, é que tem a inteligência financiada por amplas bolsas pode tirar os MBA com a sigla MIT, quem não puder … pudesse.
Mais fosso. Assim pressinto que vamos acabar mal.
Mas até lá, aconselho vivamente a todos e uma vez que o fim de tarde se afigura molhado, uma cervejita acompanhada de um belo prato de camarões. Não altera nada, mas vai dando algum alento. E é aproveitar enquanto se pode, que isto promete estar a acabar muito depressa e muito mal. Os camarões tb…
“Alberto Sousa”: Aceito o substantivo “factóite”(que utilizou)para definir a situação provocada por uma crónica no “Jornal de Notícias” , e logo transcrita em vários blogues e no meu post por arrastamento, que, apenas, peca, para já e até prova em contrário, por referenciar o curso seguido pelo atleta em causa como sendo o de Psicologia da Universidade do Minho e não o de Medicina, conforme consta das inúmeras fontes consultadas.
Mas desde já recuso o anátema de que o fiz “levianamente”, como diz no seu comentário, por ter escrito que a sua entrada em Medicina teria sido facultada “pela sua participação nos JO de Pequim”. Este um facto, e não uma simples opinião minha, salvaguardado pela legislação portuguesa e que tem sido uilizado por vários atletas de alta competição.
Se quiser ser isento, verificará que só estabeleço comparação entre o antigamente e o que se passa actualmente no nosso sistema de ensino quando me refiro ao exame "ad hoc" , que tive, e tenho, como um exame sério, e o facilitismo das provas de acesso ao ensino superior para maiores de 23 anos.
“Last but not least”, verificará que o comentário do Prof. Adriano Moreira (que, pelo andar da carruagem, me atrevo a dizer não lhe ter caído no goto) foi proferido de forma metafórica, quando se discutia o Processo de Bolonha, num contexto de ridendo castigat mores. Nada mais do que isso!
Com base numa (falsa) notícia propalada num blogue, Rui Baptista (vox blogi, vox dei, parece ser o seu lema) constrói uma verdadeira diatribe contra o Novas Oportunidades e acerca de Rui Póvoa. Chamado à pedra, RB reincide com aquela candura de quem assobia pro lado.
Concretamente, no caso de Rui Póvoa, RB devia ter pensado duas vezes antes de servir de megafone próprio ou alheio. Diz RB, inicialmente, que o atleta entrou para o ensino superior com o "5º ano do ensino básico incompleto". Depois, corrige-se, mandando retirar o "incompleto" que se deveria a um lapso de revisão (!). Fosse como fosse, tal afirmação só poderia basear-se num desconhecimento (o que parece ser o caso) flagrante da lei em vigor em matéria sobre a qual RB se arvora especialista, ou na ocorrência de fraude.
É que a lei, cristalinamente, impõe cumulativamente os seguintes requisitos para entrar no ensino superior, a saber: 1) titularidade de um curso secundário ou equivalente; 2) prova de capacidade para frequentar o curso superior, geralmente aferida por provas de ingresso cuja formulação é da competência do estabelecimento de ensino em questão; 3) preenchimento dos eventuais pré-requisitos.
Posteriormente, e depois de outra chamada à pedra, RB entra em relapso: "desde já recuso o anátema de que o fiz “levianamente”, como diz no seu comentário, por ter escrito que a sua entrada em Medicina teria sido facultada pela sua participação nos JO de Pequim”. Este um facto, e não uma simples opinião minha, salvaguardado pela legislação portuguesa e que tem sido uilizado por vários atletas de alta competição."
Ora, REPONDO A VERDADE, facto é que o atleta em causa (ou outro qualquer nas mesmas condições) não ingressou no ensino superior de mão beijada "pela sua participação nos JO de Pequim". Acontece é que os atletas de alta competição, vão ou não aos JO, gozam de um regime especial de acesso ao ensino superior, a par de outras categorias, como sejam:
1) funcionários diplomáticos e equiparados nacionais e estrangeiros e seus familiares; 2) oficiais do quadro permanente das forças armadas; 3) bolseiros dos PALOPs; 4) outros bolseiros nacionais e estrangeiros; 5) nacionais e fillhos de nacionais timorenses. Os integrantes destes grupos na sua totalidade nunca poderão concorrer a um número de vagas superior a 10% do total de vagas de cada estabelecimento de ensino.
MAS ATENÇÃO! Só poderão concorrer depois de 1) confirmarem que são titulares de um curso secundário e 2) depois de terem passado nas provas de ingresso. Aliás, as provas de ingresso que outra coisa são senão uma nova nomenclatura equivalente aos antigos exames de aptidão ou aos exames ad hoc. Se são mais fáceis ou difíceis, facilitados ou dificultados, isso é do foro de cada estabelecimento do ensino superior no exercício da sua autonomia administrativa e pedagógica (devidamente tutelada, evidentemente).
Insurge-se também RB, desabridamente, contra o Novas Oportunidades, que é, diz ele, "uma forma fácil de, em curto espaço de tempo, alcançar um papelucho com o imprimatur do Estado que se substitui a doze longos anos de estudo escolar". Ora, o Novas Oportunidades, em geral, está equacionado para quem não completou o ensino básico ou ensino de nível secundário e o queira fazer. Se leva mais ou menos tempo, tudo dependerá do nível de conhecimentos e do aproveitamente já obtidos pelo aluno. É basicamente o ensino recorrente sob novas roupagens e com novos incitamentos. E quem nega a necessidade de um ensino recorrente? E quem nega a necessidade de um reforço do ensino recorrente?
Finalmente, RB insurge-se contra as "provas de Acesso ao Ensino Superior para maiores de 23 anos”. Trata-se de um caso especialíssimo, aliás já previsto na Lei de Bases do Sistema Educativo, de 1986, que consagrou o acesso e ingresso no ensino superior aos indivíduos que não estando habilitados com um curso secundário ou equivalente, FAÇAM PROVA ESPECIALMENTE ADEQUADA DA CAPACIDADE para a sua frequência. Imaginemos o caso de um músico altamente dotado de 40 anos de idade e que não tem o curso secundário, mas com provas dadas de conhecimentos e aptidões suficientes para frequentar o Conservatório. Será razoável exigir que vá tirar o secundário antes de poder ingressar na escola superior de música?
Alberto Sousa
Alberto Sousa: Não sei o que o faz correr com tanto afã. Atrevo-me a pensar não ter sido, apenas, para enriquecer o latim com uma palavra criada em 1999 (“blog”) para substituir a palavra latina "populi". Veremos se a sua novidade faz escola a ponto de “blog” passar a ser substituída por "blogi"!
Com respeito à falsa notícia que diz eu ter propalado uma das fontes utilizadas foi a entrevista de Pedro Póvoa no "blogi" ("apud", Alberto Sousa)da modalidade desportiva que pratica. Por ela se ficou a saber, pelo próprio, estar a frequentar as Novas Oportunidades para satisfação do seu desejo de entrar na universidade num vasto leque de cursos para os quais se acha vocacionado.
Quando digo que o atleta entrou na universidade por ter participado nos “Jogos Olímpicos”, logo esclareço que a entrada de atletas de alta competição no ensino superior, em condições especiais, está legislada. Não é possível os participantes nos Jogos Olímpicos não serem atletas de alta competição. Já o caso inverso sucede muitas vezes: um atleta de alta competição não participar nos Jogos Olímpicos por não ter satisfeito os minímos estabelecidos para o efeito.
Quanto às Novas Oportunidades seriam uma forma válida de ensino não se desse o facilitismo de que se reveste. Arranjar uma equivalência ao 12.º ano em 6 meses não me parece ser o paradigma de um ensino difícil, aliás, com a concordância dos comentários anteriores não subscritos por si.
Agora querer comparar a dificuldade dos antigos exames de aptidão ou "ad hoc" às provas de acesso para maiores de 23 anos feitas ,"ad libitum", pelas escolas superiores é partir da seriedade de todas essas escolas, inclusivamente de algumas privadas que foram encerradas pelo facilitismo do seu ensino em consentir que algumas das suas provas de fossem enviadas via "fax".
Para que esta sua opinião tivesse algum suporte seria necessário que a concorrência actual ao ensino superior fosse de tal maneira grande que houvesse que fazer uma exigente triagem dos melhores candidatos através de uma dificultada prova chamada “Acesso ao Ensino Superior para Maiores de 23 anos”, por o exame “ad hoc”, que veio substituir ser de uma facilidade “infantil".
Por outro lado, acho que nesta altura os argumentos apresentados já foram repetidos até à exaustão cabendo, agora, aos leitores tirar as ilações pertinentes. Valeu?
4.ª linha do 1.º §:substituído
Tenho um colega que tinha a 5ª classe, fez o RVCC e tirou o 9º ano, depois concorreu para o ensino superior pelos concursos especiais para maiores de 23 anos e entrou no privado com opção de 3 cursos superiores...inciou o primeiro, não conseguiu fazer nenhuma disciplina, iniciou o 2º curso e lá conseguiu umas equivalencias de umas formações que levava...e concluiu 2 disciplinas e finalmente desistiu...mas garante a "quatro ventos" que por ter estas disciplinas concluídas adquiriu a equivalência ao 12º ano de escolaridade.
A mim discordo plenamente com esta concepção...a própria lei que preceitua o acesso ao ensino superior pela modalidade dos maiores de 23 anos, preceita que este acesso não dá equivalência a nenhum grau de ensino, como é óbvio só após a aprovação em todas as disciplinas do ensino superior a pessoa obterá o certificado de licenciado.
Alguém sabe se de facto é verdade esta equivalência ao 12º ano?
Ana Luisa
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