Mais um post convidado de J. Norberto Pires:
O CB2 é um robô criado por cientistas japoneses com o objectivo de estudar o processo de aprendizagem nos humanos. É um projecto muito interessante onde se mistura robótica com psicologia, estudo sistemático do processo de aprendizagem, etc., e que abre um vasto campo de debate sobre o futuro e sobre a nossa relação com máquinas.
O "nascimento" do CB2 - um nome pouco inspirado que corresponde à sigla inglês para "Bebé- -robô com corpo biométrico" - é sobretudo um passo em frente na robótica, uma área em que o Japão tem dado cartas nos últimos anos.
Aliás, a primeira versão do CB2 foi apresentada ao mundo em 2007, mas desde então o bebé cresceu e aprendeu a andar graças aos seus 51 músculos mecânicos, ainda que só com ajuda dos seus "pais humanos".
O CB2, que mede 130 centímetros e pesa 33 quilogramas, também já capaz de "sentir" o contacto humano graças aos seus sensores e reconhecer expressões faciais com os seus olhos, duas sofisticadas câmaras. Esse era aliás um dos objectivos da equipa da Universidade de Osaka, que inclui engenheiros, neurologistas, psicólogos e outros especialistas: que ele aprendesse a ler as expressões faciais e identificá-las como resultado de emoções como a alegria ou tristeza.
"O nosso objectivo é estudar o desenvolvimento humano para compreender melhor como uma criança aprende a falar, reconhecer os objectos e comunicar com os pais", explicou Minoru Asada, o líder da equipa, citado pela AFP.
"Os bebés e as crianças têm programas muito, muito limitados. Mas têm capacidade para aprender mais", salienta. Ou seja, os cientistas esperam que o pequeno robô seja capaz de aprender como um bebé.
Minoru Asada acredita que os progressos conseguidos com CB2 deixam-nos um passo mais perto da existência de robôs humanóides com a capacidade de pensarem por si próprios. Um cenário que é considerado um sonho por uns e uma ameaça por outros.
Tecnicamente muito interessante, e um excelente desafio científico, o CB2 coloca de facto um debate importante que é necessário saber fazer. As máquinas inteligentes, com capacidades cognitívas, são cada vez mais uma realidade que temos de ser capazes de integrar no nosso dia-a-dia. A ciência, aliada à nossa inesgotável vontade e capacidade de desvendar os segredos da natureza, permite-nos estas realizações que de alguma forma colocam em causa muitas coisas que tinhamos como seguras e imutáveis.
J. Norberto Pires
sexta-feira, 8 de maio de 2009
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7 comentários:
A questão não está na cognição, mas sim na sensação!
A capacidade cognitiva é muitíssimo mais fácil de emular do que a puramente humana capacidade de sentir, pois é essa que verdadeiramente nos distingue uma vez que é indissociável da mais primordial consciência de si.
Por isso, como muitíssimo bem salienta Damásio, antes do "penso, logo existo" há o mais importante e básico "sinto, logo existo".
O HAL 9000 de "Odisseia no Espaço" pretendia, de certa forma, emular as emoções humanas, para além de as compreender. Logo, a existência de robots super inteligentes não é o desafio real, mas provê-los dos sentimentos próprios de um ser vivo é que pode colocar a questão acerca da natureza da nossa própria humanidade.
Ora, quanto tempo ainda nos falta para dotarmos o mais sofisticado robot ou computador com uma ínfima fracção da capacidade intelectual de uma simples recém-nascido, cujo potencial de aprendizagem é literalmente infinito!
Em suma: a inteligência é comparativamente fácil de imitar, já que ela é um atributo universal de toda a matéria - ainda que isto permaneça um "tabu" científico para mentes de vistas curtas e preconceitos tacanhos. Mas a excelsa qualidade de "sentir" será alguma vez possível de se poder reproduzir?!
É um facto inegável que a moderna civilização oferece conforto material e um impressionante grau de desenvolvimento científico e tecnológico (dos sistemas de comunicação (rápida) à melhoria das condições higiénicas e sanitárias, etc.) à maioria da população mundial, junto com a disseminação do conhecimento.
A possibilidade de virmos a poder colonizar outros planetas poderá não estar muito longe; das profundezas do oceano às regiões polares não cartografadas, das impenetráveis florestas tropicais às fronteiras do espaço, as nossas explorações estão a avançar por todo o lado; do mundo microscópico dos átomos e partículas atómicas ao mundo macroscópico das galáxias e constelações, a nossa compreensão está em expansão, parecendo que nos estamos a aproximar da realização da Idade do Ouro visionada por poetas e artistas, profetas e pensadores utópicos, através da história.
Mas, apesar disso, quando observamos com maior atenção aquilo que nos rodeia, notamos que há cada vez mais doença em lugar de saúde, caos em vez de estabilidade, guerra [terrorismo] em vez de paz, pobreza no lugar de prosperidade, infelicidade em vez de felicidade. E isto, porque os grandes gastos da maioria dos governos e programas públicos não estão a ser aplicados no desenvolvimento criativo do potencial humano, mas antes, e simplesmente, a serem usados em medidas que são ameaças declaradas ao modo de vida moderno.[O que foi dito atrás é a interpretação e a chamada de atenção, de um pensador japonês (Michio Kushi), para os perigos em que incorremos se deixarmos que a mainstream e as elites mundiais, que só vêem (uma maneira generalista de dizer) o lado mais material(ista) e economicista das relações e das aspirações humanas, conseguirem levar avante os seus intentos... como temos vindo a assistir, aliás.]
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Uma coisa que me faz espécie, na mentalidade dos investigadores (em geral), é a «inesgotável vontade» de quererem compreender tudo (e sobretudo, de quererem ensinar tudo – da literatura light dos novos «gurus» da arte de «ensinar a viver» (a ciência da felicidade da nova filosofia desnorteada), aliada à sofisticada parafernália académica de tudo querer explicar e empreender, na tentativa, ainda que honesta, de «(re)alcançar o Éden»…). No entanto, nem o discurso nem o método têm (de)mo(n)strado que estamos a evoluir (enquanto seres humanos); bem pelo contrário, como prova o CB2 e tantos outros exemplos de «desvio» ao que há de mais «sagrado» em nós, a nossa humanidade/divindade, a Humanidade encontra-se num labirinto em que cada vez mais se torna difícil encontrar a saída (para esta situação da artificialidade progressiva do humano). Será bom, será mau?
Quanto ao discurso da elite (a que chamo falsa, pseudo- ou contra-, como queiram) dominante do/no mundo moderno, positivista (e mesmo relativista), ele tem-se revelado no conhecido alienar das massas pelas palavras de ordem do progresso (e das ideologias) que, em vez de nos aproximar, como uma grande família planetária, nos fornece, pelo contrário, as estatísticas e os números (reais) dos «fossos» que, em lugar de diminuir, são cada vez mais «injustos»…
Por seu lado, o método vigente (do ver para (poder) crer), que nos permite «estas realizações que de alguma forma colocam em causa muitas coisas que tinhamos como seguras e imutáveis», não passa da aplicação, perante o deslumbramento de uma criança (a Humanidade na sua fase/idade mental infantil), da «magia» de novas experiências num qualquer laboratório de uma escola secundária… pondo constantemente em causa (ou não), assim, o que se tinha como adquirido numa experiência anterior... É um método, sim senhor, mas não haverá (pergunto eu) um outro método que nos possa dar certezas (imutáveis e seguras) com que possamos olhar a natureza e o cosmo (onde nos encontramos) como um todo de que fazemos parte e, através dele, conseguirmos o bem-estar físico, mental, social e espiritual? Esta é a primeira questão que fica para o debate (embora saiba que ele já está ganho pela «prole» dos nascituros CB* -- pelo menos por ora!…).
Segunda questão: não seria melhor que as quantias astronómicas assim dispendidas fossem canalizadas para a resolução de problemas, aqui e agora (na redução dos «fossos»), em vez de gastas em parafernália que vai, constantemente, alargando esses mesmos «fossos», para além de outras questões já apontadas anteriormente?
Por fim, o que é que será (ou seria) melhor para as gerações vindouras: roupas inteligentes – com telemóvel/computador integrado, impermeáveis aos odores, and so on -- e elas próprias já com «chips» à medida do conhecimento/competências a adquirir… incrustados algures nesse outro labirinto que é o cérebro humano (qual CBfinal) dando, assim, a possibilidade de os pais estarem sempre on-line (mais ou menos como o que se passa hoje com os telemóveis), ou, pelo contrário, fazermos um passeio pela natureza (da «Estrela» aos Himalaias) e explicar-lhes, por exemplo, a «mística» das abelhas, os contornos da «Águia» ou as causas e consequências de «El Niño», ou mesmo ficarmos calados perante uma pergunta mais desconcertante (sem se ter que recorrer, constantemente, ao capricho de quem escreve na «omni-pédia» (passada, presente e «futura») --, i.e., a mainstream? (Isto é ficção, com certeza, mas já agora… acho que valeria a pena pensar nisto…).
«mas não haverá (pergunto eu) um outro método que nos possa dar certezas (imutáveis e seguras) com que possamos olhar a natureza e o cosmo (onde nos encontramos) como um todo de que fazemos parte e, através dele, conseguirmos o bem-estar físico, mental, social e espiritual? »
Sim. Chama-se religião e para quem se contenta com tretas dá ou pode dar tudo aquilo que quer, mas infelizmente são falsidades ou coisas de veracidade duvidosa.
«Segunda questão: não seria melhor que as quantias astronómicas assim dispendidas fossem canalizadas para a resolução de problemas, aqui e agora (na redução dos «fossos»), em vez de gastas em parafernália que vai, constantemente, alargando esses mesmos «fossos», para além de outras questões já apontadas anteriormente?»
Não.
Quanto à resposta à primeira questão (embora não saiba como deva entender em que sentido empregas a palavra «religião» -- o que seja (essa tal) religião, no fundo), compreendi a segunda parte; quanto à segunda resposta, poderias desenvolver, sff, os fundamentos que te levaram a responderes, perentoriamente, «não»?
"sff, os fundamentos que te levaram a responderes, perentoriamente, «não»?"
Vários milénios de tentativas falhadas vs poucos séculos da tentativa corrente.
A primeira alternativa está esgotada, pelo menos até a segunda se esgotar tanto.
Depois é enxugar e repetir o ciclo.
Não percebi... mas o ser humano não está a evoluir e não poderá, eventualmente, com a colaboração de todos (utopia, com certeza) ou uma grande parte -- melhor --, encaminhar-se para uma sociedade mais justa?
Isso das «máquinas inteligentes» é uma afirmação equívoca. O que a inteligência artificial nos veio mostrar é que não existe inteligência artificial. Portanto, qualquer estudo que se proceda sobre mecanismos de inteligência que tem por base um sistema binário nega a própria inteligência. A inteligência é carne!
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