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terça-feira, 29 de outubro de 2019

Ainda sobre os incêndios

Recentemente foi publicado na revista Algarve Vivo, o meu texto Incêndios: entre a tragédia e a oportunidade, em que defendo que uma das soluções possíveis passa por actuar simultaneamente em três níveis: individual, político e colectivo. No mesmo texto dou exemplos do que se pode fazer e do que já está a ser feito.

Créditos: Pixabay

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

FRONTEIRAS DA CIÊNCIA EM COIMBRA


Comunicado de imprensa do Rómulo:

“Fronteiras da Ciência” é o novo ciclo de palestras destinadas ao público em geral que decorrerão no Rómulo Centro Ciência Viva da Universidade, entre 25 de Fevereiro e 15 de Julho do corrente ano. Esta iniciativa do Rómulo - Centro Ciência Viva da Universidade está ser coordenada por António Piedade, Bioquímico e Comunicador de Ciência.

Com este ciclo, constituído por 11 palestras, pretende-se dar a conhecer aos cidadãos interessados o estado actual do conhecimento científico em diversas áreas da ciência como sejam a Física, a Química, a Biologia, a Matemática, a Astronomia, a Antropologia, a Genética e a Saúde Humana. É um convite a uma viagem pelas fronteiras do conhecimento científico. Os palestrantes, convidados pelo Rómulo - Centro Ciência Viva da Universidade, são cientistas reconhecidos nacional e internacionalmente pela excelência da sua investigação científica e são também excelentes comunicadores da sua ciência ao grande público. Ao longo do ciclo, serão apresentados, numa linguagem acessível a todos, os desafios com que se deparam os cientistas das diversas áreas atrás indicadas e destacados os contributos para o nosso dia-a-dia resultantes do avanço do conhecimento científico.

É indicado a seguir a data de cada uma das palestras, o título e nome do respectivo palestrante:

 25 de Fevereiro – “Biogeografia da Cor”, por Jorge Paiva, Biólogo, Investigador no Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, galardoado com o Grande Prémio Ciência Viva 2014.

11 de Março – "Desafios da Química no século XXI”, por Paulo Ribeiro-Claro, Químico, Professor no Departamento de Química da Universidade de Aveiro.

 07 de Abril - “Determinismo e susceptibilidade: duas caras na fronteira da nova genética”, por Claudio E. Sunkel, Geneticista, Diretor do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) e Vice-diretor do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S).

 21 de Abril – “Neuroestimulação: o bom, o mau e o desconhecido”, por Alexandre Castro Caldas, Neurocientista, Director do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa, foi até 2004 Professor Catedrático de Neurologia na Faculdade de Medicina de Lisboa e Director do Serviço de Neurologia do Hospital de Santa Maria em Lisboa.

 28 de Abril – "Onde estão hoje as fronteiras da Física? Da matéria e energia escura aos sistemas complexos", por Carlos Fiolhais, Físico, Professor Catedrático do Departamento de Física da Universidade de Coimbra e Director do Rómulo - Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra

05 de Maio - "Um ESPRESSO para outros planetas", por Nuno Cardoso Santos, Astrónomo, investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço e Professor da Universidade do Porto.

19 de Maio – "Apesar de tudo, a vida é feita de moléculas", por Miguel Castanho, Bioquímico, é Professor Catedrático de Bioquímica na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, desde 2007, e sub-diretor desde 2011. Coordena o Instituto de Medicina Molecular. É Vice-Presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).

02 de Junho – “Viajar com os ossos: da nossa história natural à resolução de casos criminais”, por Eugénia Cunha, Antropóloga, Professora Catedrática do Departamento de Ciências da Vida da Universidade de Coimbra e investigadora do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra.

16 de Junho – "Matemática para o século XXI", por Jorge Buescu, Matemático, Professor Associado com Agregação na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e Vice-Presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática.

 01 de Julho – “Melhoramento Humano”, por Alexandre Quintanilha, Físico e Biólogo, Professor Catedrático Jubilado da Universidade do Porto, investigador do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S). Deputado na Assembleia da República onde preside à Comissão de Educação e Ciência.

15 de Julho – “Envelhecimento”, por Miguel Godinho Ferreira, Biólogo Celular e investigador principal e director do grupo de investigação Telómeros e Estabilidade Genómica no Instituto Gulbenkian de Ciência.

Todas as palestras terão início pelas 18h00, com acesso livre ao público.
Rómulo - Centro Ciência Viva da Universidade está situado no piso 0 do Departamento de Física da Universidade de Coimbra.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

UMA HISTÓRIA BELA E OUTRA MENOS BELA

Recensão primeiramente publicada na imprensa regional.



Hubert Reeves é um poeta do cosmos. Através da sua escrita de divulgação de ciência a poesia das poeiras das estrelas substancia o nosso pensamento. O distante torna-se familiar, o longe inspira-se com olhar deslumbrado. Do Big Bang até ao futuro, a sua escrita simples e cativante, aproxima-nos do Cosmos.

Foi assim ao longo de mais de uma dezena de livros de divulgação de ciência que nos ajudaram a deslumbrar e a aprender a história do Universo, que é também a de todos nós. Esses livros do astrofísico Hubert Reeves conheceram a edição portuguesa através da editora Gradiva, que os foi publicando na sua prestigiada e premiada colecção “Ciência Aberta”. O primeiro foi “Um pouco mais de azul” (número 2 daquela colecção), e o último “Onde cresce o perigo surge também a salvação” (número 205). E é este último livro de Hubert Reeves que importa visitar agora.

Esta edição portuguesa tem a tradução deste de Pedro Saraiva e a revisão científica de Carlos Fiolhais. O título, “Onde cresce o perigo surge também a salvação”, é a adaptação de um verso do poeta alemão Friedrich Hölderlin. E é o mote para a narrativa em que Hubert Reeves nos conta duas histórias: uma bela, e outra menos bela.

A bela, é a história deslumbrante de como o Universo evoluiu, desde as primeiras partículas, até à espantosa propriedade de a matéria se organizar na viva e se dotar de inteligência. Uma inteligência que nos permite contemplar o Universo e tentar compreendê-lo. Reeves conta-nos esta bela história com a escrita científica-poética a que nos habitou.

A história menos bela é sobre o efeito que aquela mesma inteligência humana teve sobre o planeta que a aninhou, causando a extinção de outras espécies, perda de biodiversidade que desequilibra perigosamente os ecossistemas. Inteligência que desenvolveu tecnologias poluentes que provocam alterações climáticas que fazem perigar a habitabilidade do nosso planeta para a vida. Hubert Reeves faz uma descrição impressiva do impacto da espécie humana sobre o planeta Terra.

Mas o nosso poeta do cosmos não se limita a apresentar estas duas histórias. Numa terceira e última parte do livro, apresenta-nos os esforços que têm sido desenvolvidos, desde há cerca de cento e cinquenta anos, para tentar conciliar as duas histórias e, com inteligência, tentar reverter os malefícios da acção humana sobre a Terra. Descreve-nos “o despertar verde” que tem permitido salvar várias espécies da extinção e restaurado a camada de ozono, entre outros aspectos marcadamente ecológicos. Fala-nos também da necessidade de uma “cosmoética” e apresenta-nos uma ética para a Terra.

É um livro para todos e que nos ajuda a refletir sobre a nossa história e o nosso lugar no Cosmos. Que nos sensibiliza para a importância de usarmos a mesma inteligência que criou a revolução industrial, para salvaguardar o futuro da vida no único planeta que conhecemos onde ela existe. É um livro escrito com confiança e esperança na beleza da nossa inteligência.


António Piedade

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Com petróleo seremos um país do terceiro mundo com as contas em dia!!

"Estamos a um passo de chegar ao petróleo. Ou ao gás...". 

convincente certeza é do subdirector da Direcção Geral de Energia e Geologia, e foi noticiada recentemente a propósito da aprovação, pelo actual governo, de um plano de exploração de hidrocarbonetos (petróleo e/ou gás natural) para a zona de Aljubarrota, apresentado pela empresa canadiana Mohave em parceria com a Galp. Segundo o título da notícia do Expresso: 

"Portugal a um passo de se tornar produtor de petróleo"

Apesar do optimismo do subdirector e do entusiasmo do Ministro Álvaro Santos Pereira, que contagiou os jornalistas do Expresso, segundo os responsáveis da Mohave, a probabilidade de que a exploração de hidrocarbonetos seja viável é de 30%, no máximo. Isto, para os padrões desta industria que lida com a incerteza, é considerado muito elevado. Convenhamos, que não é fácil saber o que há ou não há a 4000 metros de profundidade encarcerado dentro de rochas há milhões de anos. Segundo Arlindo Alves, director geral da Mohave em Portugal: 

"Se for gás é gás".

De qualquer forma, mesmo que se confirme esta possibilidade há uma diferença entre explorar hidrocarbonetos (em principio será gás natural, ou seja metano) e que isso seja um benefício para a sociedade. Veja-se como vivem na miséria as populações de muitos países ricos em petróleo, ouro ou diamantes. Aliás, para que não haja confusões, Luis Palha da Silva, vice presidente da Galp disse na ocasião:

"Este nosso projecto, tem sobretudo um interesse empresarial".

(parece que só não explicaram ao Álvaro)

Não sendo evidentes os benefícios para a generalidade do país de uma exploração de hidrocarbonetos (não digo que não sejam bons para os accionistas da Galp), há prejuízos evidentes para o ambiente e para a saúde. A concretizar-se, poderá ser necessário recorrer a uma técnica chamada fracking.

O fracking (ou Hydraulic fracturing) é uma tecnologia muito controversa usada para explorar gás natural a grandes profundidades, já banida em alguns países e estados americanos . Consiste em injectar um líquido a alta pressão, que tem como função abrir fracturas na rocha e libertar o gás natural aprisionado.




Esta técnica permite explorar vastas reservas de gás natural, que de outra forma seriam inacessíveis. Mas o impacto ambiental é enorme. É usada uma grande quantidade de água no fluído de fracking (aquilo que é injectado para rebentar com a rocha) em conjunto com uma série de substâncias perigosas. Muitas vezes, o conteúdo do líquido de fracking, não é revelado ao abrigo do segredo industrial, imagine-se! Há um grande risco de contaminação da água e de libertação de metano para a atmosfera (que é um gás de efeito de estufa). O filme Gasland (2010) aborda este assunto:



Não é certo o que vai acontecer. Mas o fracking é uma questão com a qual nos poderemos ter que confrontar, caso a empresa Mohave Oil considere viável a exploração de gás natural em Aljubarrota e Torres Vedras. É um processo ambientalmente criminoso, com várias restrições na UE, mas em que nós - probrezinhos - teríamos que pensar. E, continuaríamos pobrezinhos, já que a redistribuição de riqueza não é uma tendência dominante nestes tempos. Pobrezinhos como dantes, mas com um ambiente pior. Comparado com o fracking, a batalha de Aljubarrota parece um cafoné.

Enfim, um país que não aposta na retenção dos seus talentos, virado para o turismo e exploração do subsolo, com parca distribuição de riqueza. Se tudo correr bem, seremos um país do terceiro mundo com as contas em dia. E nem isso parece que estamos a conseguir.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

CONTA DA LUZ - MAIS DE METADE NÃO É LUZ

Ver vídeo da TVI:
http://www.tvi24.iol.pt/videos/pesquisa/luz+metade/video/13502065/1
(Tem alguns segundos de publicidade)

O DINHEIRO QUE MOVE MOINHOS


Minha crónica no Público de hoje:

Como facilmente verifica quem viaja pelo país fora, a paisagem nacional alterou-se nas últimas duas décadas com a proliferação desses novos moinhos de vento que são os aerogeradores. Em virtude de decisão política, o nosso país chegou em 2011 ao top ten dos países com maior capacidade de produção de energia eólica, uma capacidade que na Europa só fica atrás da da Alemanha, Espanha, Itália, França e Reino Unido. Em 2010 cerca de quinze por cento do nosso consumo de electricidade teve origem eólica, um valor que na Europa só foi batido pela Dinamarca, precursor desse tipo de energia renovável e líder tecnológico na área.

Como o vento é absolutamente gratuito, e como, apesar da carestia da sua construção e instalação, os custos da manutenção dos aerogeradores são bastante reduzidos, poderíamos esperar que o crescimento das eólicas tivesse baixado o custo da energia em nossas casas. Acresce que há outras energias renováveis, que também têm sido alvo de apostas governamentais, como a hídrica (mais importante no nosso mix energético do que a eólica) e a solar (bem menos importante). De facto, os preços que os consumidores domésticos pagam pela electricidade não têm descido: são próximos dos da média europeia, o que significa que, levando em conta o baixo nível dos nossos salários, o custo do quilowatt–hora é entre nós relativamente caro.

A razão principal é a subsidiação. Com a factura da EDP todos pagamos os novos moinhos de vento. As turbinas das eólicas são movidas a subsídios de ajuda à instalação e exploração, fazendo com que o negócio seja de risco nulo para os investidores. Em Portugal, tal como aliás noutros países da Europa, a indústria de produção de energia eólica tem sido extremamente favorecida pelos governantes à custa, claro, dos contribuintes. Os argumentos são os mais variados, embora por vezes falaciosos: a fuga à dependência do petróleo (a nossa dependência do petróleo reside no sector dos transportes e não na electricidade), a constituição de um cluster tecnológico gerador de riqueza (compramos tecnologia aos dinamarqueses, como ainda há pouco aconteceu com a aquisição de turbinas da empresa Vestas daquele país para um parque eólico off-shore, a instalar ao largo da Póvoa do Varzim) e o decréscimo de emissões do dióxido de carbono, um gás produtor de efeito de estufa (este argumento colhe, mas ele também é válido para a energia nuclear). Se é certo que as energias não renováveis, como o gás natural e o carvão, também são, em Portugal e noutros lados, subsidiadas, não é menos verdade que a tendência, aqui e lá fora, é a de diminuir o favorecimento estatal de não renováveis e renováveis, aliviando com isso as dívidas soberanas e deixando actuar os mercados de forma mais livre. Em Espanha já foi anunciado um corte nos subsídios a instalações de renováveis, o que terá consequências em Portugal, já que o mercado da energia não conhece fronteiras (os espanhóis são exportadores enquanto nós somos importadores de energia). Mas a diminuição dos subsídios não significa que o consumidor seja aliviado. Receio que quem vai pagar mais, com a prevista liberalização dos mercados, será, ao contrário do que seria desejável, o já tão esprimido Zé Povinho.

Eu gosto das energias renováveis. Mas há graves problemas associadas àsenergias eólica, hídrica e solar que se reflectem penosamente nos custos. Analisemos o caso da eólica. Em primeiro lugar, ela é intermitente: o vento sopra quando sopra. Em segundo lugar, os sítios onde sopra mais não são os sítios onde a energia é mais precisa, nem as horas em que sopra mais são as horas a que a energia é mais precisa, pelo que é necessário um bom sistema de transporte de energia – e esse transporte redunda sempre em perdas – e de armazenamento – pode-se, por exemplo, bombear a água de uma barragem à custa de energia eólica para mais tarde abrir as comportas. Uma rede energética que integre bem a eólica com as outras energias é complexa e cara, como mostra o facto de a Dinamarca ter uma das electricidades mais caras do mundo. Para estes problemas têm alertado alguns estudiosos da economia e da energia, entre os quais Henrique Neto, José Veiga Simão, Luís Valente de Oliveira e Miguel Beleza, que divulgaram recentemente um Manifesto por uma Nova Política Energética em Portugal - III. Eles têm, contudo, sido considerados pelos defensores do statu quo e pelos media em geral como um lobby pró-nuclear, o que não é labéu pequeno num país em que o governo anterior demonizou a opção nuclear a ponto de nem sequer ser lícita a alusão a ela. Devíamos prestar-lhes atenção quando dizem que há um “monstro eléctrico”. A engenharia financeira que tem alimentado projectos de energias ditas sustentáveis não é sustentável. A prosseguir o aumento do défice dessa maneira, não veremos luz ao fundo do túnel.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

HUMOR: VIDA INTELIGENTE 3

- Por vezes, penso que o sinal mais certo de que existe vida inteligente no Universo é o facto de que nenhuma dela nos tentou contactar.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Apresentação dos livros TerraVita Sadia















Informação recebida no De Rerum Natura:


Irá realizar-se hoje, dia 26 de Janeiro, pelas 18h, no Centro Ciência Viva Rómulo de Carvalho (no rés-do-chão do Departamento de Física - polo I, da Universidade de Coimbra), a apresentação das obras TerraVita Sadia Juvenil e TerraVita Sadia Infantil, da autoria de Maria José Moreno e Maria Helena Henriques, com edição da Imprensa da Universidade de Coimbra.

A apresentação insere-se na iniciativa Café, Livros e Ciência, promovida por aquele Centro em colaboração com a Fábrica Ciência Viva de Aveiro e o Museu de Ciência da Universidade de Coimbra.

A entrada é livre.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

A história química de um cachalote


O título deste texto foi sugerido pelo meu filho mais pequeno (autor do desenho aqui ao lado), grande admirador dos animais marinhos, após ter visto uns
slides sobre a química no Moby Dick de Herman Melville.



No século XIX, os cachalotes eram vistos como animais ferozes e maus. São descritos dessa forma no Moby Dick de Melville e nas Vinte mil léguas submarinas de Júlio Verne. Talvez por isso ninguém, nessa altura, se importasse com a sua sorte. Sabemos hoje que essa ideia era errada, embora eles continuem a ser para nós animais misteriosos.

No Moby Dick a palavra química aparece apenas uma vez. E, ainda assim, no sentido figurado da atracção entre as pessoas. No entanto, este livro tem muita química para além de nos trazer a memória de um mundo que a química ajudou a mudar. De facto, no século XIX, as velas mais finas, os lubrificantes das máquinas mais delicadas, os perfumes mais caros, o vestuário feminino mais elegantes e muitos dos objectos mais requintados, deviam a sua existência à caça às baleias. Hoje em dia todos esses produtos, ou se tornaram desnecessários, ou estão fora de moda, ou têm substitutos que foram desenvolvidos pelos químicos.

Na cabeça do cachalote existe um óleo denominado espermacete que se associava, na altura, ao seu sistema reprodutor. Sabemos hoje que este óleo é uma parte do sistema de flutuação que lhes permite mergulhar até profundidades enormes. Esse óleo tinha, no século XIX, aplicação na produção de velas finas e lubrificantes delicados, assim como todas as gorduras das baleias eram aproveitadas para os mais variados fins. Hoje em dia as velas são apenas uma recordação, ou um objecto de decoração. E todos os usos dos óleos das baleias foram substituídos por produtos naturais ou sintéticos com origem vegetal ou derivados do petróleo.

Nos estômagos das baleias podia encontrar-se uma massa cinzenta e mal cheirosa que, após contacto com o ar e a luz, libertava um odor agradável. Este sólido era chamado âmbar cinzento e foi muito importante para a industria dos perfumes como fixante dos aromas. Hoje em dia existem substitutos sintéticos, isto é produzidos em laboratório ou de forma industrial.

Os ossos e os dentes das várias espécies de baleias eram usados em muitos produtos de uso comum ou de decoração. Em particular, os dentes do cachalote eram usados para fazer peças de xadrez, teclas de piano e bolas de bilhar. Essas aplicações hoje em dia foram completamente substituídas pelo plástico. De forma idêntica, os “ossos da boca” de algumas baleias, muito duros e flexíveis, eram usados para fazer corpetes, uma peça de vestuário feminino hoje completamente fora de moda.

Vemos assim, com a história química de um cachalote, como a química nos permite um mundo melhor ao mesmo tempo que salvamos as baleias.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

MONDEGO

"Mondego" by Daniel Pinheiro from Daniel Pinheiro on Vimeo.

Tiro o meu chapéu ao Daniel Pinheiro, jovem documentarista português que concluiu recentemente o mestrado na Universidade de Sanford, no Reino Unido, com este extraordinário documentário sobre a vida selvagem do Mondego. Não sei de que é que a RTP ou a SIC ou a TVI estão à espera para lhe encomendarem filmes sobre outros sítios e outra flora e fauna do nosso país. Vejam o filme no modo de ecrã grande e desfrutem...

terça-feira, 11 de outubro de 2011

ÁGUA DA VIDA

Texto publicado no Diário de Coimbra.


Há várias evidências que indicam que o aparecimento e evolução molecular da vida no planeta Terra são indissociáveis da presença de água. Assim a água condicionou a vida. Mas que propriedades deste composto de oxigénio e hidrogénio, este monóxido de hidrogénio, modelaram a vida?

“A água é o solvente perfeito e move-se facilmente por tudo o que é sítio...” afirma o Epidemiologista Massano Cardoso. O Físico Carlos Fiolhais confirma: “isso acontece porque a água, que se mantém líquida numa vasta gama de temperaturas, é um poderoso solvente, uma propriedade que não só facilita as reacções bioquímicas nas células como permite trazer nutrientes ou levar detritos com alguma facilidade”. Helena Freitas, Bióloga e Ecologista, “entende a água como um recurso natural; integra a vida, todas as formas de vida, e é produto do funcionamento do próprio sistema natural. É o ciclo da água que importa cuidar e que a torna essencial à vida.”

A própria evolução do planeta, que acolhe a vida, também está associada à água. O Geólogo Galopim de Carvalho assim o diz: “Em toda a história da Terra, a água, nos seus três estados físicos, foi (e continua a ser) essencial à alteração das rochas e à formação dos solos, à erosão e à deposição de sedimentos e subsequente transformação destes em rochas sedimentares. Mas o papel da água não se confina aos processos superficiais. Ela é, ainda, um dos componentes essenciais nos processos geodinâmicos internos geradores de rochas magmáticas (granitos, basaltos e muitas outras) e metamórficas (mármores e muitos tipos de xistos).”

Nestas interacções a água não para de nos surpreender e, segundo o Químico Sebastião Formosinho, “estudos recentes mostram que a água é a chave para a formação do carbonato de cálcio amorfo, de modo a evitar um lento processo de nucleação clássico (…)” responsável pela formação de outras formas hidratadas. Recordemos que “o carbonato de cálcio (CaCO3) é um dos minerais mais importantes da crusta terrestre, presente em depósitos calcários, nos recifes de coroais e conchas de animais, fruto de uma biomineralização.”

E para si?

António Piedade
Ciência na Imprensa Regional - Ciência Viva

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

UMA GOTA NO GPS


Crónica publicada no Diário de Coimbra (Ciência na Imprensa Regional)

A observação das constelações de estrelas, aparentemente fixas no céu nocturno, guiou muitos destinos, fez eclodir a globalização.

Hoje, com o resultado do desenvolvimento da tecnologia conhecida por sistema de posicionamento global, vulgo GPS, dispensamos esses sóis distantes, esses faróis de caminhos. Orientamo-nos á velocidade da luz na aldeia global.

Quando precisamos de um percurso até à bomba de gasolina mais próxima, por exemplo, entregamo-nos à resposta que nos é dada por um dispositivo electrónico que nos descodifica a informação que nos é dada pelo GPS, no telemóvel ou no computador de bordo do automóvel.

A maior parte dos dispositivos não são mais do que emissores e receptores de radiações electromagnéticas, de frequências bem estabelecidas, para, e de, pelo menos 4 dos satélites pertencentes às constelações de satélites artificiais que enxameiam o planeta, descrevendo órbitas terrestres baixas (entre os 350 e os 1400 km acima da superfície do mar), a velocidades na ordem dos 10 km/s.

Com uma precisão cada vez mais afinada, a nossa posição é estabelecida no espaço e no tempo, a hora de chegada ao destino pretendido ajustada á velocidade média do nosso movimento.

E, se a navegação orientada pelas estrelas dependia da visibilidade das mesmas, de um céu limpo, dito estrelado e sem aerossóis de água enublando a abóbada, esta tecnologia que nos diz onde estamos e por onde vamos, desenvolvida a partir de fundamentos anteriores mas basilares à teoria da relatividade (velocidade de propagação da luz constante nesta altura do universo das nossas vidas) e das do conhecimento da natureza da matéria feita de átomos que permutam electrões entre si, fornece-nos uma ferramenta que funciona independentemente das condições atmosféricas, “faça chuva ou faça sol”.

Os mapas digitais e os algoritmos que decidem, por nós, por onde ir tendo em conta contratempos geográficos, determinados e informados à velocidade da luz, alienam a nossa consciência física, táctil, visual, do meio que nos envolve e que nos condiciona. Se não fizermos um esforço, estas tecnologias de orientação e programação dos nossos destinos diários, podem distanciar a nossa sensibilidade ecológica e afastar-nos do ambiente em que vivemos ou por onde nos movemos. Torna-se-nos mais sensitiva a representação do que a coisa real.

Tal como o uso abusivo e inconsciente da calculadora pode levar a que esqueçamos como fazer uma soma, ou a prova dos nove, o ócio propiciado pelos dispositivos de GPS, mais ou menos inteligentes e ajustados às nossas necessidades urbanas, pode diminuir o nosso sentido de orientação inato, a nossa capacidade de antever um obstáculo, de planear um percurso ponderando os prós e os contra. É uma tecnologia muito útil, mas a dependência dela em excesso pode inabilitar-nos de conseguir planear os nossos destinos.

E se fosse possível seguir, através desta tecnologia, uma gota de água desde a sua nuvem, a escorrer pelo guarda-chuva em pingos para o chão, encarreirando por regatos entrançados de água, pelos sistemas de drenagem das águas ditas residuais, pelas ETARs, pelos rios até à foz da sua libertação marítima?

Uma aplicação assim, permitir-nos-ia aumentar o nosso conhecimento sobre os cursos de água tão importantes para a vida que preenche os nossos ecossistemas? Sobre a geografia e geologia que partilha com a água os seus percursos?

Este último assunto foi tema de um editorial da edição de 15 de Agosto da revista Nature. Nele, é-nos informado que o ecologista norte-americano Timothy Carter, da Universidade de Butler, em Indianápolis, desenvolveu uma aplicação para telemóveis inteligentes (smartphones) para permitir seguir uma gota de água da chuva, desde a localização em que se encontra, até ao mar. A investigação foi financiada pela NOAA uma Agência do Governo dos Estados Unidos para a Atmosfera e Oceanos.

Esta aplicação será lançada no próximo mês. Por enquanto, só poderá ser utilizada naquela região dos Estados Unidos percorrida pelo rio Mississípi. Esperemos que dela surjam globalizações que nos ajudem a apreciar, seguir e compreender os ciclos da água desde os céus de Coimbra até ao estuário do Mondego na Figueira da Foz.

António Piedade

sábado, 4 de dezembro de 2010

O FIM DAS PESCAS


Destaque para a coluna de Robert Park "What's New":

FISH STORY: THE WORLD HAS RUN OUT OF NEW FISHING AREAS.

Most endangered species owe their precarious existence to the destruction of their habitat by the spread of a single invasive species, Homo sapiens, which now numbers about 7.0 billion. Aided by technology, Homo sapiens thrives in almost any habitat, and has spread to almost every region of Earth, including the surface of the ocean which has been a particularly rich source of protein. A story in today's Washington Post by Juliet Eilperin, however, say the globe has run out of new fishing areas and that current fishing methods are not sustainable. We have destroyed the great cod fisheries This is why farmed fish now account for about half of the world's seafood production. An article in today's Science says the FDA is now considering approval of a genetically modified Atlantic salmon that contains an inserted growth gene from Pacific Chinook salmon.

Robert Park

terça-feira, 2 de novembro de 2010

GRANDES ERROS: Ecobolas

Deparei-me com esta reportagem, em que uma apresentadora identificada como pertencendo à Quercus promove as vantagens das ecobolas, classificadas como uma novidade científica que permite lavar a roupa (e a loiça, segundo o site) sem detergente.



Neste video é alegado, entre outras coisas, que as ecobolas "separam o oxigénio e o hidrogénio da água": a hidrólise da água na máquina de lavar!

No site das bolas verdes há todo um chorrilho de disparates, como que "cerâmicas Alcalinas mantêm o pH próximo de 10". Portanto, de alguma maneira reduzem a concentração de iões hidrónio (H3o+) muito abaixo do nível de auto-dissociação da água, e fazem-no nada menos do que 1000 vezes (lavagens). Basta pensar no volume da água de 1000 lavagens (por mais ecológico que seja o programa) e na quantidade de base que teria que se adicionar para que o pH subisse para 10 (e o pH é uma escala logarítmica, ou seja cada alteração de uma unidade implica uma mudança de um factor de 10 na concentração) para perceber que essas ecobolas devem ser armas de destruição maciça.

O que mais me preocupa é o facto de a Quercus (sem dúvida uma associação bastante meritória) ficar associada a isto. Parabéns às ecobolas, conseguiram uma validação de peso!! A defesa do ambiente é necessária, mas as mensagens ambientais devem ter precisão e racionalidade, sob pena de caírem no descrédito.

Só mais uma coisa: experimente pegar num prato não muito sujo (e que não esteja no purgatório há três dias) e passá-lo por água sem detergente. É espantoso o que a água consegue fazer, mesmo sem as cerâmicas kung fu.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

quarta-feira, 5 de maio de 2010

A biodiversidade nas fontes hidrotermais












O Museu da Ciência da Universidade de Coimbra organiza, em colaboração com o Jardim Botânico da UC e vários centros de investigação, um conjunto de conferências sobre biodiversidade, procurando uma reflexão sobre esta, no Ano Internacional da Biodiversidade.

O ciclo inicia-se hoje com uma conferência por Milton Costa do Departamento de Ciências da Vida da Universidade de Coimbra, pelas 17 horas, sobre a biodiversidade nas fontes hidrotermais.

Consultar em: http://www.museudaciencia.pt/
ou na pagina do ciclo de conferências.

O Prof. Milton Costa é meu colega de departamento e foi meu professor, quando frequentei Biologia em Coimbra. E foi um dos professores que me marcaram, pela forma inteligente e entusiasmante com que leccionava sobre o fascinante mundo dos micro-organismos (precisando: bactérias) e das nossas estruturas de defesa contra os mesmos. Temos hoje cada vez mais a noção da importância desses micro-organismos na evolução dos organismos pluricelulares como nós.

Mas é sobre a biodiversidade nas fontes hidrotermais e as incríveis adaptações de bactérias capazes de sobreviver em ambientes com temperaturas de centenas de graus que Milton Costa irá falar. Na realidade as fontes hidrotermais têm sido uma fonte de conhecimentos e de ideias sobre a variedade de adaptações dos organismos e os limites das condições de vida absolutamente extraordinária.

Há alguns grupos portugueses a estudarem a biodiversidade nessas regiões oceânicas, como o grupo de Milton Costa, em Coimbra e do Ricardo Santos nos Açores.

SOBRE O GRANITO E A SUA ORIGEM, NUMA CONVERSA TERRA-A-TERRA.

Por A. Galopim de Carvalho Paisagem granítica na Serra da Gardunha. Já dissemos que não há um, mas sim, vários tipos de rochas a que o vulgo...