terça-feira, 18 de setembro de 2012

Com petróleo seremos um país do terceiro mundo com as contas em dia!!

"Estamos a um passo de chegar ao petróleo. Ou ao gás...". 

convincente certeza é do subdirector da Direcção Geral de Energia e Geologia, e foi noticiada recentemente a propósito da aprovação, pelo actual governo, de um plano de exploração de hidrocarbonetos (petróleo e/ou gás natural) para a zona de Aljubarrota, apresentado pela empresa canadiana Mohave em parceria com a Galp. Segundo o título da notícia do Expresso: 

"Portugal a um passo de se tornar produtor de petróleo"

Apesar do optimismo do subdirector e do entusiasmo do Ministro Álvaro Santos Pereira, que contagiou os jornalistas do Expresso, segundo os responsáveis da Mohave, a probabilidade de que a exploração de hidrocarbonetos seja viável é de 30%, no máximo. Isto, para os padrões desta industria que lida com a incerteza, é considerado muito elevado. Convenhamos, que não é fácil saber o que há ou não há a 4000 metros de profundidade encarcerado dentro de rochas há milhões de anos. Segundo Arlindo Alves, director geral da Mohave em Portugal: 

"Se for gás é gás".

De qualquer forma, mesmo que se confirme esta possibilidade há uma diferença entre explorar hidrocarbonetos (em principio será gás natural, ou seja metano) e que isso seja um benefício para a sociedade. Veja-se como vivem na miséria as populações de muitos países ricos em petróleo, ouro ou diamantes. Aliás, para que não haja confusões, Luis Palha da Silva, vice presidente da Galp disse na ocasião:

"Este nosso projecto, tem sobretudo um interesse empresarial".

(parece que só não explicaram ao Álvaro)

Não sendo evidentes os benefícios para a generalidade do país de uma exploração de hidrocarbonetos (não digo que não sejam bons para os accionistas da Galp), há prejuízos evidentes para o ambiente e para a saúde. A concretizar-se, poderá ser necessário recorrer a uma técnica chamada fracking.

O fracking (ou Hydraulic fracturing) é uma tecnologia muito controversa usada para explorar gás natural a grandes profundidades, já banida em alguns países e estados americanos . Consiste em injectar um líquido a alta pressão, que tem como função abrir fracturas na rocha e libertar o gás natural aprisionado.




Esta técnica permite explorar vastas reservas de gás natural, que de outra forma seriam inacessíveis. Mas o impacto ambiental é enorme. É usada uma grande quantidade de água no fluído de fracking (aquilo que é injectado para rebentar com a rocha) em conjunto com uma série de substâncias perigosas. Muitas vezes, o conteúdo do líquido de fracking, não é revelado ao abrigo do segredo industrial, imagine-se! Há um grande risco de contaminação da água e de libertação de metano para a atmosfera (que é um gás de efeito de estufa). O filme Gasland (2010) aborda este assunto:



Não é certo o que vai acontecer. Mas o fracking é uma questão com a qual nos poderemos ter que confrontar, caso a empresa Mohave Oil considere viável a exploração de gás natural em Aljubarrota e Torres Vedras. É um processo ambientalmente criminoso, com várias restrições na UE, mas em que nós - probrezinhos - teríamos que pensar. E, continuaríamos pobrezinhos, já que a redistribuição de riqueza não é uma tendência dominante nestes tempos. Pobrezinhos como dantes, mas com um ambiente pior. Comparado com o fracking, a batalha de Aljubarrota parece um cafoné.

Enfim, um país que não aposta na retenção dos seus talentos, virado para o turismo e exploração do subsolo, com parca distribuição de riqueza. Se tudo correr bem, seremos um país do terceiro mundo com as contas em dia. E nem isso parece que estamos a conseguir.

4 comentários:

J. Reis C. Leite disse...

explorar um recurso implica avaliar muito bem a relação custos/lucros/maleficios/beneficios. não basta existirem hidrocarbonetos para que a sua exploração seja viavel. a questão da factura ambiental é fundamental (dificilmente os lucros poderão suplantar este ponto).Uma exploração de recursos irá sempre causar impactos ambientais, a sua avaliação poderá ser ou não impeditiva de se efectuar essa exploração. afinal de que serve estar a abrir buracos (literalmente) sem certezas de que com isso se irão conseguir tapar outros?

José Batista disse...

Na sequência:
Há já uns bons anos prospectou-se petróleo nas proximidades de Torres Vedras. E extraíram-se alguns barris. Mas era pouco e com gastos muito superiores ao seu custo no mercado.
E metano, metano, talvez mais o produzido nas vacarias e nas lixeiras. Mas suponho que nem esse aproveitamos. E podíamos, por pouco que fosse.
Quem dera que eu estivesse enganado. Mas, mesmo que estivesse, duvido que nos adiantasse muito...

Anónimo disse...

Que interessante, questão.



Cláudia da Silva Tomazi

Anónimo disse...

Se fosse descoberto em Portugal petróleo em quantidades significativas que justificassem a sua exploração comercial, seria natural pagarmos menos pela gasolina e o gasóleo. No entanto, isso não é certo. Noutros países europeus produtores de petróleo, como a Noruega e o Reino Unido, o preço dos combustíveis também é elevado. O custo dependeria da política energética que o governo definisse. Se reduzisse a carga fiscal sobre os combustíveis (53 por cento para a gasolina e 47 por cento para o gasóleo, atualmente) ou decidir subsidiá-los, nesse caso, sim, custariam menos ao consumidor. É o que se passa na Arábia Saudita, onde o preço dos combustíveis é muito baixo justamente porque não são taxados, sendo mesmo subsidiados. De qualquer maneira, uma descoberta de petróleo seria muito importante para Portugal, porque atrairia investimentos e geraria emprego. Numa palavra: riqueza. Para o Estado português, é residual o que as companhias pagam agora pela pesquisa e prospeção - entre trinta e duzentos euros anuais por quilómetro quadrado - mas no caso de uma descoberta comercial de petróleo, o Estado teria direito a cerca de nove por cento da receita por barril de crude. Isto, além dos impostos sobre os lucros da produção que cobrará às petrolíferas.

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