sábado, 8 de setembro de 2012

MENSAGENS VINDAS DO ESPAÇO (II)


Crónica primeiramente publicada na imprensaregional portuguesa e na continuação desta outra.

Somos bombardeados todos os segundos com mensagens vindas do espaço.

Sim. Pelo menos desde que os primeiros satélites de comunicação passaram a orbitar o nosso planeta, que passamos a receber mensagens a partir do espaço.

É claro que são mensagens retransmitidas. Enviadas por seres humanos de alguma parte do planeta, e retransmitidas por um satélite de comunicação específico, para lá do horizonte, para o outro lado do planeta, para que outros seres humanos as possam receber num simultâneo espantoso.


Desde quando? O primeiro satélite de comunicação, do tipo designado por passivo, foi o Echo 1A, lançado a 12 de Agosto de 1950. Mas a primeira retransmissão transatlântica, por sinal, de imagens de televisão, foi efectuada a 23 de Julho de 1962 pelo “Telstar 1”, satélite lançado pela NASA a 10 de Julho de 1962. Este foi o primeiro satélite de comunicação do tipo activo.

Assim, há pouco mais de 50 anos, seres humanos de um e outro lado do atlântico puderam receber pela primeira vez mensagens televisivas “reflectidas” no espaço pelo Telstar 1.

Telstar 1

Na realidade todas as mensagens de rádio, televisão, telefone, fax, internet, que são retransmitidas pelos satélites de comunicação, viajam também em direcção às estrelas, à velocidade da luz no vácuo. É que uma parte de todos as emissões de feixes hertzianos a partir da Terra, e que transportam as mensagens que queremos retransmitir, trespassam os satélites em direcção ao céu profundo, ao espaço interestelar.

Do espaço, recebemos outras mensagens enviadas por telescópios espaciais e sondas que exploram o nosso sistema solar. Os actuais e modernos telescópios espaciais, como o Hubble (existem dezenas de outros), que orbitam a Terra, enviam-nos mensagens com informação que captam do Universo.

No seu conjunto, constituem uma espécie de retina sensível a toda a gama de radiação electromagnética, que captam do Universo mais próximo ou mais distante, no tempo e no espaço. Depois, enviam-nos essas mensagens de espanto sobre os primeiros segundos do Universo, sobre a explosão de uma supernova, sobre o pulsar de uma estrela de neutrões.

O nosso último e progressivo conhecimento do sistema solar tem sido feito através das mensagens que recebemos das sondas que o engenho humano desenvolveu, construiu e enviou para além da Terra.

Após 500 anos, as novas caravelas, exploradoras agora do espaço sideral, enviam-nos mensagens com informação preciosa sobre os novos mundos.

Há 40 anos, mais precisamente a 2 de março de 1972, foi lançada a Pioneer 10, a primeira sonda robotizada com uma missão de exploração interplanetária, especificamente ao planeta Júpiter. A Pioneer 10 também foi o primeiro objecto feito pelo homem a deixar, a 13 de Junho de 1983,o sistema solar em direcção às estrelas (de facto em direcção à estrela Alpha Tauri, a estrela mais brilhante da constelação do Touro). Mas deixou de nos enviar mensagens a 23 de janeiro de 2003, quando se encontrava a uma distância 80 vezes igual à da Terra ao Sol.

Outras sondas se lhe seguiram com missões interplanetárias cada vez mais complexas e minuciosas, à medida que a tecnologia e ciência aeroespacial se foram desenvolvendo.

A sonda Voyager 1 foi lançada há 35 anos, a 5 de Setembro de 1977, com a missão de explorar os planetas gigantes do sistema solar (Júpiter, Saturno, Úrano e Neptuno) e enviar-nos mensagens sobre as descobertas. Viajando a uma maior velocidade, ultrapassou a Pioneer 10 a 17 de Fevereiro de 1998, tornando-se o objecto humano mais distante da Terra desde então.

Para além das primeiras e fantásticas imagens modernas que a Voyager 1 nos enviou desses planetas, e de algumas das suas luas (que descobrirmos pelas mensagens dela), e antes de deixar o sistema solar, esta sonda voltou-se uma última vez para trás, no dia 14 de Fevereiro de 1990, e fotografou os planetas do sistema solar, incluindo a Terra.

O álbum planetário que nos enviou é uma das mensagens mais paradigmáticas da exploraçãoespacial que recebemos até hoje.

Se Iury Gagarin foi o primeiro ser humano a comunicar-nos que a Terra tem uma cor maioritariamente azul vista a uma distância orbital, através da mensagem fotográfica que a Voyager 1 nos enviou, pudemos contemplar que, à distância de 6 mil milhões de quilómetros (40 vezes a distância da terra ao Sol), o nosso planeta é um "ponto azul-claro" na imensidão do universo, como escreveu Carl Sagan no seu livro homónimo.

E esta sonda interestelar continua a enviar-nos mensagens todas as semanas, sobre o ambiente espacial na fronteira em que o nosso Sol passa a ser só mais uma estrela.

António Piedade

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