quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Todos os caminhos vão dar a Benavente


Ministério divulga Metas Curriculares do Ensino Básico

Com este título pimpão, o Ministério da Educação e Ciência lançou, no dia 3 de agosto, o documento aguardado.
Os vários textos das 5 metas curriculares, postas ao gosto do dia, surgiram numa secção do Sítio do Ministério que tem como título «Mantenha-se atualizado».
Adequado seria «Mantenha-se calmo»: analisados, os 2 textos relativos à Educação Visual e à Educação Tecnológica são vibrantes de novidade.
O primeiro texto mata, definitivamente, a aprendizagem do Desenho no Ensino Básico; quem quiser aprender a desenhar terá de esperar pelo 10.º ano (altura em que a simpática disciplina é introduzida no currículo oficial português). O segundo texto cria uma ciência nova: a Tecnologia; os primeiros passos são dados apenas no 5.º e no 6.º anos de escolaridade, mas estima-se que, num futuro próximo, esta (igualmente simpática) nova ciência possa vir a ter predominância em todos os currículos do Ensino Secundário, antes de substituir a Física nas universidades nacionais e, de seguida, nas finlandesas.
Curiosos, aguardamos.
O MEC anunciara propósitos de clareza, afirmando que as metas serviriam como «[…] um meio privilegiado e fundamental de apoio à planificação e organização do ensino, constituindo uma ajuda para o professor na escolha das estratégias a seguir.» e, igualmente, «[…] um apoio para os encarregados de educação no acompanhamento dos seus educandos.»
O tom das Metas seria dado pelo seguinte: «Houve a preocupação de as formular de forma clara e precisa.»
Exemplificando:
«As metas para Educação Visual estão estruturadas por ano letivo e os seus conteúdos apresentam uma estrutura de complexidade programada, segundo três eixos de progressão da complexidade: horizontal, vertical e domínio. O eixo horizontal projeta-se ao longo dos anos (do 5º ao 9º ano) e evidência [sic] a articulação entre objetivos gerais. O eixo vertical projeta-se ao longo de um ano específico e evidência [re-sic] a articulação entre domínios. O eixo do domínio projeta-se verticalmente ao longo dos objetivos gerais, em que o último dá relevo a processos cognitivos, que estruturam os conteúdos do domínio em questão.»
Aguardamos, de facto, curiosos: o mesmo autor de «O "Eduquês" em Discurso Directo» subscreve estes mimos? Já o disse antes: há mais ministério além de Nuno Crato. Assim, em matéria de EV e ET, todos os caminhos irão dar a Benavente.
António Mouzinho

5 comentários:

José Batista disse...

Bom, muitas perguntas do mesmo género se podiam fazer, por exemplo:
Nuno Crato subscreve a lista de bibliografia (e sobretudo o conteúdo dela...), que o GAVE forneceu para a ação de formação dos professores classificadores de provas de exame?
Eu suponho que não.

Mas "Benavente" é uma coisa (uma "ambiência"...) entranhada no sistema de ensino; eram precisos muitos Nunos Cratos, durante muito tempo, para o "desempestar". E havendo-os, restava sempre uma larga fatia de professores que estão formatados de certa maneira... Para além de que muitos, muitos mesmo, nunca passaram sequer por uma universidade.

E isto não é um elogio às nossas universidades, com grande pena minha, por vários motivos: andarem a dormir e albergarem muita cobardia e incompetência. Especialmente em matéria de formação de professores que obrigatoriamente e exclusivamente deviam supervisionar, mas que em nenhum tempo souberam (ou quiseram...) exigir e mostrar que era necessário.

Lamento, sinceramente. Mas não (o) calo.

José Batista da Ascenção

Um Zero à Esquerda disse...

Incrível!
O ministro enganou-se na geografia?
Nomeou uma equipa de boys do Ribatejo em vez da Beira-Alta?

Fartinho da Silva disse...

E a informática (parece que teimam em lhe chamar TIC, talvez para parecer mais pós-moderno) em 45 minutos semanais?

Teremos, no limite, professores a lecionar a 22 turmas com 30 alunos cada uma!!!!!! O professor terá no limite mais de 600 alunos. Agora imaginem o professor a tentar corrigir um teste de avaliação... Imaginemos que se trata de um super-mega-hiper professor de outro sistema solar - demorará meia hora a corrigir cada um dos 600 testes, então teria que ter 300 horas só para esta tarefa... se tiver disponível no seu horário de trabalho duas horas diárias só para isto (que não tem), demoraria 150 dias...

Imaginem estas aulas. Dá o toque para a entrada. O professor entra na sala de aula e espera cerca de 2 minutos para os alunos se sentarem. Em seguida dará as boas vindas e tentará sossegar os alunos para dar inicio às tarefas. Faz a chamada - o professor começará a ler os 30 nomes de alunos e esperará que cada um deles levante o braço e tomará nota das faltas (3 minutos). Depois deste tempo, ditará o sumário e os alunos tomarão nota do mesmo (5 minutos). Depois pedirá aos alunos para ligarem o computador (não pode ser antes, porque perderá o controlo da turma) (3 minutos, pelo menos). Haverá quase sempre um ou outro computador com um ou outro problema que o professor tentará resolver na hora (5 minutos). Depois o professor "dará" os conteúdos teóricos em cerca de 20 minutos e depois será a altura de os alunos aplicarem esses conhecimentos no computador. Entretanto a aula quase que terminou...

Isto já para não falar no número impossível de reuniões de turma que terá tal professor ao longo do ano. Será que conhecerá algum aluno pelo seu nome até ao final do ano? Será que terá tempo para preparar alguma aula ao longo do ano?!?!?!

E as metas da disciplina? Aquilo é um hino à completa e absoluta estupidez! Como se fosse possível alguém aprender tanta coisa e de assuntos tão diversos em tão pouco tempo... especialmente quando falamos de garotos e garotas!!! E é engraçado saber-se que não há programa para cumprir... apenas metas...

Podemos dizer que temos escolas, mas elas existem apenas e só no papel, porque aquilo que temos são espaços de socialização e entretenimento de crianças e jovens. E, por favor, não me tentem dizer o contrário... já dei para esse peditório.

José Batista disse...

Li atentamente o comentário de Fartinho da Silva.

E esta manhã, depois e ter que ir a uma escola próxima da minha, tomei conhecimento do seguinte:

Uma professora dessa escola, da disciplina de geografia, com mais de vinte anos de ensino, tem atribuídas no seu horário nove turmas, nove, repito, de dois níveis diferentes.
Também é orientadora de estágio.
E diretora de turma.
E sub-coordenadora do seu grupo disciplinar.

Sei que a sua sogra está doente e que teve que levá-la para sua casa e instalá-la no quartinho que já foi o seu escritório.

O marido daquela professora faz quimioterapia, um quase segredo que procura guardar.

Não falei com ela. Soube apenas.

Parece que estava triste como a noite.

Pudera!

Digam-me cá:Que raio de ensino queremos nós construir?

José Batista disse...

Acima, na segunda linha do segundo comentário que fiz, onde escrevi "depois e ter" devia ter escrito "depois de ter". E mais adiante, onde escrevi "um quase segredo que procura" devia ter escrito "um quase segredo que ela procura".
Enfim, os meus habituais lapsos.
De que não gosto. E pelos quais apresento desculpas.

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