domingo, 30 de setembro de 2012
Os números falam por si
Circula pelas caixas de correio a seguinte mensagem: "45 mil candidatos ao ensino superior e 85 mil à casa dos segredos". É caso para se dizer que os números falam por si.
Não estranhei particularmente os quarenta e cinco mil candidatos ao ensino superior, pois estou a par do decréscimo de ano para ano (Clara Viana, jornalista do Público, muito precisa nas notícias que escreve, apurou nas duas primeiras fases de candidatura 50 641).
O que não pude deixar de estranhar foi o número de pessoas que se candidatou ao tal programa de televisão que se chama Casa dos Segredos: não foram oitenta e cinco mil, mas cem mil (mais vinte mil do que na anterior edição). São pessoas adultas, escolarizadas, algumas (talvez muitas) com um diploma superior.
Li, de seguida, que apenas uma reduzida "elite" de dezasseis "corpos trabalhados e mentes abertas" foi seleccionada. "Elite", também estranhei!
Voltei a deter-me no redondo cem mil, que é, afinal, um número insignificante quando comparado com os muitíssimos mais milhares de telespectadores que, incentivados por uma palavra de ordem ("Agora toca a mexer... toca a descobrir segredos!") vêem o programa, seguem avidamente o programa, interagem (!?) no programa.
Isto acontece pela Europa, pela América do Norte e do Sul... onde os sistemas de ensino, nas suas diversas instâncias, têm destacado e imposto a educação cívica, para a cidadania, para as atitudes, para os valores, para a formação pessoal e social, para o respeito, para a crítica, para a intervenção social...
Ora, o cruzamento de intenções tão elevadas com números como os que acima se indicaram coloca-nos perante a perplexidade: uma coisa é o que se pretende em termos educativos; outra coisa são os resultados que, de vez em quando, nos chamam à realidade.
Quem tem a responsabilidade de educar não pode adiar a pergunta: Que princípios nos guiam? O que andamos a fazer? Para onde conduzimos as sociedades ocidentais?
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8 comentários:
Perguntas muito pertinentes, as que concluem o texto.
Por mim, suponho, desde há décadas, que o civismo, a cidadania, os valores e as atitudes, a formação pessoal e social, o respeito, etc., não se ensinam em aulas (isso deve-se às tretas do "eduquês), mas antes se inculcam pelo exemplo de pais, professores, cidadãos, personalidades e governantes e... exigem-se, de modo vigilante (nem cuscuvilheiro nem pidesco) e permanente.
Reafirmo o que julgo já aqui ter dito, e que um dia ouvi ao maestro Victorino de Almeida: Os pais dão educação [em sentido estrito], os avós dão tradição e os professores dão instrução.
Aos cidadãos cabe exigir, cada um de si mesmo e todos de todos. Assertivamente.
Sempre.
Ou então caímos na situação em que nos encontramos.
Oh diacho: "coscuvilheiro" e não "cuscuvilheiro". Lamento e peço desculpa.
O sistema de ensino, e em particular o seu principal pilar - os professores - não se pode demitir da função de educar, para além de instruir. Duvido mesmo que se possa instruir bem sem educar. O erro está em pensar que se ensina e se transmitem valores, civismo, atitudes... como se ensina Matemática ou Física. Daí ter sido um erro criar áreas (não disciplinares, é certo), com esta finalidade. Os valores transmitem-se por contacto (por contágio) pelo que é importante que desde que entram na escola, crianças e jovens, devem sentir que há um conjunto de regras e maneiras de estar que devem ser seguidas e que a sua integração e formação passa por interiorizá-las. O que não significa que este processo de aculturação por que os alunos devem passar tenha de ser feito de forma acrítica e dócil. A criatividade, e a irreverência, que não deve ser confundida com impertinência, têm um papel importante no aperfeiçoamento do funcionamento dos grupos e da sociedade.
O modo como este problema tem sido tratado nas nossas escolas não é alheio ao facto do nosso sistema de ensino ser essencialmente reprodutor das desigualdades sociais. A falta de exigência (deixada para outras instâncias) relativamente aos conhecimentos exigidos tem feito o resto...
Professor José Batista;
"o civismo, a cidadania, os valores e as atitudes, a formação pessoal e social, o respeito, etc., não se ensinam em aulas" (isso deve-se às tretas do "eduquês)"
Ora essa, Professor, quantas crianças não aprenderam por exemplo, a importância de reutilizar e reciclar, na Escola, e mais, foram essas crianças que com a aprendizagem, sensibilizaram os pais para a necessidade de o fazer, existem casos em que isso foi uma séria exigência dos filhos aos pais.
Cordialmente,
Caro Fernando Caldeira, os professores, nos quais me incluo, sabem que é fundamental acoplar instrução e educação, aliás, não há educação sem valores. Não obstante, constatando um facto, devem os pais/sociedade também acoplar esse binómio, o que não tem acontecido. Por isso, de forma sintética, não me venha com TRETAS, pois, cada qual deve saber o que tem a fazer...ou não?!
Uma sociedade onde cada qual sabe o que tem a fazer é uma utopia ao nível de outra mais divulgada ( "de cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo as suas necessidades"). Deixar a educação à família num país como o nosso (quarenta e oito anos de ditadura, etc, etc,...) é condenar grande parte da população à ignorância e à boçalidade, à aprendizagem das leis da selva e em muitos casos à marginalidade. Sobre os valores que a família pode transmitir aconselho-o a ver a série "Dallas", mas tem muitos outros exemplos...
Penso que isto tudo é uma falsa questão. Não importa distribuir conceitos por palavras: educação, instrução, quem deve ou não educar ou instruir, educação dentro de instrução... Há mais pessoas a candidatarem-se a um reality show do que ao ensino superior porque, não entrando pelos erros na educação do governo e tudo mais, faz parte da condição burra de se ser humano. No fim de contas, estão se todos a cagar para um futuro que os realize profissionalmente ou seja de que maneira for, porque tal não pode nem consegue fazer frente a um circo de fama onde o dinheiro gira livremente. Os humanos são assim e eu durmo descansado sabendo que, bem feitas as coisas, os tais 45 mil pesarão bem mais que os 100 mil a nível de tudo. Esses 100 mil estão reduzidos à sua mediocridade, a eles não lhes é reservado nada. Os 45 mil farão parte daquela percentagem que é a humanidade. Preto e branco, é a maneira correcta de ler este assunto. Aposto que deve haver demasiada 'politicacorretisse' neste blog para me calar. Façam-no, pois creio não correr o mesmo sangue nas veias deste povo português que corria naqueles que descobriram o mundo. Com todo o respeito, Oliver Sykes
quando dizes que os cem mil candidatos ao reality show hão de pesar menos que os cinquenta mil que entraram para a universidade estás a ser pouco rigoroso uma vez que eles pesam mesmo mais numa eleição (por serem mais) e que o resultado da mesma é determinante para o futuro dessas 50 mil (ou era quando os licenciados não eram também medíocres na sua maioria e tentavam viver em portugal, uma vez que já não tentam...) tendo os não medíocres que se resignar a uma governação do seu país por gente medíocre e interesseira(já para não falar dos governantes maçons).
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