segunda-feira, 30 de junho de 2008

Ideologia, lógica e discussão pública de ideias


Na discussão pública argumenta-se por vezes de um modo enganador. É o tipo de coisa que acontece na seguinte situação: uma pessoa defende uma ideia X. Como é natural e saudável, há pessoas que discordam de X. Mas quem discorda de X argumenta por vezes procurando mostrar que tal ideia pertence a um “ismo” detestado: liberalismo, comunismo, socialismo, capitalismo, etc.

Já me vi muitas vezes nessa situação. Não sendo um neoliberal (sou de esquerda, mas não me reconheço nas tolices da esquerda nacional), algumas das ideias que defendo são por vezes sumariamente executadas por serem aparentemente neoliberais. Outras vezes, as minhas ideias são sumariamente executadas precisamente por não serem neoliberais, o que pelo menos ajuda a equilibrar as coisas e dá para fazer algum humor. Mas estes equívocos escondem uma concepção profundamente errada da discussão pública.

A discussão pública de ideias é o melhor método que temos para testar a plausibilidade das nossas ideias. Não somos omniscientes — todos sabemos disso. Mas, como argumenta John Stuart Mill no maravilhoso Da Liberdade (Edições 70) (que não é um manifesto neoliberal, mas uma obra de esquerda — basta ler o que ele defende sobre o ensino dos pobres), apesar de toda a gente reconhecer teoricamente que não é omnisciente, a maior parte das pessoas age como se o fosse. Assumir que realmente não somos omniscientes leva-nos a considerar isto: O que podemos fazer para limitar os nossos erros? E a resposta, como sublinha Mill, é esta: a discussão pública. E esta é uma das bases da sua defesa da liberdade de expressão (que como é evidente está longe de estar interiorizada junto de muitos intelectuais de esquerda, como é o caso de Maria Teresa Horta, que não compreende que o preço a pagar pela liberdade de expressão é a chatice de alguém desatar a gozar connosco em público). Mas que noção de discussão pública pode desempenhar tal papel? É aqui que começa o problema.

Quem não compreende que a discussão pública é uma forma de testar ideias concebe-a como uma mera “contagem de armas” e como uma maneira retórica de fazer as pessoas aceitar as nossas convicções preferidas — e não como um convite a que todos analisem cuidadosamente tais convicções. Assim, cola-se o rótulo de um qualquer “Xismo” a uma ideia de que se discorda simplesmente para dizer à nossa manada: dado que nós somos anti-Xismo, devemos rejeitar esta ideia.

Esta atitude enfrenta dois problemas lógicos.

O primeiro é pressupor que há outra maneira qualquer de saber que o Xismo em causa é falso que não o mesmíssimo procedimento de discutir ideias publicamente.

O segundo é não se dar conta de que é muito mais difícil saber se o Xismo é falso do que saber se a ideia particular em causa é falsa, se a única razão que tivermos para pensar que o Xismo em causa é falso é o facto de o “ismo” que nós mesmos favorecemos se opor ao Xismo em causa. Pondo as coisas em pratos limpos: é muito mais fácil alguém argumentar directamente contra a ideia de que nenhuma escola deveria ser pública, por exemplo, do que atacar essa ideia dizendo apenas que é uma ideia neoliberal. Na verdade, desconfio que esta manobra só ocorre precisamente quando uma pessoa não tem qualquer outro argumento minimamente plausível contra a ideia em causa.

Em conclusão, se queremos uma discussão pública saudável temos de parar de a transformar em contagem de armas e retórica vácua. Temos de argumentar cuidadosamente quanto a cada ideia em causa, analisando-a, dissecando as suas vantagens e desvantagens previsíveis, tendo em conta os argumentos contra a nossa própria posição. Se não o fizermos, a discussão pública não contribui para a vida democrática — pelo contrário, tende a desgastá-la, e é talvez por isso mesmo que em Portugal as pessoas se cansam rapidamente da democracia e tendem a acolher de braços abertos qualquer ditadura que prometa soluções mágicas sem o incómodo da discussão pública de ideias.

A discussão pública de ideias não pode transformar-se na mera afirmação de ideologias. A ideologia é uma forma automática de fingir que se está a pensar, quando na verdade se está apenas a aplicar sem pensar receitas velhas a problemas novos. Não há qualquer razão para pensar que um conjunto de ideias gerais e muitas vezes velhas tem uma aplicação infalível na solução dos nossos problemas actuais. É preciso olhar para a realidade com olhos de ver, e ainda que procuremos inspiração na nossa ideologia favorita, temos sempre de nos perguntar se neste caso particular a aplicação da nossa ideologia favorita não terá consequências que nós mesmos não desejamos.

HUMOR - O SUPERHOMEM FEZ 70 ANOS



Em Família no Museu da Ciência de Coimbra


Com a devida vénia, transcrevemos artigo sobre o Museu da Ciência de Coimbra no suplemento "Fugas" do jornal "Público" de sábado passado:

Voar num balão dourado pela ciência

"Ahhhhhhhhh!". O grupo de crianças espanta-se e ergue a cabeça em direcção ao tecto do Museu da Ciência, em Coimbra. Basta carregarem num botão para o balão, gordo e dourado, voar até lá cima. A experiência do balão de ar quente é uma das preferidas dos miúdos que visita o museu, recentemente distinguido com o Prémio Micheletti.
Também a sala dos animais, onde estão representadas as espécies em vias de extinção, é das que motiva mais admiração. Mais uma vez, e tirando partido dos tectos altos do antigo Laboratório Chimico da Universidade de Coimbra, as espécies estão em cima de colunas, é preciso levantar os olhos e a cabeça para os observar. As crianças adoram este espaço que, na penumbra, cria um autêntico teatro de sombras e uma atmosfera estranha, com todos aqueles bichos de olhar parado no tempo.
No fim da visita, Daniel, de 13 anos, que se deslocou com a professora e os colegas da turma de Leiria a Coimbra, faz a apreciação do que viu. Do que gostou mais foi, claro, de ver o balão subir em direcção ao tecto. Ficou a saber que as primeiras demonstrações públicas dos balões de ar quente dos irmãos Montgolfier decorreram em Paris, em Julho de 1783; e que o primeiro balão de hidrogénio não tripulado, inventado pelo físico Jacques Charles, foi lançado em Agosto de 1783. Do que gostou menos foi de não ter ficado mais tempo, diz, em jeito de brincadeira, à professora. Filipa, de 14 anos, mete-se na conversa para dizer que adorou a sala dos animais.
Para o director do Museu da Ciência, Paulo Gama Mota, já não é novidade o fascínio que se sente diante da ala dedicada à biodiversidade e espécies em vias de extinção. Explica que os arquitectos que projectaram o espaço criaram "uma cenografia invulgar", colocando os animais em cima de armários altos, o que obriga os visitantes a levantar os olhos. Além disso, no local existe um jogo de sombras, uma metáfora que "enfatiza" a ameaça que paira sobre aquelas espécies. "Se não se fizer nada por elas, tornam-se sombras", diz o biólogo. Dito assim, à média luz, e no meio daqueles bichos embalsamados, quase sentimos um arrepio.
Claro que os arrepios passam num ápice às crianças. Uns segundos de paragem diante de algumas palavras mais misteriosas dos monitores e professores e, logo depois, já estão de telemóvel em punho a fotografar os animais da sala ou a correr para outra ala. É preciso lutar para que se concentrem, uma vez que nem todas as experiências do museu são fáceis de entender, pese embora o carácter interactivo e apelativo que o caracteriza.
Para Paulo Gama Mota, o universo do Museu da Ciência não tem idade. "Recebemos muitas crianças, de muitas escolas, de todas as idades, do infantário, passando pela escola primária, vêm cá muitas famílias, há pessoas que vêm sozinhas, pessoas até perto dos 100 anos! É um museu para todas as idades, embora explore alguns conceitos que não são muito simples. Nestes casos, sugerimos que marquem visita guiada", nota.

Passado e modernidade

Por isso é que, antes de se iniciar a visita, se sentam os meninos e meninas no anfiteatro do antigo Laboratório Chimico, por onde outrora passou Domenico Vandelli, o primeiro director do espaço. Uma vez lá sentados, e sossegados, inicia-se uma espécie de aula. É só para os acalmar, diante de tanta cor e de tantos botões à espera de mãos curiosas e atrevidas. "Sejam bem-vindos ao Museu da Ciência. Sabem de que século é este museu?", pergunta a monitora. "XIX?", ouve-se uma vozinha ao fundo do anfiteatro de madeira. "Não, é do século XVIII."
O museu também é curioso por aliar o passado, do qual a Universidade de Coimbra não consegue fugir, à modernidade que a ciência exige. Lá dentro, nas salas, máquinas, botões e invenções convivem paredes-meias com as vitrinas antigas de madeira, azulejos nas paredes e quadros onde os lentes de outros tempos terão escrito equações ininteligíveis a giz.
Para tornar esta convivência tão pacífica, foi preciso um cuidado trabalho de arquitectura, a cargo de João Mendes Ribeiro, Carlos Antunes e Desirée Pedro. Não haver ali dentro qualquer traço que nos fira e ser simultaneamente um lugar tão moderno foi o resultado de um longo processo. Ao mesmo tempo que nos parece um museu do futuro, vemos Vandelli passear lá dentro. O que nos parece uma intervenção mais neutra da parte dos arquitectos pode ser, na realidade, precisamente o contrário. Por detrás daquela harmonia, está um delicado trabalho artístico e de restauro.
O Museu da Ciência nasceu em 2006 no antigo Laboratório Chimico de Coimbra, desenhado por Guilherme Elsden no âmbito da reforma pombalina de 1772. O laboratório foi restaurado e mantiveram-se vários traços originais, como os vestígios do refeitório jesuíta do século XVI, um púlpito e algumas longas e antigas janelas que tornam o espaço luminoso. Este ano, foi galardoado, pelo Fórum Europeu dos Museus, com o Prémio Micheletti, que o distinguiu como melhor museu europeu do ano na categoria de ciência e tecnologia. Antes, já havia sido distinguido com o Prémio de Melhor Museu Português pela Associação Portuguesa de Museologia.
Paula Gama Mota não esconde a satisfação diante de tanto reconhecimento, mas adianta que tem, em conjunto com a equipa que trabalha no museu, realizado um grande esforço na área da divulgação científica. Para além de visitas guiadas, o museu oferece "workshops", "ateliers" para os mais novos durante as férias, demonstrações científicas arrojadas para as escolas, sessões de cinema, palestras com cientistas portugueses e estrangeiros para a comunidade académica, entre muitas outras actividades.
Consciente de que não basta, de que não se pode parar, e também porque, diz Paula Gama Mota, "o Prémio Micheletti representa uma responsabilidade acrescida em relação ao futuro", há já uma série de ideias que vão ser agora postas em prática. Como programas especialmente vocacionados para as famílias (ver texto ao lado) e a criação de um Museu Digital.

Jogos didácticos
Charadas familiares já a partir de Setembro

Por acreditar que o Museu da Ciência pode ser atractivo para idades muito diferentes, o director Paula Gama Mota pôs mãos à obra e já está, em conjunto com os funcionários do museu, a criar questionários para distribuir às famílias que queiram explorar o espaço. Em vez de simplesmente levarem os filhos a visitar o museu, os pais também podem participar na aventura. As famílias inscrevem-se - podem ser os pais, os avós, os tios, os primos mais novos - e, à entrada do museu, é-lhes distribuído um questionário, um conjunto de perguntas divertidas, curiosidades acerca das quais vão ter que investigar a resposta.
O projecto ainda está numa fase embrionária. Para já, estão a desenvolver-se os questionários; depois será preciso aperfeiçoar a ideia e limar as arestas para que tudo esteja pronto em Setembro. "Estamos a criar um conjunto de pistas para serem exploradas familiarmente, um "quizz"", diz Paulo Gama Mota.
O Museu da Ciência da Universidade de Coimbra tem uma vertente pedagógica, didáctica, que salta à vista. A exposição temporária "A diversidade da Vida, 300 anos de Lineu" tem claramente essa vocação. Explica, através de textos, de mensagens projectadas por vídeo na parede, todos os atropelos que cometemos em relação à natureza e ao planeta Terra. E lembra-nos o respeito que devemos ter pelos habitats dos animais, que não devemos poluir os rios e oceanos, que temos que reciclar.
Conta-se aos visitantes que há biliões de seres vivos, pertencentes a milhões de espécies, que partilham o planeta connosco. E que, graças ao trabalho de classificação e sistematização realizado por Lineu (com quem Vandelli se correspondeu - aliás, parte da correspondência está exposta no museu), podemos ficar a conhecer melhor as espécies vivas do planeta. Ficamos também a saber que se assiste actualmente à maior extinção em massa dos últimos milhões de anos. E que, por isso, devemos preservar a diversidade da vida no planeta e o próprio planeta.
A exposição conta-nos ainda que há programas de protecção em relação a algumas espécies, como o priolo dos Açores, e que o urso pardo já não existe em Portugal (devido à caça excessiva e à destruição das florestas); que o urso ibérico está ameaçado, assim como o sável e o atum robilho, devido à pesca e à poluição; e que o mamífero mais raro da Europa é o lince ibérico. "Na Serra da Malcata, já não se tem conseguido encontrar exemplares, só vestígios da passagem", nota Paulo Gama Mota.
Isto tudo quer dizer que existe no museu uma nítida intenção de sensibilização dos visitantes. A próxima exposição temporária, revela o director, será sobre Darwin.

Ver a terra como os astronautas

Também os "ateliers" realizados com os mais novos no museu têm uma intenção pedagógica. Alguns pretendem "chamar a atenção para o planeta Terra", outros para os "Bichinhos na Água". "Sabias que a vida na terra está ameaçada? Gostavas de conhecer melhor os animais e plantas que vivem perto de ti? Há som na Lua? Queres fazer uma orquestra com materiais recicláveis? Sabes ver as horas sem relógio? Porque há tremores de terra? Os continentes já estiveram todos juntos? Como é um vulcão por dentro?" - todas estas questões são apenas um exemplo do que os miúdos podem descobrir nas actividades do museu.
A exposição permanente do Museu da Ciência de Coimbra, intitulada "Segredos da Luz e da Matéria", permite ao público desvendar muitos segredos e ficar a conhecer diferentes objectos e instrumentos científicos das colecções da Universidade. Da experiência de decomposição da luz de Newton até à neurobiologia da visão, mesmo sendo adulto, vai ficar de boca aberta diante de muitos dos mistérios que ali são deslindados. E até poderá observar o Sol e os planetas num grande projector esférico interactivo, único em Portugal. A visão da terra é, aliás, a que podem experimentar os astronautas quando olham para ela do espaço.

Museu Digital

O Museu Digital é uma plataforma na Internet, criada pelo Museu da Ciência e sedeada em www.museudaciencia.pt, na qual está digitalizada parte do acervo museológico da Universidade de Coimbra. Para já, estão digitalizadas 18.500 peças das colecções da universidade (que incluem mais de 250 mil exemplares). São registos de colecções de história natural, animais, plantas, minerais, fósseis, mas também de colecções etnográficas, de instrumentos científicos, de física, de astronomia, de química. Sobre cada objecto há uma série de imagens e informação associadas.

Museu da Ciência vai crescer

O Museu da Ciência vai ser ampliado. O anúncio foi feito pelo reitor da Universidade de Coimbra, na cerimónia de entrega do Prémio Micheletti. A segunda fase do projecto prevê a recuperação do Colégio de Jesus e, para tal, existe uma candidatura da universidade ao Quadro Nacional de Referência Estratégico.

Informações úteis:

Contactos
Museu da Ciência
Laboratório Chimico
Largo Marquês do Pombal
3000-272 Coimbra
www.museudaciencia.pt
geral@museudaciencia.pt
Telefone: 239 85 43 50
Fax: 239 85 43 59
Visitas
As visitas orientadas por monitores devem ser marcadas por email, por telefone ou por fax.
Bilhetes
Estudantes: 1,5 euros; professores: gratuito, enquanto acompanhantes de visita de grupo; ateliers: 3 euros; adultos: 3 euros.
Horário
Terça a domingo, das 10h00 às 18h00

domingo, 29 de junho de 2008

Prémio Rómulo de Carvalho 2008


Informação recebida da Universidade de Évora:

Estão abertas candidaturas ao Prémio Rómulo de Carvalho de 2008, que pretende homenagear o grande professor, poeta, divulgador e historiador da ciência. Mais informações aqui.

ESTUDO GERAL


Informação recebida do Serviço Integrado de Bibliotecas da Universidade de Coimbra:

UNIVERSIDADE DE COIMBRA REÚNE PRODUÇÃO CIENTÍFICA EM SÍTIO WEB

O “Estudo Geral”, nome que recupera a designação original da Universidade de Coimbra, é um sítio Web (http://estudogeral.sib.uc.pt) agora criado que se desenvolverá pela iniciativa dos autores daquela escola que pretendam publicar aí a sua própria bibliografia (teses, livros, artigos, etc.), disponibilizando, sempre que possível, a versão integral dos textos. Assim, será o repositório digital da produção científica da Universidade de Coimbra, com o objectivo de facilitar à Academia e à sociedade em geral, o acesso à investigação realizada.

Com este projecto, a Universidade de Coimbra pretende aumentar a sua presença na rede informática mundial, tornando-se cada vez mais, e também por essa via, um emissor de conhecimento e cultura.

A iniciativa, desenvolvida pelo Serviço Integrado de Bibliotecas da Universidade de Coimbra (SIBUC) com a colaboração do Instituto de Investigação Interdisciplinar (III) da Universidade, da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e das várias Faculdades, será apresentada na próxima segunda-feira, dia 30 de Junho, pelas 12H00, no Anfiteatro IV da Faculdade de Letras, com a presença do Reitor.

Exames sem erros, porém erróneos


Recapitulemos a questão mais polémica em torno dos exames nacionais recentemente realizados: políticos, associações científicas, especialistas, professores, encarregados de educação, e até alunos consideram-nos descaradamente acessíveis. A comunicação social interessou-se pelo assunto e deu-lhe destaque. Num debate ocorrido na RTP.N, registei a posição do Director do Gabinete de Avaliação Educacional: especialistas indicados pela Sociedade Portuguesa de Matemática (S.P.M.) auditaram as provas de matemática antes da sua aplicação, pelo que as actuais críticas dessa Sociedade ao grau de dificuldade das mesmas são, no mínimo, caricatas. O representante da S.P.M. presente no debate, Filipe Oliveira, sublinhou que erros científicos e grau de dificuldade são coisas distintas. Demonstrou ainda – lendo o ofício enviado pelo Gabinete de Avaliação Educacional (G.A.V.E.) requerendo a peritagem – que aos especialistas da S.P.M. apenas foi solicitado que auditassem o primeiro aspecto.

Concentremo-nos, então, na seguinte interrogação: será possível que uma prova esteja correcta cientificamente mas apresente um grau de dificuldade errado? Indo mais longe, o grau de dificuldade que se imprime a uma prova de exame pode estar certo ou errado?

De modo propedêutico a este texto, publiquei neste blogue outro, onde afirmei que uma das funções da avaliação da aprendizagem é a função social, cujo fim é classificar como forma de prestar contas da eficácia do sistema de ensino à sociedade e de tomar decisões relativamente aos alunos e/ou ao próprio sistema de ensino. Esta avaliação, com carácter sumativo, tem como principal missão diferenciar os alunos com base nas suas aquisições académicas.

Ora bem: sem subterfúgios, é preciso reconhecer-se que os exames nacionais que agitam a sociedade portuguesa estão nesta categoria. Estando nesta categoria, e não noutra, a sua técnica de construção tem de ser consequente.

Trata-se de uma técnica simples que passo a explicar, muito resumidamente.

Sistematizam-se os conteúdos e as competências constantes dos documentos curriculares, tomando em consideração a importância atribuída a uns e a outras. Para tanto, deve usar-se uma tabela de dupla entrada que permite conjugar estes dois aspectos e, assim, determinar com maior precisão o tipo e o número de perguntas mais adequadas para a sua medição.

Posto isto, decide-se o grau de dificuldade das perguntas, de modo a discriminar a aprendizagem dos alunos. Num exame devem, pois, constar perguntas de dificuldade mínima, pouco exigentes do ponto de vista conteúdos/competências, às quais, em princípio, a grande maioria dos alunos responde correctamente, até perguntas de dificuldade superior, muito exigentes do ponto de vista conteúdos/competências, às quais, em princípio, só uma minoria dos alunos responde correctamente. Entre estes dois pólos formulam-se perguntas de dificuldade intermédia.

A ideia é avaliar “o que os alunos aprenderam” (conteúdos), “para que aprenderam” (competências) e a “profundidade com que aprenderam”.

Aceito, como referem diversas entidades do Ministério da Educação, que os especialistas do G.A.V.E, responsáveis pela elaboração os exames nacionais, dominem tal técnica, ainda que, por vezes isso não pareça claro. Há, contudo, um outro aspecto que lhe dá sentido e que na discussão em causa é crucial: como todas as técnicas, também esta é subordinada às opções de quem avalia. Efectivamente, em cada processo de avaliação, é preciso decidir o critério de rigor/diferenciação que se pretende obter. Critério de rigor/diferenciação que se consubstancia na proporção de perguntas de dificuldade mínima, média e superior que se introduz numa prova de exame. E, neste caso, é a Tutela que toma a decisão.

Então, o que devemos questionar, neste passo, é se é ou não um erro tal decisão ter recaído num critério de rigor/diferenciação mínimo; ou, se formos condescendentes, ter contemplado um critério de rigor/diferenciação médio; mas provavelmente ter excluído um critério de rigor/diferenciação superior.

Entendo que sim, que é um erro. E entendo mais: que é um erro muito grave. Poderia aduzir diversas razões para justificar a minha opinião, mas entendo que uma só é bastante por prevalecer em relação a outras: perverteu-se e dissimulou-se o objectivo dos exames nacionais, que é, relembro, distribuir os alunos numa escala pré-convencionada por referência a uma norma (de conteúdos e competências), como forma de perceber quem chegou a que patamares de aprendizagem.

Se, como país, entendermos que isso não interessa, tenhamos a coragem de dispensar este tipo de avaliação. Atitude que, apesar de errada, é menos errada do que aquela a que temos assistido.

sábado, 28 de junho de 2008

O INCRÍVEL HULK



Minha crónica do "Sol" de hoje (na foto de cima cena do filme com os actores Edward Norton e Liv Tyler, nos papéis de Bruce Banner e da sua namorada, e, em baixo, gravura de Goya sobre os sonhos da razão):

Hulk, ou melhor Bruce Banner, é mesmo incrível. Numa experiência secreta de uma arma por ele criada, o físico nuclear Bruce Banner foi submetido a forte radiação gama que o tornou capaz de se transformar em Hulk, um monstro de forma humana, de cor verde, que aterrorriza tudo e todos. Bruce é uma pessoa inteligente e sensível, mas, quando se irrita, fica um débil mental, de corpo enorme, que não é inteiramente mau, mas quando provocado arrasa quem lhe surja pela frente.

O filme do francês Louis Leterrier está, com muito público, nos cinemas de todo o mundo, escassos cinco anos depois depois de ter passado uma outra película sobre o mesmo tema, realizada pelo chinês Ang Lee. O superherói Hulk nasceu em 1962 nos “comic books” da Marvel, onde aliás continua, tendo passado para a televisão antes de chegar ao grande ecrã. Já nessa altura Hulk tinha de enfrentar um poderoso general norte-americano, que, para maior intensidade dramática, é pai de uma bela rapariga apaixonada por Bruce. No filme agora em exibição o general comanda um ambicioso capitão, de origem russa (resquício da guerra fria), que acaba também por se transformar num monstro pois era preciso um grande duelo final. Não vou dizer quem ganha...

Hulk é uma versão moderna de Frankenstein, o mítico personagem do Romantismo saído da pena de Mary Shelley em 1818, que passou ao cinema quando este surgiu. Frankenstein e Hulk podem ser vistos como a encarnação do medo do homem que desafia a Natureza com experiências temerárias. O século XIX, tendo necessidade de reagir ao século das luzes, imaginou histórias fantásticas como essa da criatura que, inopinadamente, foge ao criador. Criou monstros onde antes existia a razão. O pintor espanhol Francisco Goya bem previu ao inscrever numa gravura de 1799: “O sonho da razão gera monstros”.



A vida não é bem como nos filmes e a ciência não é tão má como na fita. Mas Hulk, ao actualizar Frankenstein, alerta-nos para a necessidade de manter a razão acordada. Ciência com consciência é razão que não se deixa adormecer.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Em defesa dos exames

O professor Carlos Corrêa publicou hoje um interessante artigo no Ciência Hoje sobre a necessidade de exames, no qual refere o meu artigo "Exames nacionais e sucesso escolar no ensino básico e secundário" sobre o tema. Agradeço a amável referência e parece-me que Carlos tem uma proposta bastante sensata: dissociar a transição de ano da obtenção de classificações. Assim, um aluno poderia transitar de ano com notas negativas, mas o seu diploma reflectiria evidentemente esse facto, dizendo algo como "Aprovado administrativamente" ou "Aprovado sem rendimento". Parece-me que esta medida teria a vantagem, referida pelo Carlos, de fazer ver a pais e alunos que o que realmente conta não é transitar de ano, mas saber; e os exames nacionais, rigorosos, seriam a medida tão objectiva quanto possível de pais e alunos saberem quanto sabem ou não sabem. Ao mesmo tempo, os palermas do governo actual e seu Ministério da Educação poderiam dizer à OCDE que em Portugal a percentagem de retenções é ZERO.

Ainda a falta de pontualidade


Há cerca de um ano o nosso leitor Augusto Küttner de Magalhães fez aqui uma oportuna intervenção sobre a "pontualidade ou a falta dela" (aqui). Como, passado um ano, o tema continua oportuno, publicamos novo texto dele sobre o mesmo assunto:

Torna-se angustiante continuarmos a ser um dos países que tem mais telemóveis “per capita”, que anda supostamente a pretender agarrar a modernidade e o progresso, e não sabermos ou não querermos aplicar as regras mais elementares de boa convivência entre cidadãos. A pontualidade, ou melhor a falta dela, é algo entre nós bastante assustador, sendo-o tanto mais que é usual muitas pessoas conhecidas continuarem a chegar sempre atrasadas onde quer que seja com a maior das naturalidades e até se dizer abertamente sobre algumas figuras públicas: "Ah! Com ele é sempre assim, é só esperar mais um bocadinho". Claro que de modo algum se trata de uma faceta exclusiva dessas pessoas (dado que entre elas algumas são exemplarmente cumpridoras e até chegam antes da hora marcada), é algo transversal a toda a nossa sociedade. Também para as pessoas comuns, cinco, quinze ou cinquenta minutos de atraso não constituem nenhum problema, bem pelo contrário são uma perfeita normalidade.

Não é, porém, possível comportar-mo-nos assim civilizadamente. Talvez se se continuarem a distribuir computadores portáteis como símbolo do vanguardismo, juntamente com os mesmos poderia ir um simples relógio, grande de preferência, porventura uma hora adiantado para melhor sincronizar os que ainda não atinaram que as horas são para ser cumpridas. Esta falta de pontualidade, para além do total desrespeito pelas normas de boa conduta e pelos seus cumpridores, implica o eterno "desenrasca" e o tudo "à última hora". Como sabemos, trata-se de fazer as coisas sem planeamento, sem procedimentos adequados, porque se foi o tempo para assim fazer e tudo tem de ser feito de qualquer maneira, em cima do joelho e em cima da hora, a ver se resulta. O pior é quando falha ou quando surge algum contratempo. Por vezes miraculosamente até resulta, mas o pior é quando se torna necessário repetir a "proeza" e, como foi tudo atamancado, nem se sabe bem como foi feito e a coisa poderá, se repetida, correr menos bem, mal ou até muito mal.

Está chegada a hora de aprendermos algumas regras de boa conduta em sociedade, nomeadamente respeitar os outros e sermos por estes respeitados. Das pessoas mais importantes às mais desconhecidas, sem diferenças de género, dos mais jovens aos mais idosos, é necessário mudar velhos hábitos entranhados: fazermos programas, cumprirmos horários, sermos exactos. Isso não depende de quem nos governa, depende de todos e de cada um de nós, da nossa prática nos procedimentos do nosso dia-a-dia. É uma questão de ficarmos mais e melhor sincronizados. Basta querer e já não era sem tempo.

Augusto Küttner de Magalhães (Porto)

McGinn e a psicofoda

Aqui...

Física e Jazz


Informação recebida do Departamento de Física da Universidade de Coimbra (no cartaz John Coltrane):

Jovens Físicos de todo país reúnem em Coimbra
Projecto "Quark!" Mostra as “insuspeitas relações entre a Física e o Jazz”

Qual a relação da Física com a música Jazz? E porque é que há tantos físicos a gostar de Jazz? O que é o "Live physics & jazz"? A comunidade “quarkiana” responde no próximo sábado, dia 28 de Junho, num encontro que reúne no Departamento de Física da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) estudantes de todo o país, incluindo os Açores, amantes da Física, bem como professores e investigadores e, ainda o Jazz ao Centro Clube.

A iniciativa encerra as actividades deste ano lectivo da "Quark!" – Uma escola de excelência para estudantes dos 11º e 12º anos de escolaridade, provenientes de todo o país, combinando formação à distância e presencial e que tem como objectivos promover a Física junto dos jovens portugueses. Atribui particular ênfase em assuntos de natureza extracurricular, baseada em demonstrações e experiências realizadas pelos próprios alunos. Este projecto conta com o patrocínio da Agência Nacional Ciência Viva.

A "Quark!" resulta da escola Olímpica da Física, que surgiu há uma década no Departamento de Física da FCTUC para preparar as equipas de estudantes que representam Portugal na Olimpíada Internacional de Física e na Olimpíada Ibero-americana de Física.

Mais informações sobre o projecto/Escola Quark! aqui.

Sessão de encerramento da edição 2007/08 do projecto "Quark!"
Anfiteatro do R/C do Departamento de Física da FCTUC

21h30: Apresentação do projecto "Quark!" e sessão formal de encerramento com a presença do Presidente da FCTUC, João Gabriel Silva.

22h00 – 23h00: Palestra “Miles Davis – tradição e modernidade” por José Miguel Pereira do “JACC -Jazz ao Centro Clube” seguida de debate sobre o tema “As insuspeitas relações entre a Física e o Jazz” por José António Paixão, José Miguel Pereira e Inês Ochôa

23h00-23h30: Concerto com a banda jazz “FUSE” (a contrabaixista, Inês Ochôa, é aluna do curso de licenciatura em Física da FCTUC)

23h30-0h30: Sessão de observação astronómica no terraço do Departamento de Física (Joana Marques, Secção de Astronomia e Astrofísica da Associação Académica de Coimbra)

Todos os eventos são gratuitos e abertos a todos os interessados.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Exames fáceis?

Depoimento que prestei ao "Jornal de Leiria", que me perguntou se concordava que os exames estavam cada vez mais fáceis:

Os professores e os pais convergem na opinião de que há um esvaziamento dos exames nacionais. Quanto aos alunos, basta ver o que dizem na TV à saída das provas. Eu fui ver alguns exames deste ano e parece-me que alguém anda a brincar com o esforço de professores e alunos. Teme-se o pior: pelo caminho que as coisas levam, qualquer dia o exame de Portumática do 9º ano - uma só prova para ser mais fácil - será escrever a palavra "batata", dizer se é nome ou substantivo (a ver se sabe as TLEBS), contar o número total de letras dessa palavra e, finalmente, traçar uma circunferência à volta do resultado. Claro que vai ter a cotação toda um aluno que conte três, pois contou correctamente sílabas em vez de letras, e que desenhe um quadrado em vez de uma circunferência, pois também é uma figura geométrica. Seria cómico se não fosse trágico!

CHICAGO, 1933: UM CONTO AMERICANO


“Um século de progresso” era o mote da Exposição Mundial que em 1933 e 1934 esteve patente na cidade de Chicago, Estados Unidos. É nessa cidade e nessa altura que se passa a peça “Um Conto Americano – The Water Machine” do dramaturgo norte-americano, natural de Chicago, David Mamet, que agora está exibição no Teatro Nacional de D. Maria II, em Lisboa, com encenação de Maria Emília Correia.

O enredo da peça é muito simples e pode contar-se, para quem ainda não a viu, em poucas palavras: um jovem operário, Charles Lang, inventa um revolucionário motor a água (esse motor não existe, pelo que essa invenção não aconteceu), querendo patenteá-lo e, com os rendimentos, ir viver pacatamente para uma casa no campo com a irmã, mas dois advogados, representando interesses tão poderosos como obscuros, perseguem-nos furiosamente (isto não aconteceu, mas podia ter acontecido)... O azar do casal de irmãos é atribuído no final ao facto de o jovem ter interrompido uma carta em cadeia. Neste “conto americano” e ao contrário da maioria dos outros contos, o mal ganha ao bem, advindo esse resultado de uma fatalidade. A moral da história é muito pouco moral.

A Exposição Mundial de Chicago, que celebrava os progressos do início do século passado, está subjacente a todo o enredo, surgindo mesmo em cena com a ajuda de um guia do Pavilhão de Ciência, o “Hall of Science”, que, entre outras maravilhas, apresenta um “navio-foguete” que atravessa os ares. O guia louva efusivamente os benefícios da ciência, embora mencionando em paridade os malefícios: “Science is the greatest force for good and evil”. Os progressos do século são, afinal, os progressos da ciência, e num país e numa cidade dizimados pela Grande Depressão (que, começada em 1929, atingia por essa altura atingia o seu vale mais fundo), as novidades da ciência expostas na feira constituíam uma luz de esperança no futuro. E havia, de facto, algumas razões vindas da ciência para ter esperança: em 1933, reuniu-se em Bruxelas a 7ª Conferência Solvay de Física, com dezenas de actuais ou futuros prémios Nobel a discutir avanços promissores da física nuclear, e o Prémio Nobel da Física foi dado a dois talentosos jovens, o austríaco Erwin Schroedinger e o inglês Paul Dirac, que tinham ajudado a criar, poucoa anos antes, a teoria quântica, um ramo da Física que de facto mudou o mundo no século XX. Mas, por outro lado, foi nesse mesmo ano que Adolf Hitler subiu ao poder na Alemanha e que as suas ideias se começavam as espalhar, mesmo para além do Atlântico. Foi também o ano em que Franklin Roosevelt foi eleito Presidente dos Estados Unidos, tendo de enfrentar em primeiro lugar a Grande Depressão, com o “New Deal”, e depois o Terceiro Reich, com a entrada na guerra. Em Bruxelas estavam ainda unidos muitos físicos que a guerra mundial haveria de desunir (lembre-se a peça “Copenhaga” de Michael Frayn)

Apesar de a ciência parecer ter um papel central nesta peça, de facto a ciência é um pouco lateral à história. Para começar, o objecto de disputa – o motor a água - é tecnológico e não propriamente científico. Charles Lang faz um biscates na sua oficina e pouca ideia tem da ciência do seu tempo, numa altura em que a melhor tecnologia já se tinha de basear em conhecimentos científicos avançados. Fazia-se boa ciência nessa época, inclusivamente em Chicago, na Universidade de Chicago. E no “Hall of Science” distribuía-se mesmo um interessante “booklet” dedicado a divulgar as ciências básicas como a física e a química. Mas o rapaz era um inventor isolado, desligado dos círculos científicos e até da indústria mais avançada. O autor da peça assume a atitude um pouco “naif”, mas que ainda hoje está generalizada, de confusão entre ciência e tecnologia, entre conhecimento e aplicações práticas. Há que convir que, por vezes, a destrinça não é fácil, o que leva a situações nas quais o justo paga pelo pecador. Mas ela deve ser procurada, até porque a existência ainda hoje de numerosos inventores auto-didactas mostra que se pode buscar aplicações por tentativas avulsas sem ter afinal grandes conhecimentos sobre o mundo.

Mas há um outro argumento que serve para mostrar que a ciência, ao contrário do que acontece no chamado “teatro científico” (de que "Copenhaga" é exemplo), ligado de perto aos conceitos e às práticas das da ciência, é lateral à história: se substituirmos o pretenso motor a água por um mapa do tesouro ou por um tesouro qualquer, o enredo poderia ser exactamente o mesmo. Quer dizer, os mauzões dos advogados não perseguem o bom do rapaz por ele saber ciência demais ou poder vir a saber demais, mas simplesmente apenas porque ele se pode tornar rico – o tal sonho americano – prejudicando alguns dos ricos já existentes – que sabem como ninguém transformar os sonhos dos outros em pesadelos.

De qualquer modo, além de recriar bastante bem uma época histórica decisiva no século XX - a cenografia, usando toda uma parafernália de recursos, é excepcional – a versão de “Um Conto Americano” que está no Teatro Nacional conta de uma maneira sedutora uma história que, apesar de simples, pode ser vista de várias maneiras. Uma história que nos faz pensar. Confesso que, apesar disso, esperava mais da escrita de David Mamet, que não conhecia e tinha visto muito apregoada, mas em sua defesa há que dizer que a peça é do começo da sua carreira e que foi escrita originalmente para a rádio e não para o palco (o que resulta na telefonia pode não ser o que resulta num teatro, um problema que foi resolvido numa versão americana com a colocação de um estúdio radiofónico em palco). Um bom naipe de actores assegura uma boa representação, com Luís Gaspar e Paula Neves nos papéis principais de Charles e Rita Lang. Destaco uma grande senhora do teatro português, Lourdes Norberto, que faz um pequeno papel de uma emigrante polaca. A encenação vive da frequente mutação de cenários de cunho tecnológico, que não se poderá repetir noutro palco (chove mesmo a sério numa das cenas, pelo que a peça não é nenhuma seca!). O potencial espectador fará bem em ir ao Teatro Nacional porque um espectáculo desse tipo não se volta a fazer facilmente.

Uma palavra final sobre energias renováveis, um tema que é hoje mais actual do que nos anos 30. O motor a água da peça não é uma alternativa viável aos motores convencionais pela simples razão de ser fisicamente impossível. O dispositivo mais parecido é o motor a células de combustível que combinam oxigénio e hidrogénio para dar água (é um motor a água ao contrário). Mas remonta aos anos 30 a energia nuclear, uma das formas de energia que, embora não sendo renovável, tem ainda muito para dar a um planeta que é obrigada a diminuir o efeito de estufa. Em 1933 o casal Joliot-Curie fazia, em Paris, as primeiras experiências de radioactividade artificial, desencadeada por uma reacção nuclear. A energia nuclear começava então a ser uma hipótese plausível. Em 1939 era descoberta a cisão nuclear por Otto Hahn em Berlim. Onde foi construída a primeira pilha nuclear, baseada numa reacção em cadeia? Pois tal ocorreu em 1942, já durante a guerra, precisamente em Chicago, debaixo das bancadas de um estádio, por obra e graça de Enrico Fermi, um genial cientista italiano que estava na Conferência de Bruxelas e que, como muitos outros, foi obrigado a emigrar, demandando a América. Ele e os outros cientistas que emigraram, europeus ou americanos, esses sim, viveram, ao contrário de Charles Lang, o sonho americano (Albert Einstein também, emigrado para a América em 1933). E não houve cartas em cadeia que os tivessem impedido de vencer...

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Para que serve a avaliação?


Em comentário ao texto – Basta de exames fáceis, dizem eles!–, aqui publicado, interroga-se um leitor sobre qual será a finalidade de uma prova de avaliação.

Trata-se de uma excelente questão que, parecendo de resposta óbvia, tem desencadeado bastante discussão no campo da pedagogia.


Sendo o conceito de avaliação escolar muito amplo, restrinjo-me, neste texto, à avaliação que é feita ao desempenho dos alunos, através de testes, provas, ou exames, para verificar as suas aquisições académicas.

Mesmo sem entrar em deambulações históricas, devo referir que a avaliação - o modo de aferir se o que se pretende ensinar está a ser aprendido e em que medida o está - vem de tão longa data que se perde no tempo, mas foi a democratização da escolaridade que contribuiu para a sua formalização e lhe imputou muitas das regras pelas quais ainda hoje se rege.

O facto de muitos alunos passarem a acorrer às escolas requereu uma nova estratégia organizativa que assentava, essencialmente, em dois aspectos: (1) a sua distribuição por classes ou grupos homogéneos (a partir de critérios como a idade, o nível de conhecimento, o ritmo de aprendizagem) para rentabilizar o investimento feito no ensino e (2) o controlo regular das suas aquisições que permitia situá-los numa escala classificativa e, assim, decidir a sua passagem ou retenção em cada patamar. Este controlo poderia estender-se, ainda que indirectamente, aos professores, inferindo-se, pelos resultados dos alunos, a qualidade do desempenho docente.
Cedo se percebeu que tais resultados podiam indicar quem estava apto a exercer certas tarefas na sociedade, legitimando, assim, o surgimento de certificados.

É claro que, paralelamente, a esta dimensão estruturada e solene da avaliação, sempre existiu uma outra, mais espontânea e informal, destinada a acompanhar a evolução de cada aluno.

Nos anos vinte do século passado, três investigadores franceses – H. Pieron, Mme. Pieron e H. Laugier – resolveram estudar as provas a que os alunos eram sujeitos e perceberam que, do ponto de vista da confiança, deixavam muito a desejar. Efectivamente, identificaram discrepâncias importantes entre as classificações obtidas pelos alunos e as suas aptidões, nomeadamente as aptidões de ordem intelectual. Além disso, perceberam que se um professor corrigisse várias vezes a mesma prova atribuía pontuações diferentes, o mesmo acontecendo quando eram vários professores a corrigir a mesma prova. Os inúmeros estudos que se seguiram corroboraram estes dados e fizeram sobressair outros não menos inquietantes.

Perante tal cenário, surgiram duas atitudes opostas: uma, muito imbuída de ideologias alheias à pedagogia, acentuando a subjectividade, a aleatoriedade e, até, a perversidade das provas de avaliação, sustentava a sua redução ou, mesmo, eliminação; outra, continuando a sublinhar a importância das provas de avaliação na organização do ensino e da aprendizagem e, até, na motivação dos alunos, bem como a indispensabilidade da escola prestar informação acerca sua da valia à comunidade, concentrou-se no seu aperfeiçoamento.

De facto, esta última atitude, fez concentrar esforços que se traduziram na invenção de numerosos métodos e técnicas de planificação, realização e correcção de provas, evitando que nelas interferissem os factores parasitas que haviam sido identificados. Ainda assim, não se conseguiu, até ao momento, e possivelmente nunca se conseguirá, que os procedimentos avaliativos sejam absolutamente inquestionáveis, perfeitos. Isto não significa, contudo, que nos demitamos de avaliar, ou que avaliemos de qualquer maneira. Significa, isso sim, que devemos assumir a avaliação com as limitações e potencialidades que sabemos que tem.

Permito-me destacar uma das medidas mais interessantes que foram tomadas para aperfeiçoar a avaliação e, consequentemente, as provas de que se socorre: essa medida foi explicitar a sua serventia.

Em tal explicitação, muitos autores estão de acordo em lhe atribuir duas funções:
- a função pedagógica, que remete para o acompanhamento dos aprendizes, no sentido de apurar os conhecimentos e capacidades que têm à partida e como é que vão evoluindo, apoiando, assim, a regulação do ensino (trata-se da avaliação diagnóstica e formativa, na terminologia do famoso investigador Benjamin Bloom);
- a função social, que remete para o apuramento das aquisições que os aprendizes demonstram num determinado momento, como forma de validar decisões institucionais, como a transição no percurso escolar, a atribuição de diplomas, a selecção de candidatos. Além disso, constitui um indicador de qualidade no e do sistema de ensino (trata-se da avaliação sumativa, na terminologia desse investigador).

Estas funções podem afigurar-se antagónicas mas devem ser entendidas como complementares, ainda que distintas: a primeira tem como objectivo homogeneizar os alunos, acompanhá-los a par-e-passo para os conduzir às mesmas aquisições; a segunda tem como objectivo diferenciar os alunos, situá-los numa escala pré-convencionada.

Muitas vezes assiste-se ao elogio da primeira e à condenação da segunda. Quanto a isto é fundamental sublinhar que a sua relevância é equiparada, pois se a primeira informa sobre os processos de aprendizagem, a segunda informa sobre os produtos dela decorrentes.

A Quinta dos Animais

A Antígona acaba de anunciar uma nova tradução (de Paulo Faria) deste clássico cáustico de Orwell, que denuncia o tipo de manipulação política que hoje ainda é infelizmente corrente, e talvez até mais comum do que no seu tempo. Uma parte importante da manipulação política ocorre corrompendo a linguagem, o que se torna mais explícito no outro clássico de Orwell, Mil Novecentos e Oitenta e Quatro. Na selecção de ensaios que traduzi também para a Antígona, Por Que Escrevo e Outros Ensaios, escolhi alguns ensaios no qual Orwell explica lucidamente como ocorre a manipulação linguística, nomeadamente o muito estudado "A Política e a Língua Inglesa".

Ortografia e democracia

Na entrevista que o Miguel refere, o Gilberto Gil, actual ministro da cultura do Brasil, não compreende uma coisa óbvia: que os ajustes na língua são naturalmente feitos por quem a usa sem precisar de supervisão política. Isso acontece com a língua inglesa, que é muitíssimo mais importante do que a portuguesa no plano das ciências, da cultura, das artes, da tecnologia e da política.

O ministro é obviamente vítima da mentalidade antidemocrática, segundo a qual precisamos de comissões de sábios para supervisionar a língua, armados do Diário da República. Não precisamos disso. Precisamos apenas de implantar hábitos de discussão pública. De fazer como faz o Miguel no seu blog; de criar sites como o Ciberdúvidas; ou sites como a secção de linguística do Público.

Precisamos de cuidar todos da língua, mas não cuidaremos dela se o fizermos ditatorialmente, através de comissões de sábios, de Diário da República em punho. Pois se o fizermos, estaremos a matar o natural dinamismo da língua, a matar a sua democraticidade intrínseca; estaremos a imobilizar a língua e a dar a algumas pessoas um poder inusitado de impor a todas as outras pela força da lei as suas idiossincrasias.

Num processo genuinamente livre e democrático, manda na língua quem a usa, e não quem calha a estar armado do Diário da República.

Às vezes tenho a sensação de que não consigo realmente explicar esta diferença para mim óbvia. Vejamos: num país genuinamente democrático, como acontecem as coisas? As pessoas escrevem, discutem, pensam, articulam argumentos, procuram etimologias, etc.; algumas das opções serão mais adoptadas do que outras, acabando umas por ser consagradas em alguns dicionários, outras noutros. Isso fará subsistir por vezes alternativas, como “coisa” e “cousa” há uns anos ou, ainda hoje, “oiro” e “ouro”. Caso certos usos acabem por se impor, os dicionários acabarão por reflectir isso mesmo, passando a grafar certas ortografias como arcaicas. E é tudo mais orgânico, mais simples, mais democrático. E provavelmente melhor, dado que o processo de decisão foi gradual e resulta da própria prática das pessoas.

Caso este tipo de atitude existisse, poderíamos ter-nos livrado já do “p” de “óptimo”, que aparentemente faz imensa comichão aos autores do Acordo Ortográfico. Mas assim, com o Diário da República, tem o efeito oposto, porque já não estamos no tempo da outra senhora, em que apenas uma pequeníssima minoria da população usava a língua escrita.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Cérebro, Vida e Cultura


Seguindo-se ao seu 4º Encontro na Universidade de Coimbra e ao seu 5º Encontro na Universidade do Porto, o FORUM INTERNACIONAL DOS INVESTIGADORES PORTUGUESES, associação que reúne cientistas portugueses de todas as áreas espalhados pelo mundo, vai realizar de 18 a 20 de Dezembro próximo o seu 6º Encontro, no Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa. O tema é "Cérebro, Vida e Cultura", encontrando-se aqui a página do Encontro, onde os interessados se poderão inscrever.

A Conjectura de Poincaré


Informação recebida da Sociedade Portuguesa de Matemática:

A LIVRARIA ESCOLAR EDITORA, a SOCIEDADE PORTUGUESA DE MATEMÁTICA e a GRADIVA têm o prazer de convidar V. Ex.ª a estar presente na sessão de lançamento do livro

A Conjectura de Poincaré de George G. Szpiro

que terá lugar no dia 24 de Junho de 2008, às 18h30m, na Livraria Escolar Editora da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Edifício C5, ao Campo Grande, em Lisboa.

A sessão contará com a presença do autor e a apresentação da obra estará a cargo de Jorge Buescu e João Pimentel Nunes.

Seguir-se-á uma sessão de autógrafos.

Basta de exames fáceis, dizem eles!


Nas entrevistas que se fazem aos alunos à saída dos exames nacionais, sejam elas para a televisão ou para os jornais, ressalta uma coisa surpreendente: a maioria, não arriscando escrever a esmagadora maioria, acha-os fáceis ou muito fáceis; e, mesmo, os que reconhecem não ter estudado ou ter estudado pouco, acham-nos acessíveis.

Este estranho "fenómeno" pode ter inúmeras explicações mais ou menos delirantes: uma é que, sem se darem conta, os jornalistas escolhem os alunos mais aplicados e conscientes; outra é que os alunos estudam muitíssimo e conseguem aceder a um grau de excelência que sustenta a confiança que evidenciam; outra é que o seu optimismo aumenta na mesma proporção do pessimismo dos professores…

Há outra explicação em que algumas associações de professores e especialistas teimam: os exames são, de facto, fáceis. Melhor: são cada vez mais fáceis. E porquê? Para se obterem resultados “agradáveis” e, assim, acreditarmos que a qualidade do nosso sistema de ensino melhora, quando, na verdade, piora. Eu própria, sempre que analiso um exame nacional, tendo a corroborá-la. Mas a tutela desmente-a sistematica e veementemente, alegando que provém de vozes suspeitas, que denotam má vontade, vozes que procuram uma conspiração onde reina a transparência. É certo que os argumentos de que a tutela se socorre não constam da docimologia (estranha palavra que significa estudo dos exames), mas admito que pode guiar-se por outra lógica, ainda que não vislumbre qual. Devo assinalar que este cenário não é exclusivo do nosso país, está bem identificado e caracterizado na literatura internacional.

O que eu de maneira alguma esperava e, certamente, a tutela também não, era que os próprios alunos adoptassem a última explicação que referi e, mais, dissessem "basta". Pelo que ouvi a vários entrevistados, não querem exames que defraudem as suas expectativas; querem exames que meçam o que efectivamente estudam.

Considerando que nos documentos macro-curriculares se frisa a importância de se atender às necessidades, motivações e interesses dos alunos, talvez seja legítimo concretizar esse propósito e rever a exigência dos exames nacionais, como eles, afinal, solicitam.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

NOVO SÍTIO DO MUSEU DA CIÊNCIA


Vale a pena visitar o sítio muito ampliado e melhorado do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, o museu recentemente distinguido com o prémio europeu de "museu de ciência e tecnologia do ano": aqui. A partir do dia 25 de Junho vai aqui estar o Museu Digital, o maior arquivo electrónico (mais de 19 000 peças) português de instrumentos científicos, história natural e etnografia, que inclui parte significativa do acervo histórico-científico da Universidade de Coimbra.

Bettina Brentano e a imagem corporal


Aqui no "De Rerum Natura" gostamos muito dos "posts" do Rui Baptista, que já se tornou um colaborador habitual. Aqui vai mais um, esperando que os leitores também gostem (na foto Bettina Brentano, que foi amiga de Goethe e de Beethoven):

A imagem corporal é o desenho que formamos na nossa mente do nosso próprio corpo”.

Shilder (1980)

O estudo sobre a imagem corporal é transversal a fronteiras da psiquiatria, da psicologia e de todo o conhecimento que ao corpo diga respeito até porque a preocupação exagerada com os actuais padrões do mundo da beleza feminina pode levar a distúrbios alimentares, como a anorexia nervosa ou a bulimia, que sem tratamento adequado, e em tempo devido, podem ter o desfecho trágico de uma morte anunciada.

Como docente, sempre que tinha que abordar esta temática com os meus alunos dava o seguinte e simples exemplo da distorção mental do corpo. Dizia eu, se repararem, as representantes do chamado belo sexo (e, porque não confessá-lo, alguns representantes do chamado sexo forte) quando recebem das mãos do fotógrafo o envelope que contém as suas fotografias, mesmo que favorecidas pelas luzes do estúdio, a primeira coisa que dizem ao vê-las é: “”Ai que mal que eu fiquei!”

Passado pouco tempo, há como que uma “habituação” entre a fotografia e “o desenho formado na mente do corpo” , e o fotografado reconhece não ter ficado tão mal quanto isso. Minha falecida mãe, tida como uma bonita mulher, a partir da idade de sexagenária só muito a contragosto se deixava fotografar sem que eu compreendesse o porquê da sua relutância. Hoje tenho como motivo possível o facto de a fotografia, em que se começava a notar o efeito da passagem dos anos, não corresponder já à imagem guardada da juventude.

Através de uma prosa que fui rebuscar entre os papéis que me merecem guarida, aproprio-me de um texto de rara beleza transcrito por João Bénard da Costa, homem de uma invejável e multifacetada cultura, da autoria da escritora alemã Bettina Brentano (1785-1859):

“Contava ela que no colégio em que andava não havia espelhos e, por isso, não fazia ideia como era. Até que um dia, tinha eu 13 anos, fiquei estarrecida quando, sentada com as minhas irmãs ao pé da minha avó, vi o grupo inteiro reflectido num espelho. Reconheci imediatamente todas, menos uma estranha rapariga com olhos de fogo, muito corada e com umas grandes tranças pretas. Nunca a tinha visto, mas fui logo atraída para ela. Em sonhos já tinha amado uma pessoa parecida com aquela. E havia qualquer coisa na expressão dela que me comoveu tanto que os meus olhos se encheram de lágrimas. E disse de mim para mim que tinha de seguir aquela criatura, prometer-lhe fidelidade e confiança. Se lhe fizer um sinal, sei que ela responde. Se me levantar, ela virá ter comigo. Nesse momento sorrimos as duas. Só nessa altura tive a certeza que, no espelho, tinha visto a minha própria imagem” (“Os filmes da nossa vida”, O Independente, 14 de Outubro de 1994; estes textos foram reeditados em livro).

Em jeito de remate certeiro, João Bénard da Costa deixa-nos a seguinte e valiosa análise: “Há quem interprete este passo como manifestação de narcisismo. Nada disso. Do que se trata é de espelhismos: fidelidade à imagem própria, como primeiro preceito corroborativo da verdade, da vida, da beleza e do amor”.

A leitura deste breve texto autobiográfico de Bettina Brentano prova-nos que uma boa peça literária pode cativar e perdurar mais do que a leitura de enfadonhas páginas de tratados sobre temas de natureza científica, mesmo para as pessoas que a eles se dedicam profissionalmente. Haverá uma outra maneira de definir a imagem corporal de uma forma tão intensa, tão duradoura e tão bela como esta?

domingo, 22 de junho de 2008

O valor do Montagnana de Suggia


"A melhor maneira de o conservar é tocá-lo (…). É muito especial pelo valor que tem e pela antiguidade, por ter pertencido a Guilhermina Suggia, possivelmente a primeira grande figura da música erudita portuguesa com grande projecção no mundo (…). Tem sido uma semana bastante esquisita, porque é uma oportunidade única de tocar um instrumento como este."

Bruno Borralhinho

“Eu, Guilhermina Augusta Xavier de Medim Suggia Carteado Mena, viúva, violoncelista, residente na Rua da Alegria, número seiscentos e sessenta e cinco, desta cidade do Porto, encontrando-me no uso pleno das minhas faculdades e livre de qualquer coacção, faço por este meio e meu testamento e disposições de última vontade, para que se cumpram e respeitem tais como passo e enunciar:
- O meu violoncelo Stradivarius juntamente com dois arcos, um Tourte e outro Voirin, que se encontram na posse da Embaixada Inglesa em Lisboa, será enviado pelo nosso Embaixador à casa Hills de Londres, a fim de ser por ela adquirido ou vendido pelo melhor preço que se obtenha e o seu produto entregue à Royal Academy of Music, que o aplicará, segundo o melhor critério, por forma que o rendimento daí obtido se destine à criação de um prémio denominado Guilhermina Suggia, a atribuir, anualmente, ao melhor aluno de violoncelo.
- Possuo outro violoncelo, Montagnana, que igualmente será vendido pelo melhor preço, quantia essa que lego ao Conservatório de Música do Porto – através da Câmara Municipal do Porto, se o dito Conservatório continuar a pertencer-lhe, ou do Estado, se porventura ele passar a ser nacional – a fim de, com o rendimento deste legado, se instituir, também, um prémio designado Guilhermina Suggia, a atribuir, em cada ano, ao melhor aluno de violoncelo do referido Conservatório (…).
Lego, ainda, ao mesmo Conservatório, a minha biblioteca musical – material de orquestra e literatura de violoncelo -, objectos esses a que será dada instalação condigna, para que, dessa forma, o culto, que eu toda a minha vida dediquei à arte musical, perdure e sirva de incentivo a todos – Mestres e Discípulos – que à Arte se dedicam.
- O meu violoncelo Lockey Hill lego-o ao Conservatório Nacional de Lisboa, como homenagem a meu pai, que foi aluno desse Conservatório (…).

Neste extracto do testamento da grande violoncelista Guilhermina Suggia (1885-1950), percebe-se claramente a preocupação em deixar uma herança a Inglaterra e Portugal – segundo dizia, as suas duas Pátrias – que viesse a constituir um incentivo ao estudo da música e à interpretação musical.

Ao que se sabe, Inglaterra aproveitou bem e de imediato a sua quota da herança, criando quase de imediato uma bolsa de estudo que já foi atribuída pela Royal Academy of Music a dezenas de jovens violoncelistas; Portugal demorou mais a compreender a importância e extensão do legado. Assim, a preciosidade, com mais de três séculos, que é o Montagnana, um dos violoncelos preferidos de Suggia, que a acompanhou pelo mundo fora, esteve até 2004 guardada e quase esquecida a embolorecer na cave da Câmara Municipal do Porto e, depois, num cofre-forte do Museu Soares dos Reis. A autarquia deixou-o sair em 2005 para ser exposto no Museu Romântico. Nesse ano foi tocado em vários concertos no Norte, por José Augusto Pereira de Sousa, Prémio Guilhermina Suggia de 1986, que também gravou o seu som em CD.

Finalmente, neste mês de Junho, pela primeira vez depois da morte de Suggia, numa co-organização Antena 2 e Centro Cultural de Belém, voltou à capital, para ser se tornar o centro das atenções em dois recitais da integral das suites para violoncelo solo de J. S. Bach, que, ao que se diz, ela interpretava magistralmente. O responsável pela iniciativa foi Bruno Borralhinho, que é membro da orquestra alemã Dresdner Philharmonie e do agrupamento Ensemble Mediterrain.

Este acontecimento, bastante noticiado, tem uma particularidade que passou despercebida e que aqui destaco por entender que constitui o cerne da própria Educação: o jovem Borralhinho pediu à Câmara do Porto autorização para usar o violoncelo de Suggia justificando que “a melhor maneira de o conservar é tocá-lo”. É verdade isto que ele disse: o conhecimento seja em que área for – artística, científica, filosófica… – é um bem muito frágil, mais frágil talvez do que a matéria de que o Montagnana é feito. A sua preservação e ampliação depende do valor que lhe atribuímos, sendo que essa atribuição precisa de ser ensinada e aprendida. Desta maneira, transmitir, actualizar e recriar o conhecimento é uma tarefa inacabada, que tem de ser constantemente retomada; de outro modo extingue-se.

Mais do que os três milhões de euros em que está avaliado, o violoncelo de excelente fabrico italiano, tem a sua valia no que representa para as pessoas que apreciam música e, em última instância, para o conhecimento. São essas pessoas que, como Bruno Borralhinho, têm responsabilidade de manter o conhecimento à luz do dia.

Imagens:
- Portrait of Madame Suggia, retrato a óleo datado de 1923, da autoria de August John, da Tate Gallery, em Londres in http://www.suggia.weblog.com.pt
- Fotografia de Nuno Borralhinho in http://www.suggia.weblog.com.pt

Documentos consultados:

- http://sol.sapo.pt/blogs/luardeagosto/archive/2008/06/08/Suggia_2E002E002E00_-a-violoncelista_2100_.aspx
- http://www.suggia.weblog.com.pt

GRANDES ERROS - INDIANA JONES E A BOMBA ATÓMICA



No filme "Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal" Indiana Jones (Harrison Ford) depara com uma cidade fantasma no deserto. Em breve se apercebe que está no sítio errado à hora errada. Trata-se de um sítio de teste de bombas nucleares (o filme passa-se em 1957, no tempo da guerra fria) e a explosão vai dar-se dentro de poucos segundos... Como se vai salvar o arqueólogo para nos garantir o resto do filme? Pois mete-se dentro de um frigorífico revestido a chumbo. O aparelho é ejectado com a explosão mas Indiana Jones sai de lá são e salvo para ver o cogumelo atómico.

Spielberg e Lucas são mestres do cinema e muita gente achará a cena verosímil. Mas não é. O local existe mesmo e funcionou para explosões experimentais: é um sítio de testes nucleares no Nevada, não muito longe de Las Vegas (cerca de 100 km a norte da famosa "Strip" de Las Vegas). Trata-se talvez do sítio mais bombardeado do mundo: de 1951 até 1992, quando um tratado baniu os testes deste tipo, realizaram-se ali quase mil explosões, as primeiras aéreas e da partir de 1962 subterrâneas.

Mas o resto está errado, completamente errado. Não se pode escapar do centro de uma explosão nuclear dentro de um frigorífico ainda que blindado. O chumbo poderia atenuar os efeitos das radiações, mas é um bom condutor térmico. A temperatura atingida na explosão não dá qualquer hipótese a quem esteja lá dentro. Mas há mais coisas erradas: por exemplo, o frigorífico revestido a chumbo é muito pesado e a sua inércia impede que ele seja projectado à frente da onda de choque. Este tipo de erros (com importância física, mas sem nenhuma importância cinematográfica) faz-me lembrar um manual de defesa civil do território português dos anos 60 que dizia o que fazer a quem se encontrasse perto do local da explosão. O manual mandava agachar no chão, mas não falava no frigorífico...

Continua a brincar!


Em 11 de Maio passado fez 90 anos que nasceu e em 15 de Fevereiro passado fez 20 anos que morreu. Falo do físico norte-americano Richard Feynman que na foto está a tocar bongo (aprendeu no Brasil). Em sua homenagem recupero uma minha recensão de um livro seu, "Uma tarde com o Sr. Feynman", que foi publicada no "Público" em 1992 e que republicada aqui fica à mercê dos motores de busca:

O físico Richard Feynman é uma espécie de herói dos estudantes e cientistas mais jovens. A Gradiva é a responsável entre nós por esse fenómeno de mediatização de um físico claramente acima da média, tanto no talento como na excentricidade. Conseguiu-o com os dois volumes auto-biográficos “Está a brincar Sr. Feynman” e “Nem sempre a brincar Sr. Feynman”, prosseguindo agora a apresentação do interessantíssimo personagem com uma pequena colectânea de duas conferências e duas entrevistas.

A primeira palestra é uma reflexão sobre o “Que é a ciência” feita perante uma audiência da Associação Americana de Professores de Ciências. Trata-se de um discurso muito pessoal, descontraído, divertido mesmo, sobre a ciência e o seu ensino. É Feynman “himself”, no seu melhor. Um cientista que se interroga sobre o que é a ciência fica tão atrapalhado como a centopeia de um poema infantil:

“Uma centopeia vivia feliz
até que um dia um sapo lhe disse, a brincar:
Com tantos pés, nunca te enganas, meu petiz?
Cheia de dúvidas de tanto pensar
caiu distraída numa vala
sem saber como marchar”.


Mas acaba, humildemente, por chegar a uma definição:

A ciência é a crença na ignorância dos peritos”.

A segunda palestra é solene e formal, pelo menos tanto quanto o autor consegue. Trata-se do discurso de aceitação do Prémio Nobel que, apesar de recheado de alguns pormenores técnicos, permite traçar a rota sinuosa de uma descoberta científica, terminando de uma forma comovente:

“Que aconteceu à velha teoria de que me enamorei na minha juventude? Bem, direi que se tornou uma velha dama, muito menos atraente, e, consequentemente, os jovens de hoje, ao vê-la, não estão dispostos a lutar pelo coração dela. Mas posso fazer aqui o melhor elogio que merece uma velha senhora: foi uma boa mãe, que deu a luz algumas belas crianças.”

A primeira entrevista é transcrita da revista “Engineering and Science” do California Institute of Technology. Tem o fascínio do discurso directo de um improvisador nato. A certa altura, quando Feynman defendia, de improviso, que nada se aprende com escritores ou artistas, emenda de repente a mão e diz, sem snobismo:

“Espere, retiro tudo o que acabo de dizer (...) Existem homens em todos os campos com quem consigo falar tão bem como com qualquer cientista”.

A entrevista final, que aparece depois de um poema de Feynman (muito mau; o grande físico fazia poemas maus e pintava quadros péssimos; com a arte dele nenhum artista aprenderia muito!), foi feita pela revista norte-americana de ciência e ficção científica “Omni”, pertencendo a uma excelente série de entrevistas que aquele magazine tem realizado.

Os quatro textos são leituras indispensáveis a feynmanianos convictos, a todos aqueles que gostariam de subscrever o pano erguido pelos seus estudantes diante do hospital onde Feynman morria de cancro: “Dick, we love you!

Feynman morreu mas as aventuras dele continuam em livro. Uma obra do seu amigo Ralph Leighton ainda não publicada entre nós, “Tuva or Bust” (Addison-Wesley, 1991) conta uma viagem de Feynman que nunca se chegou a realizar, a um pais ignoto da Ásia Central. A república de Tuva, independente entre as duas guerras e anexada pela União Soviética, distingue-se apenas por ser o centro geométrico da Ásia, ter impresso bonitos selos de correio em losango e possuir uma capital com um nome formado só por consoantes. Feynman aprendeu “tuvês”, a língua de Tuva, tentou por todos os meios ao alcance de um cidadão anónimo ir a esse canto dos confins do mundo, chegou a fundar a Liga dos Amigos de Tuva mas, entretanto, foi obrigado a despedir-se de uma vida intensamente vivida sem ter concretizado os seus planos de viagem. Feynmanianos: havemos de combinar uma excursão a Tuva!

Título: "Uma tarde com o Sr. Feynman"
Autor: Richard Feynman. Introdução, apresentação, notas e tradução de A. M. Nunes dos Santos e C. Auretta
Editor: Gradiva, 1992.

sábado, 21 de junho de 2008

TOP TEN DOS POSTS MAIS COMENTADOS DO “DE RERUM NATURA”

Já ultrapassámos os 1500 “posts”. O “top ten” dos mais comentados (onde o tema da ciência e religião predomina) é o seguinte:

1- Criacionismo = Desonestidade Intelectual
Palmira Silva, 1/10/2007, 148 comentários

2- Sagan à Procura de Deus
Carlos Fiolhais, 3/10/2007, 138 comentários

3- Os espantalhos criacionistas
Palmira Silva, 30/10/2007, 138 comentários

4- Ciência e Religião em Roma
Palmira Silva, 16/1/2008, 119 comentários

5- Pensamento crítico
Ludwig Krippahl, 10/12/2007, 116 comentários

6- Ciência e Banha da Cobra
Desidério Murcho, 29/3/2007, 113 comentários

7- Porquê Deus se tenho a ciência? II
Alfredo Dinis, 17/12/2007, 106 comentários

8- Religião à Portuguesa
Desidério Murcho, 29/11/2007, 95 comentários

9- Lógica e Falácia correlação-causalidade
Jorge Buescu, 23/4/2007, 89 comentários

10 - Porquê Deus se tenho a ciência? I
Alfredo Dinis, 16/12/2007, 87 comentários

sexta-feira, 20 de junho de 2008

GRANDES ERROS: FAZER PIPOCAS COM TELEMÓVEIS



Têm circulado pela Internet, com milhões de pessoas a ver, alguns vídeos como este que pretendem fazer crer que se pode fazer pipocas com telemóveis. Não pode porque é fisicamente impossível! Aliás, basta fazer a experiência: num jornal fizeram a experiência com todos os telemóveis da redacção e nem uma pipoca saltou. Não é apenas uma questão de falta de potência das microondas, é também o facto de as frequências das ondas usadas nas comunicações não serem as mesmas que as que servem para excitar moléculas de água num forno. Se a radiação dos telemóveis tivesse esse efeito nem sequer poderíamos agarrar neles. O físico norte-americano Louis Bloomfield, autor do best-seller "How Everything Works" sobre o funcionamento de aparelhos comuns, disse isto mesmo à revista "Wired" (aqui).

Qual é então o truque? Pode ser edição do vídeo ou, mais provável, a colocação de uma fonte de aquecimento debaixo da mesa. Vídeos deste tipo colocados no YouTube ao mesmo tempo por poucos utilizadores (anónimos) têm normalmente por trás uma campanha de publicidade. É também este o caso. Já se sabe que foi a companhia Cardosystems, que vende equipamentos de "bluetooth", a responsável pela campanha, pois ela própria o reconheceu (aqui). Dado o número de pessoas que acreditaram nesta patranha, eu diria que a empresa não foi responsável: foi completamente irresponsável!

ERRAR MUITO É DESUMANO


Minha crónica do "Público" de hoje:

Os exames nacionais aí estão de novo mas, infelizmente, a polémica com os maus enunciados também. Logo no primeiro exame, de Português do 12º ano, os alunos, os professores e as famílias ficaram baralhados com perguntas de escolha múltipla nas quais há ambiguidades. Este é um erro evidente na elaboração das provas: não é preciso ser especialista para se saber que uma prova deve ser clara e permitir respostas claras. Que se há-de pensar quando professores experientes hesitam sobre a resposta a dar e até acham que há mais do que uma alternativa aceitável? Já nem falo da TLEBS, a nova gramática que continua a ser usada em contradição com o prometido.

A avaliar pelos exames que têm saído nos últimos anos seria, de facto, uma surpresa que este ano não houvesse provas mal feitas. No ano passado, o Director do Gabinete de Avaliação Educativa (GAVE) do Ministério da Educação reconheceu culpas nos erros nas provas de Física e de Biologia, tendo os alunos sido compensados com a majoração do que fizeram nos itens restantes. Mas o responsável do GAVE, apesar de ter dado a mão à palmatória, continua no mesmo lugar e não se percebe, a avaliar pela primeira amostra deste ano, que os serviços que dirige tenham aprendido a lição. As correcções da prova de Português não saíram logo no final do exame, para esclarecimento e tranquilidade de todos. A Associação de Professores de Português não terá podido divulgar as suas correcções a tempo. E o inefável assessor de imprensa do Ministério, que é especialista em justificar o injustificável, não foi capaz de dar mais do que uma desculpa esfarrapada para o insólito atraso de dez horas.

Há também erros jurídicos associados aos exames. Lembro que, em 2006, os resultados nas provas de Física e Química do 12º ano levaram o Ministério a conceder, à margem da lei, novas oportunidades a um subconjunto de alunos. Que isso foi ilegal ficou claro, embora com insuportável atraso, dos acórdãos do Supremo Tribunal Administrativo e do Tribunal Constitucional. Muito me admira que o Ministério da Educação não tenha ainda reconhecido o erro crasso que cometeu ao violar a lei maior do país e recompensado os prejudicados. Errar é humano. Mas errar muito é desumano.

Em matéria de exames, há dois aspectos globais que são bem mais relevantes do que erros pontuais nas provas. Em primeiro lugar, toda a gente, excepto o GAVE, percebe que os exames estão, em geral, cada vez mais fáceis. Quem não sabe nada de nada pode sempre tentar a sua sorte em mal alinhavadas questões de “cruzinhas”, não precisando sequer de saber escrever. Este caminho para o abismo da ignorância tem sido denunciado por muita gente. Ainda recentemente a Sociedade Portuguesa de Matemática apontou o dedo ao facilitismo patente nas provas de aferição no básico. Mas o Presidente do GAVE, num insulto à inteligência, retorquiu dizendo que não existiam “perguntas demasiado elementares, mas sim de dificuldade diferente”. O que fazer a não ser, talvez, dar uma gargalhada?

O segundo aspecto é tão grave como o primeiro (apetece o trocadilho “tão GAVE”). Trata-se da linguagem tanto das provas como das “propostas” de correcção oficiais. É uma enormidade linguística e educativa que, num exame do 12º ano de Português, apareça uma frase como: “Para responder, escreva, na folha de respostas, o número do item, o número identificativo de cada elemento da coluna A e a letra identificativa do único elemento da coluna B que lhe corresponde”. Isto não é um exame sério do domínio da língua, é uma charada. Como fiquei sem saber para que serve este tipo de exames, fui ao sítio do GAVE: “Os exames nacionais são instrumentos de avaliação sumativa externa no Ensino Secundário. Enquadram-se num processo que contribui para a certificação das aprendizagens e competências adquiridas pelos alunos e, paralelamente, revelam-se instrumentos de enorme valia para a regulação das práticas educativas, no sentido da garantia de uma melhoria sustentada das aprendizagens.” Fiquei na mesma. Alguém me decifra o arrazoado?

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Elogio a Sócrates

"Meta-se com gente do seu tamanho e haja respeitinho por quem não tem nem idade, nem percurso profissional, nem posição social para gastar mais cera com tão ruim defunta." Era assim, sem mais nem menos, que João Bénard da Costa (na foto ao lado), Director da Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema, terminava ontem o seu artigo no "Público" no qual reagia à despudorada atitude da ex-Ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, de vir criticar publicamente um seu subordinado hierárquico depois de este já não o ser, quando antes esteve muda e queda. Eu sei que a tentação para a auto-desculpabilização é muito grande, mas devia haver um período de nojo para ex-governantes, durante o qual se inibissem de se pronunciar sobre pessoas e "dossiers" que tutelaram.

Com tantas dificuldades, externas e internas, que o Primeiro Ministro José Sócrates tem tido, é altura de lhe dar uma palavra de conforto, de lhe fazer um justo elogio. Está finalmente à vista para todos que fez muito bem em substituir há alguns meses a anterior Ministra. As remodelações ministeriais são mesmo para se fazer quando é preciso!

Lembram-se do descalabro que foi para o erário público a exposição "espampanante" dos czares russos que esteve no Palácio da Ajuda (escrevi sobre o assunto em Ajuda à Rússia)? Pois leio no "Público" de hoje que o acordo com a Rússia a este respeito está já a ser desfeito pelo novo Ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, cuja atitude no caso da cinemateca no Porto também foi exemplar. Vamos ver agora como enfrenta as questões pendentes do património, tanto material como imaterial (por exemplo a digitalização das nossas bibliotecas históricas). O país não será nunca rico se não tratar bem as riquezas que o passado lhe legou.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Calendário do Google

Informação recebida do Observatório Astronómico de Lisboa:

É um utilizador habitual do Google? Usa todos os dias o Calendário do Google? Foi a pensar em si que o Observatório Astronómico de Lisboa decidiu disponibilizar, através de um Calendário do Google de acesso público, alguns dos dados constantes do Almanaque
(http://www.oal.ul.pt/index.php?link=almanaques ),
que é publicado anualmente em papel e neste site.

Neste momento está disponível a lista de Fenómenos Astronómicos que pode consultar na nova página de "Efemérides" (http://www.oal.ul.pt/index.php?link=efem )
e adicionar ao seu calendário do Google clicando simplesmente no botão que diz
"+Google Calendário".

MORREU O NUNO

Homenagem possível a um poeta acabado de partir. Morreu o Nuno Júdice, coitado, prematuramente, o que é injusto. Com aquele seu ar desacti...