sexta-feira, 27 de junho de 2008

Ainda a falta de pontualidade


Há cerca de um ano o nosso leitor Augusto Küttner de Magalhães fez aqui uma oportuna intervenção sobre a "pontualidade ou a falta dela" (aqui). Como, passado um ano, o tema continua oportuno, publicamos novo texto dele sobre o mesmo assunto:

Torna-se angustiante continuarmos a ser um dos países que tem mais telemóveis “per capita”, que anda supostamente a pretender agarrar a modernidade e o progresso, e não sabermos ou não querermos aplicar as regras mais elementares de boa convivência entre cidadãos. A pontualidade, ou melhor a falta dela, é algo entre nós bastante assustador, sendo-o tanto mais que é usual muitas pessoas conhecidas continuarem a chegar sempre atrasadas onde quer que seja com a maior das naturalidades e até se dizer abertamente sobre algumas figuras públicas: "Ah! Com ele é sempre assim, é só esperar mais um bocadinho". Claro que de modo algum se trata de uma faceta exclusiva dessas pessoas (dado que entre elas algumas são exemplarmente cumpridoras e até chegam antes da hora marcada), é algo transversal a toda a nossa sociedade. Também para as pessoas comuns, cinco, quinze ou cinquenta minutos de atraso não constituem nenhum problema, bem pelo contrário são uma perfeita normalidade.

Não é, porém, possível comportar-mo-nos assim civilizadamente. Talvez se se continuarem a distribuir computadores portáteis como símbolo do vanguardismo, juntamente com os mesmos poderia ir um simples relógio, grande de preferência, porventura uma hora adiantado para melhor sincronizar os que ainda não atinaram que as horas são para ser cumpridas. Esta falta de pontualidade, para além do total desrespeito pelas normas de boa conduta e pelos seus cumpridores, implica o eterno "desenrasca" e o tudo "à última hora". Como sabemos, trata-se de fazer as coisas sem planeamento, sem procedimentos adequados, porque se foi o tempo para assim fazer e tudo tem de ser feito de qualquer maneira, em cima do joelho e em cima da hora, a ver se resulta. O pior é quando falha ou quando surge algum contratempo. Por vezes miraculosamente até resulta, mas o pior é quando se torna necessário repetir a "proeza" e, como foi tudo atamancado, nem se sabe bem como foi feito e a coisa poderá, se repetida, correr menos bem, mal ou até muito mal.

Está chegada a hora de aprendermos algumas regras de boa conduta em sociedade, nomeadamente respeitar os outros e sermos por estes respeitados. Das pessoas mais importantes às mais desconhecidas, sem diferenças de género, dos mais jovens aos mais idosos, é necessário mudar velhos hábitos entranhados: fazermos programas, cumprirmos horários, sermos exactos. Isso não depende de quem nos governa, depende de todos e de cada um de nós, da nossa prática nos procedimentos do nosso dia-a-dia. É uma questão de ficarmos mais e melhor sincronizados. Basta querer e já não era sem tempo.

Augusto Küttner de Magalhães (Porto)

1 comentário:

Rolando Almeida disse...

É realmente um dos problemas maiores que temos. Costumo dizer que perco tempo por chegar sempre a horas. Uma dica: as nossas escolas tem, muitas delas, regulamentado tempos de tolerância que os alunos tendem a tomar como regra. Por exemplo, se uma aula começa às 15 horas, o aluno tem 5 minutos de tolerância claramente regulamentados. Algumas escolas usam ainda o sistema do "segundo toque" de chamada. Isto acontece por uma razão: uma aula que começa às 15h, nunca começa às 15h, pois essa é a hora em que tanto professor como alunos resolvem deslocar-se para a sala. Isto não faz qualquer sentido, pois se marco um encontro com um amigo às 15h, não me ocorre sair de casa precisamente às 15h. Saio um pouco antes para que a hora do encontro seja às 15. De todo o modo só queria mostrar com alguns exemplos por que razão o "atraso" já se estimula e ensina nas escolas.
abraço

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