Transcrevo informação que recebi da Sociedade Portuguesa de Matemática (declaração de interesses: sou sócio da SPM e concordo com o que é aqui dito):
"Os resultados hoje divulgados das provas de aferição do primeiro e segundo ciclos de Matemática podem parecer, à primeira vista, indicar uma melhoria no nível dos alunos de 2007 para 2008. Seria excelente que isso acontecesse. A forma como as provas são construídas, porém, faz com que os seus resultados não sejam comparáveis de ano para ano, não sendo portanto possível tirar conclusões definitivas com base apenas nestes últimos números.
A SPM tem ressaltado repetidamente a necessidade de se construírem provas fiáveis, isto é, com dificuldade e critérios semelhantes, de forma a se ter uma medida realista dos níveis alcançados pelos alunos e da evolução do sistema de ensino. Infelizmente, o Ministério não tem sabido, ou não tem querido, fazer testes comparáveis. Os critérios têm mudado, as durações das provas têm mudado, a dificuldade das questões tem também mudado.
Não é credível que as negativas tanto no 4º quanto no 6º ano tenham caído este ano para menos de metade, por os alunos terem melhorado extraordinariamente as suas capacidades matemáticas de um ano para o outro. Estas variações podem ser, afinal, uma indicação de haver um número exagerado de questões demasiado elementares, como de resto indicava o parecer da SPM sobre as provas de aferição, divulgado a 20 de Maio de 2008. Reiteramos, portanto, a avaliação feita nessa altura, e remetemos para o parecer, disponível no site da Sociedade: http://www.spm.pt/files/Afericao2008.pdf.
Ressaltamos ainda que, em testes com resultados comparáveis, como o Programme for International Student Assessment – PISA, os estudantes portugueses têm exactamente a mesma classificação: 466 pontos em 2003 e 466 pontos em 2006."
O Gabinete do Ensino Básico e Secundário
da Sociedade Portuguesa de Matemática
1 comentário:
É minha humilde opinião que um dos grandes problemas acerca da matemática, e também das restantes disciplinas, tem sido apontado pelos próprios alunos desde
que me lembro de os escutar, e eu próprio também o dizer: "mas para que serve isto?"
Apenas estive na pele do aluno até hoje, posso queixar-me do que chegava a este lado, não mais.
Aquilo com que me deparei, foi que me foi ensinada a técnica, mas não a aplicação. Eu sabia resolver contas, não sabia resolver problemas, e isto porque
ninguém me ajudou a fazer essa ligação. Tendo em conta que a dada altura fui um aluno auto-motivado, estudei com afinco e passei nas provas. Mas fosse-me
dada uma questão sobre a realidade em que tivesse de aplicar cálculo diferencial, não sabia como o fazer. Só mais tarde, num curso pós secundário, em que
tive um engenheiro em vez de professor a ensinar-me, é que percebi as relações entre elementos matemáticos e o mundo físico.
Não compreendo como é que toda a gente se queixa, e ninguém quer mudar aquilo que está na base do problema. Não são os livros, não são os professores, é o
método. A matemática rodeia-nos em tudo. Na musica que ouço, nos movimentos que executo, até a cadeira em que estou sentado pode ser definida por uma
expressão matemática (bastante complexa, mas é possível).
Não vejo ninguém a mostrar aos alunos o quão fascinante a matemática pode ser. Não vejo ninguém antes da faculdade a leccionar matemática aplicada. Que
Diabo, não admira que os miudos não saibam para que serve aquilo. Daí até fazer o mínimo para passar, não vai grande distância.
Falei um dia com uma amiga Ucraniana, e perguntei-lhe como é o ensino no país dela. Acerca da matemática, ela diz que é uma disciplina normal. O rendimento
dela caiu quando veio para cá (o Português dela é irrepreensível). Onde estará o problema? Não seria de investigar e não ter problemas em assumir que o rei
vai nu para que de uma vez por todas se resolvesse esta questão?
Não acredito que por ser português se nasça com o gene matemático atrofiado. E não venham culpar as playstations, porque eu a dada altura preferia fazer
exercicios de matematica do que estar a jogar no meu PC. Acontece é que o mundo dos jogos tem uma lógica mais fácil do que a que nos é dada a perceber nas
aulas.
Alunos inteligentes podem tornar-se nos piores quando não são estimulados de acordo com as suas capacidades. Problemas de indisciplina ou de desinteresse são
frequentes.
É outra coisa que o professor não deve fazer, por mais pressionado que seja pelo ministério. Considerar iguais todos os alunos. Não são, cada um tem as suas
características. Fazer com que exista 2 ou 3 grupos na sala de aula, e dar acompanhamento distinto de acordo com as necessidades poderia ser uma solução.
Neste campo, que se lixem as pedagogias.
Andamos a papagaiar pedagogias à dezenas de anos e os resultados são a tristeza que se vê. Dêem liberdade aos professores para que estes possam fazer sonhar
os alunos. Esta mania de controlo dos ministérios já roça a fronteira do patológico.
Os melhores professores que tive foram sempre aqueles que contornavam as regras estúpidas, que por vezes tinham comportamentos excêntricos, mas que
estimulavam os alunos e lhes davam visões alternativas à formatação que o ministério gosta de impôr. A maior dádiva que esses professores deram aos seus
alunos foi mostrar-lhes como trabalharem sozinhos e terem gosto no que fazem.
Penso que quando mais docentes agirem assim, teremos o problema das estatísticas resolvido, sem ser com medidas avulsas e patéticas, que só nos enganam a
nós. Na Europa já perceberam até que ponto estamos atrasados nas ciências, e também já perceberam que temos a mania que somos mais papistas que o Papa.
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