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Como falei aqui do matemático e escritor setecentista José Anastácio da Cunha, vale a pena transcrever um soneto dele, que Aquilino Ribeiro classificou como "gema rara". A destinatária Margarida era uma senhora com quem Cunha viveu maritalmente em Valença do Minho. Na foto um grande pinheiro manso de Benagouro, Vilarinho da Samardã, Vila Real, que provavelmente já existia no século XVIII.
Copado, alto, gentil Pinheiro Manso;
Debaixo cujos ramos debruçados
Do sol ou lua nunca penetrados,
Já gozei, já gozei mais que descanso...
Quando para onde estás os olhos lanço,
Tantos gostos ao pé de ti passados
Vejo na fantasia retratados,
Tão vivos, que jàmais de ver-te canso!
Ah! deixa o outono vir; de um jasmineiro
te hei-de cobrir, terás cópia crescida
De flores, serás honra dêste outeiro.
E para te dar glória mais subida,
No meu tronco feliz, alto Pinheiro,
O teu nome escreverei de Margarida.
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