segunda-feira, 30 de junho de 2008

Em Família no Museu da Ciência de Coimbra


Com a devida vénia, transcrevemos artigo sobre o Museu da Ciência de Coimbra no suplemento "Fugas" do jornal "Público" de sábado passado:

Voar num balão dourado pela ciência

"Ahhhhhhhhh!". O grupo de crianças espanta-se e ergue a cabeça em direcção ao tecto do Museu da Ciência, em Coimbra. Basta carregarem num botão para o balão, gordo e dourado, voar até lá cima. A experiência do balão de ar quente é uma das preferidas dos miúdos que visita o museu, recentemente distinguido com o Prémio Micheletti.
Também a sala dos animais, onde estão representadas as espécies em vias de extinção, é das que motiva mais admiração. Mais uma vez, e tirando partido dos tectos altos do antigo Laboratório Chimico da Universidade de Coimbra, as espécies estão em cima de colunas, é preciso levantar os olhos e a cabeça para os observar. As crianças adoram este espaço que, na penumbra, cria um autêntico teatro de sombras e uma atmosfera estranha, com todos aqueles bichos de olhar parado no tempo.
No fim da visita, Daniel, de 13 anos, que se deslocou com a professora e os colegas da turma de Leiria a Coimbra, faz a apreciação do que viu. Do que gostou mais foi, claro, de ver o balão subir em direcção ao tecto. Ficou a saber que as primeiras demonstrações públicas dos balões de ar quente dos irmãos Montgolfier decorreram em Paris, em Julho de 1783; e que o primeiro balão de hidrogénio não tripulado, inventado pelo físico Jacques Charles, foi lançado em Agosto de 1783. Do que gostou menos foi de não ter ficado mais tempo, diz, em jeito de brincadeira, à professora. Filipa, de 14 anos, mete-se na conversa para dizer que adorou a sala dos animais.
Para o director do Museu da Ciência, Paulo Gama Mota, já não é novidade o fascínio que se sente diante da ala dedicada à biodiversidade e espécies em vias de extinção. Explica que os arquitectos que projectaram o espaço criaram "uma cenografia invulgar", colocando os animais em cima de armários altos, o que obriga os visitantes a levantar os olhos. Além disso, no local existe um jogo de sombras, uma metáfora que "enfatiza" a ameaça que paira sobre aquelas espécies. "Se não se fizer nada por elas, tornam-se sombras", diz o biólogo. Dito assim, à média luz, e no meio daqueles bichos embalsamados, quase sentimos um arrepio.
Claro que os arrepios passam num ápice às crianças. Uns segundos de paragem diante de algumas palavras mais misteriosas dos monitores e professores e, logo depois, já estão de telemóvel em punho a fotografar os animais da sala ou a correr para outra ala. É preciso lutar para que se concentrem, uma vez que nem todas as experiências do museu são fáceis de entender, pese embora o carácter interactivo e apelativo que o caracteriza.
Para Paulo Gama Mota, o universo do Museu da Ciência não tem idade. "Recebemos muitas crianças, de muitas escolas, de todas as idades, do infantário, passando pela escola primária, vêm cá muitas famílias, há pessoas que vêm sozinhas, pessoas até perto dos 100 anos! É um museu para todas as idades, embora explore alguns conceitos que não são muito simples. Nestes casos, sugerimos que marquem visita guiada", nota.

Passado e modernidade

Por isso é que, antes de se iniciar a visita, se sentam os meninos e meninas no anfiteatro do antigo Laboratório Chimico, por onde outrora passou Domenico Vandelli, o primeiro director do espaço. Uma vez lá sentados, e sossegados, inicia-se uma espécie de aula. É só para os acalmar, diante de tanta cor e de tantos botões à espera de mãos curiosas e atrevidas. "Sejam bem-vindos ao Museu da Ciência. Sabem de que século é este museu?", pergunta a monitora. "XIX?", ouve-se uma vozinha ao fundo do anfiteatro de madeira. "Não, é do século XVIII."
O museu também é curioso por aliar o passado, do qual a Universidade de Coimbra não consegue fugir, à modernidade que a ciência exige. Lá dentro, nas salas, máquinas, botões e invenções convivem paredes-meias com as vitrinas antigas de madeira, azulejos nas paredes e quadros onde os lentes de outros tempos terão escrito equações ininteligíveis a giz.
Para tornar esta convivência tão pacífica, foi preciso um cuidado trabalho de arquitectura, a cargo de João Mendes Ribeiro, Carlos Antunes e Desirée Pedro. Não haver ali dentro qualquer traço que nos fira e ser simultaneamente um lugar tão moderno foi o resultado de um longo processo. Ao mesmo tempo que nos parece um museu do futuro, vemos Vandelli passear lá dentro. O que nos parece uma intervenção mais neutra da parte dos arquitectos pode ser, na realidade, precisamente o contrário. Por detrás daquela harmonia, está um delicado trabalho artístico e de restauro.
O Museu da Ciência nasceu em 2006 no antigo Laboratório Chimico de Coimbra, desenhado por Guilherme Elsden no âmbito da reforma pombalina de 1772. O laboratório foi restaurado e mantiveram-se vários traços originais, como os vestígios do refeitório jesuíta do século XVI, um púlpito e algumas longas e antigas janelas que tornam o espaço luminoso. Este ano, foi galardoado, pelo Fórum Europeu dos Museus, com o Prémio Micheletti, que o distinguiu como melhor museu europeu do ano na categoria de ciência e tecnologia. Antes, já havia sido distinguido com o Prémio de Melhor Museu Português pela Associação Portuguesa de Museologia.
Paula Gama Mota não esconde a satisfação diante de tanto reconhecimento, mas adianta que tem, em conjunto com a equipa que trabalha no museu, realizado um grande esforço na área da divulgação científica. Para além de visitas guiadas, o museu oferece "workshops", "ateliers" para os mais novos durante as férias, demonstrações científicas arrojadas para as escolas, sessões de cinema, palestras com cientistas portugueses e estrangeiros para a comunidade académica, entre muitas outras actividades.
Consciente de que não basta, de que não se pode parar, e também porque, diz Paula Gama Mota, "o Prémio Micheletti representa uma responsabilidade acrescida em relação ao futuro", há já uma série de ideias que vão ser agora postas em prática. Como programas especialmente vocacionados para as famílias (ver texto ao lado) e a criação de um Museu Digital.

Jogos didácticos
Charadas familiares já a partir de Setembro

Por acreditar que o Museu da Ciência pode ser atractivo para idades muito diferentes, o director Paula Gama Mota pôs mãos à obra e já está, em conjunto com os funcionários do museu, a criar questionários para distribuir às famílias que queiram explorar o espaço. Em vez de simplesmente levarem os filhos a visitar o museu, os pais também podem participar na aventura. As famílias inscrevem-se - podem ser os pais, os avós, os tios, os primos mais novos - e, à entrada do museu, é-lhes distribuído um questionário, um conjunto de perguntas divertidas, curiosidades acerca das quais vão ter que investigar a resposta.
O projecto ainda está numa fase embrionária. Para já, estão a desenvolver-se os questionários; depois será preciso aperfeiçoar a ideia e limar as arestas para que tudo esteja pronto em Setembro. "Estamos a criar um conjunto de pistas para serem exploradas familiarmente, um "quizz"", diz Paulo Gama Mota.
O Museu da Ciência da Universidade de Coimbra tem uma vertente pedagógica, didáctica, que salta à vista. A exposição temporária "A diversidade da Vida, 300 anos de Lineu" tem claramente essa vocação. Explica, através de textos, de mensagens projectadas por vídeo na parede, todos os atropelos que cometemos em relação à natureza e ao planeta Terra. E lembra-nos o respeito que devemos ter pelos habitats dos animais, que não devemos poluir os rios e oceanos, que temos que reciclar.
Conta-se aos visitantes que há biliões de seres vivos, pertencentes a milhões de espécies, que partilham o planeta connosco. E que, graças ao trabalho de classificação e sistematização realizado por Lineu (com quem Vandelli se correspondeu - aliás, parte da correspondência está exposta no museu), podemos ficar a conhecer melhor as espécies vivas do planeta. Ficamos também a saber que se assiste actualmente à maior extinção em massa dos últimos milhões de anos. E que, por isso, devemos preservar a diversidade da vida no planeta e o próprio planeta.
A exposição conta-nos ainda que há programas de protecção em relação a algumas espécies, como o priolo dos Açores, e que o urso pardo já não existe em Portugal (devido à caça excessiva e à destruição das florestas); que o urso ibérico está ameaçado, assim como o sável e o atum robilho, devido à pesca e à poluição; e que o mamífero mais raro da Europa é o lince ibérico. "Na Serra da Malcata, já não se tem conseguido encontrar exemplares, só vestígios da passagem", nota Paulo Gama Mota.
Isto tudo quer dizer que existe no museu uma nítida intenção de sensibilização dos visitantes. A próxima exposição temporária, revela o director, será sobre Darwin.

Ver a terra como os astronautas

Também os "ateliers" realizados com os mais novos no museu têm uma intenção pedagógica. Alguns pretendem "chamar a atenção para o planeta Terra", outros para os "Bichinhos na Água". "Sabias que a vida na terra está ameaçada? Gostavas de conhecer melhor os animais e plantas que vivem perto de ti? Há som na Lua? Queres fazer uma orquestra com materiais recicláveis? Sabes ver as horas sem relógio? Porque há tremores de terra? Os continentes já estiveram todos juntos? Como é um vulcão por dentro?" - todas estas questões são apenas um exemplo do que os miúdos podem descobrir nas actividades do museu.
A exposição permanente do Museu da Ciência de Coimbra, intitulada "Segredos da Luz e da Matéria", permite ao público desvendar muitos segredos e ficar a conhecer diferentes objectos e instrumentos científicos das colecções da Universidade. Da experiência de decomposição da luz de Newton até à neurobiologia da visão, mesmo sendo adulto, vai ficar de boca aberta diante de muitos dos mistérios que ali são deslindados. E até poderá observar o Sol e os planetas num grande projector esférico interactivo, único em Portugal. A visão da terra é, aliás, a que podem experimentar os astronautas quando olham para ela do espaço.

Museu Digital

O Museu Digital é uma plataforma na Internet, criada pelo Museu da Ciência e sedeada em www.museudaciencia.pt, na qual está digitalizada parte do acervo museológico da Universidade de Coimbra. Para já, estão digitalizadas 18.500 peças das colecções da universidade (que incluem mais de 250 mil exemplares). São registos de colecções de história natural, animais, plantas, minerais, fósseis, mas também de colecções etnográficas, de instrumentos científicos, de física, de astronomia, de química. Sobre cada objecto há uma série de imagens e informação associadas.

Museu da Ciência vai crescer

O Museu da Ciência vai ser ampliado. O anúncio foi feito pelo reitor da Universidade de Coimbra, na cerimónia de entrega do Prémio Micheletti. A segunda fase do projecto prevê a recuperação do Colégio de Jesus e, para tal, existe uma candidatura da universidade ao Quadro Nacional de Referência Estratégico.

Informações úteis:

Contactos
Museu da Ciência
Laboratório Chimico
Largo Marquês do Pombal
3000-272 Coimbra
www.museudaciencia.pt
geral@museudaciencia.pt
Telefone: 239 85 43 50
Fax: 239 85 43 59
Visitas
As visitas orientadas por monitores devem ser marcadas por email, por telefone ou por fax.
Bilhetes
Estudantes: 1,5 euros; professores: gratuito, enquanto acompanhantes de visita de grupo; ateliers: 3 euros; adultos: 3 euros.
Horário
Terça a domingo, das 10h00 às 18h00

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