quinta-feira, 12 de junho de 2008

BOB O ORADOR


Com o título de cima, "O Sol" de sábado passado dedica algumas páginas da sua revista à Conferência que o auto-intitulado "filósofo" Bob Proctor (na foto) vai fazer na próxima quarta-feira, dia 18, no Pavilhão Atlântico de Lisboa. Bob Proctor vem ganhar uma grande pipa de massa e as pessoas que lá forem vão perder, além do seu tempo, algum dinheiro pois os bilhetes são caros (consta que há muitos bilhetes por vender e, por isso, muitos deles já estão a ser oferecidos). Eu, que já aqui escrevi sobre "O Segredo", penso o mesmo que o editor da revista: que se trata de uma intrujice. É um negócio baseado na intrujice, aproveitando-se da fraqueza de algumas pessoas.

Mas melhor do que eu os meus colegas de blogue Desidério e Palmira pronunciam-se nas páginas do "O Sol". Vou dar-lhes a palavra, tal como é apresentada pelo jornalista Luís Miranda:

"Desidério Murcho, filósofo, escritor e professor universitário, comenta que "se uma pessoa se intitulasse médico ou advogado sem o ser realmente, a sociedade não toleraria." Mas autoproclamar-se filósofo, como faz Bob, é admissível. Porquê? "Porque as consequências da trapaça não são tão graves". Desidério acredita que estamos perante "uma fraude", mas um logro que sempre existiu "e sempre existirá enquanto as pessoas não tiverem todas acesso a ensino de qualidade."

(...) "O Segredo não só não é ciência como é um facto anti-ciência", comenta Palmira Silva, do Departamento de Engnharia Química e Biológica do Instituto Superior Técnico, e uma das autoras do blogue de divulgação científica De Rerum Natura. Explica que a lei da atracção está associada a movimentos new age e new thought e não tem rigorosamente nada de científico. Os autores dessa lei apenas usam o "prestígio da ciência para vender o seu produto obscurantista", conclui. A professora lembra ainda que "em épocas de crise social e económica como a que atravessamos, este tipo de banha de cobra vende muito bem." "

10 comentários:

Tiago Moreira Ramalho disse...

Coisa triste esta de por dinheiro, pseudo-cientistas-filósofos publicam as mais ridículas teorias. O pior de tudo é que em Portugal, para se ler, ou se escolhe livros da Carolina Salgado, do Cristiano Ronaldo ou de soluções milagrosas para problemas de sempre... é o que temos! Este post deu-me uma óptima ideia para publicar um texto sobre o assunto no meu blogue.

Parabéns pelo De Rerum Natura, é fantástico como a divulgação científica ainda tem alguma importância em Portugal, mesmo que seja relegada para a blogosfera ou para uma coluninha de um ou outro jornal...

Pedro M. S. Monteiro disse...

Por momentos pensei que era o Bob o construtor. O livro pega numa ideia que toda a gente considera correcta, que motivação e pensamento positivo ajuda a alcançarmos o sucesso. Contudo para obter o sucesso é preciso TRABALHAR! O que o livro tem de atractivo é dizer que tudo cai do céu. Essa ideia é porreira, mas os cientistas que eles falam trabalhavam muito....

Rui leprechaun disse...

Agora não tenho muito tempo para me alargar sobre isto, mas independentemente de títulos académicos ou outros, que são uma parte secundária da questão, aquilo em que essencialmente o "Segredo", ou até de forma mais geral os chamados livros de "auto-ajuda", se baseiam tem muitíssimo a ver com a recém-descoberta plasticidade do cérebro, em especial as estruturas corticais.

Para uma compreensão mais racional e menos emotiva deste tema, seria conveniente a leitura deste artigo muito genérico e simples da "Time Magazine":

How The Brain Rewires Itself

Um outro conceito essencial para se compreender tudo isto é o da "visualização", um processo associado aos estados meditativos ou de interiorização e que está na base das modernas terapias da Mind-Body Medicine.

E sim, falamos de técnicas velhíssimas de milénios, centradas nas práticas meditativas e de autocontrole mental comuns no Oriente e que agora também se globalizaram. Os interessados podem aproveitar para dar uma vista de olhos no site Mind & Life Institute, devotado à cooperação entre a filosofia e técnicas de meditação budistas e os ramos da ciência que investigam os fenómenos da mente.

Bem, se tiver mais tempo posso tentar alargar um pouco mais o assunto, mas ideias preconcebidas e mal informadas são sempre um mau ponto de partida... o segredo está na vida! :)


PS: Ah, só mais um acréscimo: as afirmações positivas têm obrigatoriamente de ser acompanhadas pela respectiva emoção associada, creio que o Damásio concordaria a 100%!

Pensar não basta, mais importante é o sentir para tudo atrair! :)

Ana Cristina Leonardo disse...

Não tinha lido O Segredo. O nível é miserável. Nem sequer tenta disfarçar a charlatanice. Não há cá plasticidade, processos de visualização, meditação ou teoria das emoções. É só faça força, faça força e... fique rico. Pensamento mágico puro e duro. Talvez o segredo deste O Segredo ter vendido muito mais do que outros livros do género resida precisamente nisso: no seu absoluto simplismo.

JSP disse...

Simplismo combinado com a confiança extremamente arrogante e insinuativa com que o "produto" - que pouco ou nada vale - é apresentado. E vai-se continuando a cair...

Paisano disse...

Pois trabalhos destes dão sucesso a quem os consegue vender.

Parece do mesmo género do célebre anuncio da pessoa que sabe o número da sorte grande que vai sair e que se dispõe a vender-nos o tal segredo por uma ninharia.

Monta-se o esquema, junta-se um pouco de publicidade e depois é só deixar a máquina rolar.

A X por livro mais Y para assistir à prédica e a máquina registadora vai tilitando.

Se estiverem interessados no mesmo a preço mais barato é só passar um livreiro barateiro e pedir um dos livros do Dale Carnegie.

Fazem o mesmo e estão a preço de saldo. Quantos vão, oh freguês!

Rui leprechaun disse...

Não há cá plasticidade, processos de visualização, meditação ou teoria das emoções.

Ó Felina! :)

Já deixei alguns comentários no blog sobre este tema que vai estar agora na berra!

Ainda que o livro possa não entrar em muitos pormenores acerca da plasticidade, visualização ou meditação, é essa mesmo a essência das práticas nele recomendadas.

De resto, é um facto que se trata de uma obra muito simples e directa, logo daí ser compreensível que não se debruce sobre esses tais aspectos teóricos, já que está escrita de uma forma eminentemente prática.

Depois, quem quiser pode aprofundar mais a razão pela qual as afirmações positivas conscientemente sentidas funcionam na sua vida.

Por fim, aquilo que se pode mesmo considerar o "segredo do segredo", é que mais ainda do que esse pensar e sentir é só a gratidão antecipada que nos dá tudo aquilo que deveras precisamos.

You can't always get what you want
But if you try sometimes you might find
You get what you need


Anyway... aqui entramos já em terrenos um tanto místicos, confesso. Mas a noção de que temos aquilo pelo qual deveras somos antecipadamente gratos implica de imediato uma tal atitude de constante gratidão perante a vida que, só por si, pode transformar radicalmente a nossa existência.

Deveras, tal faz com que, em última análise, sejamos gratos por TUDO aquilo com que a Vida nos presenteia, seja aparentemente bom ou mau. Aliás, levado mesmo ao extremo, tal significa que simplesmente deixamos sequer de desejar o que quer que seja e apenas aceitamos tudo aquilo que se manifesta para nós.

É que então, abandonamos o pequeno "eu" em favor do TU... we are no more an individual Self but the whole view! :)

Bem, voltando à terra, para mentes intelectuais e mais inquisitivas recomendo a leitura de obras sobre a Psicologia Transpessoal, em especial os trabalhos de Stanislav Grof, talvez o seu principal mentor na actualidade.

E sim, tudo isto tem a ver com o tal "Segredo", mas leituras superficiais e de mente fechada nunca podem permitir a compreensão daquilo que apenas os olhos vêem mecanicamente e a mente lógica analisa sem compreender, isto é, sentir!

Logo, bela Ana Leopardo, nem todos sentem o perfume do nardo! :)

Clairvoyant disse...

Interessante o blog. Para minha primeira intervenção escolhi este post, mas não por uma qualquer razão em especial. Estava mais à mão, por assim dizer.

Interessante também é o assunto, talvez mais por coincidência do que pelo seu valor intrínseco, já que me auto propus a estudar alguma coisa sobre bases de dados, o que levou à segurança das mesmas, ao seu elo mais fraco (factor humano), e consequentemente à engenharia social, como é chamada pelos hackers (ver "Hacker Attack" de Richard Mansfield, editora Sybex - ISBN: 0-7821-2830-0).
Neste livro é descrito como algumas pessoas se permitem a entrar em esquemas maliciosos. Quais são os alvos dos mails com esquemas do tipo pirâmide, com promessas de riquezas incontáveis, viagens à borla, empresas que doam equipamentos apetecíveis como telemóveis topo de gama ou PC's portáteis.
A maioria de nós mantém-se alerta e consciente do velho ditado "ninguém dá nada a ninguém". Mas segundo o autor, existe uma pequena percentagem da sociedade, que por estar fragilizada a nível emocional, ou confusa de alguma forma, é explorada por estas artimanhas. Alguns possuem mesmo um desejo de ser enganados.
O autor fala de uns hipotéticos 0.1% de respostas a esses esquemas. O truque está nos números. Quanto mais as mensagens se disseminarem pelos nossos contactos de e-mail, mais aumentamos as hipóteses destes vigaristas.
Imagine-se agora que o preço do logro é de 25€. Não é complicado tirar 25€ a alguém a troco de promessas de um paraíso sensorial idílico. 25€ também não levará a grande moldura penal, e dificilmente alguém apresenta queixa por tão pouco. Outro escudo que protege o vigarista é a vergonha social de admitir que se foi enganado. Mas e se em alguns milhões de mails, tivermos 100 ou 1000 que respondem de forma positiva? São 100 ou 1000 vezes 25€, que entram numa conta bancária sem esforço, tendo ainda por cima gente que nem conhecemos e que leva a nossa publicidade a outros.
Penso que a perda de referencias sociais, a perda de estatuto que as profissões hoje têm, a desvalorização das metas pessoais atingidas, está a levar cada vez mais gente a estes estados de confusão, de perda de lucidez. Mas também pode ser a perda de um familiar, do emprego, uma crise de meia idade... São os pilares da nossa personalidade que tremem e por vezes cedem ao peso de bagagens que carregamos sem necessidade. E são essas fragilidades que estes ladrões exploram, já que até um maluco pode ter um cartão de crédito.
Para já, apenas me ocorre que a única forma de combater estas fraudes é fazer reengenharia social. Mostrar às pessoas como funcionam estes esquemas, de que forma se aproveitam de crendices e carências emocionais. E nunca esquecer, que em algum momento das nossas vidas, todos nos encontramos fragilizados e somos um alvo potencial para esquemas destes.

Rui leprechaun disse...

Ó bela Clarividente! :)

Esse tema bem actual das fraudes online é interessante e didáctico, mas não tem nadinha a ver com o assunto em questão nem, de um modo geral, com aquilo que de há muito se designa por "literatura de auto-ajuda".

Uma vez que nela estão talvez envolvidos mecanismos mais emocionais do que racionais, pese embora ambos se encontrarem sempre interligados, essas considerações acerca dos pilares da nossa personalidade que tremem e por vezes cedem ao peso de bagagens que carregamos sem necessidade são sem dúvida válidas e é também a pessoas em dificuldade ou com carências emocionais e em crise existencial que se dirigem tais obras.

Mas pretender falar aqui de esquemas, a exemplo lá desses spams, é ser bem pouco clarividente, ó sábia mente! Há que estudar melhor essa engenharia social, p'ra já vai mal! ;)

Pela minha parte, gostaria de ver algum estudo sociológico ou psicológico, ou até um mero inquérito nem muito sofisticado, que pudesse fornecer um razoável perfil dos interessados neste tipo de leituras ou cursos de auto-aperfeiçoamento e afins. A única noção que tenho é a de que, a este respeito, as mulheres são maiores consumidoras do que os homens, mas só por si isso é demasiado vago e nem se pode dizer que traga nada de novo, já que essa característica do cuidar bem de si próprio é intrinsecamente mais feminina do que masculina.

Ora bem, talvez as minha amigas sociólogas resolvam avançar p'ra isso um dia, sempre era um bom tema para tese de doutoramento... ó Ana da Mouraria! :)*

Quanto ao "Segredo", em simplicidade é um portento...

Rui leprechaun

(...e lê-se só num momento! :))

O Sousa da Ponte - João Melo de Sousa disse...

Tive foi pena de não me lembrar disto antes do Proctor...

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