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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O PORTUGUÊS QUE TRABALHOU COM O NOBEL DA QUÍMICA 2012


O artigo publicado no Diário de Notícias de hoje, em que a excelente jornalista Filomena Naves conta como o cientista português David Aragão ajudou a pôr a cereja em cima do bolo do Nobel da Química deste ano.

(clique para ampliar a imagem)

David Aragão ficou todo satisfeito quando abriu, ontem, a sua caixa de correio eletrónico. Tinha uma mensagem de Brian Kobilka, um dos dois norte- americanos a quem a Real Academia das Ciências sueca atribuiu há dias o Prémio Nobel da Química 2012 – o outro foi Robert Lefkowitz. “Logo na quarta- feira, quando foi anunciado o prémio, mandei- lhe um e- mail a dar- lhe os parabéns e nem estava à espera que me respondesse tão depressa, porque deve ter recebido imensas mensagens”, conta o investigador português.

Na volta do correio, Brian Kobilka aproveitou para pôr David Aragão a par das últimas novidades do seu trabalho nos Estados Unidos. “Mas disso não posso falar”, diz, divertido, o jovem português. Essas investigações, estima, ainda hão de dar que falar, talvez sob a forma de novas pílulas para combater problemas de saúde como a diabetes ou a obesidade.

Atualmente investigador no Australian Synchrotron, em Melburne, David Aragão tem uma história em comum com Brian Kobilka. O jovem português trabalhou de perto com o novo Nobel da Química durante dois anos, e em janeiro de 2011, foi um dos coautores do artigo publicado na revista Nature que o comité Nobel considerou a “cereja no topo do bolo” do trabalho realizado pelo cientista norte- americano na busca dos recetores acoplados à proteína G, como são designados estes recetores celulares, que estão na base de algumas funções básicas do organismo e cuja descodificação foi o motivo do Nobel.

Nesse artigo da Nature, “Brian Kobilka e a sua equipa capturaram uma imagem do recetor adrenérgico- beta no momento exato em que é ativado por uma hormona e envia um sinal para dentro da célula”, justificou o comité Nobel, sublinhando que “esta imagem é uma obra- prima molecular”. David Aragão chegou em 2009 a essa busca. Na altura estava integrado no grupo de Bioquímica e Imunologia do Trinity College, de Dublim, na Irlanda, com uma bolsa Marie Curie. E foi então que Brian Kobilka lhes pediu colaboração naquilo em que eram especialistas de topo mundial: a cristalização de proteínas com lípidos e sua caracterização estrutural.

“Tive de desviar-me um pouco do meu projeto para trabalhar no que nos propôs”, conta David Aragão. Valeu a pena. Nos dois anos seguintes, estabeleceu- se uma rotina. Brian Kobilka produzia as proteínas no seu laboratório e enviava-as via FedEx para a Irlanda. Uma viagem delicada, de 24 horas. “Nós depois fazíamos a cristalização e voávamos todos os meses para os Estados Unidos, para recolher dados no sincrotrão de Chicago.”

No sincrotrão, um acelerador de partículas que produz raios X para fazer, entre outras experiências, a chamada cristalografia por raios X, era então feita a leitura da estrutura da proteína. Foi assim que equipa obteve a sua“obra- prima molecular”, como lhe chamou o comité Nobel.

Nesses vaivéns entre os dois lados do Atlântico, David Aragão e os seus colegas irlandeses acabaram por estabelecer uma boa relação de trabalho com Brian Kobilka. “A cada duas semanas falávamos por videoconferência e houve uma altura em que ele e a mulher foram passar uma semana de férias à Irlanda, durante a qual acabámos por estar trabalhar.”

Já este ano, David Aragão publicou outro artigo na Nature, na sua própria linha de trabalho, e agora, na Austrália, continua a perseguir proteínas de membranas celulares que poderão dar respostas no combate a doenças por bactérias.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Nobel da Química um bocadinho português!


O Prémio Nobel da Química deste ano foi atribuído a Robert J. Lefkowitz e Brian K. Kobilka pelo estudo de uma importante família de receptores implantados na membrana das células, chamados receptores acoplados a proteínas G. 

As células estão separadas do exterior por uma membrana que impede a passagem da maiora das moléculas. Estes receptores são proteínas inseridas na membrana e  fazem parte de um sistema de transmissão de informação, do exterior para o interior da célula. Reagem a sinais do exterior (luz, odores, iões, hormonas, neurotransmissores,…) e  transmitem esse estímulos ao interior da célula.

A história é mais ou menos esta:

1. Vêm um estímulo do exterior. Por exemplo, uma hormona.

2. A hormona liga-se ao receptor, que atravessa toda membrana da célula. Do outro lado, ou seja no interior da célula, o receptor de membrana transmite a informação vinda do exterior a uma proteína (proteína G).

3. A proteína G vai-se embora e desencadeia uma resposta fisiológica ao estímulo exterior.

4. Enquanto a hormona estiver ligada, mais proteínas G podem ser activadas no interior da célula.




Imagine um mensageiro (uma hormona) que chega ao castelo (célula). Diz ao porteiro: vêem aí o inimigo. O porteiro (receptor associado a proteína G) vira-se para o interior da muralha (membrana celular) e transmite a informação a um estafeta (proteína G). Esse estafeta vai desencadear a resposta do castelo ao estímulo exterior. Repare que o mensageiro não entrou no castelo.

E este Nobel também é um bocadinho português!

David Aragão, um cristalógrafo português, doutorado em Portugal, tem um artigo, publicado na Nature em co-autoria com Brian Kobilka, um dos laureados com o Nobel da Química deste ano. O artigo descreve a determinação da estrutura, ou seja a forma em três dimensões de uma proteína de membrana, o que é muito difícil de fazer (a prova disso é que há muito poucas). E a proteína em causa é um receptor acoplado a uma proteína G, ou seja o tema que deu o Nobel a Kobilka. E a determinação da estrutura destas proteínas foi fundamental para a atribuição do Nobel. Apesar de ter feito a sua parte deste trabalho na Irlanda (e de actualmente trabalhar na Austrália), o Nobel da Química deste ano é também, um bocadinho português! 

Muitos parabéns também ao David Aragão que, tal como outros portugueses, está a fazer investigação ao mais alto nível internacional!

terça-feira, 8 de novembro de 2011

ESCÂNDALO AMOROSO E O 2º PRÉMIO NOBEL DE MADAME CURIE


100 anos depois da atribuição do 2º Prémio Nobel a Marie Curie e na oportunidade do seu aniversário no passado dia 7 de Novembro de 2011, uma breve entrevista a Carlos Fiolhais sobre esta mulher única.


António Piedade – Como é que a imprensa da época tratou a notícia da atribuição do Prémio Nobel, que era o segundo, algo inédito ainda hoje no que diz respeito a disciplinas científicas diferentes.

Carlos Fiolhais - Na altura, mais importante que o Prémio Nobel (o segundo para Madame Curie, um facto até hoje inédito para duas disciplinas científicas diferentes), foi o escândalo do envolvimento amoroso da cientista com o seu colega físico Prof. Paul Langevin. Marie Curie era viúva há uns anos, mas ele era casado e tinha filhos. A imprensa chegou a dizer que ela era uma estrangeira que destruía os lares franceses... Curie resistiu às pressões e recebeu o Nobel. Disse o óbvio: que ninguém tinha nada a ver com a sua vida privada. O romance acabou por terminar. Facto curioso: netos de um e de outro vieram, muitos anos depois, a casar-se!

AP – É possível atribuir alguma relação causal entre os Prémios Nobel atribuídos a Marie Curie e a progressiva maior participação de mulheres na actividade científica a nível mundial?

CF - Madame Curie é um caso singular e pioneiro. A participação das mulheres na vida científica há cem anos era muito limitada. A entrada de uma mulher como professora universitária em Portugal foi só nessa época: a filóloga Carolina Michaelis, nascida na Alemanha mas casada com um português, começou a dar aulas na Universidade de Coimbra. Madame Curie foi sempre considerada um modelo, mas a entrada das mulheres na Universidade e na ciência foi muito lenta. Pessoas como Einstein, embora admirassem Madame Curie, continuaram a achar que às mulheres faltava criatividade para fazer ciência. Estavam profundamente enganados!

AP – A actividade científica de Marie Curie foi conhecida em Portugal à época da atribuição dos prémios?

CF - Sim, o nome de Madame Curie correu o mundo. Em Portugal, as notícias de ciência eram muito raras, mas os prémios Nobel começaram desde cedo a ter recepção mediática. Só alguns anos depois Madame Curie teve discípulos portugueses, como Mário Silva, professor de Coimbra, e Manuel Valadares, professor de Lisboa. Os dois vieram a ser demitidos pelo Estado Novo. Houve também uma discípula portuguesa de Curie, Branca Marques, de Lisboa.

AP – Qual a evolução da participação feminina na ciência portuguesa desde a época de Marie Curie?

CF - A participação feminina na ciência foi muito baixa numa época em que a ciência aliás quase não existia. Nos últimos 30 anos deu-se, porém, um crescimento enorme da ciência em Portugal, com uma participação feminina cada vez maior. Hoje Portugal pode orgulhar-se de ser um dos países da Europa e até do mundo com maior percentagem feminina na actividade científica. Isso explica-se pelo crescente acesso ao ensino superior das mulheres em Portugal no pós 25 de Abril. Em muitos cursos, tanto nas entradas como nas saídas, superam os homens.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Outras ligações do Nobel da Física a Portugal

Além de Patrícia Castro, outro membro do grupo de estudo das supernovas, liderado por Perlmuler, que recebeu metade do Prémio Nobel da Física este ano, teve uma afiliação portuguesa: Sebastien Fabbro foi post-doc no CENTRA, o grupo de Jorge Dias de Deus (hoje homenageado em Lisboa), no Instituto Superior Técnico. O nome de Fabbro está elencado na Wikipédia no Supernova Cosmology Project, que segue a lista do Prémio Gruber de Cosmologia, que foi dado em 2007 para a mesma descoberta, antecedendo por isso o Nobel. Na mesma lista está também o nome do português Nelson Nunes, na altura na Universidade de Cambridge e depois na Universidade de Heidelberg (mais um caso de fuga de cérebros, mas parece que entretanto obteve um lugar em Portugal). Já no ano passado havia uma ligação portuguesa aos Nobel. Que este ano continue a haver, só quer dizer que a presença portuguesa na ciência internacional é hoje, felizmente, alargada e consistente.

DAS SUPERNOVAS ÀS SUPERCONSULTORAS

Chamo a atenção para os últimos parágrafos da notícia da RTP acerca do Prémio Nobel da Física, que passo a transcrever:
Patrícia Castro, ex-investigadora do Centro de Astrofísica do Instituto Superior Técnico e atualmente consultora na empresa Cap Gemini, escreveu vários artigos científicos sobre as supernovas distantes. É até co-autora do artigo fundamental de 1998 de Saul Perlmutter e não tem dúvidas sobre a importância da descoberta: "É o reconhecimento merecido de um trabalho de grande valor e impacto na cosmologia".

Na altura em que o artigo foi escrito, Patrícia Castro estava em Berkeley, na Califórnia, no grupo de Saul Perlmutter a terminar o seu projeto de licenciatura: "Por sorte cheguei a tempo de participar no artigo, assisti à sua elaboração e ajudei, como outros, na análise das supernovas que o grupo detetou".

Posteriormente, Patrícia Castro acabou por se doutorar em Astrofísica na Universidade de Oxford, foi bolseira de pós-doutoramento na Universidade de Edimburgo e no Centro de Astrofísica do Instituto Superior Técnico, de onde saiu em 2010: "Por falta de perspectivas de investigação em Portugal, acabei por sair da investigação com grande pena minha e estou a agora a trabalhar como consultora na Cap Gemini, em Lisboa."

NOBEL PARA A EXPANSÃO ACELERADA DO UNIVERSO


Hoje é um grande dia para a Física: acaba de ser anunciado que o Prémio Nobel da Física foi atribuído a três astrofísicos, S. Perlmutter, B. Schmidt e A. Riess, que, trabalhando em duas equipas concorrentes, chegaram a conclusão nos anos finais do século passado que, ao contrário do que se previa, o Universo está em expansão acelerada, isto é, as distâncias entre as galáxias estão a aumentar de uma forma cada vez mais rápida. Para isso observaram com muito cuidado supernovas, isto é estrelas pesadas que, chegando ao fim do seu ciclo de vida, explodem com uma luz característica.

Já se sabia do Big Bang. Mas não se sabe por que razão o Big Bang é acelerado. Os físicos foram obrigados nos últimos anos, perante as provas observacionais, a introduzir a noção de "energia escura" (há quem use a expressão antiga de "quinta essência" já que são quatro as forças conhecidas) para designar o responsável por esta acção obviamente contrária à força da gravidade. Um dos maiores mistérios da física actual é precisamente o da natureza desta energia escura, que constitui a maior parte da energia do Universo. Quer dizer, sabemos que não conhecemos um ingrediente muito importante do cosmos. Saber isso leva-nos a procurar saber ainda mais.

Quem se deve estar a rir é Einstein. O grande génio da física tinha introduzido nas suas equações, à mão, um termo chamado "constante cosmológica", que contrariava a expansão do Universo, para dar conta de um Universo estático que ele pensava existir. Mais tarde, quando se percebeu que o Universo em larga escala não era estático, ele afirmou que se tratou do "maior erro da sua vida". Ora, modernamente a energia escura é descrita por essa "constante cosmológica", um termo contrário à expansão do Universo. A história mostra que os maiores génios até são geniais quando se enganam, ou melhor, julgam que se enganam.

Perguntam-me: O que significa para os comuns mortais esta descoberta? Para que serve? Para todos é a comunicação de um mistério, um mistério que vemos nas estrelas, no céu por cima de nós todos. Hoje sabemos mais sobre a origem e o destino do mundo, mas também sabemos que nos falta saber mais, Por outro lado, talvez a tal "energia escura" venha um dia a ser bem conhecida e controlada. A história da física mostra que, quando se descobre a natureza das forças (foi o caso da força electromagnética no século XIX), não tarda em que a coloquemos ao nosso serviço. Conhecer melhor o mundo sempre significou viver melhor nele.

EM QUE ACREDITA O SENHOR MINISTRO DA EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E INOVAÇÃO E A SUA EQUIPA?

No passado Ano Darwin, numa conferência que fez no Museu da Ciência, em Coimbra, o Professor Alexandre Quintanilha, começou por declarar o s...