quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Saudades de Antunes da Silva

Novo texto de João Boavida. 

Há algum tempo, um artigo de Eugénio Lisboa, publicado aqui, no De Rerum Natura, lembrou-nos, entre vários nascidos em 1921, Antunes da Silva. Foi a propósito dos trabalhos que já terão começado para uma homenagem nacional, em 2022, a José Saramago – o nosso único escritor laureado com o Prémio Nobel. Eugénio Lisboa disse que era muito provinciano este afã para o qual o país já se preparava.

Estou de acordo. Não que Saramago não tenha uma obra digna do Prémio Nobel, que a tem, mas não exageremos, porque nem todos os laureados com este prémio o mereciam, enquanto muitos outros, que de facto tinham obra para isso, nunca o receberam. 

Também não digo que não seja motivo de orgulho nacional, mas o facto de termos só um – mais até, de a língua portuguesa ter só um laureado com o Nobel – mostra a pouca importância que nos dão e a pouca consideração em que nos têm. Mas também isso não nos devia incomodar muito, vivemos demasiado dependentes das opiniões dos estrangeiros, o que é um pouco deprimente, e há coisas que nos deviam preocupar mais. Agora, temo que atravesse o país aquela febre muito nossa de querermos todos, e em todo o lado, homenagear Saramago.

Além de provinciano parece-me sobretudo o efeito de uma cultura de aparências e de superficialidades, que os meios de comunicação social propagam e que levam atrás os que temem sempre ficar de fora, engrossando assim uma espécie de bola de neve que vai aumentando, arrastando tudo atrás e deixando um rasto de lama onde todos os outros desaparecem, como se nunca tivessem existido.

Por isso acho que Eugénio Lisboa, como já disse aqui num comentário, é “refrescante”, porque desanuvia o ambiente que, em Portugal, tende sempre a ficar carregado pelo excesso que a psicologia de rebanho provoca numa maioria que não tem consciência do ridículo em que cai mas que, sobretudo na comunicação social, e agora nas redes, é especialista a fazer opiniões e a desgastar palavras.

Ora, ninguém, que eu visse ou ouvisse, falou nos vários nomes que fariam cem anos em 2021, o que soa a injusto. É claro que nenhum ganhou o Nobel, mas convém não colocar todas as fichas no mesmo número, porque temos muito mais que um Nobel e, apesar de importante, não é garantia segura. 

Ninguém os assinalou porque já poucos se lembram deles, e ninguém os recorda, porque, lá está, vive-se numa cultura de aparências e badalações em cadeia com tendência a crescer num só sentido visto ninguém querer ficar de fora do bruaá. 

Entre esses escritores Eugénio Lisboa referiu Antunes da Silva, o que me deu saudades e me obrigou a ir busca-lo à prateleira. Lutador antifascista e com alguma atividade política depois do 25 de Abril, é como escritor alentejano que merece ser lembrado. Podemos chamar-lhe um neorrealista da 2ª fase e escreveu sobretudo contos (Gaimirra, 1946, Vila Adormecida,1948, Sam Jacinto, 1950, O aprendiz de ladrão, 1954, O Amigo das tempestades, 1958, Terra do nosso pão, 1964, Exilado e outros contos, 1973), mas também dois romances: Suão, 1960, e A fábrica 1976, poesia e ainda crónicas, memórias, artigos em jornais e revistas (Sol Nascente, Diabo, Vértice, etc.). 

Reler agora algumas das suas páginas foi para mim um prazer. Antunes da Silva tem uma prosa muito espontânea, algo repentista, ou dá essa ideia, pois parece correr atrás das emoções, dos diálogos e das memórias atropelado pelas palavras e enredando-se nelas.

É uma prosa rica, colorida e indomável, mas domada, inebriada pela paisagem alentejana, pela doçura da natureza, pela infinidade de cambiantes nas cores, nos cheiros, nos ruídos, nas aragens e nas canículas dos plainos alentejanos. E, claro, não podia deixar de ser, do vento suão (o tal que «enche o sono de pavores / faz febre, esfarela os ossos / e atira aos desesperados / a corda com que se enforcam / na trave de algum desvão», com diz José Régio na sua “Toada de Portalegre”). É uma prosa rápida, mas cuja rapidez, de algum modo, ele parece acompanhar com certa dificuldade porque quer dar conta de tudo, com cambiantes, modulações, imagens e metáforas por vezes violentes, sobretudo inesperadas, mas quase sempre bem apanhadas e expressivas. É uma prosa que vai ao fundo do falar alentejano, mas sem excessos nem exibicionismos. Com grande naturalidade os diálogos entram e saem da narrativa na medida certa, com o regionalismo adequado e o léxico específico. E sempre ágil, envolvente, só travada por um certo barroquismo que parece ser o reflexo do seu espírito truculento, inspirado, sensível e observador.

As descrições têm quase sempre uma sonoridade telúrica, se posso assim dizer, e certas sínteses descritivas (passe a contradição) sugerem algo de bíblico porque a palavra às vezes encontrada remata com chave de oiro toda a construção frásica que dir-se-ia a vem preparando. Ilustra muitas vezes as descrições com coloquialidades e interjeições, onomatopeias muito a propósito, e que dão colorido e velocidade às frases. Afeiçoa, por vezes, a ortografia aos falares do Alentejo, dando graça às descrições e melhor as inserindo num modo de ser e de estar alentejano, que cativa e apraz ler.

Apesar de sempre ao lado dos trabalhadores braçais do Alentejo, sensível à sua condição de explorados e “humilhados e ofendidos” Antunes da Silva não fazia das suas obras catecismos revolucionários. Os sinais, os casos, os episódios vinham naturalmente trazidos pelos enredos e subordinados à dinâmica do que estava contando.

Ora isto só reforça a sua qualidade. Apesar de um pouco datadas – o Alentejo dos anos 50 do século passado não é o de hoje – a sua obra é estimulante, frequentemente entusiasmada e entusiasmante, alimentada por e alimentando um Portugal do sul, profundo, vasto, e cheio de densidade humana.

Nos tempos que correm ser regionalista não será muito bem visto, desconfio eu, mas lembrem-se que Aquilino era um escritor regionalista, e o mesmo se pode dizer de Camilo e de Tomaz de Figueiredo, e portanto, deixem-se de coisas muito in mas de pouca substância. Se puderem, leiam ou releiam Antunes da Silva porque vale a pena. Faria em 2021 cem anos.

João Boavida

"Voo livre sobre a escola"

Amigo, licenciado e mestre em Física, com cinquenta anos feitos, concorreu pela primeira vez ao sistema educativo público. Ficou colocado numa escola a muitos quilómetros de casa, mas encarou isso como um compreensível "osso do ofício". Vindo de um Centro Ciência Viva, com larga experiência no acompanhamento de grupos de variadíssima natureza e dimensão, pensou estar preparado para fazer acontecer nas suas aulas o normal: criar entusiasmo, ensinar e os alunos (enfim, a maioria deles) aprenderem com gosto. Enganou-se! 

O seu relato, em conversa informal, é ipsis verbis o que Carlos Grosso, professor de Matemática faz numa crónica com o título Voo livre sobre a escola, saída no Observador de dia 27 de Dezembro. Com a devida vénia, transcrevemo-la para aqui com pequenos cortes. Atente o leitor em cada frase e no todo: encontrará explicitadas múltiplas vertentes de um dos mais graves e sufocantes problemas que nos toca como sociedade global. Por razões insondáveis, ainda não o percebemos como tal e, na inconsciência, vamos andando...
Maria Helena Damião e Isaltina Martins

"... Relato-vos algumas partes interessantes e inesperadas do que vi nestes últimos anos.
Vi montanhas de despachos burocratas a submergir os professores em papeladas inúteis. 
Vi professores desesperados a trabalhar dez horas por dia para preencherem todos os requisitos de papeladas inúteis. 
Vi alunos que todos os dias chegam à escola quinze minutos depois da hora, o que a tolerância extremamente flexível continua a permitir. 
Vi alunos no recreio, sentados de livre vontade, agarrados a um aparelhómetro vagamente paralelepipédico, sem interagirem, sem brincarem. Não era castigo imposto por outrem, mas sim moléstia infligida por gigantes tecnológicos. 
Vi professores com idades obscenas, de rastos, de cabelos brancos, de muletas, a sofrerem com uma paciência esgotada e uma incapacidade agonizante em compreender o adiamento da reforma e a indisciplina. 
Vi professores aflitos por não conseguirem dar uma ajuda no acompanhamento dos filhos dos filhos, sofrendo pelos filhos e pelos netos que raramente têm a possibilidade de passar uns dias com a sabedoria longa dos avós. 
Vi alunos que, em todas as aulas, conversam uns com os outros, mais até do que fazem no recreio, onde não há restrições ao uso do aparelhómetro vagamente paralelepipédico, que falam nas aulas sem autorização e ao mesmo tempo que o professor. 
Vi alunos extremamente interessados nos estudos e na aprendizagem dos conhecimentos escolares a serem constantemente incomodados pelo ruído de colegas e a exigirem ordem na sala de aula. 
E diz o Parol.edu.conça: esses alunos são retrógrados, são alunos da escola do antigamente, da escola dos avós e dos bisavós. Os professores têm de prepará-los para a escola do século XXI. O Parol.edu.conça é uma personagem que vive fora da escola, mas que tem uma enorme influência nela. O Parol.edu.conça gosta de ler livros sobre Teoria da Educação, gosta de escrever sobre teoria do ensino, mas não gosta de ter sete turmas, não gosta de aturar diariamente duzentos alunos, não gosta de ter centenas de fichas de trabalho para corrigir, centenas de testes para avaliar e catadupas de sínteses descritivas para encher dossiers que não passam de uma praga ecológica. 
Vi professores sem tempo para refletir, sem tempo para passar um fim de semana descansado sem trabalho escolar, sem tempo para ler um livro, assistir a uma exposição, brincar com os filhos, como se Ser Professor fosse embalar pacotes de farinha ou construir tijolos ou vender gelados. Quem se dedica a esta tarefa sabe que tem hora de abrir e hora de fechar a loja bem definidas, sem preocupação com os gelados sobrantes que hão de ser vendidos no dia seguinte, sem necessidade de levar gelados para vender em casa, depois do jantar. 
O professor não é uma marioneta industrializada. O professor é um condutor de crianças e jovens, é um pedagogo. Precisa de tempo e de espaço para refletir sobre os melhores percursos educativos, sobre a arte de ensinar. O professor não está formado quando termina o respetivo curso. Grandiosa parte da formação docente é conseguida no desempenho da profissão. O professor precisa de continuar a formar-se durante muitos anos. Para isso, o professor tem de ter tempo, tempo para além das muitas aulas, para além das muitas atividades não letivas, para além dos muitos trabalhos de casa. O professor precisa de tempo para a sua vida e para se orgulhar de ser professor. Os professores precisam de tempo para partilharem algumas boas práticas pedagógicas. As reuniões para que são convocados versam esmagadoramente sobre “eduquices” e não sobre partilha de conhecimentos científicos. 
Vi professores empenhados em longas reuniões a discutir os parâmetros mais adequados para avaliar as atitudes e qual o “peso”, qual o coeficiente que devem ter na média ponderada da avaliação escolar. Contendo afincadamente o mal-estar que me provoca estar a relatar-vos alguns pormenores destas discussões, aqui vai: É a assiduidade? (2%) É a pontualidade? (2%) É o respeito pelas orientações do professor? (3%) É o respeito pelas intervenções dos colegas? (2%) É a autonomia na realização das tarefas? (2%) É a participação de forma crítica, reflexiva e com profundidade? (4%) É demonstrar vontade em melhorar as suas competências (emocionais, cognitivas, motoras e sociais)? (4%) É o respeito pelas regras da sala de aula? (2%) É a capacidade para trabalhar em grupo? (1%) É trazer os materiais escolares limpos e organizados? (1%) É aspirar ao trabalho bem feito, ao rigor e à superação? (4%) É respeitar a diversidade e agir de acordo com os princípios dos direitos humanos? (4%) É revelar autonomia pessoal centrada nos direitos humanos, democracia, cidadania, equidade, respeito mútuo, livre escolha e bem comum? (6%) É realizar as tarefas no tempo estipulado? (1%) É cumprir com as regras de interação social e de civismo? (2%) É respeitar as regras institucionais que permitem atuar em segurança, adotando comportamentos que promovem a saúde e o bem-estar, nas suas relações na sala/escola (cumprimento do regulamento interno e uso de máscaras, higienização das mãos e distanciamento social)? (4%) É tudo isto e mais alguma coisa? (100%) 
E diz o Parol.edu.conça: É primordial discutir e definir o peso de cada indicador. Só após essa definição será possível inserir nas folhas de cálculo Excel a fórmula de cálculo das médias, para a avaliação final. 
Como já se disse, por regra o Parol.edu.conça não trabalha na escola. Quando, raramente, isso acontece, o Parol.edu.conça não percebe bem o que é isso de inserir fórmulas em folhas de cálculo, mas di-lo com tanta eloquência que é capaz de convencer alguns dos mais novos ou alguns dos mais distraídos, mas poucos. Porém, todos estão sujeitos às ordens de Parol.edu.conça. 
– Caros colegas, a reunião já dura há três horas, estamos todos muito cansados e o meu filho está na escola à minha espera, pelo que proponho que a reunião continue na próxima quarta-feira – diz o professor Miguel. 
A ninguém convinha mais uma reunião na próxima quarta-feira, mas também percebem que já não há disposição nem capacidade para continuar a discussão. Aceitam. A professora Carolina já tem uma consulta marcada para a próxima quarta-feira, mas vai tentar desmarcar para poder estar presente. O professor Francisco abomina estas discussões (discretamente chama-lhes “palhaçadas”) e está mais interessado em gastar tempo na organização das suas aulas, mas não gosta de faltar a reuniões para as quais foi superiormente convocado. 
Vi alunos que, nos testes de avaliação de conhecimentos, obtiveram média de 15 valores a Economia, mas cuja avaliação final foi de 14 valores, por baixa avaliação nas atitudes. Ou seja, o aluno que revelou conhecer certas partes dos conteúdos, deixou imediatamente de os saber por atitudes que não foram apreciadas pelo professor. 
Vi alunos que, nos testes de avaliação e aplicação de conhecimentos, obtiveram média de 13 valores a História, mas cuja avaliação final foi de 15 valores, por altíssima avaliação nas atitudes. Ou seja, terão existido alguns conhecimentos que não estavam adquiridos, mas que foram magicamente incorporados pela excelente atitude. 
A escola ajuda a formar atitudes? Obviamente. A escola ajuda a melhorar algumas atitudes? Certamente. A alteração das atitudes tem, frequentemente, reflexo nas aprendizagens? Seguramente. Mas, para além do reflexo nas aprendizagens que foi sendo demonstrado nos diversos instrumentos de avaliação escolar, o conhecimento do aluno sobre determinadas matérias não aumenta nem diminui porque o professor avalia as suas atitudes. As atitudes formam-se, valorizam-se, adequam-se, mas não se medem numericamente! 
Vi alunos que querem aprender o máximo possível. 
Vi professores que não querem saber das aprendizagens essenciais e que querem ensinar o máximo aos seus alunos. 
Vi alunos que não têm qualquer interesse nas aprendizagens escolares. 
Diz o Parol.edu.conça: se não querem saber, a responsabilidade é do professor, que não soube motivar o aluno, que não fez o pino na aula, que não trouxe para a aula fogo de artificio. 
Vi professores que não se preocupam em ensinar, nem se os alunos aprendem ou não, e que os deixam fazer o que lhes apetecer. 
Vi alunos a chamarem “filho da p**a” ao professor ou a acariciá-lo com um “vai pró ca**lho” e cuja reação dos pais, ao receberem a notificação, foi: «Se ele fez isso, é porque o professor lhe fez alguma!» 
Vi professores a fingirem que não viram o aluno levantar-lhe o dedo do meio, para não se sujeitarem ao infindo processo de averiguações sobre a veracidade dos factos relatados na eventual participação de ocorrência. 
Vi professores a ficarem doentes e arrastarem-se até à baixa médica por exaustão. 
Vi salas de professores quase sempre vazias e sem convívio. 
Vi o Ministério da Educação a desvalorizar as avaliações externas. 
Vi demasiados alunos a serem sujeitos a RTP. Não, não se trata da estação televisiva, mas dos espetaculares Relatórios Técnico-Pedagógicos. 
Vi professores a terem de pedir silêncio na sala de aula, diariamente. 
– Isso são professores que não acompanham os tempos. São professores que não compreendem os jovens, que não estimulam uma geração tecnológica que está altamente preparada para multitasking, diz o Parol.edu.conça. Como se a disponibilidade de equipamentos tecnológicos fosse capaz de alterar o cérebro humano e as sinapses produzidas. As características do cérebro humano são as mesmas dos avós e dos bisavós. 
Vi professores a serem apanhados pela pandemia e a revelarem altíssima capacidade de adaptação no ensino a distância. 
Vi alunos durante meses em casa, sem computador e sem comunicação com a escola. 
Vi alunos de pijama, deitados no sofá, esticados à beira da piscina, a assistirem às aulas no respetivo aparelhómetro vagamente paralelepipédico. 
Vi professores que passaram um ano letivo completo sem conhecerem a cara dos respetivos alunos e alunos que passaram um ano letivo completo sem conhecerem a cara dos respetivos professores. 
Vi professores que lecionavam a distância sem ligar a câmara de vídeo, escudando-se na proteção de dados. 
Vi alunos sem alguns professores durante meses. 
Vi concursos de recrutamento de professores sem nenhum concorrente. 
Vi professores a chamar «burros» aos alunos. 
Vi professores obrigados a uma deslocação de centenas de quilómetros da sua habitação, a alugarem uma casa mais próxima da escola onde foram colocados e a sujeitarem-se a um rendimento líquido inferior ao salário mínimo, apenas para ganhar tempo de serviço e mais algumas décimas na graduação. 
Vi professores com onze turmas. 
Vi professores que deixaram a profissão e muitos outros que andam ansiosos por encontrar alternativa para o fazerem. 
Vi alunos a apreciarem extremamente as aulas, a aprenderem imenso com os seus professores e a atingirem quadros de mérito e de excelência. 
Vi encarregados de educação a atribuírem enorme valor à capacidade dos professores dos seus educandos em ensinar conhecimentos escolares e em adequar comportamentos. 
Vi professores ainda entusiasmados com a profissão. 
Custa-me revelar-vos que é com pouca esperança e com um doce-amargo de fel que vos relato o que vi."

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JOÃO PAULO COTRIM (1965-2021): IN MEMORIAM

 


Minha homenagem a João Paulo Cotrim, hoje no I:

Sabia desde há poucos dias que estava muito doente, mas custa-me a acreditar: o meu querido amigo João Paulo Cotrim (1965-2021), o editor da Abysmo, já não está entre nós. Foi jornalista, director da Bedeteca de Lisboa (que fundou, tendo-a dirigido de 1996 a 2002), especialista em banda desenhada e em ilustração, curador de exposições, poeta, prosador para várias idades, guionista  de filmes de animação, etc. Era um faz-tudo e tudo fazia sempre com grande entusiasmo.

O editor gostava sobretudo de promover talentos, juntando como ninguém, bons textos com boas imagens. Julgo que foi nessa actividade que ele se realizou mais. A Abysmo (com y, como Teixeira de Pascoaes gostava, pois Abismo não dá a devida ideia de profundidade) era uma das mais originais chancelas nacionais, como há pouco referi no programa Original é a Cultura, que partilho na SIC com a Cristina Ovídio, a Dulce Maria Cardoso e o Rui Vieira Nery. Quando eu ia ao Chiado, gostava sempre de passar pela Abysmo, um pequeno mas simpático espaço na Rua da Horta Seca, em frente ao Ministério da Economia, onde de vez em quando havia exposições de artes plásticas ou banda desenhada. Comprava lá sempre uma meia dúzia de livros, com o desconto que ele sempre fazia. Os livros da sua autoria eram-me oferecidos com dedicatória, julgo que o mais recente me foi entregue na última feira do Livro de Lisboa, onde ele atendia na barraca da Abysmo.

Os últimos tempos de pandemia dificultavam o reencontro, mas antes de o vírus nos obrigar a confinar era costume irmos almoçar no restaurante ao lado da editora apenas para, diante de um prato e de um copo, pôr a conversa em dia. Foi ele que me apresentou alguns autores da Abysmo com os quais colaborei como o Luís Carmelo, o autor e professor de escrita criativa, e o Gonçalo Waddington, o actor, dramaturgo e realizador. Outros autores que ele editou ao longo dos dez anos da editora foram, por ordem alfabética do primeiro nome, Fernanda Botelho, Filipa Leal, Hélder Macedo, Inês Fonseca Santos, Luís Cardoso (o escritor timorense que foi o mais recente premiado com o Prémio Oceanos, pela sua obra O Plantador de Abóboras, Abysmo, 2021), Paulo Miranda, Sérgio Godinho, Valério Romão, etc. (os outros que me desculpem!). A estes nomes acrescem os desenhadores André Carrilho, António Jorge Gonçalves, Jorge Silva, Luís Afonso, Nuno Saraiva, Tóssan (o grande gráfico, autor do original Cão pêndio, Portugália, 1959), etc. Editou também alguns clássicos como, por ordem cronológica, Aristóteles, Píndaro, Antero de Quental e George Trakl. As capas primam pela surpresa, variando muito de título para título. O editor adverte numa mensagem antes do seu abismal catálogo na Internet, que «mesmo os esgotados não se esgotaram», lembrando-nos que, quando os livros são bem escolhidos e produzidos, ficam intemporais.

Mas, para além de editor, o João Paulo era autor. Em lugar especial na minha estante tenho a magnífica série de biografias de grandes desenhadores portugueses, com excelente design, que escreveu para a Assírio & Alvim: Rafael Bordalo Pinheiro (2005), Stuart: a rua e o riso (2006), André Carrilho: o rosto do alpinista (2007), João Abel Manta: caprichos e desastres (2008) e Cid (2010). Espero que ninguém se sinta desconsiderado se eu disser que, destes todos, o meu desenhador preferido é o João Abel Manta.

Escreveu argumentos de banda desenhadas, um género que sempre apreciei. Destaco: Salazar: agora, na hora da sua morte, com ilustrações de Miguel Rocha (Parceria António Maria Pereira, 2006). Escreveu poesia como Má Raça. 22 canções, com ilustrações de Alex Gozblau (Abysmo, 2012). Escreveu histórias para crianças como A História Secreta de Pedro e o Lobo, com ilustrações de João Fazenda (Assírio & Alvim, 2007).

O seu último projeto, em coautoria com o fotógrafo João Francisco Vilhena (n. 1965). intitula-se Diário das Nuvens (Abysmo, 2021). Serviu de tema para uma exposição no mais recente festival literário Folio, em Óbidos, e foi apresentado em 20 de Novembro no Castelo de São Jorge (um dos melhores sítios de Lisboa para ver nuvens). Julgo que nada fazia antever, nessa altura, que o João Paulo não chegaria até ao fim do ano. O Diário das Nuvens, que a Cristina Ovídio recomendou num dos últimos «Original é a Cultura» (ela sabe muito de livros, tendo sido editora da Clube de Autor durante anos), reúne a prosa poética de João Paulo, escrita na sucessão dos dias, com magníficas imagens de nuvens feitas por um fotógrafo consagrado. Vilhena é autor de excelentes álbuns fotográficos, como Faróis de Portugal (Gradiva, 1997), com textos de Maria Regina Louro, e Lanzarote - A Janela de José Saramago (Porto Editora, 2014), com texto dos diários de Saramago, para além de autor e editor de fotojornalismo em vários jornais e revistas nacionais e internacionais.

Dou como exemplo um extracto, logo do início, podendo o leitor olhar para nuvens na sua vertical enquanto lê (se não as houver, encontrará no sítio da Abysmo alguns pequenos filmes de nuvens associados ao projecto):  

«DECLARAÇÃO DE ATENÇÕES: Dois amigos que há muito se não viam reencontraram-se. E logo ergueram planos, vários, que foram pondo em movimento, invariavelmente na busca do cruzamento entre imagem e palavra. Nisto regressam os dias que parecem um só, estendido até perder de vista. Suspenderam-se os encontros e os abraços congelaram no ar. Diz um: as nuvens olham por nós, envolvem-nos em silêncio. Podem absorver maus pensamentos, só por lhe devolvermos um olhar paciente, diz o outro. O primeiro escolhe a imagem que se faz desafio, que trava a passagem das massas fascinantes nisso fazendo horizonte para o verbo. O segundo procura com absoluta liberdade nos ecos do mundo e no espírito das palavras prolongamentos. O parágrafo só fica fechado, entre o delírio e a trova, a observação e o pensamento, com o espelho da fotografia. No recolhimento imposto pela catástrofe estes dois amigos, impedidos de o fazer de copo na mão, insistem no jogo dos vasos comunicantes. E mais surpresas se preparam, de puro gozo. De pouco servirão, mas quem fala de servidões? Que sejam então partículas de poeira atiradas ao éter. O mais limpo dos céus contém a promessa de nuvens. Mas o enevoamento não tem que significar obscuridade. Sigamos o sopro e os ventos.»

O João Paulo tinha uma especial atracção por nuvens. Era, no bom sentido, um nefelibata, alguém que gosta de construir castelos nas nuvens. Pude verificá-lo quando ele, em 2019, antes da pandemia, me desafiou para uma conversa sobre nuvens que decorreu on-line com o pintor João Queiroz e com ele. A conversa foi publicada num número especial sobre nuvens do suplemento «H» do jornal Hoje Macau, publicado em Macau sob a direcção de Carlos Morais José, que foi distribuído na Feira do Livro de Lisboa (o leitor conseguirá encontrar uma cópia digital na Internet se procurar bem). Nessa conversa pude falar da atracção por nuvens que tinha Johann Wolfgang von Goethe, o escritor romântico alemão que achava que elas escapavam à descrição da ciência, enquanto o artista meu interlocutor me lembrava as nuvens do pintor inglês John William Turner, não por acaso um admirador de Goethe.

Quando o João Paulo me pedia qualquer coisa, eu fazia. Conhecia-o há mais de 30 anos: publicou na sua revista Omnia, uma revista que misturava ciência e ficção científica, com a qual colaborei assiduamente no início dos anos 1990, alguns excertos do meu livro Física Divertida (Gradiva, 1991), que foram ilustrados pelo José Bandeira, um cartoonista que muito admiro. E publicou, mais de duas décadas volvidas, a História da Ciência em Portugal (Arranha-Céus, 2013), o livro de capa dura que resultou dos cursos que dei repetidamente no «Âmbito Cultural» do El Corte Inglês, a simpático convite da Susana Santos, e que é a primeira e até à data única obra com esse título em Portugal. O João Paulo era um homem das artes e das letras, mas sempre com atenção à ciência.

Ficamos todos mais pobres, eu sem um amigo com quem gostava de falar, beneficiando do seu génio bem humorado, e o país, que perde precocemente um editor e autor que percebeu como poucos que texto e ilustrações são naturais aliados. O João Paulo ainda tinha muito a dar-nos. Formulo votos de que a Abysmo, à qual a marca Arranha-Céus está associada, possa continuar como alfobre de cultura, apesar de saber que isso não é nada fácil nestes tempos que atravessamos, em que os livros não encontram suficientes leitores. Como um livro bonito é sempre um objecto de estimação, só posso agradecer ao João Paulo os muitos livros bonitos que nos deixou.

Os meus pêsames à família enlutada, em especial à sua mulher, Isabel. E tu, João Paulo, aceita um abraço, estejas lá onde estiveres, porque um abraço era uma coisa que gostavas sempre de dar e receber. E descansa em paz, enquanto nós por cá continuamos, inspirados por tudo aquilo que nos deixaste!

PS) Para me dedicar a outros desafios, encerro aqui a minha colaboração no Impertinente. Devo agradecer ao José Cabrita Saraiva e Diogo Vaz Pinto, pela sua permanente simpatia e atenção. Agradeço também aos leitores que tiveram a bondade de me ler. Espero ter contribuído, ainda que modestamente, para chamar a atenção para alguns dos livros que se publicaram entre nós. Como comecei no início de Junho de 2020 e nunca falhei uma só semana, foram cerca de 80 recensões, isto é, 80 livro. Tive o maior gosto em primeiro lê-los e depois comunicar o prazer da leitura.

 


BELAS BIBLIOTECAS


Minha coluna no último JL:

Um sítio especial da minha biblioteca contém livros sobre bibliotecas.  Foi o escritor argentino Jorge Luís Borges que disse que imaginava «o paraíso como uma espécie de biblioteca». Assim, os lugares da Terra onde há bibliotecas são uma espécie de paraísos. Alguns desses lugares  distinguem-se pela sua particular beleza. Os livros estrangeiros sobre «as mais belas bibliotecas do mundo» incluem normalmente a Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra e a Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra. É o caso  do magnificente livro The World’s Most Beautiful Libraries, do italiano Massimo Listri, mestre da fotografia de arquitectura e de ambiente (Taschen, 2018)  De facto, essas duas bibliotecas são «joaninas» por ambas estarem associadas ao rei D. João V: a Biblioteca Joanina coimbrã começou a ser construída em 1717, tendo ficado concluído em 1728 (demorou até 1750, quando morreu o rei Magnânimo, para as estantes ficarem preenchidas com livros e até mais tarde para abrir as portas), ao passo que a Biblioteca de Mafra, cujo edifício começou a ser construído também em 1717 tendo ficado concluído em 1730 (a biblioteca só ficaria completada, com a maioria dos livros no seu sítio, no final do século XVIII).

O livro Bibliotecas. Maravilhas de Portugal, da autoria do fotógrafo e editor Libório Manuel Silva (CentroAtlântico.pt, 2013), exibe, através de belas fotografias, e após eloquente prefácio de Eduardo Lourenço, as 21 “maravilhas” bibliotecárias do nosso país. Como não podia deixar de ser, lá estão a Biblioteca Joanina e a Biblioteca do Palácio de Mafra. Mas há mais maravilhas como as menos conhecidas Biblioteca Pública de Braga, Biblioteca da Academia Militar, Biblioteca da Academia das Ciências, Biblioteca da Assembleia da República e Biblioteca Pública de Évora (refiro apenas algumas das que conheço, havendo outras que estão na minha «lista de desejos»).

Acaba se sair do preço da mesma editora o segundo volume dessa obra: Bibliotecas. Maravilhas de Portugal, vol. II, bilingue como o primeiro (português-inglês), mas agora com o carácter bilingue do livro patente na capa, pois o título inclui Libraries. Wonders of Portugal. Tendo a mesma altura, o segundo volume é mais largo, beneficiando a apreciação das fotografias. Desta vez o prefácio é do bibliófilo argentino Alberto Manguel, o amigo de Jorge Luís Borges que decidiu recentemente instalar a sua biblioteca em Lisboa. Curiosamente, Manguel dedica o seu texto a Eduardo Lourenço, retribuindo a dedicatória que Eduardo Lourenço lhe tinha feito há oito anos. E, ao resumir a história das bibliotecas portuguesas, não se esquece de louvar as Bibliotecas Joanina e de Mafra. Desta vez, o autor-fotógrafo surpreende-nos com uma série de fotografias de 22 bibliotecas portuguesas que, em geral, são pouco conhecidas (três delas são antigas bibliotecas, pois são espaços religiosos que hoje estão despidos de livros). Destaco algumas das bibliotecas aqui reveladas e que tenho o gosto de conhecer: a Biblioteca da Casa de Mateus, o Museu-Biblioteca Condes de Castro Guimarães, a Sala Chinesa da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, a Biblioteca Velha do Seminário Maior de Coimbra, a Biblioteca Municipal Palácio Galveias, a Biblioteca da Imprensa Nacional – Casa da Moeda, e o Arquivo Histórico e Biblioteca do Museu de Ciência da Universidade de Lisboa. Mais uma vez fiquei com vontade de visitar aquelas que ainda não conheço.

Uma das bibliotecas que mais me surpreendeu é precisamente aquela que está representada na capa e merecer uma longa menção do autor na sua introdução (ao contrário do vol. I, Libório Silva não apresenta uma descrição sumária de cada uma das bibliotecas). Trata-se da Biblioteca do Palácio Patiño, em Alcoitão, Cascais, uma grandiosa mansão que foi adquirida nos anos 1950 pelo multimilionário boliviano Antenor Patiño (1896 - 1982), o «rei do estanho». Em 1961 ele mandou fazer uma réplica em pequena escala da Biblioteca Joanina de Coimbra, que tem também colunas em pirâmide invertida e abundante chinoiserie na espantaria. Libório Silva descreve o baile de gala que teve lugar nessa palácio em 6 de Setembro de 1968, precisamente o dia em que António de Oliveira Salazar entrou de urgência no Hospital da Cruz Vermelha, um mês após ter sofrido uma queda no Forte de Santo António, no Estoril. Convidados do faustoso baile eram estrelas de cinema como Gina Lollobrigida, Zsa Zsa Gaboir e Audrey Hepburn e membros de famílias reais  como Margarida da Dinamarca, Irene da Holanda e Soraia da Pérsia. O autor, que teve acesso à biblioteca Patiño em circunstâncias que não relata, salienta que as suas fotografias são um exclusivo, acrescentando que nada se sabe sobre o recheio dessa biblioteca.

Patiño ocupou a casa em 1981, mas ela ficou desabitada em 2009, quando morreu a sua segunda mulher. A moradia de luxo foi vendida em 2016 por 12 milhões de euros, estando hoje a propriedade em redor ocupada com um condomínio de luxo. Esta cópia da Joanina foi, de facto, uma extravagância  de um homem muito rico. Quando escrevi com Paulo Mendes, um colega meu físico e excelente fotógrafo, o livro Biblioteca Joanina. Universidade de Coimbra (Imprensa da Universidade de Coimbra, 2013), não sabia da existência desta réplica.

Tirando o caso da Biblioteca Municipal de Galveias, em Lisboa, e da Biblioteca Municipal de Reguengos de Monsaraz, as bibliotecas do segundo volume são privadas ou institucionais, não estando em geral abertas ao público. Mas a Biblioteca Velha do Seminário Maior de Coimbra, uma pequena preciosidade, pode ser visitada no quadro do circuito turístico daquele seminário. É uma biblioteca barroca  que acresce em Coimbra à Joanina. Curiosamente, uma biblioteca parecida com a Joanina, mas construída no século XX (1938) na Universidade de Coimbra, é a Sala Chinesa da Faculdade de Direito, inacessível aos turistas, mas mostrada no novo livro.

Recomendo o álbum de Libório Silva que nos leva, com esplêndidas imagens, a sítios desconhecidos que merecem ser conhecidos. Estou certo de que não serei apenas eu a querer visitar as bibliotecas desconhecidas mostradas neste livro.

Carlos Fiolhais

 

PARA UMA CIÊNCIA DA COMPLEXIDADE: UM CONCEITO-CHAVE NO PENSAMENTO DE MANUEL SÉRGIO


Meu capítulo publicado no recente livro de homenagem a Manuel Sérgio (Afrontamento), 

Pensar à Frente - Corporeidade, Desporto, Ética, Cultura e Cidadania

Estudos sobre Manuel Sérgio

de José Eduardo Franco e Miguel Real 

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 No ano de 2005, foi publicado por uma nova editora de Coimbra, a Ariadne, uma empresa que estava então em incubação no Instituto Pedro Nunes, mas que infelizmente não conseguiu sobreviver por muito tempo, um pequeno livro de Manuel Sérgio (n. 1933): Para um Novo Paradigma do Saber e.… do Ser. Era apenas mais uma adição à sua já então longa lista da produção bibliográfica, que desde então não tem cessado de aumentar. Sérgio já antes tinha publicado títulos como Para uma Epistemologia da motricidade humana: Prolegómenos a uma Ciência do Homem (1988), a sua tese de doutoramento na Universidade de Aveiro e um texto seminal entre nós da nova ciência da motricidade humana, que se procurava diferenciar da Educação Física e Desporto pelos seus maiores âmbito e complexidade, Motricidade Humana – Contribuições para um Paradigma Emergente (1994), Um Corte Epistemológico: da Educação Física à Motricidade Humana (1999)  (referências bibliográficas mais completas encontram-se no final). Como revelam todos esses títulos, o autor procurava empreender uma uptura relativamente ao pensamento até então dominante sobre Educação Física e Desporto.

 Em Para um Novo Paradigma do Saber e... do Ser, nessa compilação de três textos de teor filosófico, que ocupam outros tantos capítulos: o primeiro é um manifesto que pugnava pela aplicação de complexidade como conceito-chave da motricidade humana (a ideia de complexidade é essencial na abordagem de Sérgio ao movimento do corpo humano); o segundo fala da relação entre motricidade e envelhecimento Manuel Sérgio, hoje com 87 anos, dá-nos um excelente exemplo de envelhecimento); e o terceiro discutia a educação popular do brasileiro Paulo Freire (Sérgio, tal como outro famoso Sérgio da nossa história cultural, é um grande pedagogo, interessando-lhe a formação dos seres humanos em todas as faixas etárias). Para além de outros nomes mais antigos, autor citava filósofos como, entre os contemporâneos, os alemães Martin Heidegger e Juergen Habermas e os franceses Gaston Bachelard, Maurice Merleau-Ponty e Paul Ricoeur, mas também cientistas como o químico belga de origem russa Ilya Prigogine (1917-2003) e o médico e neurocientista português António Damásio (n. 1944

Tive a honra de ser convidado por Manuel Sérgio para escrever um prefácio para aquela obra. Como minha homenagem a Manuel Sérgio, não posso deixar de reflectir aqui, quinze anos depois, sobre o seu tão fértil pensamento. Recupero em parte esse meu prefácio, ampliando-o no que respeita à apresentação das ciências da complexidade, as quais, embora continuando a tradição da ciência que vem da Revolução Científica, constituem hoje uma aproximação ao mundo que é em larga medida inovadora. O presente texto não é mais do que o olhar de um físico e divulgador de ciência sobre os fundamentos conceptuais de um notável filósofo do desporto português.

 É curioso o duplo sentido da palavra “físico”. Qualquer bom dicionário informa: físico (do grego physikós, da natureza) significa, por um lado, “s. m., aquele que estuda Física ou é versado nela; adj. relativo à Física, relativo às condições e leis da Natureza, corpóreo, material, natural” e, por outro, “s. m. médico (termo antigo); adj. conjunto das qualidades externas do homem, aspecto, configuração, conjunto das funções fisiológicas”. Há obviamente algo em comum entre os dois sentidos, um, mais geral, relativo à Natureza, e o outro, mais particular, relativo ao corpo humano, que é evidentemente parte da Natureza. O “físico” denota nos dois casos o que é material, palpável. E tudo o que é material move-se, seja um corpo celeste seja um corpo terrestre, um dos quais o corpo humano. A Física começou precisamente na viragem do século XVI para o século XVII, com o italiano Galileu Galilei, quando ele resolveu investigar o movimento dos corpos inanimados, como um bola sujeita à gravidade da Terra (um “grave”) ou a própria Terra (ela própria uma esfera sujeita à força da gravidade do Sol: eppur si muove terá dito Galileu após a sentença do Santo Ofício), Contudo, Galileu estudou Medicina na Universidade de Pisa (não terminou o curso tornando-se um autodidacta, um dos mais célebres de sempre) e, portanto, poderia ter sido um “físico” no sentido de médico, em vez de um físico, no sentido moderno. Nas suas investigações de física incluiu a resistência dos corpos vivos ao movimento: o livro Diálogos e Demonstrações Matemáticas em torno de Duas Ciências Novas, de 1638, cinco anos posterior à sua condenação pela Inquisição, começa pela questão de saber o que acontece a corpos animais que caem (o que, convenhamos, é mais grave do que a queda de corpos inanimados). Foi Galileu que propôs a metodologia científica que ainda hoje usamos: não apenas fundou uma “nova ciência” – a ciência experimental em contraponto à ciência aristotélica - como também fundamentou o método que esta deveria usar, baseado na observação, na experiência e no raciocínio, muito em particular o raciocínio matemático (escreveu “a Natureza está escrita em caracteres matemáticos”).

 Um notável contemporâneo de Galileu que foi não apenas um cientista como um filósofo foi o francês René Descartes. Para além de resultados científicos, como por exemplo na área da óptica, deve-se-lhe uma posição de mudança na metodologia filosófica, bem patente em O Discurso do Método (1637, o ano anterior ao do último livro de Galileu), de seu título completo. Discurso do Método para bem conduzir a razão na busca da verdade dentro da ciência, cujos apêndices são “ensaios do método” (pela ordem com que surgem, a Dióptrica, os Meteoros e a Geometria). A maior das edições hoje disponíveis descarta normalmente esses apêndices, por eles serem mais técnicos, mas a Dióptrica, que trata da natureza da luz, das leis da reflexão e da refracção, e da óptica fisiológica, incluindo os meios para melhorar a visão, foi uma obra essencial na evolução da Física. Descartes estudou outros temas de Física, incluindo astronomia. Descartes concordava com Galileu quanto à defesa da teoria heliocêntrica de Copérnico, mas, receando que lhe pudesse acontecer o mesmo que ao sábio pisano, Descartes adiou a publicação do seu livro Tratado do Mundo e da Luz, escrito entre 1629 e 1633, mas que só sairiapostumamente, em 1660. O Discurso do Método mais não era que um prefácio a essa obra maior.

Uma das contribuições mais relevante de Descartes para o pensamento moderno foi o chamado “dualismo mente-corpo”, que separa claramente a mente (res cogitans, ou coisa pensante) do corpo (res extensa, coisa extensa). Esse dualismo transparece claramente do seu livro Meditações sobre Filosofia Primeira (1641), que é uma extensão do Discurso do Método. De acordo com essa separação, os fenómenos mentais não são físicos. O ponto de contacto entre espírito e corpo seria minúsculo: a glândula pineal, existente no cérebro não apenas no homem, mas de todos os vertebrados. Se essa distinção tinha a vantagem de separar a questão de Deus da questão do mundo natural, permitindo estudar este último como se Deus não existisse (existia obviamente para Descartes, mas num outro domínio superior), ela impede, por outro lado, o estudo da mente por parte daa ciências naturais. A teses de Descartes é abertamente criticada hoje, em boa parte devido aos avanços das ciências. O livro mais famoso de Damásio intitula-se significativamente O Erro de Descartes: Emoção, Razão e Cérebro Humano (1994) (ver no final outros livros do autor): Damásio explicou que as emoções que influenciam o pensamento estão ligadas ao corpo. O cérebro foi, na história natural, criado a partir do corpo, tendo sempre crescido com ele. O filósofo contemporâneo norte-americano John Searle declarou de um modo muito incisivo (https://blogs.loc.gov/kluge/2015/03/conversation-with-john-searle/ ): “Há um certo número de desastres famosos na filosofia, e Descartes foi um dos maiores. (…) A sua maior catástrofe foi o dualismo, a ideia de que a realidade se divide em dois tipos de de substâncias, a matéria e o espírito. (…)  Vivemos num mundo, não em dois ou três ou mais, e o que consideramos consciência e mente é uma característica biológica de certos tipos de organismos. Descartes foi incapaz de ver isso, porque ele achava que a consciência só poderia existir numa alma, e a alma não era uma parte do mundo físico.”

Hoje, na senda de Galileu (e também, embora só em parte, de Descartes) a Física continua a ser a ciência geral da matéria, da energia e do movimento, que não pode deixar de informar a nova ciência do movimento do nosso corpo, a ciência da “Motricidade Humana” cunhada por Manuel Sérgio. Mas hoje sabemos que a mente ou espírito resultam da acção do cérebro e que o cérebro não passa de uma gigantesca rede de neurónios, nos quais ocorrem fenómenos físico-químicos extremamente complexos. Não admira, por isso, que, atento aos avanços da ciência, Sérgio tenha querido substituir a “antiga” ciência da Educação Física e Desporto, que ele reputa de “cartesiana”, pela “nova” ciência, informada pela complexidade, a da Motricidade Humana.

 O facto de a Física e a Química, ligadas à Biologia e Medicina, se interessarem pelo funcionamento do cérebro, tal como se interessam as Ciências da Computação e a Engenharia Informática, não significa que as ciências e as tecnologias tudo possam. O cérebro continua a ser um grande mistério, o “santo dos santos” do Universo, e as ciências sociais e humanas, que derivam de toda a actividade mental e comportamental humana, continuam a ser ciências distintas das ciências de base eminentemente experimental e, portanto, ajudadas pelo método estabelecido por Galileu. Há mais mundos para além do físico, embora esses mundos estejam, de uma forma ou de outra e mais do que muitos supõem, ligados ao mundo físico. O cérebro é afinal uma porção da Natureza, que funciona segundo as leis naturais, que desde Galileu temos vindo a descobrir. A partir da avalanche de dados das modernas neurociências tem-se concluído nos tempos mais recentes que o físico e psíquico, o corpo e a mente, se ligam de uma maneira muito intrincada, mas que é real, isto é, acontece no mundo natural. O material e o mental, o corpo e o espírito, estão intimamente ligados, tal como nos ensina Damásio Esta mensagem foi inteligentemente captada por Manuel Sérgio e é muito clara em toda a discussão que ele tem vindo a desenvolver, numa obra já hoje muito rica e largamente citada, em torno da filosofia da motricidade humana. Não pode haver movimento do corpo humano que não passe pela actividade mental, assim como não há actividade mental que não passe pela experiência do corpo, em particular a do movimento. Se é verdade que o a mente comanda o corpo, não é menos verdade que o corpo influencia a mente.

 A filosofia da “nova ciência” da motricidade humana parte do princípio que o ser humano é um todo: de nada vale considerar o corpo sem a mente ou a mente sem o corpo. Um físico só pode concordar com esta tese. Muitos físicos investigam o corpo (há muito, pelo menos 1895, quando Wilhelm Roentgen descobriu os raios X) que a Medicina não dispensa o saber e as técnicas da Física) e muitos físicos investigam o cérebro humano (modelos e ferramentas da Física Estatística têm sido aplicadas ao estudo dos processos cerebrais, como mostra o caso das redes neuronais). Os modernos sucessores de Galileu, decerto contrariando Descartes, procuram saber como a consciência e a vontade que dela emana emergem a partir de elementos e processos meramente físicos. A sua intenção é arrojada, porque o problema não é fácil. 

Um dos grandes avanços da Física no século XX revelou um entrave à ideia determinista: a de que as mesmas causas produzem os mesmos efeitos. Associamos o determinismo a Descartes: sara ele, o mundo teria sido criado por Deus, mas ele tinha vindo a funcionar sozinho, deterministicamente, desde então): Os trabalhos do físico e matemático norte-americano Edward Lorenz (1917-2008), realizados nos anos 60,  que consistiram  em modelar de forma simples um sistema meteorológico e em explorar esse modelo num computador conduziram à ideia de que pequeníssimas diferenças nas condições iniciais podem conduzir, em sistemas como aquele que ele estudou (sistemas ditos “não-lineares”) a descomunais diferenças nas condições finais. O determinismo ficou então fortemente abalado e com ele as nossas possibilidades de previsão.  Mas mais: apesar dessa enorme variabilidade, expressa na expressão “efeito borboleta” (uma borboleta que bate as asas no Brasil pode provocar um furacão do outro lado do globo), nos sistemas não-lineares é possível reconhecer padrões matemáticos, chamados “atractores estranhos,” que ostentam uma certa ordem, emergente da desordem. Havia, portanto, alguma possibilidade de previsão, embora limitada, nos sistemas desse tipo. O estudo do caos – falamos de “caos” sempre que há extrema sensibilidade às condições iniciais - tivesse precedentes (como, por exemplo, a investigação do matemático francês  Henri Poincaré, no início do século XX, sobre movimentos celestes) teve então o seu início. A chamada “teoria do caos” encontrou curiosamente amplas aplicações na mecânica celeste, que parecia ser o protótipo acabado de determinismo. Os céus não eram o sítio de fácil previsão que se supunha. O próprio sistema solar, sujeito à força não-linear da gravidade, é, a longo prazo, caótico.

Neste contexto, o pensamento de Manuel Sérgio revela-se claramente influenciado, para não dizer seduzido, pelas propostas de Ilya Prigogine, Prêmio Nobel da Química em 1977 por seu trabalho pioneiro nas “estruturas dissipativas”. Prigogine discutiu, na ciência, a irreversibilidade do tempo que advém nessas situações e, na filosofia, a reconfiguração das ciências que surge quando ela é valorizada. Se Lorenz olhou para sistemas meteorológicos, que são claramente instáveis, Prigogine olhou para certas reacções químicas fora do equilíbrio, que não o são menos.  “Estruturas dissipativas” (o termo é do próprio Prigogine) são sistemas dinâmicos longe do equilíbrio, mas que podem atingir estados de certo modo estacionários. Na sua palestra Nobel, Prigogine explicou como tais sistemas podem ter um comportamento completamente diferente do dos sistemas próximos do equilíbrio, mas, mesmo assim, revelarem uma ordem peculiar. Nestes sistemas, tal como nos de Lorenz, havia “atractores estranhos”, até porque as equações subjacentes são semelhantes.

 Existem, de facto, notáveis semelhanças entre sistemas não-lineares ainda que estes modelem partes diferentes do mundo. Um fenómeno notável que surge neles é a emergência: o facto de o todo ser maior do que a soma das partes. Surgem na colectividade fenómenos nada óbvios se olharmos apenas para os elementos constituintes. Para isso o que importa são as ligações, que mantêm a coesão e a dinâmica do conjunto. O estudo desses fenómenos permite lançar um novo olhar sobre a questão da irreversibilidade do tempo. A famosa Segunda Lei da Termodinâmica postula a existência de uma grandeza física - a entropia -.que cresce de um modo irreversível nos sistemas isolados, definindo a “seta do tempo”. Mas a entropia, pelo menos como foi formulada a meio do século XIX pelo alemão Rudolf Clausius, descrevia situações de equilíbrio nos sistemas isolados. Nas reacções químicas de Prigogine há abertura ao exterior (dizem-se “sistemas não isolados”) e o mesmo acontece com os seres vivos em geral,  que trocam matéria e energia com a vizinhança. Fora do equilíbrio, revelam em certas condições situações de irreversibilidade, isto é, o seu destino é inexorável. A partir de estudos dos fenómenos irreversíveis que ocorrem nos sistemas físicos, químicos e biológicos, Prigogine reclamou o papel central da “seta do tempo” na descrição científica do mundo e procurou, em conjunto com os seus colaboradores, extrair todas as implicações dessa centralidade para a própria filosofia das ciências. A este respeito é entusiasmante a leitura do livro A Nova Aliança. Metamorfose da Ciência (1987), escrito por Prigogine em conjunto com Isabelle Stengers, filósofa e historiadora das ciências também belga, mas podem também ver-se com proveito outros livros dele publicados em português, como os que estão indicados em baixo na bibliografia.  Sérgio leu todos esses livros com entusiasmo, como se pode ver no primeiro texto de Para um Novo Paradigma do Saber e… do Ser. Como o referido livro de Prigogine e Stengers, assim como o referido livro de Damásio, são obras de divulgação da ciência dirigidas a um público alargado, forçoso é concluir da relevância destes processos de comunicação da ciência. Galileu escreveu em diálogo e em italiano, para poder ser lido pelo maior número de pessoas. Do mesmo modo, vários cientistas actuais tentam chegar mais longe, escrevendo não apenas para os seus pares mais directos, mas para o público em geral. A ciência não pode ser um feudo dos cientistas. 

A palavra-chave no pensamento de Prigogine é “complexidade”, uma palavra de resto muito querida so sociólogo francês Edgar Morin (n. 1921, outro pensador longevo), autor de Introdução ao Pensamento Complexo (1995), entre muitos outros livros (ver no final uma breve selecção bibliográfica).  O corpo é um sistema complexo. A mente é um sistema complexo. O complexo corpo-mente é eminentemente complexo. O movimento do corpo comandado pela mente só pode ser compreendido no quadro das chamadas “ciências da complexidade”, isto é, o estudo dos sistemas que são formados por muitas partes com interacção não-lineares entre elas Estes sistemas têm uma comportamento interessante em situações muito afastadas do equilíbrio, nas quais um constante fluxo de energia mantém a organização dos sistemas. Têm uma história (historicidade e irreversibilidade são praticamente sinónimos) e são o palco de fenómenos de emergência. Fala-se, em particular, de sistemas complexos adaptativos, isto é, sistemas que evoluem ao longo do tempo, adaptando-se a novas situações, em particular conformando-se a estímulos provenientes do exterior. Falamos então de auto-organização.

O domínio das ciências da complexidade é manifestamente interdisciplinar: foram dados exemplos da meteorologia, da química, da biomedicina. Em 1984 foi fundada nem Santa Fé, no estado do Texas, dos Estados Unidos, um Instituto de Estudos de Sistemas Complexos, onde matemáticos, físicos, químicos e biólogos trabalham ao lado de engenheiros, electrotécnicos, informáticos e outros, e também psicólogos, sociólogos, filósofos, etc. Trabalharam lá os físicos Murray Gell-Mann (1929-2019) e Philip Anderson (1923-2020), os dois laureados com o Prémio Nobel da Física, assim como o economista Kenneth Arrow (1921-2017), laureado com o Nobel da Economia. Em Santa Fé são investigadas a teoria do caos, os algoritmos genéticos, a economia da complexidade, a econofísica, as redes complexas, a biologia teórica, a vida artificial, a linguística, etc. Tal como a luneta astronómica e o plano inclinado foram os jnstrumentos de Galileu, o computador é um instrumento dos cientistas da complexidade. Os investigadores da complexidade procuram realizar simulações computacionais, em que modelos reproduzam pelo menos algumas das características dos intrincados sistemas naturais. No final indicam-se algumas obras em português que permitem ao autor exterior ao tema da complexidade entrar nele ou aprofundá-lo.

Só o reconhecimento prévio da complexidade pode permitir o sucesso de trabalhos de investigação na área do corpo e da mente, em geral, e do movimento voluntário do corpo, em particular. A complexidade coloca-nos, porém, um problema maior: a tradição reducionista que os físicos conservam desde o tempo de Galileu e Descartes poderá não ser a melhor chave para abrir portas nos edifícios onde eles hoje pretendem em entrar. Há que conseguir e prosseguir um pensamento global, sistémico, que se preocupe mais com o todo do que com as partes. E esse é o pensamento que vem dessa velha ciência que é a Termodinâmica, que evoluiu a partir do estudo do rendimento de máquinas, para fazer brotar essa sua justificação microscópica, que é a Física Estatística. A Termodinâmica sempre foi uma ciência de sistemas, uma ciência do macroscópico.

Na obra de Sérgio – amplamente discutida neste volume - o leitor ficará a saber que a motricidade humana possui a marca inegável da complexidade. Retirará também a mensagem de que o diálogo interdisciplinar, o diálogo entre a Física, a Medicina, a Psicologia, a Filosofia, etc., é hoje fonte indispensável de novos saberes. Ficará impressionado com o pensamento claro e vigoroso do professor jubilado da Universidade de Lisboa, que é também poeta e que foi também político.

Termino com uma citação do livro de Manuel Sérgio que referi logo no início (na p.   57, no final do cap. I

“A motricidade humana significa que um novo paradigma do saber e do ser porque todos os paradigmas clássicas, simplificadores e fragmentados, deverão transformar-se em complexos e dialogantes; porque só se é, verdadeiramente, no movimento intencional de transcendência, ou seja, mesmo que não acaudatado por ninguém, na motricidade de novos possíveis.

Carlos Fiolhais


BIBLIOGRAFIA

De Manuel Sérgio:

- Para uma epistemologia da motricidade humana: Prolegómenos a uma ciência do homem. Lisboa: Vega, 1988. (4.ª edição, Lisboa: Nova Vega, 2018, com prefácio de Augusto Baganha

 - Motricidade Humana – contribuições para um paradigma emergente. Lisboa: Instituto Piaget, 1994.

- Um Corte Epistemológico: da educação física à motricidade humana. Lisboa: Instituto Piaget, 1999.

- Para um Novo Paradigma do Saber e.… do Ser, Coimbra: Ariadne, 2005

De António Damásio: 

- O Erro de Descartes: Emoção, razão e cérebro humano, Mem Martins: Europa-América, 1995 (edição revista e actualizada, 2.ª edição. Lisboa: Temas e Debates, 201

- O Livro da Consciência, Lisboa: Temas e Debates, 2010.

- O Sentimento de Si. Lisboa:  Temas e Debates 2013

De Ilya Prigogine:

- A Nova Aliança. Metamorfose da Ciência. Lisboa: Gradiva, 198

- Entre o Tempo e a Eternidade, Lisboa:  Gradiva, 1990.

- O Fim das Certezas. o Tempo, o Caos e as Leis das Natureza, Lisboa: Gradiva, 1996.

- O Nascimento do Tempo, Lisboa: Edições 70, 1999. 

De Edgar Mori

- Introdução ao Pensamento Complexo, Lisboa: Instituto Piaget, 1995.

- O Problema Epistemológico da Complexidade, (debate realizado em Lisboa, em 1983, com José Mariano Gago, entre outros), Mem Martins: Europa América, 1996. 

-A Complexidade, Vertigens e Promessas. 18 Histórias de Ciência em Entrevistas com Edgar Morin, Michel Serres, Ilya Prigogine e Outros, Piaget, Réda Benkirane (coord.), Lisboa: Instituto Piaget, 2004.

- Inteligência da complexidade Epistemologia e pragmática (com Jean-Louis le Moigne), 2009, Lisboa: Instituto Piaget, 2009.

De outros (em português sobre as ciências da complexidade): 

- James Gleick, Caos: a construção de uma nova ciência. Lisboa: Gradiva, 198

- Heinz Pagels, Os Sonhos da Razão. O computador e a ascensão das ciências da complexidade, Lisboa: Gradiva, 1990.

- Benoit Mandelbrot, Objectos fractais: forma, acaso e dimensão; seguido de Panorama da linguagem fractal. Lisboa: Gradiva, 1991. 

- Ian Stewart, Deus joga aos dados?: a matemática do caos. Lisboa : Gradiva, 1991

- John Holland. A Ordem Oculta. Como a adaptação gere a complexidade, Lisboa: Gradiva, 1997.

- Murray Gell-Mann. O Quark e o Jaguar: Aventuras no Simples e no Complexo, Lisboa: Gradiva, 1997.

 

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