quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

A FIGUEIRA, O CINEMA E O MAR



Meu mais recente artigo no Figueirense:

A Figueira da Foz tem tradições no cinema: além de ser a terra do realizador João César Monteiro, foi o sítio do mais relevante festival de cinema do nosso país. Atento ao programa cultural da Figueira, fui ver o Ocean Film Tour, que passou a 9 de Novembro no CAE - Centro de Artes e Espectáculos.

Assisti a quatro documentários sobre os oceanos: um sobre a vigilância de pescas clandestinas, outro sobre os sons do mar, outro sobre uma corrida de vela à volta do mundo e outro ainda sobre desportos náuticos. O filme que mais gostei foi The weekend sailor («O marinheiro de fim de semana»), de 2016, realizado pelo mexicano Bernardo Arsuaga e já laureado com vários prémios internacionais. Conta a proeza de um veleiro mexicano, o Sayula II, que, com uma tripulação composta pela família do capitão e alguns marinheiros arranjados à pressa, conseguiu, em 1974, vencer a Whitbread Race, uma viagem de circum-navegação em quatro grandes etapas. O Sayula II, que competia com alguns dos melhores veleiros do mundo, ganhou, com bastante sorte à mistura. Nessa corrida, três velejadores de outros barcos, apanhados pelo mau tempo, caíram ao mar e morreram.

Na mesma sessão do CAE esteve um representante da associação SOS Cabedelo, um movimento cívico que tem defendido o desassoreamento junto à barra da Figueira, alertando para o perigo que as areias representam para a navegação. Quatro dias depois deste aviso, ocorria ali o naufrágio de um barco de pesca desportiva, com cinco amadores a bordo, dos quais só um se salvou. Em declarações ao Observador um activista daquela associação lembrou que os barcos de pesca Jesus dos Navegantes e Olívia Ribau  tinham naufragado em águas da Figueira em 2013 e 2015, causando um total de nove vítimas mortais.

O novo acidente deu-se num sábado de manhã: eram marinheiros de fim de semana. Infelizmente não tiveram a sorte da tripulação mexicana, que, tendo estado várias vezes em grandes apuros, conseguiu chegar à meta. Mas, em questões marítimas, não se pode confiar na sorte. Há mar e mar, há ir e voltar!

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