quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
O DINHEIRO QUE MOVE MOINHOS
Minha crónica no Público de hoje:
Como facilmente verifica quem viaja pelo país fora, a paisagem nacional alterou-se nas últimas duas décadas com a proliferação desses novos moinhos de vento que são os aerogeradores. Em virtude de decisão política, o nosso país chegou em 2011 ao top ten dos países com maior capacidade de produção de energia eólica, uma capacidade que na Europa só fica atrás da da Alemanha, Espanha, Itália, França e Reino Unido. Em 2010 cerca de quinze por cento do nosso consumo de electricidade teve origem eólica, um valor que na Europa só foi batido pela Dinamarca, precursor desse tipo de energia renovável e líder tecnológico na área.
Como o vento é absolutamente gratuito, e como, apesar da carestia da sua construção e instalação, os custos da manutenção dos aerogeradores são bastante reduzidos, poderíamos esperar que o crescimento das eólicas tivesse baixado o custo da energia em nossas casas. Acresce que há outras energias renováveis, que também têm sido alvo de apostas governamentais, como a hídrica (mais importante no nosso mix energético do que a eólica) e a solar (bem menos importante). De facto, os preços que os consumidores domésticos pagam pela electricidade não têm descido: são próximos dos da média europeia, o que significa que, levando em conta o baixo nível dos nossos salários, o custo do quilowatt–hora é entre nós relativamente caro.
A razão principal é a subsidiação. Com a factura da EDP todos pagamos os novos moinhos de vento. As turbinas das eólicas são movidas a subsídios de ajuda à instalação e exploração, fazendo com que o negócio seja de risco nulo para os investidores. Em Portugal, tal como aliás noutros países da Europa, a indústria de produção de energia eólica tem sido extremamente favorecida pelos governantes à custa, claro, dos contribuintes. Os argumentos são os mais variados, embora por vezes falaciosos: a fuga à dependência do petróleo (a nossa dependência do petróleo reside no sector dos transportes e não na electricidade), a constituição de um cluster tecnológico gerador de riqueza (compramos tecnologia aos dinamarqueses, como ainda há pouco aconteceu com a aquisição de turbinas da empresa Vestas daquele país para um parque eólico off-shore, a instalar ao largo da Póvoa do Varzim) e o decréscimo de emissões do dióxido de carbono, um gás produtor de efeito de estufa (este argumento colhe, mas ele também é válido para a energia nuclear). Se é certo que as energias não renováveis, como o gás natural e o carvão, também são, em Portugal e noutros lados, subsidiadas, não é menos verdade que a tendência, aqui e lá fora, é a de diminuir o favorecimento estatal de não renováveis e renováveis, aliviando com isso as dívidas soberanas e deixando actuar os mercados de forma mais livre. Em Espanha já foi anunciado um corte nos subsídios a instalações de renováveis, o que terá consequências em Portugal, já que o mercado da energia não conhece fronteiras (os espanhóis são exportadores enquanto nós somos importadores de energia). Mas a diminuição dos subsídios não significa que o consumidor seja aliviado. Receio que quem vai pagar mais, com a prevista liberalização dos mercados, será, ao contrário do que seria desejável, o já tão esprimido Zé Povinho.
Eu gosto das energias renováveis. Mas há graves problemas associadas àsenergias eólica, hídrica e solar que se reflectem penosamente nos custos. Analisemos o caso da eólica. Em primeiro lugar, ela é intermitente: o vento sopra quando sopra. Em segundo lugar, os sítios onde sopra mais não são os sítios onde a energia é mais precisa, nem as horas em que sopra mais são as horas a que a energia é mais precisa, pelo que é necessário um bom sistema de transporte de energia – e esse transporte redunda sempre em perdas – e de armazenamento – pode-se, por exemplo, bombear a água de uma barragem à custa de energia eólica para mais tarde abrir as comportas. Uma rede energética que integre bem a eólica com as outras energias é complexa e cara, como mostra o facto de a Dinamarca ter uma das electricidades mais caras do mundo. Para estes problemas têm alertado alguns estudiosos da economia e da energia, entre os quais Henrique Neto, José Veiga Simão, Luís Valente de Oliveira e Miguel Beleza, que divulgaram recentemente um Manifesto por uma Nova Política Energética em Portugal - III. Eles têm, contudo, sido considerados pelos defensores do statu quo e pelos media em geral como um lobby pró-nuclear, o que não é labéu pequeno num país em que o governo anterior demonizou a opção nuclear a ponto de nem sequer ser lícita a alusão a ela. Devíamos prestar-lhes atenção quando dizem que há um “monstro eléctrico”. A engenharia financeira que tem alimentado projectos de energias ditas sustentáveis não é sustentável. A prosseguir o aumento do défice dessa maneira, não veremos luz ao fundo do túnel.
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3 comentários:
Muito bem.
Como subscritor do referido Manifesto, não posso deixar de apoiar esta mensagem.
Gostaria de realçar:
1. O documento apresentado constitui um excelente trabalho de reflexão sobre a energia em Portugal identificando os reais problemas nos vários sectores e em particular no sector eléctrico. A reflexão que nele é feita constitui uma base orientadora para uma nova política energética adequada, racional, tecnicamente sustentada, economicamente sustentável e com uma visão estratégica de futuro.
2. Considero, após reflexão e depois de recolher algumas reacções, que este manifesto pecou por ter sido divulgado (numa primeira fase) enfatizando excessivamente as questões relacionadas com a “opção nuclear”, tendo sido valorizada esta opção em detrimento do seu conteúdo mais objectivo e da sua verdadeira razão de ser.
Esta situação levou a que, quer os “media” quer muitos dos seus leitores, o classificassem como o “manifesto do clube do nuclear” o que é uma injustiça grave, na medida em que o seu objectivo não é, de facto, a defesa do “nuclear” mas apenas a defesa da não exclusão de todas as hipóteses e de todas as tecnologias.
3. O Manifesto defende,fundamentalmente, a aplicação dos seguintes princípios:
• Maximizar a utilização eficiente e racional da energia;
• Suportar as decisões com adequada racionalidade técnica;
• Suportar as decisões com adequada racionalidade económica;
• Sustentar as opções com base num planeamento energético sério e com adequada visão estratégica;
• Eliminar a subsidiodependência.
5. Parece-me, também, que a opção nuclear para Portugal deverá ser analisada tendo em consideração não só os custos de uma hipotética central mas também todos os custos das “cadeias” administrativa, económica e técnica associadas.
Em conclusão gostaria de deixar muito claro que este manifesto não passa pela procura de impor a opção nuclear.
João de Jesus Ferreira
Divino é lastro em crer no decente
tivera o cipreste tormenta em juízo
levantaram teu lustro e vagamente
condenas alarmando, batendo guizo
tão robusto é o norte quando potente
e quantos gigantes a deter o prejuízo
trás a tona quão insensato estes dias
lamentaras causos e más esquadrias
Pois teu vento, teu vento é presente
bailam campinas e a relva pequenina
proseia a brisa qual nuvem consente
entrega-se a paixão que no dia atina
sobre veredas, nem cantarias ausente
santo véu é sonho de água cristalina
esculpem seixos alçando ao marinho
as torrentes no Tejo, Douro e Minho
Ah! Teu vento no espocar que emana
ditoso e sabido na virtude da saudade
alísios à bolina traduzem a vela sana
ou vibrara talento sobre a alta cidade
repara que limpa fulgura a hortulana
louvor é sabor de atos e sem maldade
lisura é pranto e pertence grave na lei
quem assanha compostura torna-se rei
Doce paraíso é abrigar curso ao vento
seja elemento qual moinho notada vida
poliniza o campo, traz no sol o tempo
no trovoar medi a voz palpitando a lida
lotada fortuna, erguera vitória no alento
manto se fora sopro é alma consentida
engenho é dinâmica que move na lição
como mistério, fora reservado a criação.
"Com a factura da EDP todos pagamos os novos moinhos de vento. "
Em rigor isto não é certo, porque a ERSE não deixa mexer na tarifa, mas acumula para o défice tarifário.
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