quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O CENTRO À FRENTE


Meu artigo na revista "C" de hoje (na imagem o Biocant em Cantanhede):

A decifração do genoma humano por menos de mil dólares era uma das metas mais perseguidas pela biomedicina. Previa-se para 2014 mas acabou de ser atingida: no recente Fórum Mundial de Davos, na Suíça, o norte-americano Jonathan Rothberg apresentou uma nova máquina. A sequenciação de um só genoma passou não apenas a ser mais barata (actualmente custa cerca de cinco mil dólares) como mais rápida: demora apenas duas horas, ao contrário da tecnologia actual, que exige algumas semanas.

Steve Jobs pagou cem mil dólares pela sequenciação do seu genoma, um preço só ao alcance de milionários. Com os preços agora anunciados, a sequenciação já está ao alcance dos nossos hospitais. E á se fala em máquinas que poderão fazer a sequenciação por menos de cem dólares com resultados a demorarem minutos.

Para que serve a sequenciação do genoma? Cada um de nós distingue-se pelo ADN, uma molécula em cada uma das suas células. Somos todos iguais, pois o genoma humano é quase todo igual, mas somos todos diferentes, pois as alterações individuais, apesar de pequenas, são significativas. Não é só a cor dos olhos que está no nosso genoma. Algumas doenças e a predisposição para muitas outras também lá estão. Há ainda alterações genéticas locais que causam disfunções que podem ser fatais (por exemplo, tumores cancerosos). Conhecendo o perfil genético de cada paciente, os médicos poderão, além de efectuar diagnósticos mais rápidos, prescrever medicamentos à medida, praticando o que se chama medicina personalizada, a medicina do futuro. Por outro lado, o tratamento estatístico dos dados de pessoas anónimas permitirá conhecer melhor o perfil de certas populações e fabricar fármacos melhores para todas elas. É um admirável mundo novo que se anuncia com a revolução em curso que, bem aproveitada, permitirá prestar melhores cuidados de saúde a um custo mais reduzido.

Um relatório que acaba de ser divulgado no Reino Unido por uma comissão nomeada pela Câmara dos Lordes recomenda a introdução de testes genéticos no Sistema de Saúde Inglês com a construção de uma plataforma informática que dê todas as garantias de segurança para armazenamento do genoma dos utentes. Mas isso, por muito novo que pareça, não é novo. O projecto Porgene, um consórcio formado pela Critical Software (uma empresa de tecnologia de grande sucesso, que inclui desde há, pouco a Agência Espacial Chinesa na sua lista de clientes depois da NASA e da Agência Espacial Europeia), pelo Biocant (o primeiro parque português de biotecnologia, que possui as únicas máquinas de sequenciação em Portugal) e a Universidade de Coimbra (com o Centro de Física Computacional, que detém o maior supercomputador no país, e o Centro de Direito Biomédico, que detém o know-how nas questões legais associadas aos progressos recentes em medicina), foi anunciado no passado da 11/11/2011, com grande cobertura pelas televisões (todos os canais), os jornais (Expresso, etc.) e Internet. Nessa data foram recolhidas amostras corporais das primeiras pessoas que quiseram contribuir. O projecto de construção de software de interpretação do genoma é candidato a fundos europeus e nacionais, aguardando-se pareceres e decisões que podem acelerar os trabalhos. O Centro, mais uma vez, está à frente na inovação. E faz com que, numa altura de crise, o país apareça também à frente.

1 comentário:

José Batista da Ascenção disse...

E contudo, conhecer o perfil genético

significa ficar a saber o que os nossos

genes nos reservam...

Boas possibilidades ou o cancro a

curto prazo ou a "deliquescência" do

cérebro ou... ?

Como vamos (aprender a) viver com

isso?

Sendo certo que não cabe à ciência

essa preocupação.

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