sábado, 4 de fevereiro de 2012

A medição da simpatia

Como acontece a quase toda a gente, nesta época que vai ser, de certeza, lembrada pelas nossas preocupações pressurosamente avaliativas, fui solicitada para me pronunciar sobre o modo de atendimento neste, naquele e no outro serviço duma certa instituição.

Para isso, apresentaram-me, em sequência, vários questionários online, daqueles que não nos deixam saltar nenhum item – qualquer esquecimento ou recusa em responder impede-nos de passar para a “página” seguinte – e que, para não desanimarmos com a extensão, vão-nos dando informação, em percentagem, do que ainda falta preencher.

Nesses questionários, perguntava-se como é que eu classificava a “simpatia” dos funcionários. Não me lembro das outras características de personalidade em apreciação, que eram várias, mas lembro-me da “simpatia”, porque me questionou sobre o modo como temos de nos apresentar a outrem, sobretudo aos clientes, para sermos bem avaliados e, em última instância, mantermos o trabalho.

Ora, a “simpatia” não me parece propriamente uma característica profissional.

Porque é uma coisa muito própria da pessoa, do seu modo de ser (longe de mim afirmar que o modo de ser de cada um não se altera). Manifesta-se nas escolhas relacionais que vai fazendo e que dão corpo ao mundo privado que constrói e reconstrói. Traduz-se, digo eu, na disponibilidade de aproximação ao outro, num envolvimento e confiança e em expressões que não têm qualquer outra intenção a não ser ir vivendo.

Isto pode acontecer no mundo do trabalho? Admito que sim, mas nem sempre acontece e nem sequer é necessário (e, mesmo, desejável) que aconteça. Falo em geral, mas neste mundo público, o que importa é que as atitudes dos profissionais sejam compatíveis com as funções que desempenham e só isso. Algumas funções exigirão um sorriso que pode ser de simpatia ou   metamorfoseado de simpatia, outras funções nem sequer exigem qualquer tipo de sorriso.

3 comentários:

José Batista da Ascenção disse...

..."nesta época que vai ser, de certeza,

lembrada pelas nossas preocupações

pressurosamente avaliativas"...

Análise muito apropriada.

Mas também não era exagero dizer:

Pressurosa, obsessiva e paranoicamente

avaliativas.

Com os resultados que, em vários casos,

já se podem apreciar. Veja(m)-se os

extraordinários modelos de avaliação

de professores que foram usados nos dois

últimos biénios. Nem os recursos,

entretanto apresentados, e passados os

prazos legais, foram ainda resolvidos,

pelo menos os que conheço...

À ausência de avaliação que tínhamos,

da responsabilidade do ministério,

seguiu-se a "mistificação da avaliação"

que tivemos, sem nenhum ganho e muitas

perdas.

Mas o que é isso num país como o nosso,

que sempre nadou em abundância e

facilidade? Não é?

helena disse...

Absolutamente de acordo, um bom profissional deve exercer a sua função, seja ela qual for, com eficácia, a simpatia não pode qualificar um bom desempenho profissional, embora não se possa admitir a antipatia em quem lida com pessoas, com público. Mas não se ser "antipático" não implica que se seja "simpático".

E subscrevo o comentário relativo à paranóia obsessiva da avaliação, nomeadamente no disparate da avaliação dos professores, e não só, pelo que vou sabendo por aí.

Em vez de avaliar, deixem as pessoas trabalhar e actuem onde realmente há necessidade de o fazer. Ou seja, actuem junto dos casos pontuais, porque a maioria das pessoas, em condições normais, sente prazer em dar o seu melhor, mesmo com todos os maus exemplos que proliferam como cogumelos podres.

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Apenas, detalhes mui simpáticos.

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