terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

AS NOVAS OPORTUNIDADES E ANTIGOS DEFEITOS


“Experiência – eis o nome que damos aos erros que cometemos” (Oscar Wilde, 1854-1900).

Por as Novas Oportunidades continuarem na crista da onda, com vagas de prós e contras nos media nacionais, para que os leitores, eventualmente interessados, possam cotejar o meu artigo de opinião, publicado hoje no “Público” (com o título em epígrafe) com a carta da leitora, Maria do Rosário D.A. Neves, que o credencia, transcreve-se, na íntegra, o seu conteúdo epistolar intitulado “O actual Governo e as novas oportunidades”:

“Fiz o meu estágio curricular integrado em Mestrado de Psicologia da Educação num centro de novas oportunidades (CNO) de Gaia, com aduração de quatro meses (300 horas). Nesse CNO pude verificar o seu funcionamento e como são avaliados os adultos que o frequentam. Não é facilitismo, como se diz por ai, não se passam atestados de incompetência. Trata-se, sim, de um tipo de educação diferente da escola formal. Aliás, não faria sentido algum colocar pessoas adultas, com 30, 40, 50 ou mais anos deidade, com experiências riquíssimas de vida, sentadinhas na escolinha aaprender o que os professores ensinam, segundo currículos rígidos. Aqui são reconhecidos e validados os conhecimentos adquiridos ao longo da vida. Neste contexto educativo, os adultos não vão para aprender (como no ensino formal), mas sim para mostrarem aquilo que sabem, o que a vida lhes ensinou – experiências profissionais, pessoais, papéis sociais. É isto que vai ser reconhecido ecertificado, segundo um referencial de competências-chave, perante um júricomposto por vários elementos, sendo um avaliador externo. E devo dizer que é muito gratificante quando, no final do processo, o adulto consegue o seu certificado. É que grande parte destas pessoas abandonou precocemente a escola, muitas delas por necessidades económicas, e agora, ao integrarem um sistema de ensino,sentem bastantes dificuldades; muitas delas já não escrevem, ou pouco escrevem,há alguns anos, e o facto de terem de fazer um porta-fólio reflexivo de aprendizagem, por si só, é muito exigente. Por isso, dever-se-ia continuar a valorizar a aprendizagem não formal e informal.

Quanto às pessoas que tanto criticam os CNO, assim como criticam os adultos que os frequentam, devo dizer que essas pessoas não sabem o que dizem e têm uma grande falta de respeito para com esses mesmos adultos. É que, para se fazer uma crítica sobre um determinado assunto, é necessário estar-se dentro das questões e analisá-las no terreno. Caso contrário, corre-se o risco de falar de cor, só porque se ouviu dizer, ou se leu num jornal, e isso é muito grave. Haja respeito por quem se esforça! (“Público”, 13/01/2012)."

Transcrevo, agora, o meu artigo de opinião saído hoje no "Público":

“Da sua carta não me ficou a impressão de uma ideia, mas só a lembrança de uma atitude” (Eça de Queiroz).

A notícia, de hoje no PÚBLICO (01/02/2012), com chamada na 1.ª página, intitulada “Um terço dos centros de Novas Oportunidades vai fechar”, leva-me a clarificar a minha posição perante um assunto polémico e em resposta a um texto de uma leitora publicada na secção de Cartas à Directora:

Quiçá para me poupar desse vexame, sem referência ao nome do autor do incómodo artigo “O actual Governo e as novas oportunidades” (PÚBLICO, 11/01/2011), foi publicado, passados dois dias, nestas colunas, em “Cartas à Directora” , um texto de Maria do Rosário D. A. Neves, com idêntica título por a sua subscritora, possivelmente, nem sequer se ter dado ao trabalho de ser original. Embora da sua prosa esclarecimento algum eu tivesse colhido, ficou-me, contudo, a importância de ter ficado a saber da existência de um estágio curricular, integrado em Mestrado de Psicologia da Educação no Centro de Novas Oportunidades de Vila Nova de Gaia, por si realizado.

Mas adiante. Em finais do século XIX, sentenciou Charles Prestwich Scott, editor do jornal “ManchesterGuardian” que “os comentários são livres, mas os factos são sagrados”. Reporto-me, portanto, a factos deixando à margem, tanto quanto possível, comentários em que a paixão se possa sobrepor à razão.

Ora, dos factos fazem parte dois testemunhos por mim publicados no supracitado artigo que despoletou a carta que me deseja sentado no banco dos réus levando a minha paciência ao limite de uma resignação que não tenho, porque escudado em depoimentos de pessoas por mim arroladas como testemunhas de defesa, mas que parece não terem merecido qualquer crédito à subscritora da referida epístola.

O primeiro desses testemunhos, publicado no semanário “Expresso” (18/09/2010), tem por base o depoimento de um dos usufrutuários das “Novas Oportunidades”, com a hombridade de ele próprio admitir ter“beneficiado de uma injustiça” com a elevada classificação de vinte valores no acesso à universidade. O segundo testemunho reporta-se a uma carta endereçada, e publicada igualmente no “Expresso", ao mais alto Magistrado daNação, por um formador das Novas Oportunidades em que descreve a forma blasé ou mesmo abandalhada, perdoe-se-me o plebeísmo, como os formandos se comportam. E porque não há duas sem três, apresento, agora, uma terceira prova com a transcrição de um documento certificador de histórias da vida, com equivalência ao 12.º ano do ensinosecundário, de um formando das Novas Oportunidades justificativa da evocação de um pequeno texto de Nietzsche: “E assim cheguei até vós e aos pais da educação. E o que me acontece? Não obstante toda a minha ansiedade tive de rir. Nunca os meus olhos tinham contemplado algo tão manchado e heterogéneo”.

Reza a redacção desse documento: “Como já disse anteriormente tenho um filho e uma filha, em que ele é mais velho cinco anos “…Ando sempre a fazer-lhe ver as coizas até já lhe tenho dito se tiver a inflicidade de falecer novo paça a ser ele o homem da casa e tomar conta da mãe e mana, mas para ele é difícil de compreender as coisas e por vezes até me pede desculpa e que para a procima já não comete os mesmos erros. Ele tem o espaço dele com a mãe em que não me intrumeto, desde mimos e converças porque graças a Deus nem eu nem ele temos siumes um do outro com a mãe…” (PÚBLICO, Santana Castilho, 25.Maio.2011). Sete erros ortográficos em 111 palavras é obra!

Concedo que, pelo anúncio e compra de relatórios elaborados por especialistas com essa finalidade, sejam hoje apresentados textos deformandos que lustram o verbo dos seus putativos autores. Mas esta arremedo de polémica não teria acontecido se o meu texto tivesse sido lido com a atenção que fizesse entender a esta leitora que eu não critiquei as Novas Oportunidades de“pena ao vento”, como diria Eça.

Tive, até, o generoso cuidado de não generalizar as minhas críticas, quando escrevi no meu anterior artigo: “A réstia de esperança que pudesse ainda haver sobre a bondade de uma segunda oportunidade, para quem desperdiçou uma primeira, foi abalada nos seus frágeis caboucos pela leitura de uma reportagem do “Expresso” (08/12/2007). Por ela se ficou a saber que estes badalados cursos não espelham uma situação minimamente verdadeira, credível ou séria”. E acrescentei: “Não querendo generalizar a todos os cursos de Novas Oportunidades efeitos perversos, tenho razões para pensar que em sua grande maioria sirvam apenas para recreio buliçoso para passar o tempo de quem procura um diploma avalizado pelo Estado”.

Mas desço, agora, ao âmago desta controvérsia analisando o parágrafo final da carta desta leitora que se destaca por uma espécie de aviso a ignorantes por parte de quem sabe da poda. Escreveu ela: ”É que, para fazer uma crítica sobre um determinado assunto, é necessário estar-se por dentro das questões e analisá-las no terreno. Caso contrário, corre-se o risco de falar de cor, só porque se ouviu dizer, ou se leu num jornal, e isso é muito grave. Haja respeito por quem se esforça!”

Plenamente de acordo com esta moralista exortação. Foi precisamente por respeito a quem se esforça que escrevi o meu artigo inicial pondo em confronto três maneiras de se ficar de posse do 12.º ano ou da sua equivalência, através, respectivamente, do chamado ensino regular e das Novas Oportunidades. Mas, por outro lado, discordo plenamente da condição, sine qua non, de “se estar dentro das questões e analisá-las no terreno”. E esclareço porquê: não se deve ser juiz em causa própria sob pena, ainda que mesmo involuntária, de falta de isenção.

Não será preferível, portanto, que se deixe essa análise para a comissão nomeada para o efeito pelo Ministro Nuno Crato, inclusivamente ao Centro de Novas Oportunidades de Gaia de excelência, antecipadamente, posta nos píncaros da lua?

Concedo, até, que o mal possa não estar na filosofia que presidiu à criação das Novas Oportunidades, mas no facilitismo de que se revestem, por vezes, ao certificar experiências de vida relatadas com erros ortográficos e gramaticais de palmatória não tolerados no simples exame da 4.ª classe do antigo ensino primário. Mas não se pretenda ver nisto (gato escaldado de água fria tem medo) qualquer exagero da minha parte de “exigir que haja um Dante em cada paróquia e que os Voltaires nasçam com a profusão dos tortulhos”, em nova citação do incontornável autor de “Os Maias”.

Rui Baptista, Professor e co-autor do blogue “De Rerum Natura”.

22 comentários:

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Professor Rui Baptista,

A Srª Maria do Rosário D.A. Neves, revela um profundo desconhecimento da condição humana e de todas suas potencialidades, o caso é ainda mais grave tratando-se de alguém que possui um Mestrado de Psicologia da Educação (deixo por isso uma citação de Bento de Jesus Caraça no fim do comentário com o intuito de prestar um auxilio à Srª.).

Sim, porque de resto, - ninguém tem duvidas, e penso que no seu intimo, também a Srª Maria do Rosário D.A. Neves – de que o que se passou com as NO, foi a perversão do que havia de potencialmente bom numa ideia de inegável valor humanista.

“(…) Não há nas construções humanas, daquelas que ficam, que resistem ao tempo, nada que não possa ser compreendido pelo comum dos homens. É só o comum dos homens que faz e desfaz as civilizações; é o comum dos homens que tem necessidade da cultura geral. Assim entendida, ela deixa de ser inimiga da actividade profissional, mas é o seu complemento indispensável, o instrumento que permite ao homem subir do nível de profissional ao de cidadão.”

Cumprimentos Cordiais.

jotaeme disse...

Boas tardes: Na verdade toda esta polémica sobre o Programa Educacional "Novas Oportunidades", demonstra o que poderia ter sido uma boa ideia do M.E., com o apoio de José Sócrates, mas não foi, porque se desviou do objectivo fundamental, que era validar competências adquiridas ao longo da vida, profissional e pessoal!
Entrou-se no facilitismo, na fraude e na "balbúrdia", de cidadãos que se não orientados e disciplinados pelos Formadores, ficavam convencidos da rápida e facilitada técnica do Copy e Paste, para chegarem ao almejado Diploma de Equiparação!
Eu falo com conhecimento de causa, porque fui assistir a uma jornada de divulgação das Novas Oportunidades, na Adeima em Matosinhos em 2008 e francamente não gostei do modo e do conteúdo. Por isso optei pelo Ensino Recorrente Nocturno, tendo no passado o Curso Industrial Formação de Serralheiro, concluído em 1968, com equivalência ao 9º Ano!!! Fiz o 10º, 11º e 12º Anos na área das Ciências Sociais e Humanas! Concluí esta etapa no ano lectivo 2010/11 e após os Exames Nacionais candidatei-me á Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde fui colocado a História! Não continuei por dificuldades económicas e do foro pessoal este ano, ficando em espera em principio para este ano 2012. Tudo isto para ilustrar o modo que a meu ver deveria continuar a ser incentivado e apoiado nas Escolas Públicas portuguesas! Os meus professores não escondiam a sua mágoa e revolta pelo fim desta área de Ensino pelo Governo anterior, que só pensava nas Estatisticas e nos números para o Eurostat!!! AQUI SIM, PERDEU-SE UMA GRANDE OPORTUNIDADE PARA CONTINUAR A PROPORCIONAR O ACESSO AO CONHECIMENTO E AO ENSINO SUPERIOR PARA TODOS AQUELES QUE O NÃO PUDERAM FAZER,(TAL COMO EU), DURANTE ASUA JUVENTUDE).
Esta é que é a verdade!
Cumprimentos,
Jorge Madureira

José Batista da Ascenção disse...

Meu caro Rui Baptista:

Admiro-lhe a paciência e a persistência.

E agradeço-lhe, uma e outra.

Mas, se quer que lhe diga, há certas vozes

que não merecem que se lhes dê troco.

O que não é uma crítica, faço notar.

joão boaventura disse...

No fundo, e se o considerando o permite, toda a armação sociológica dos Centros de Novas Oportunidades, serviu apenas para justificar o tipo de pseudo-licenciatura do ex-primeiro-ministro Sócrates.

Ao cobrir o país com a nuvem dos Centros de Novas Oportunidades, pretendeu iludir a sua duvidosa formatura, e colocá-la no limbo dos ditos Centros, onde ele seria o mestre e regente do novo sistema implantado, que nem sequer figura nos rankings dos Melhores Centros, porque se rege pelo demérito.

Se ele foi capaz de se auto-oportunidadizar as gerações adultas como ele seguiriam a sua nova doutrina que vinha revolucionar o sistema educativo, evidenciando que o sistema formal estava gasto e caduco, conforme induz a autora da carta quando refere que "fez um Mestrado de Psicologia da Educação, em quatro meses", como quem construiria uma ponte em quatro meses... simplesmente a Ordem dos Engenheiros não o iria permitir.

Explica-se assim, e uma vez mais, à falta de outros argumentos, as razões de o Estado não permitir a criação da Ordem dos Professores... proibiria cursos de fins de semana. ou de quatro meses, o que cortaria a oportunidade de tornar muita gente igual a Sócrates, para que Sócrates fosse apenas um entre muitos, e o seu problema ficaria diluído.

E é assim nestas andanças quixotescas, de roda livre, que o país vai ganhando quantidade, em detrimento da qualidade, diminuindo o tempo de ensino-aprendizagem...porque opta pelas aparências.

Sócrates foi um terramoto que abalou todo o sistema de ensino, e o pôs nas ruas da amargura, e para provar que não é um arranjador de esquemas de cursos, ou para apagar a duvidosa licenciatura passada, resolveu inscrever-se numa universidade parisiense de ranking desconhecido, faltando saber com que recursos o terminará.

E nós sabemos que os estragos sísmicos levam um tempo inaudito a recompor todo o tecido educativo aleivosamente rejeitado.

Como foi possível tanta aceitação ?

Como foi possível tanta liberdade para a asneira ?

Como foi possível tanta impunidade ?

Como foi possível tanta ingenuidade ?

E agora o sistema é retomado em outro âmbito que se torna repetitivo de governança em governança.
No estertor da agonia Sócrates repetia, antes do fecho do pano, que:

"Portugal não precisa de pedir dinheiro"
"Portugal não precisa de pedir dinheiro"
"Portugal não precisa de pedir dinheiro"

E foi o que se viu... precisou de pedir dinheiro.

Agora chegou a vez de Passos Coelho repetir o slogan adoptado:

"Portugal não precisa de pedir mais dinheiro"
"Portugal não precisa de pedir mais dinheiro"
"Portugal não precisa de pedir mais dinheiro"

Chamaria a esta peça de teatro a que assistimos gratuitamente, o suicídio de um Estado porque aqueles apelos repetitivos repulsivos significaram, significam e repetem o apelo de Pedro:

"Euro, salva, nos perimus."

Desculpem.

Antes um terramoto para limpar o lixo que se vai juntando à volta dos "piegas".

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Professor João Boaventura,

Permita-me que o corrija no seu texto.

A Srª Maria do Rosário D.A. Neves diz “Fiz o meu estágio curricular integrado em Mestrado de Psicologia da Educação num centro de novas oportunidades (CNO) de Gaia, com aduração de quatro meses (300 horas)."

Pelo que eu concluo tratar-se do estágio final ou de fim de curso, o que é justo.

Cordialmente.

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Professor João Boaventura,

Gostaria de dizer-lhe ainda o seguinte:

O exemplo que refere da construção da ponte e da ordem dos engenheiros não é muito correcto a meu ver, e por duas razões;

1ª A tecnologia de hoje já permite em engenharia fazer grandes obras, como seja uma ponte em tempos bastante curtos, até em prazos muito inferiores a 4 meses;

2ª A ordem dos engenheiros, infelizmente, não efectua revisões de projectos ou acompanhamento de obras, como a realidade o exige.

Cumprimentos Cordiais.

joão boaventura disse...

Caro Joaquim Manuel Ildefonso Dias

Agradeço a sua chamada de atenção, mas quando refiro construir uma ponte em 4 meses, o que ora esclareço, não é pelos engenheiros que curricularam a sua formação, mas pelos pseudo-engenheiros que os CNO se aventurassem a instituir.

Repare que a Ordem dos Engenheiros recusaram - se a minha memória não me atraiçoa - os engenheiros formados pelo sistema do Projecto Bolonha, que era um CNO melhorado. O cenário dos que fossem portadores de fundamentos inscritos nos CNO, nem se poria.

Quanto à justificação cavalheiresca que faz da senhora relembro que o que está, e esteve sempre em causa, foi a falta de seriedade e credibilidade do processo CNO que o Caro Joaquim Dias não tem acompanhado.

Os CNO eram sinais ideológicos, críticos e censórios, contra o establishment do sistema educativo vigente de 12 anos, mais os universitários, sistema que o ex-primeiro ministro não tolerava porque o obrigava ao cumprimento de regras estabelecidas para concluir uma licenciatura.

Perguntaram uma vez ao sociólogo Goffman o que tinha a dizer sobre o novo interaccionismo simbólico que parecia ter sido intuído por ele. Respondeu que não havia nenhum interaccionismo simbólico, que não passava de uma etiqueta que se conseguiu impor através de um movimento bem engendrado, abrindo uma escola, criando um jornal, e juntando muitos amigos. Mas não passava, por enquanto de uma etiqueta a desenvolver.

Assim os CNO, intuídos, difundids e multiplicados pela propaganda exaustiva do ex-primeiro ministro. Começou por ser uma etiqueta inofensiva mas criou escolas fraudulentas, muitos apoiantes à sua volta, mas enganou muita gente, ao convencer que afinal para ter um diploma na mão ou um canudo no armário, nada como encurtar tempos de estudo, e rasgar páginas de muitos livros.

Duma penada as estatísticas da educação e formação, e enquanto o diabo esfrega um olho, Portugal ultrapassaria em quantidade as licenciaturas das restantes comunidades europeias. Estaríamos no topo da Europa, finalmente.

O defeito de Sócrates não foi o de ser poder, foi o de declamador demagógico, com retórica repetitiva e cansativa, porque gostava de se ouvir, para se auto-convencer de que os CNO seriam o mantra da solução miraculosa - expurgar o ensino antigo e introduzir a Nova Cartilha de Sócrates: facilitemos as licenciaturas amigavelmente.

Assistimos durante muito tempo ao duelo entre Sócrates e Alberto João Jardim. Ambos disputavam a primazia do número de obras inauguradas, batendo na tecla de que era chegado o momento da modernização do país, para um, ou da Madeira para o outro.

Como escreve José Gil, sobre os discursos de Sócrates:

"... repete sempre as mesmas ideias, quase com as vmesmas frases, literariamente medíocre, lexicamente pobre, sem rasgos nem surpresas: é que está constantemente no presente mítico, transformando a obra mais banal num acontecimento de relevância única, exemplar, modelar."
("Em busca da identidade. O desnorte", ed. Relógio d'Água, Lisboa, 2009, pp. 28-29).

E na p. 30 aborda o problema do chico-espertismo.

Depois disto ainda nos podemos perguntar como foi possível tolerarmos este homem durante tanto tempo ?

Cordialmente

António Bettencourt disse...

Fui formador de Linguagem e Comunicação e de Língua, Cultura e Comunicação, durante vários anos, num Centro de Novas Oportunidades.

Digo e afirmo e reafirmo onde for preciso: as Novas Oportunidades são a maior aldrabice que alguma vez passou pelo nosso sistema de ensino!

E se acham que com isto desrespeito quem lá andou, estou-me completamente nas tintas porque nenhum dos alunos que lá andou merecia ou merece uma equivalência ao 12ºano.

Para isso teriam que saber Matemática, Física, Língua Portuguesa, uma língua estrangeira, ter lido os clássicos que, ainda assim, um aluno regular é obrigado a ler, etc., etc. A lista de diferenças e de deficiências é infindável.

Num ensino em que nada é testado, nada é ensinado ou aprendido e tudo parte de uma reflexão sobre o percurso de vida, eu não avalio quaisquer competências, quando muito avalio se o aluno sabe falar sobre elas.

Quanto à carta da senhora, só tenho um comentário a fazer: não se pode esperar mais de uma pessoa formada em (pseudo)ciências da educação.

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Professor João Boaventura, percebi agora o seu comentário. Pelo que lhe agradeço o esclarecimento.

Quanto à questão que coloca no fim a resposta só pode ser esta; essencialmente, pela necessidade que temos de “despertar a alma colectiva das massas”. Tal como falava Bento de Jesus Caraça na conferência a Cultura Integral do Individuo.

Mas como quase tudo na vida, o que nos pode ser útil pode também ser problemático - lembro por exemplo aqui a energia nuclear e o uso que lhe pode ser dado - infelizmente, quem quer que nos tenha governado, e tenha ainda lido essa conferência, leu-a seguramente por uma lente “estranha” que, retira-lhe proveito por uma interpretação enviesada, digamos, muito própria dos seus interesses particulares. Mas esse texto também classifica esse egoísmo e traição;
“(…) e, se hoje traímos, será esse o nosso destino ser arredados com o pé, como se arreda um montão de folhas mortas”.

Há quem pense, que as elites por si só «dão conta do recado», enganam-se, e cito novamente;
“(…) apesar de as condições actuais de vida constituírem, dentro de certos limites, um meio mais propicio para a luta de ideias, não deixa porém de ser certo que a actuação das elites, sempre que queira exercer-se contra os interesses da classe dirigente, está sujeita a perigos análogos aos de outros tempos”.

Quero dizer-lhe que Bento de Jesus Caraça é, para mim, como que o farol que ilumina o caminho, e como o Professor João Boaventura bem vê, respondi à sua pergunta correctamente, da qual o senhor já sabia a resposta, porque é Professor, e pergunta porque sabe ou porque tem opinião formada no assunto a maioria das vezes.”

Cumprimentos muito cordiais

Rui Baptista disse...

Em devido tempo, responderei aos comentários até agora feitos demonstrativos que uma espécie da apatia geral se abateu sobre Portugal mas que, “malgré tout”, ainda há quem se preocupe em debater as questões do ensino nacional.

Um ensino de facilitismo, com honrosas excepções, em que a mediocridade se substituiu, abusivamente, e sob a tutela complacente do governo P.S., ao mérito.

As excepções, de nível internacional, dos nossos jovens investigadores, mais não são do que isso mesmo: excepções que confirmam a regra de um ensino para inglês ver com dados estatísticos que dão razão a um ex-ministro da Educação do Estado Novo, Prof. Leite Pinto: "Há duas maneiras de mentir, uma é não dizer a verdade, outra fazer estatística". Uma certa estatística em que os dados se contorcionam qual artista de circo chinês.

A apatia dos estudantes “que estudam”, mas se divorciam por completo de todos estes atropelos numa espécie de “porreirismo nacional”, não merecem sequer a crítica de Eça à juventude escolar do seu tempo que se manifestava sem grande empenho:, mas se manifestava “Os estudantes, geralmente, têm a revolta muito fácil, mas muito curta. E desde que os barulhos são feitos unicamente por estudantes, a ordem renasce de repente, quando uma madrugada eles se sentem esfalfados de tanto berro e de tanto encontrão, e recolhem-se a casa para mudar de roupa e de entusiasmo”.

Aliás, uma certa apatia que perdura quando passam de estudantes a professores e se acomodam a um sindicalismo escravizado a determinadas políticas, ou alianças sindicais espúrias, que lhes dá o guião para barafustarem na rua, num reavivar de um sindicalismo com cheiro a mofo, contra condições meramente salariais e de horários de trabalho. Barafustam eles , revoltam-se eles…e recolhem eles a casa para assistir no sofá da sala aos programas da TV.

Nanja, que as questões que possam melhorar o sistema de ensino, como seja a delegação em suas mãos da responsabilidade de actos próprios da profissão docente são questões de “lana caprina” deixadas para os sindicatos e para outras profissões que pairam num universo corporativo, criminosamente corporativo… que se preocupa em não deixar que determinadas e exigentes profissões possam ser guarida de todo aquele que pelo facto de um dia ter dado meia dúzia de aulas ostente o cartão de sócio de um sindicalismo que não acredita (ou que lhe convém não acreditar!) que, mesmo para pôr meia-solas há que saber da arte de sapateiro.

E já que estou com a mão na massa, meu Caro José Batista da Ascenção, aproveito para lhe dizer, em resposta breve, mas sentida, ao seu comentário, quando escreve admirar a minha paciência e persistência, agradecendo-me uma e outra, que estou bem acompanhado por si e os poucos comentadores ao meu post. Embora lamente o silêncio de quem se devia pronunciar sobre estes assuntos, o não faz, limitando-se a recolher a colheita de quem semeou a terra contra ventos e marés, prefiro , e honro-me com a vossa companhia, mais do que pertencer à legião dos que defendem as Novas Oportunidades ou que delas se tornam cúmplices.

Sei que com a minha atitude não desperto a simpatia das massas acéfalas, mas também sei que uma mentira mil vezes repetida se pode tornar numa verdade. Julgo que foi Goebbels, ministro da Prpaganda do III Reich, que o disse. Pouco me contenta, portanto, o anexim de que a mentira tem a perna curta embora estugada, mas suficiente longa para fazer um percurso que atrase a marcha da Verdade.

Rui Baptista disse...

Rectificação: Na 3.ª linha do 6.º § (começado pela palavra nanja), onde está "são questões", rectifico para "sejam questões".

António Bettencourt disse...

Para que esta discussão não fique apenas no diz-que-disse e para que todos os que aqui vêm possam ter uma ideia do que se está a falar, vou colocar aqui algumas pérolas do Referencial do Ensino Secundário respeitante à área de Cultura, Língua e Comunicação, a área que corresponde ao Português, no ensino regular. Ora, a partir da história de vida do adulto (tem que ser adulto ou formando, atenção, estávamos terminante proibidos de lhes chamar alunos) o formador (não pode ser professor) tem que desocultar (é mesmo este termo que tem que ser utilizado) as seguintes competências:

• Actuar face aos equipamentos e sistemas técnicos usados em contexto doméstico, identificando o seu potencial criativo e favorecendo o cruzamento entre arte, cultura e quotidiano, criando ainda a possibilidade de uma mais activa participação (práticas e consumos culturais)
dos cidadãos.

Por outras palavras, o adulto tem que escrever na sua HV que usa televisão, computador, radio, etc. para consumir produtos culturais.


• Actuar face aos equipamentos técnicos no contexto doméstico interpretando correctamente instruções contidas em manuais de utilização em língua portuguesa e/ou língua estrangeira.

O adulto coloca a fotocópia da capa de um manual de um equipamento qualquer que tenha lá em casa(desde varinha mágica ao vibrador...)

• Actuar no contexto doméstico face aos equipamentos técnicos que possibilitam a comunicação entre indivíduos, compreendendo o seu papel e reconhecendo as suas diferentes funcões (telefones, telemóveis, intercomunicadores, televisores, rádios, computadores, (entre outros).

O adulto diz que usa muito o telemóvel, o telefone e o chat para comunicar com os outros.

• Actuar perante os consumos culturais em contexto privado e doméstico aplicando conhecimentos técnicos e procurando evitar desperdícios energéticos de modo a poder contribuir para a qualidade do ambiente.

O adulto coloca umas imagens sobre poupança de energia, diz que só usa em casa lâmpada de baixo consumo, diz que está sempre muito atento aos programas de TV e cartazes sobre estes assuntos.

• Actuar em contextos privados, através da interpretação de símbolos relacionados com o consumo e eficiência energética e sua aplicação na vida quotidiana.

O adulto coloca na HV uma simbologia de poupança energética tirada do Google Images.

• Actuar em situações de comunicação interpessoal produzindo e transmitindo informação clara e tecnicamente correcta sobre consumos energéticos eficientes no contexto privado.

O adulto diz que fala muito com a sua família, os seus amigos e colegas sobre este assunto.

Isto são apenas brevíssimos exemplos para verificarem na prática como as coisas são feitas. Deixo-vos só para terminar e não aborrecer, alguns exemplos das competências a validar no último dos domínios para que vejam a alucinação a que isto chegou:

• Actuar tendo em conta que os percursos individuais são afectados por condições sociais e que as trajectórias se (re)constroem a partir da vivência de diversos contextos e da reconfiguração da posse de diferentes recursos.

• Actuar no mundo global, compreendendo como os diferentes suportes e meios de comunicação fizeram evoluir as inserções profissionais e os modos de trabalhar e produzir riqueza.

• Actuar nas sociedades contemporâneas, identificando as teorias fundamentais dos sistemas de comunicação (um para um, um para muitos, muitos para muitos, e em rede) e tendo consciência do carácter instrumental dos media e da eficácia do seu poder.

Uma última nota: embora eu só esteja a dar alguns brevíssimos exemplos para ilustrar aquilo que se faz nas Novas Oportunidades, o que dá uma visão muito parcial da questão, relembro que isto é suposto ser o equivalente ao Português de 10º, 11º e 12º anos.

Quem tiver paciência procure na net o Referencial de Competências Chave para o Ensino Secundário, leia o que lá está para as diferentes áreas e chegue às suas conclusões.

António Bettencourt disse...

Abordo agora um outra aspecto das Novas Oportunidades: a formação dos formadores.

No meu caso, tive uma formação de dois fins de semana na Universidade do Algarve.

Aí, fomos sujeitos a uma autêntica lavagem ao cérebro de horas e horas de propaganda, em que nos massacraram com o referencial e a constante mensagem de que a coisa é boa, é boa, é boa é. Especialistas de tudo e mais alguma coisa, estudiosos vindos de todo o lado, um impressionante espectáculo propagandístico teórico-socio-pedagogico-psico-educacional.

Como pode o pobre professor do ensino secundário, o pobre formador contestar a ciência de tantos cérebros, de tantos doutores e génios para si mesmos?

Devo dizer que, se muitos dos professores se mostravam revoltados com aquilo tudo, também havia aqueles que bebiam todo aquele paleio da treta de olhos bem abertos e numa espécie êxtase místico.

No último dia, fomos divididos em grupos e confrontados com as práticas. No meu caso, duas jovenzinhas formadores cheias de zelo mostraram-nos como se aplicava o referencial. Claro que se viram e desejaram para nos conseguir mostrar o que quer que fosse e, coitadas, foram sujeitas a um fogo cerrado de todos os professores que vinham a espumar raiva das sessões de doutrinação.

Por fim, quero só assinalar um aspecto curiosíssimo: fomos todos profusamente filmados e fotografados e tivemos mesmo que assinar uma declaração a ceder os direitos de imagem e a permitir a sua utilização, caso contrário, constou que não receberíamos o tão almejado certificadozinho.

António Bettencourt disse...

Para não parecer que só digo mal ou que só quero destruir, vou agora falar um pouco dos aspectos positivos das NO.

Começo com o ponto de vista pessoal, ou seja, o que é que as NO me deram a mim como professor e como ser humano. Devo dizer que deram muito. O contacto directo com as pessoas, o conhecer as suas vidas, os seus problemas, as suas ansiedades, foi das experiências mais enriquecedoras da minha vida.

Estando colocado numa cidade inserida num meio rural, numa região deprimida do país, confrontei-me com percursos de vida impressionantes, com realidades por mim nem imaginadas.

Lidei com muitas pessoas honradas e sérias e que me cortavam o coração quando diziam que tinham pena de as NO não ensinarem nada. Porque o que eles queriam era mesmo aprender alguma coisa. E, quanto a mim, este é o maior crime das NO: considerar que as pessoas não desejam o Saber, não querem ser melhores, apenas desejam uma certificação.

Por outro lado, fiquei com uma ideia diferente do meu país e do meu povo (passe a foleirada desta frase). Conheci o que foi a vida das pessoas nos últimos 50 anos (em alguns casos até mais), a pobreza e as vidas de servidão (não, não sou de esquerda). Eu que sempre achei que os escritores neo-realistas exageravam no seu retrato da sociedade, pude verificar que não exageravam em nada. A vida em Portugal para quem era pobre, era mesmo horrível. E no entanto, no meio da miséria havia casos de extraordinária riqueza cultural na música, no artesanato, etc.

As Histórias de Vida produzidas por estes milhares de pessoas, desde que expurgadas dos seus formalismos e do que ali é escrito só para validar competências, são documentos absolutamente excepcionais para quando se fizer a história destes tempos. Espero que os CNO’s tenham o bom senso de os arquivar. Imaginem o que seria a História, se hoje tivéssemos algo se semelhante dos séculos passados.

Tentando agora ver os aspectos positivos do ponto de vista dos formandos, o primeiro aspecto é o regresso à Escola, essa realidade tantas vezes traumática e que criou uma barreira inultrapassável de más memórias. Muitos dos formandos, depois de terminarem o seu processo, permanecem na Escola a fazer formações gratuitas de línguas, de informática e de outras. Este é talvez o aspecto mais positivo de todo este processo.

Por outro lado, é dada aos formandos uma oportunidade que provavelmente poucos de nós têm: a oportunidade de fazer um balanço da vida. Um balanço por escrito e, como tal, que perdura. Um dos meus formandos publicou a sua HV para deixar aos descendentes.

Dito tudo isto, apenas quero acrescentar dois pontos: o primeiro, já assinalado por outro leitor, é o facto de as NO serem provavelmente uma boa ideia aplicada de uma forma criminosa. O segundo é o da tremenda estupidez que foi dar equivalência ao 12º ano. Para quê? Apenas para constar em estatísticas mentirosas? Porque não podem as NO ser um percurso autónomo, sem equivalência a coisa nenhuma? Assim se assassina a credibilidade de algo que até podia ter sido positivo para o país e para as pessoas.

José Batista da Ascenção disse...

Caro António Bettencourt

Li todos os seus comentários a este "post".

Tomara que tudo o que (de mau) escreve sobre

as Novas Oportunidades pudesse ser inventado.

Não obstante, não tenho qualquer dúvida de

que a realidade é exatamente assim.

Veja, eu sou um professor no ativo, há

décadas, ininterruptamente a trabalhar com

alunos de várias turmas.

Suspeitava que as coisas eram más, mas não

queria imaginar que fosse tanto...

Sinto-me como se andasse

com uma candeia à procura de motivos

organizativos que nos tragam um pouco de

esperança. Mas a realidade é implacável.

E supera a ficção.

Só mais uma palavra para lhe agradecer a

lisura, a coragem e a frontalidade.

Creio que se muitos falassem tão claro,

alguma coisa tinha forçosamente que

mudar.

Muito bem haja.

Rui Baptista disse...

Caro António Bettencourt: Grato pelo seu fecundo comentário que põe o dedo na ferida das Novas Oportunidades, com o mérito de transcrever a legislação que as suportam. Ou seja: um testemunho enriquecedor para um historial em que o mal não está tanto na canção mas mais nos seus cantores .

Todavia, permita-me um pequeníssimo reparo. Vou directo ao assunto.

Ou seja, quando no seu comentário inicial escreve, “para que esta discussão não fique apenas no diz-que-disse “, julgo poder ser interpretado como tendo descurado estes três factos, citados no meu post, que reescrevo:

1. O depoimento de um dos usufrutuários das “Novas Oportunidades”, com a hombridade de ele próprio admitir ter“beneficiado de uma injustiça” com a elevada classificação de vinte valores no acesso à universidade.

2. A carta endereçada, e publicada igualmente no “Expresso", ao mais alto Magistrado da Nação, por um formador das Novas Oportunidades em que descreve a forma blasé ou mesmo abandalhada, perdoe-se-me o plebeísmo, como os formandos se comportam.


3. O artigo, sobre um relatório de “experiência de vida” (aspas minhas), de Santana Castilho (Público, 25/05/2011) :”Como já disse anteriormente tenho um filho e uma filha, em que ele é mais velho cinco anos “…Ando sempre a fazer-lhe ver as coizas até já lhe tenho dito se tiver a inflicidade de falecer novo paça a ser ele o homem da casa e tomar conta da mãe e mana, mas para ele é difícil de compreender as coisas e por vezes até me pede desculpa e que para a procima já não comete os mesmos erros. Ele tem o espaço dele com a mãe em que não me intrumeto, desde mimos e converças porque graças a Deus nem eu nem ele temos siumes um do outro com a mãe”.

Cordialmente,

António Bettencourt disse...

Muito obrigado pelas suas palavras, José da Ascenção.

Penso que agora é preciso pensar no futuro a dar às NO. Por tudo aquilo que disse, parece-me óbvio que não pode continuar a funcionar nos mesmos moldes de simples reconhecimento de competências.

Outra questão para mim chocante e que não referi anteriormente foram os milhões (repito, milhões) de euros desbaratados em tudo isto. Só quem lá não esteve é que não viu o que era de festas e festarolas, cerimónias, jantares, almoços, encontros, canetas, pins, pastas, toda uma parafernália de propaganda não sei quantas vezes superior à de qualquer acto eleitoral. Uma vergonha!

Claro que há grandes defensores da coisa, gente que nunca foi nada nem ninguém mas que, graças a tão socrático zelo, se viu alçada a importâncias. Tantos e tantas que receberam a chave da retrete e se sentiram inchados por serem os chefes dos sanitários. Tantos que antes mal sabiam comer de faca e garfo, de repente tão senhores de si mesmos. E era vê-los nos encontros, palestras e palestrinhas a discursar disparates atrás de disparates de trampa ideológica em eduquês traduzido do inglês em calão, quais boaventurazinhos de pacotilha.

Mas apesar de tudo, acabando com estes abusos, penso que seria de aproveitar o que fica de positivo. Seria de aproveitar o esforço de tantas pessoas sérias que regressaram às escolas e dar-lhes aquilo que eles verdadeiramente querem: o Saber. Em moldes diferentes do ensino regular, talvez em formações modulares, sem equivalências a nada, mas com competências adquiridas devidamente avaliadas, validadas e certificadas. E quanto às competências que os formandos já tenham, têm que as demonstrar e há também que as avaliar, validar e certificar com lisura de procedimentos, com testes, exames ou outro modelo avaliativo, mas sem aldrabices de referenciais dementes e completamente desajustados a avaliar seja o que for com um mínimo de seriedade.

E já agora, só para terminar, quero chamar a atenção para uma questão: estão a ver para que serviria uma ordem dos professores? Para se virar para os governantes e dizer que os professores não se vendem por um prato de lentilhas e que não aceitam tudo só para terem horário. E que não colaboram com aldrabices, coisa que jamais veremos um sindicato fazer. Esses só se preocupam com direitos adquiridos e com o jogo políticos dos partidos. Também são importantes, mas para outras questões.

Rui Baptista disse...

Caro Jorge Madeira: Obrigado pelo seu comentário que tem o inegável mérito de ser o testemunho de um aluno a lamentar que o ensino recorrente tenha sido postergado pelas Novas Oportunidades.

Mas até se compreende! Quanto mais fácil se tornasse apresentar, para uso interno e externo, números estatísticos que demonstrassem que a população portuguesa tinha dado um pulo de canguru, em termos quantitativos, mas não qualificativos, pela posse do 12.º ano, ou seu equivalente, mesmo que feito a martelo, maior seriam os louros dos seus responsáveis: ss fins justificariam os meios.

António Bettencourt disse...

Caro Professor, quando usei a expressão diz-que-disse não me estava a referir ao seu artigo, que está devidamente documentado. Referia-me aos meus próprios comentários, no sentido de apresentar provas concretas daquilo que estava a dizer no meu comentário anterior. Daí o ter exemplificado com um documento oficial das NO que é o Referencial.

Cumprimentos.

Rui Baptista disse...

Caro Joaquim Manuel Ildefonso Dias:

Este excerto do seu comentário , “ninguém tem duvidas, e penso que no seu intimo, também a Srª Maria do Rosário D.A. Neves – de que o que se passou com as NO, foi a perversão do que havia de potencialmente bom numa ideia de inegável valor humanista”, tem a fundamentá-lo a esperança. E, como diz o povo, a esperança é a última coisa a morrer… Será?

Rui Baptista disse...

Caro António Bettencourt: Reporto-me a esta parte do seu comentário: “Quando usei a expressão diz-que-disse não me estava a referir ao seu artigo, que está devidamente documentado. Referia-me aos meus próprios comentários, no sentido de apresentar provas concretas daquilo que estava a dizer no meu comentário anterior. Daí o ter exemplificado com um documento oficial das NO que é o Referencial”.


De forma nenhuma me atreveria a pensar que fosse o meu Caro António Bettencourt a interpretar o meu post como emitindo meras opiniões sem o suporte de factos devidamente documentados publicamente. Nada disso! Mas, talvez eu me tivesse exprimido mal, escrevendo o que não pensei ou pensando o que não escrevi. Apenas, quis impedir que fosse o leitor do seu comentário, que mereceu a minha aprovação incondicional, e devidamente por mim posta em evidência, pelo seu conteúdo riquíssimo, a ter, apressadamente, intencionalmente ou mesmo dolosamente, como alvo o meu post e, consequentemente, o seu autor, “moi-même”.

Posto este breve esclarecimento, quero agradecer-lhe, uma vez mais, o seu valioso testemunho, bem acompanhado pelos comentários que mereceram do Professor José Batista da Ascenção. Aliás, sempre na linha de fogo de um estrénuo combate contra as Novas Oportunidades (salvaguardadas as suas gotas de virtudes que se diluem num mar de defeitos) que eu, em título de um meu artigo de opinião, saído no Público,anos atrás, e reproduzido neste blogue, crismei de Novos Oportunismos.

Aqui chegado, não posso deixar de lamentar que num universo de milhares de agentes de ensino não exista um “sprit du corps” que transforme um mero exercício profissional numa profissão devidamente salvaguardada na sua qualidade de interesse público pela exigência em assegurar a representatividade de uma profissão, regulamentar e defender o uso do título de professor e salvaguardar os princípios deontológicos de toda a actividade docente. E, porque chama a atenção para a vantagem na criação de uma Ordem dos Professores, aproveito a deixa (na gíria teatral, a bucha!) para pensar em redigir um novo post sobre esta matéria, apesar de incontáveis por mim já publicados, porque acredito na sabedoria popular. “Água mole em pedra dura, tanto dá até que fura”.

Rui Baptista disse...

Caro António Bettencourt: O prometido é devido. Acabo de publicar o post "A Ordem dos Professores e o Mito de Sísifo".

Cumprimentos cordiais,

NOVOS CLASSICA DIGITALIA

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