Mais uma vez, o DE RERUM NATURA e o SORUMBÁTICO promovem um passatempo-conjunto (desta feita a propósito da famosa observação solar de Eddington a 29 de Maio de 1919 que veio comprovar a teoria da relatividade geral de Einstein), sendo atribuídos dois exemplares do livro «Eddington e Einstein», da Gradiva, aos dois leitores que melhor respondam às seguintes duas questões (um livro para cada questão):
1) Porque é que não houve astrónomos portugueses na ilha do Príncipe em 29 de Maio de 1919?
2) Porque é que Einstein não teve ninguém a recebê-lo, no dia 11 de Março de 1925, quando visitou Lisboa?
NOTA: Embora o passatempo esteja anunciado em ambos os blogues, as respostas a considerar, para efeito de atribuição dos prémios, serão as que forem afixadas no DE RERUM NATURA até às 12 horas do dia 26 de Maio de 2009.
19 comentários:
Bom dia.
Parto do principio que bastará responder apenas a uma pergunta. Assim, e relativamente à primeira, a resposta será: porque apenas um astrónomo (Manuel Peres, na altura director nessa altura do Observatório Campos Rodrigues de Lourenço Marques) mostrou interesse em participar. No entanto, por razões burocráticas, não conseguiu autorização.
Obrigado!
Responderei à segunda questão para a qual julgo que a nacionalidade Alemã de Einstein terá sido decisiva. Portugal entrou na 1ª Grande Guerra Mundial contra a Alemanha, que não gozava entre nós de grande reputação, e à qual não se lhe reconheciam grandes competências no dominio das artes e da ciência. Apenas no militar.
Estes factores, em conjunto, terão influído para que ninguém em Portugal recebesse Einstein.
Eugénia
Como complemento à minha resposta anterior, há que referir também que a Teoria da Relatividade não suscitava (além de um grupo restrito da comunidade científica) grande interesse em Portugal.
Nos jornais, apenas (segundo consta..) foi feita uma curta referência sobre o evento.
Observatórios astronómicos eram apenas dois: o de Lisboa e o de Coimbra, pobres em recursos humanos e técnicos.
Por tudo isto, é natural que Portugal não se tenha feito representar na ilha do Príncipe.
Em 1919 o caos politico e económico em que Portugal estava metido, deixava poucas hipóteses de alguém conseguir o dinheiro necessário para tal empreendimento. (Para além das razões apontadas pelo Leitor MG.
Na resposta b), Einstein passou em trânsito e acho que não se fez anunciar. A "inteligentsia" portuguesa da altura apenas aceitava o que vinha de Paris, Londres e Berlim não eram vistos como centros de competência, daí o facto de os cientistas com interesse na teoria da relatividade contavam-se com os dedos de uma mão.
Einstein passou duas vezes por Lisboa, na ida a 11 de Março de 1925, no regresso do Brasil a 27 ou 28 de Maio de 1925.
António Mota de Aguiar
1) A Royal Society of London estabeleceu contactos com a Sociedade de Geografia de
Lisboa (SGL) e com o (Observatório Astrológico de Lisboa) OAL aquando dos preparativos da expedição. A participação do OAL,dirigido pelo Vice-Almirante Campos Rodrigues e pelo coronel Frederico Oom, director e subdirector, respectivamente, passou pelo controlo de alguns aspectos de ordem logística
“A partir do início do século XX, o interesse principal das observações de eclipses solares totais passou a pertencer fundamentalmente ao domínio da astrofísica. Este facto ajuda-nos a perceber a razão pela qual Frederico Oom (1864-1930), promovido a director do Observatório de Lisboa em 1920, nunca se refere à ocorrência da expedição, seus objectivos e finalidades, apesar de ter sido um dos poucos astrónomos portugueses que, entre 1917 e 1920, mais artigos de divulgação científica publicou, em revistas como The Observatory e Astronomische Nachrichten. Aliás, ele próprio foi activo participante na observação de outros eclipses.
De acordo com as novas linhas orientadoras da astronomia e dadas as limitações de equipamento astronómico do OAL, também se percebe a posição de Oom ao opor-se, desde 1905, à organização de expedições para observações de eclipses fora do território nacional. Num artigo escrito para
O Instituto, a revista científica da Universidade de Coimbra, defende que as expedições só se justificariam “se o grupo de astrónomos tivesse a certeza de obter dados interessantes para a ciência, possuísse instrumentos caros somente úteis para esse fim e tivesse inventado processos novos para estas observações.” Acrescenta ainda que “os astrónomos não especializados nesta área e com escassos recursos apenas poderiam acompanhar estas expedições quando tendo lugar em território português, onde o dever de colaboração no estudo se impunha.” Estas considerações foram continuadas num outro artigo publicado na mesma revista em 1917, onde analisa as circunstâncias do eclipse do Sol de Maio de 1919 e refere que a trajectória da sombra atravessará, entre outros locais, a Ilha do Príncipe. Prevê que esta ilha tem uma forte probabilidade de vir a ser escolhida como estação de observação do fenómeno, convida os astrónomos portugueses a estudarem as condições geográficas e climáticas que lhe estão associadas e apresenta os cálculos que fez para os tempos de contacto, para um ponto central da ilha.
Apesar das recomendações de Oom, o astrónomo Manuel Peres Júnior (1888-1968), na época director do Observatório Campos Rodrigues em Moçambique e mais tarde director do OAL, tentou acompanhar a expedição inglesa, mas sem êxito pois não conseguiu ultrapassar uma série de questões burocráticas.” ( http://cosmo.fis.fc.ul.pt/~crawford/artigos/Einstein%20em%20Portugal2.pdf)
Portanto, os portugueses não foram porque não reuniam as condições necessárias para obter autorização de participação (as expedições só se justificariam “se o grupo de astrónomos tivesse a certeza de obter dados interessantes para a ciência, possuísse instrumentos caros somente úteis para esse fim e tivesse inventado processos novos para estas observações.”).
2) Não encontrei certezas. Apenas suposições, nomeadamente as do artigo do professor Fiolhais neste blog "Em virtude de Portugal ter entrado na 1ª Grande Guerra Mundial contra a Alemanha, e ainda por várias outras razões políticas, a Alemanha não tinha entre nós uma boa reputação; veja-se, por exemplo, o que Costa Lobo escrevia em 1918: “A Alemanha é um elemento perigoso para a harmonia mundial…” “A Alemanha não possue as qualidades scientíficas e artisticas que pretende possuir, e muito menos o Estado prussiano que domina e só prevalece pelo valor militar… " e "Ter-se-á Oom sentido constrangido pelo facto de Einstein ser alemão, ele próprio ter raízes germânicas (a sua árvore genealógica tinha raízes em Hamburgo) e a Alemanha não gozar naqueles tempos de boa reputação entre nós? Ou seria ele anti-semita? Ou ter-se-ia sentido incomodado com as ideias anti-militaristas de Einstein? Por que não escreveu sobre a comprovação da Relatividade no Príncipe? Por outro lado, se não teve conhecimento da passagem em 1925 de Einstein por Lisboa, no regresso, depois do sucesso que Einstein alcançou no Brasil, não a podia ter ignorado..."
porque o Reviralho era bruto como as portas.
Caros "Anónimos",
Dado que, no final, haverá a atribuição de livros, chama-se a atenção para a necessidade de usar uma qualquer identificação (mesmo que seja um pseudónimo).
Se me lembro correctamente, por alturas de 1917, ou seja pouco antes desta famosa experiência, nós aqui em Portugal observámos um fenómeno solar bem mais interessante. Foi ali perto de Leira, Fátima, para ser mais preciso. O astro-rei andou ali aos saltos, sem que o sistema solar entrasse em colapso. Só por milagre tal foi possível, obviamente.
Esse milagre tinha sido anunciado com antecedência a três pastorinhos. Uma aparição disse aos pequenos pastores: “Sou Nossa Senhora”. Curiosa escolha de palavras, mais natural seria que tivesse dito: “Sou Vossa Senhora”. Vossa em vez de Nossa. Teria sido gramaticalmente mais adequado. Mas enfim, não me atreveria a oferecer um prontuário da língua portuguesa a Nossa Senhora. Não quero discutir gramática divina. O propósito do meu comentário não é esse.
O meu propósito é bem mais singelo. Perguntam vocês por que raio não teve Portugal um representante na Ilha do Príncipe em 1919. Perguntam ainda se não haveria ninguém para receber Einstein em 1925. Estas perguntas parecem-me um pouco tolas. Estão num país onde as pessoas vêem o Sol bailando no céu, tal como anunciado aos pastorinhos. Pensam que alguém se vai preocupar com um pequena inflexão num raio solar, provocado pelo efeito da gravidade?
Um povo de iluminados não se preocupa com esses pormenores tolos. O raio de luz, se veio desviado, foi porque o Senhor, que pode com o mundo com o dedo mindinho, assim o desejou. Ninguém recebeu Einstein em 1925? Se queria ser recebido, que explicasse por que é que esse raio de luz foi desviado para a Ilha do Príncipe e não para a Cova de Iria. Isso sim, merece esclarecimento. Se para tal tivesse explicação, uma multidão o esperaria às portas de Lisboa.
Pelo que pesquisei só o astrónomo português Manuel Peres, à data Director do Observatório Campos Rodrigues de Lourenço Marques, manifestou interesse em acompanhar a missão à Ilha do Príncipe, mas viu a sua intenção gorada quando por aspectos burocráticos não conseguiu a necessária autorização para participar na experiência que ocorreria durante o eclipse solar.
Estes são os factos conhecidos e já aqui referidos por outras pessoas, mas porque é que não foi possível obter a tal autorização? Terá sido só culpa dos aspectos burocráticos?
Do que investiguei, parece-me que havia nessa época desinteresse e indiferença pela Teoria da Relatividade em Portugal (à excepção de um número restrito de cientistas nacionais), daí talvez não se ver necessidade em autorizar Manuel Peres a participar nas experiências na Ilha do Príncipe durante o eclipse. Esta indiferença e desinteresse também são bem notórios nos jornais da época: ao que li apenas um fez uma breve referência sobre esta experiência científica, apesar de haver troca de correspondência entre a Royal Society of London e com a Sociedade de Geografia de Lisboa e com o Observatório Astronómico de Lisboa para prepararem a expedição. A expedição foi apoiada pelo Observatório Astronómico de Lisboa e pelas autoridades locais, mas não atribuíram a importância devida para que se desse conhecimento de tal experiência nos jornais da época e permitir que o astrónomo que manifestou interesse pudesse participar!
Se juntarmos o facto de em Portugal, desde o início do século XX, a observação dos eclipses solares ter passado para o domínio da astrofísica e do Observatório Astronómico de Lisboa ter escassos recursos quanto aos equipamentos de observação astronómica compreende-se que o director do Observatório (Frederico Oom) se tenha oposto, muito antes dos ingleses quererem realizar esta experiência, a expedições para observar eclipses fora do país e a defender que tais expedições só se justificavam se os astrónomos tivessem a certeza que iam obter informações importantes e tivessem instrumentos para fazer essas observações.
Note-se que nesta altura Einstein ainda era um físico mal conhecido e a sua Teoria da Relatividade ainda estava em fase de confirmação (ou infirmação), e seriam as experiências efectuadas quer na Ilha do Príncipe, quer no Brasil que iriam ajudar na sua confirmação (ou não).
Podemos ainda juntar à escassez de recursos astronómicos do Observatório Astronómico de Lisboa o ambiente político e económico conturbado que se vivia na altura. A nível económico, a crise económica agravava-se continuamente mesmo após o fim da I Guerra. A nível político, Sidónio Pais havia sido assassinado em Dezembro de 1918 e Portugal chegou mesmo a viver uma guerra civil com a proclamação da Monarquia no Norte do país. A instabilidade, por vezes a rondar a anarquia, instalou-se. A instabilidade governativa e económica em nada ajudavam a que a burocracia deixasse um dos nossos cientistas presenciar um momento tão relevante na história da ciência.
Pelo que pude ler, Manuel Peres tornar-se-ia mais tarde num grande defensor da Teoria da Relatividade. A meu ver perdemos a oportunidade de estarmos presentes e fazermos história num momento tão importante. É certo que facilitámos o acesso ao local aos cientistas ingleses, mas acabámos por perder “o melhor da festa”. E parece que se não forem as iniciativas agendadas para comemorar os 90 anos de tal experiência que permitiu verificar a Teoria da Relatividade, este aniversário irá passar despercebido a grande maioria dos portugueses!
Os "caros anónimos" são uma só pessoa que, dada a extensão do comentário, não conseguiu colocá-lo de uma única vez. Agora, porque o solicitam, identifico-me!!!
estas perguntas têm rasteira? é que basta ir ao arquivo do blog para encontrar as respostas.
http://dererummundi.blogspot.com/2009/04/o-eclipse-de-einstein-em-portugal.html
logo , a resposta será que os tugas são uns cromos que não reconhecem a genialidade?
1) Outra hipótese para que os astrónomos portugueses não tivessem estado presentes pode ser o facto do fenómeno a observar não se situar no domínio da Astronomia e sim no da Física. Passo a explicar: Eddington pretendia mostrar que a luz quando passa perto de uma massa (e o Sol é uma massa) se desvia na sua direcção. Ora, a luz proveniente das estrelas por detrás do Sol
chegava à Terra e podia, portanto, ser observada. Mas o seu percurso só seria visível durante o eclipse.
Isto explicará porventura a ausência de astrónomos no local, tanto mais que esta teoria era relativamente recente (com cerca de 5 anos). Só não explica a ausência de físicos no local. Algum dos físicos deste blog sabe a resposta? (Não terá direito a prémio, apenas a um obrigado!!!)
Falta de transporte (1ª questão).
Paulo Costa
A resposta a ambas as perguntas pode ser comum e devido a vários factos:
1) A teoria da relatividade ainda era, na altura, uma teoria à espera de prova (que veio a surgir nesta expedição), pelo que era algo que somente interessava a um grupo restrito de cientistas. Em Portugal, quem mais importância dava à teoria era a comunidade de físicos e matemáticos e não os astrónomos;
2) Na altura, os contactos entre a Royal Society of London e a Sociedade de Geografia de Lisboa e o Observatório Astrológico de Lisboa foi mais no sentido de obter apoio logístico do que técnico-cientifico;
3) O facto de Einstein ser alemão, também não ajudou muito, por ainda se viver os resquícios do final da 1.ª Guerra Mundial.
O passatempo terminou às 12h de hoje.
Depois de anunciado o respectivo nome, os/as vencedores/as terão 48h para escreverem para sorumbatico@iol.pt indicando morada para envio dos livros.
Agradecendo todas as boas respostas, o juri do De Rerum Natura e do Sorumbático decidiu premiar:
1) Joana Luz
2) Luís Bonifácio.
Conforme o Carlos Medina Ribeiro já indicou, é favor darem nome e endereço para receber os livros.
Carlos Fiolhais
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