quinta-feira, 8 de junho de 2023

RESSURGIMENTO DO DEBATE ACERCA DO SUPORTE DE LEITURA: ECRÃ OU PAPEL

Por Isaltina Martins e Maria Helena Damião

Notícia do jornal Le Monde (aqui)


Notícia do jornal La Vanguardia (aqui)

A Suécia tem estado nas últimas duas décadas no primeiro plano do debate sobre a educação escolar. Como noutros países, esquerda e direita travam-se de razões nesta matéria, decidindo mais em função da sua linha política do que de razões substanciais acerca da função da escola.

A mais recente questão foi suscitada pelos resultados pouco animadores obtidos no Programa de Avaliação Internacional PIRLS, focalizado na leitura e na sua compreensão. Entende a actual Ministra da Educação que a substituição da leitura em papel pela leitura em ecrãs, desde idades precoces, é responsável por vários dos problemas identificados.

Consultámos diversos jornais franceses e espanhóis que divulgaram a questão, aproveitando para a recolocarem a responsáveis escolares e especialistas em Educação. Num desses jornais diz-se o seguinte:
— Quanto tempo devem ocupar os ecrãs nos colégios? O seu uso está a afetar a aquisição de competências consideradas essenciais? Gera desigualdades entre escolas? Os dados conseguidos por meios digitais são fiáveis? 
Estes são os temas que têm ocupado o debate nos últimos tempos na Suécia: que lugar devem ocupar as tecnologias digitais nas escolas, incluindo o tempo de exposição, algo que é questionado pelos profissionais da saúde. (Essa mesma atitude tomou o Ayuntamiento de Barcelona para as suas escolas infantis, eliminando os aparelhos tecnológicos nas aulas). 
Fruto desse debate a nova ministra da Educação da Suécia escreveu um artigo contra a “atitude acrítica que considera a digitalização como algo bom, independentemente do seu conteúdo”, o que leva a “deixar de lado” os livros de texto, que, como assinalou, têm “vantagens que nenhum tablet pode substituir” A ministra não nega a aprendizagem da competência digital das crianças, não elimina os ecrãs, mas não vai investir mais na tecnologia e dá ênfase ao papel. 
Diz: “Os resultados PIRLS (sobre a compreensão leitora) são um sinal de que temos uma crise de leitura nas escolas suecas. No futuro, o Governo quer ver mais livros de texto e menos tempo de ecrãs na escola” (...). Em sua opinião, é preocupante que a capacidade leitora esteja a diminuir entre as crianças e jovens, pelo que as escolas suecas devem voltar ao básico. É preciso centrarmo-nos em competências básicas como a leitura, a escrita e o cálculo" — afirmou. 
Para remediar a situação, o Governo desbloqueou, no passado dia 15 de Maio, 685 milhões de coroas (equivalente a 60 milhões de euros) para este ano e 500 milhões (44 milhões de euros) anuais para 2024 e 2025, para acelerar o regresso dos livros de texto às escolas. O objectivo é garantir um livro por aluno e por disciplina (...). 
De acordo com Enric Prats, professor de Educação na Universidade de Barcelona, há diversos estudos que confirmam que o formato em papel é melhor do que o digital para a aprendizagem da leitura. "Sabemos que o que mais ajuda é a leitura em papel, longa e, se acompanhada em voz alta, muito melhor". 

Noutro jornal diz-se

A Suécia "que ficou em 9.º lugar no PIRLS alerta para o risco de se criar uma geração de "analfabetos funcionais". A ministra consultou mais de 60 especialistas sobre o digital nas aulas, entre eles o Instituto Karolinska, um dos principais centros educativos do mundo na área da neurociência. Todas as organizações consultadas chegaram à mesma conclusão: "Toda a investigação do cérebro das crianças mostra que não há benefícios com o ensino baseado em ecrãs." 
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1 comentário:

Anónimo disse...

Em termos de fruição artística e enriquecimento cultural, a leitura que fiz, no liceu, de "Os Maias", de Eça de Queirós, ou mesmo de "Amor de Perdição", de Camilo Castelo Branco, está num nível pedagógico muito superior ao das sensações fáceis que senti quando vi versões simplificadas das mesmas obras literárias em banda desenhada, no cinema, ou na televisão. A leitura de um livro de texto, em papel, com poucas ou nenhumas figuras, puxa mais pelo pensamento e dá asas à imaginação, que são caraterísticas que se espera que a escola desenvolva nos alunos.. Por outro lado, a parafernália digital também pode ser muito útil, em contexto de sala de aula.
Para mim, professor de ciências do ensino secundário, a solução ideal, para uma escola com futuro, parece-me evidente:
Convivência harmoniosa entre os livros de papel e os artefactos digitais, ao serviço de professores e alunos.

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