terça-feira, 6 de junho de 2023

"Qualquer olhar para o futuro digital obriga a humanizar"

José Antonio Caride Gomez é professor catedrático na Universidade de Santiago de Compostela, na área de Filosofía e Ciências da Educação. Em 2020 publicou um artigo no jornal La Voz de Galicia (republicado aqui) que vale muito a pena ler:
Qualquer olhar para o futuro digital (...) obriga a humanizar A ética não pede nada e obriga a quase tudo, tanto individual como colectivamente. A vida segue com ela, independente das circunstâncias (...). Como nunca antes, interroga muitos de nossos modos de ser e estar no mundo, alertando para incómodas verdades: da fome e da pobreza às injustas e injustificadas desigualdades sociais, passando pela degradação ambiental ou deterioração das democracias. 
O surgimento e a expansão da cibernética, a massificação de seus aparatos tecnológicos e a irrupção das linguagens digitais permitem a realização de eventos mais acessíveis (...). Contudo, o virtual tende a confundir-se mais com o real, ao mesmo tempo que, sem crítica, se enaltecem os benefícios desses aparatos (...) 
A forma de olhar o mundo, de o ler e de o interpretar está a mudar. A transformação é irreversível [pelo que] qualquer olhar sobre o futuro digital (....) numa sociedade em rede requer o enfatizar dos direitos e deveres dos cidadãos. 
Para tal, a educação é chamada a desempenhar um papel fundamental (...), ativando e integrando as múltiplas dimensões que humanizam os conteúdos de ensino e aprendizagem nas instituições educativas e na sociedade. 
E isso deve ser feito com base em saberes e pedagogias que nos tornem mais livres, responsáveis ​​e conscientes, capazes de proporcionar uma visão crítica, com valores. 
Cultivar valores éticos como virtudes não decorre do virtual, mas da visão moral. 
José Antonio Caride Gomez

2 comentários:

Anónimo disse...

Os europeus de quinhentos e seiscentos, com a sua ética cristã, moralmente não estavam à frente dos bonzos orientais nem do confucionismo chinês. Ainda ontem um mancebo português, do século XXI, de 16 anos, integrado no ensino obrigatório, espancou com uma barra de ferro um dos seus professores, ao arrepio do mandamento de Jesus: "Amai-vos uns aos outros"; e do conselho "Não faças aos outros aquilo que não gostarias que te fizessem a ti", de Confúcio. O futuro digital passa necessariamente pela indústria dos chips. Quem tem o digital nas mãos, tem o mundo a seus pés. A Europa tem de investir mais capital, através dos empresários, e conhecimentos, que vão muito além das infantis "aprendizagens essenciais", através dos liceus, escolas industriais, politécnicos e universidades, se quiser voltar a ocupar um lugar, que já foi seu, entre os continentes mais avançados cientificamente. Resumindo, precisamos de uma ética, que não se esgote na filosofia ubuntu da moda, e de muitas "ciências", em sentido lato, que vão além do senso comum, se não queremos ficar irremediavelmente para trás.

Helena Damião disse...

Precisamos, caro Leitor, de uma vontade ética para humanizar o humano. Precisamos de levar o conhecimento construído pela humanidade, situada nos seus mais diversos tempos e lugares, aos nossos miúdos para que possam pensar. Mas, deixe-me precisar: pensar em função do que é Bem e Bom, do que está Certo. Não sei o que mais possa dizer. Cordialmente. MHDamião

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