No passado mês, Noam Chomsky, linguista marcante, analista empenhado, co-assinou um artigo sobre os desenvolvimentos mais recentes da IA, que saiu no jornal New York Times, tendo grande divulgação. Em sequência foi entrevistado pelo Ípsilon (ver aqui e aqui). Eis o que disse sobre a importância crucial da educação face a esses desenvolvimentos.
Recorte retirado daqui |
"«É impossível travar os sistemas», avisa ele, que não assinou a carta em que especialistas de todo o mundo pediram uma moratória no desenvolvimento de IA.
Explica por quê: «A única maneira [de controlar a evolução tecnológica] é educar as pessoas para a autodefesa. Levar as pessoas a compreender o que isto é e o que não é.»
«Falta educação, e essa educação, essa proteção, era o que se fazia quando se tinham organizações que representavam as pessoas».
«Este é o mais radical ataque ao pensamento crítico, à inteligência crítica e particularmente à ciência que eu alguma vez vi. A azáfama em torno da IA faz com que as pessoas também comecem a estar dessensibilizadas em relação aos riscos (...)»
«Fazer com que as pessoas compreendam que há mais coisas do mundo além das fantasias na Internet. Há situações cada vez mais preocupantes. Recentemente foi publicado um estudo, aqui nos EUA, sobre a Geração Z, crianças que nasceram depois de 1997, e a forma como encontram informação sobre o mundo. Quase ninguém lê jornais ou vê televisão. Muito poucos vão ao Facebook, porque já é antiquado. Imaginem o que é ter uma geração inteira a criar a sua visão do mundo através do que se vê no TikTok? Estamos falando da possibilidade de perdermos uma geração.»"
5 comentários:
São notícias como esta que nos alertam para a necessidade e urgência de fortalecer o sistema educativo português, através da introdução da filosofia ubuntu, entre outras inovações pedagógicas, nas nossas escolas. Felizmente, temos um ministro da educação que não permitirá que toda uma geração regrida para a idade das trevas, por perda de aprendizagens essenciais causada pela pandemia do covid e pelas greves irritantes dos educadores de infância e dos professores dos ensinos básico e secundário. Com uma recuperação de aprendizagens bem feita, isto é deitando milhões de euros do plano de recuperação e resiliência para cima das escolas, com os devidos cuidados, não vá algum desse dinheiro parar aos bolsos dos professores, porventura poderemos, já no fim do presente ano letivo, olhar para geração da "escola feliz" como mais bem sucedida de sempre e completamente imune às más influências da Inteligência Artificial, como por exemplo perscrutar continuamente o nível de atenção de cada um, em contexto de sala de aula, no processo do ensino/ aprendizagem.
Prezado Leitor Anónimo, para que não fiquem dúvidas noutros leitores acerca da nota que deixei neste blogue, digo o seguinte: com a recuperação desta notícia, no respeitante ao destaque que ela dá à educação escolar, não me refiro, em particular, ao contexto português, ainda que ele esteja incluído e muito menos me refiro a componentes não escolares que refere e que (erradamente, no meu entender) têm entrado na escola. O que quero dizer, e talvez não tivesse explicado bem, é que os sistema de ensino precisam de revalorizar e reforçar as componentes educativas especificamente escolares e de estimular a inteligência dos alunos. É nisso que aqueles que são, de facto, professores precisam de se concentrar. É seu/nosso dever. Cumprimentos, MHDamião
Que reacionário esse "Anónimo". Como é possível pensar dessa forma sobre a docência em Portugal? Além disso, não leu nada sobre a postagem. O maior receio da IA é o plágio, o desinteresse generalizado dos alunos pelo questionamento filosófico, pelo empenho intelectual, pela criatividade, etc. O papel dos docentes está cada vez mais depauperado. São planos pedagógicos e científicos que nós estruturamos e que depois se esvaziam no imediatismo que as TIC provocam. Não pretendo com isso regressar à relação vertical professor-aluno, mas o meu dia-a-dia e ano após ano, o que verifico é que realmente o QI dos alunos está afectado e tem vindo a diminuir. E é isso que Chomsky chama a atenção e tem razão.
Prezado Leitor João Soares, temos, como professores (é nessa qualidade que falo), um problema (que é mais um dilema) em mãos: sabemos que os nossos alunos precisam de ser ensinados para poderem aprender, mas, em simultâneo, parece-nos que tudo (discursos, orientações, directrizes...) tende a desvia-nos desse propósito. O que devemos fazer? O que está certo que façamos? A pergunta, de contornos éticos, solicita-nos uma consciencialização, uma presença na nossa mente, solicita-nos que pensemos em possíveis respostas e nas consequências que delas decorrem. Considero que não podemos ignorar a pergunta, continuando a laborar na falta de sentido que tolhe a educação escolar pública. Dir-me-á que o problema não foi criado pelos professores ou que eles têm uma responsabilidade diminuta nele ou que não têm poder para o resolver ou que para muito não é relevante, etc. Todos os argumentos podem colher, mas, se somos professores, precisamos de perceber que há a educação está em risco e que isso é da (também) da nossa conta. Cumprimentos, MHDamião
Se eu sou, porventura, um reacionário, V.Exa não passa de um revisionista. A docência em Portugal está nas mãos dos monodocentes (professores do 1.º ciclo e educadores de infância), que são professores especializados na lecionação de todas as disciplinas. É de uma enorme injustiça que os seus horários sejam diferentes dos horários dos professores do secundário, já que estes, os chamados polidocentes, ensinam apenas uma disciplina!
Para, pelo menos, começar a esbater estas injustificadas assimetrias laborais, o ministro da educação está empenhado em legislar no sentido de que todos os monodocentes, com mais de 60 anos de idade, deixem de ter componente letiva nos seus horários de trabalho, se assim o desejarem. Os filhos da burguesia, os polidocentes, que trabalhem até aos 70 anos!
Concordo que a IA fomenta o facilitismo em contexto escolar, mas o senhor ministro não se melindra nada com isso, bem pelo contrário. Quando os sucessivos ministros da educação nos vão retirando, ao longo dos últimos anos, a autonomia científica e pedagógica, consagrada no estatuto da carreira docente, demonstram, à saciedade,
que já não lhes interessam os professores que ensinam, e a sociedade aplaude!
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