Por Cátia Delgado
O título deste texto traduz o aviso que Geoffrey Hinton, o denominado "padrinho da inteligência artificial", ao afastar-se da gigante tecnológica Google, deixa em entrevista ao The New York Times (cf. ao lado) amplamente divulgada pelos media portugueses.
Embora acusado de sensacionalismo, não podemos deixar de notar que este alerta vem no seguimento de outros[1] que, procedentes dos que desenvolvem e implementam os sistemas de Inteligência Artificial (IA) e, por isso, em primeira mão os conhecem, deve levantar-nos algumas reservas. De facto, as máquinas têm conseguido alcançar capacidades que nos têm surpreendido pela proximidade e superação de características, até há pouco tempo, exclusivas dos humanos, como conversar em tempo real e até "emocionar-nos" pela escrita de poemas ou outras formas de arte, como demonstrado no programa 60 minutes, pelos dirigentes da Google, acerca do seu recente chatbot e concorrente do ChatGPT, o Bard.
Porém, é esta "humanização" da máquina, a um ritmo avassalador, desenvolvendo-se a ela própria, pela autoinstrução, apenas a partir da observação e sem necessidade de comandos externos, que está a deixar os entusiastas das tecnologias mais cautelosos, pois admitem desconhecer até onde, e quão rápido, estes progressos podem chegar, correndo o risco de não apenas comprometer a (des)informação que nos chega todos os dias, mas ainda, se nas mãos erradas, "minar as bases democráticas de várias sociedades".
Para uma contextualização verdadeiramente eloquente do estado da arte, sugiro a leitura do bem-humorado Luís Pedro Nunes, em A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL SERÁ DEUS – TODOS OS ALERTAS. TODOS OS AVISOS. TODOS OS FEITIOS. O GÉNIO SAIU DA LÂMPADA, que termina assim:
Ian Hogarth, especialista de inteligência artificial formado em Cambridge, que investiu ao longo dos anos em mais de 50 startups de IA e é coautor do relatório anual "State of IA", refere estarmos a caminhar para uma IA aparentada a deus (God Like AI): um supercomputador que aprende e se desenvolve autonomamente, compreende o seu ambiente sem necessidade de supervisão e pode transformar o mundo à sua volta. "Ainda não estamos aí. Mas dada a natureza da tecnologia, quando chegarmos lá, uma 'IA Tipo Deus' será uma força além do nosso controlo e da nossa compreensão, que pode acelerar a obsolescência ou destruição da raça humana." Isto parece o excerto de um filme de ficção científica apocalíptica série B. Espero que continuem a chamar-me o maluquinho da aldeia daqui a dez anos. É sinal que isto borregou tudo.
[1] Ver, por exemplo: Em 29 de março, mais de mil líderes da área tecnológica, entre eles o empresário Elon Musk, assinaram uma carta conjunta
Países do G7 querem que sejam criadas normas para regulamentar a Inteligência Artificial
2 comentários:
Cara Cátia Delgado, a propósito do seu oportuno texto, vou contar-lhe a anedota preferida do grande realizador, Stanley Kubrick (realizador do fabuloso 2001 - A SPACE ODISSEY), já falecido. Quando a IA atingiu uma perfeição assustadora, alguém teve a brilhante ideia de fazer ao computador de serviço a pergunta que, havia milénios, atormentava a humanidade: "Afinal Deus existe ou não existe?" Resposta imediata do computador: "AGORA; JÁ EXISTE" No filme de Kubrick, antevê-se um computador que "resolve" assumir o comando daquela viagem espacial, com as consequências que sabemos. O filme de Kubrick já tem mais de cinquenta anos...
Eugénio Lisboa.
Estimado Professor Eugénio Lisboa, com poucas palavras, conseguiu ilustrar (talvez) a maior ambição humana: a supremacia. Talvez seja a máquina o aliado perfeito, uma "força" ambígua para promover as pretensões de quem a programa (para já) e, tendo em conta o domínio que estes gigantes tecnológicos já alcançaram sobre a humanidade e a forma como a estão a conseguir facilmente formatar, não se auguram bons presságios. Abraço, Cátia
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