Nesta contemporaneidade "líquida" ou, talvez seja melhor dizer, "gasosa", "superficial", "ligeira" e com tendências histérico-anémicas, o modo de pensar a educação escolar tem sido submetido ao modo de pensar social conhecido por "espuma dos dias", que lhe é mais abrangente. E faz-se também na praça pública, o mesmo é dizer na praça mediática.
Fora desta praça parece não existir pensamento... se é que podemos chamar "pensamento" ao alarido, às opiniões desinformadas, às discussões inquinadas, sem esquecer as pressões e, naturalmente, as interrupções abruptas. Interrupções de que só damos conta quando certa ideia, prática, decisão, o que for, é retomada como se fosse nova. Volta-se, então, ao mesmo, chamam-se os mesmo "experts", ouvem-se os mesmos argumentos, cria-se a mesma animação. E, no final, tudo continua como previamente estava estabelecido que continuasse.
Imagem recolhida aqui |
É exemplo disto a polémica sobre a digitalização de provas e exames nacionais, que ficou "entalada" entre denúncias, anónimas e assinadas, e casos político-policiais de mão cheia. Logo, com um passado tão próximo, já terá desaparecido da nossa "memória de trabalho".
Entendendo que isso não deve, não pode acontecer, deixo aqui uma nota sobre tal polémica que me foi enviada. É o depoimento de um professor a um telejornal recente. As razões que invoca para justificar especial cautela na dita transição são conhecidas, mas aqui pugnam pela clareza e por um encadeamento bem conseguido, permitindo uma visão abrangente do todo.
2 comentários:
Sou professora de Filosofia na escola pública e corroboro as palavras deste professor que está muitíssimo lúcido, diferentemente daqueles que teimam em manter-se cegos sob uma aparente capa de escola inclusiva e em que todos, a qualquer custo, têm de transitar. Efetivamente, quem está no terreno sabe que está em curso um processo de “estupidificação das massas” e, infelizmente, os responsáveis são muitos e não estão só de um lado! É penoso que a escola pública, que deveria ser uma ESCOLA DE QUALIDADE, esteja a caminhar para a legitimação da ignorância.
Corroboro as palavras avisadas, cheias de uma lucidez cristalina, que é timbre dos poetas, de António Carlos Cortez. A inteligência e as pessoas inteligentes estão a ser expulsas das escolas. Na aparência a estupidificação que passa pela realização de provas de aferição, analógicas ou digitais, " que não servem para nada" no dizer indisciplinado dos próprios alunos, convém a toda a gente: aos alunos e encarregados de educação, porque têm por consequência o sucesso escolar para todos, mesmo sendo falso; aos políticos porque fornecem estatísticas sobre educação muito apresentáveis lá fora; à sociedade em geral, que, com a educação falsificada, poupa milhões de euros todos os anos.
O pior é a realidade nua e crua em que Portugal não consegue sair da cauda da Europa, no que diz respeito aos níveis de desenvolvimento económico-social e cultural dos povos.
Carlos Cortez aflora muito ao de leve a questão da escola preparadora de elites, onde se estuda e aprende, em contraste com a escola pública atual, onde um ensino simplista, inimigo de conteúdos complexos, obriga a um nivelamento das aprendizagens por baixo.
Pior do que não ter um diploma que ateste as nossas capacidades é não ter as capacidades que o nosso diploma atesta. A escola inclusiva é enganadora.
Estas minhas reflexões deviam ser comuns a todas as pessoas com um nível médio de inteligência.
Por exemplo, há uns anos, por uma questão de facilitismo, substituíram o valor de 9,8 m/s^2, da aceleração da gravidade em pontos próximos da superfície da Terra, pelo valor errado de 10 m/s^2. Então, eu, e mais alguns colegas de grande clarividência, opusemo-nos à estupidez e atualmente a aceleração da gravidade volta a ser ensinada nas escolas com o valor de 9,8 m/ s^2.
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