quinta-feira, 10 de abril de 2014

As paredes de nada valem

Imagem encontrada aqui

Dizem os espanhóis: "Estou na minha casa, faço o que me dar na gana". 

É uma frase maravilhosa pela força que as suas palavras imprimem à ideia que contém: em casa, na nossa casa, no espaço de intimidade, que as paredes delimitam, podemos dizer e fazer quase tudo.

As paredes confinam e libertam. Marcam fisicamente o espaço em que a nossa vivência e convivência é sobretudo privada.

Ou... não!

Deixemos de fora os casos de escutas electrónicas em situações mais ou menos especiais, legais ou não, mas em que há sujeitos visados. Pensemos nas pessoas comuns, aquelas a quem ninguém liga, as invisíveis.

Há muitos anos, quando vi o filme Blue Tunder (de 1983) percebi que o cenário espanhol era passado, que as paredes das casas podem tornar-se transparentes. Mas, de fora para dentro.

Pois, fiquei agora a saber que as paredes de nada valem, pois para dentro da nossa própria casa pode ser enviada uma janela invisível mas escancarada. Não sabemos que nos vêem e nos ouvem, mas vêem-nos e ouve-nos.

A janela pode ser um bonequinho felpudo, fofo, com o ar mais ternurento que se pode fabricar, electrónico para parecer que tem vida, a que as nossas crianças não resistem e a quem nós fazemos o carinho de oferecer.

Pois é, parece que desde finais dos anos noventa, uma agência de segurança de um país ocidental usou bonecos desses como janelas de espionagem em muitos, muitíssimos locais privados. São milhões as pessoas espiadas. Penso que não havia critério, podia ser qualquer uma.

Por isso, caro leitor, tenha cuidado com o que compra, com o que lhe oferecem, com o que já tem em casa. Quando fizer limpeza aproveite para desmontar a mobília, os candeeiros, os electrodomésticos, os brinquedos da pequenada... E não se admire se descobrir que, afinal, não estava só...

Uma das notícias onde se conta esta história pode ser lida aqui.

Maria Helena Damião

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