terça-feira, 22 de abril de 2014

HENRIQUE RAPOSO E A NEGAÇÃO DO AQUECIMENTO GLOBAL

Como a ignorância aliada à arrogância vai desembocar na negação do aquecimento global. Gostava de dizer que este texto do Henrique Raposo me surpreende. Mas não. Pelo menos dá para pôr em perspectiva os seus outros textos. Afinal, se escreve isto sobre um assunto acerca do qual existe um consenso científico avassalador, podemos inferir a seriedade com que fundamenta as suas habituais opiniões políticas. 

Henrique Raposo, face ao trabalho voluntário de centenas de cientistas de todo o mundo que revêem todo a ciência publicada acerca de alterações climáticas, num processo transparente e sujeito a revisão pelos pares, o que tem para contrapor? Histórias sobre erupções vulcânicas na Idade Média e considerações chico-espertas, como esta:
se o "homem industrial" é o responsável pelas mudanças climáticas, por que razão o clima mudou tanto antes do advento da revolução industrial?
Vamos rever: Henrique Raposo pensa que é visionário e que viu o que os cientistas climáticas não foram capazes de vislumbrar nos dados das amostras de gelo com 800 mil anos à frente dos seus narizes: que o clima tem uma variabilidade natural. Brilhante. Não tínhamos pensado nisso. Boa. Obrigado. Será que Henrique Raposo não compreende que, apesar do variabilidade natural do clima, as actividades humanas provocaram mudanças que não são devidas a essa variabilidade natural? Henrique Raposo pensa, seriamente, que os cientistas não pensaram nisso? Estavam distraídos a olhar para um panda gigante a jogar à macaca com um koala?

Henrique Raposo comete ainda um erro primário de lógica. Que é mais ou menos assim: se as laranjas são frutos, então como podemos ter fruta sem laranjeiras? Raposo infere que para a actual ciência climática ser válida, toda a variabilidade do clima tem que ser devida à actividade humana. E isso é uma falácia. O clima tem variabilidade natural e, para além disso, há as alterações causadas pelo homem. As laranjas são frutos, mas também há pêras e maçãs.

O consenso científico acerca das alterações climáticas é avassalador. A historiadora de ciência Naomi Oreskes, fez uma análise de todos os artigos científicos publicados entre 1993 e 2003 e chegou à conclusão que nenhum (vou repetir: NENHUM) contrariava a ideia de que o clima está a ser alterado por causa das actividades humanas. 
Desde então, o mesmo têm mostrado os sucessivos relatórios do Painel Internacional das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, nomeadamente o quinto relatório, publicado este ano. A posição de Henrique Raposo é a velha corrente TTB (Tá Tudo bem). Podemos continuar a passear nos nossos carros a gasóleo com mais de uma tonelada, a comer toda a carne de vaca que conseguirmos (o metano dos intestinos das vacas também é um gás de efeito de estufa). Não é preciso mudar nada, Tá Tudo Bem, os cientistas são parvos.

Claro que Raposo também pode supor, e aparentemente é o que faz, que há uma conspiração dos poderosos ecologistas contra as indefesas companhias petrolíferas, no sentido de falsificar o conhecimento acerca de alterações climáticas.

Mais uma vez, nada que surpreenda.

9 comentários:

Anónimo disse...

HR é um inanarrável desqualificado que só por artes mágicas (ou desejo de vendas à conta de polémicas) mantém uma coluna de opinião num jornal.

Muito me espantou ver há pouco tempo um post de alguém que aqui muito prezo (Helena Damião) aparentemente concordando com tal criatura (post sobre "O Clube dos Poetas Mortos").

Como se fosse o mesmo enquadrar aquele filme na realidade escolar dos colégios internos ingleses (ou mesmo no nosso sistema de ensino de há 30 anos) e enquadrá-lo no tipo de escola (?) que temos aqui actualmente...enfim.

Mas não é por existirem opinantes parvos que uma obra absolutamente notável deixa de o ser, e não é por mudarem as épocas que as obras de arte deixam de ter valor por aquilo que são, para além do que entretanto mudou à sua volta.

Já o contrário não sucede com aquilo que é irrelevante e não fica para a história: Será o caso do HR, quando uma qualquer alteração climática mais radical o levar deste mundo...

Dervich

João Pires da Cruz disse...

Felizmente, ciência não se faz por votação. Já viste a carrada de votos que o heliocentrismo tinha levado? Ou a carrada de votos que os actuais laureados com a medalha Nobel da Economia ainda levam?

Rodrigo Brito disse...

Henrique Raposo, como muitos cronistas, mantém a sua posição actual pela capacidade de gerar visionamentos, e logo receita publicitária. Tanto faz que quem o leia o faça por discordar e ficar irritado ou por gostar do que lê. A única atitude decente é nem o ler (como aos outros cronistas mais ou menos imbecis que vivem do mesmo esquema).

Anónimo disse...

Minha nossa, mais cientismo não, por favor. Mais um alto sacerdote do CO2!!! Se a Alta Finança globalista fôr incluída como parte da humanidade, então certamente que as alterações climáticas terão toda a origem humana que o dinheiro pode pagar. Quem sabe conseguiram até corromper o Sol e as forças eléctricas do Universo !!!

Já vi que nada sabe (ou não quer saber) dos antecedentes do Fascismo Verde na História. O nosso quotidiano está cheio de escolhas ecológicas, nada como preferir a soja em vez da carne de Vaca (!). O que seria do planeta se a humanidade não se tornar Deus para corrigir os erros divinos, certamente que a Alta Finança globalista já se imagina no negócio de despoluir o planeta, após ter contribuído para os mais variados holocaustos. Para si, o clima é estático e a maldita alteração climática precisa de ser eliminada a qualquer preço. Certamente que o Sol e o Universo Eléctrico não têm nenhuma relação com as variações climáticas! Fazer política e desinformação em ciência é realmente muito pior do que ver os políticos a mentir, diz o povo ''que se apanha mais depressa um mentiroso do que um coxo''.

Graciete Rietsch disse...

Eu incluo-me nos 75%, não esquecendo também a variabilidade climática natural.

Anónimo disse...

E que tal alguém indicar uma experiência no laboratório de física que prove os efeitos do CO2 no clima?

Anónimo disse...

Caro David, 1. uma pessoa que tem argumentos sólidos, reais, palpáveis, não escreve um texto cheio de adjetivos, ironias e sarcasmos (como é o seu). 2. O Google, quando faz pesquisas, dá-lhe aquilo que o David quer ler. Se tem dúvidas peça a um amigo seu (que seja genuinamente cético sobre o aquecimento global) que faça uma busca qualquer e vai ver que não há relação entre as páginas que o google lhe dá a ele e a si. Só que as pessoas sérias não estudam no Google. 3. Não existe consenso nenhum sobre a origem humana das alterações climáticas. Apenas existe esse consenso nos sites que o David consulta porque o google dá-lhe as páginas consultadas pelas pessoas que ficam mais tempo nos mesmos sites em que o David fica. Compreende? 4. O Painel das Nações Unidas (que o David cita como prova do que diz) inclui o nome de pessoas que não concordam com o relatório nem com a origem humana das alterações climáticas. Em alguns casos é público que eles pediram para o seu nome ser retirado. 5. Eu tb posso mandar-lhe um relatório sobre a alegria que os touros têm em ser mortos na tourada, o David diz que o texto é completamente imbecil, mas eu publico-o com o seu nome entre os consultores e depois aparecem pessoas a dizer que este texto tem o consenso de todos, incluindo o seu. Isto não é sério, compreende? 6. A correlação (diferente de causalidade) entre aquecimento da Terra e aumento dos níveis de CO2 (uma das imagens mais impressionantes do Al Gore) torna-se muito interessante quando se descobre que na história da Terra o aquecimento PRECEDE o aumento do CO2 (e não o contrário). 7. Um professor do MIT mediu desde 1979 a radiação refletida pela atmosfera, e ao contrário do que previa a teoria do efeito de estufa, a radiação aumentou (e não diminuiu). 8. Se quiser saber sobre o assunto terá de estudar por fontes primárias e não pelo Google. 9. E sobretudo pense que se só tem adjetivos, ironias, sarcasmo, e votações a amostras que não conhece, é porque tem muito pouco e talvez devesse ficar calado.

Anónimo disse...

https://www.theguardian.com/commentisfree/2007/mar/13/science.media

Anónimo disse...

Apoiado. O texto do blog é indigno de um cientista.

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