Não fosse o respeito
que me merece o leitor, deixaria passar o comentário de Orlando Braga - insito
no meu post anterior, “O Leito de Procusto, a Revista Kapa e a Direita
Portuguesa Contemporânea” (29/03/2014) -, como diria Eça, escrito de “pena ao
vento”, por o respeito pela profissão docente dever merecer mais e melhor atenção da
sua parte. Desse comentário, Orlando Braga o escreveu, realço: “A lengalenga deste verbete… poder ser
interpretado de várias formas porque a escrita é propositadamente ambivalente”.
A que verbete se reporta? Ao meu texto ou ao seu comentário? O leitor melhor
julgará, mas eu, tenho para mim, estarmos em presença, isso sim, de uma ambivalência da sua prosa em que o feitiço se pode ter virado contra
o feiticeiro.
Mas adiante, não sem
antes agradecer-lhe a oportunidade que me dá de vir, possivelmente, e se tal for necessário, a debruçar-me, em outra ocasião e neste
blogue, sobre a temática, sempre actual
e polémica, relativa a uma Ordem dos
Professores. Para já, há uma concordância entre nós sobre a justiça de um
professor universitário catedrático ganhar mais dinheiro que um professor
primário em fim de carreira. Professor primário reformado, na meia-idade, quase diria na flor da idade, aos 52 anos numa altura em que a própria OMS, tendo em vista o aumento de tempo de vida na
sociedade actual, já fala duma 4.ª idade
a partir dos oitenta anos de idade.
Repare o leitor, para
além disso, que o professor do antigo ensino primário (actual 1.º ciclo do
ensino básico), de posse de um curso médio, mercê de frequência de escassos
meses em escolas privadas superiores, termina a carreira docente em situação
idêntica, por exemplo, a de um seu
colega que, para ascender e cumprir
estudos superiores, teve que estudar mais dois anos de ensino secundário
(antigos 6.º e 7.º anos do antigo Liceu) e uma licenciatura em Letras ou
Ciências.
Esta situação, pós/25
de Abril, só foi possível mercê de uma concertação sindical, sob a batuta da
Fenprof (por si próprio, Orlando Braga,
confessado, enfeudada à esquerda
marxista). Anteriormente, o
professor primário (utilizando a sua
nomenclatura), de posse de um curso médio atingia o topo da carreira na letra
C, o professor bacharel na letra B, o professor licenciado na letra A, a que
correspondiam vencimentos diferenciados.Tudo isto foi
conseguido através de uma Carreira Docente (única) que, repito, não se verifica
em países que respeitam os diplomas por si outorgados até porque, segundo Pessoa,
“é preciso violentar todo o sentimento
de igualdade que sob o aspecto de justiça ideal tem paralisado tantas vontades
e tantos génios, e que, aparentando salvaguardar a liberdade, é a maior das
injustiças e a pior das tiranias”.
E não se julgue que
isto de repúdio por ultrapassagens nas carreiras profissionais não é diruptivo.Haja em vista, o caso dos militares de
carreira perante a integração de oficiais milicianos no Quadro Permanente das
Forças Armadas depois destes terem lutado em longos anos de
combate, com perigo da própria vida, na
Guerra do Ultramar, interrompendo, por vezes, os seus estudos académicos ou mesmo antigos
empregos.
Tendo como
base a tese de mestrado, na Universidade Lusófona, de Luís Pedro Melo de
Carvalho, resumo o acontecido no caso supracitado. Ao ser
preparado um diploma que previa integrar no Quadro Permanente oficiais
milicianos, através da frequência de um curso na Academia Militar, com a
duração de um ano lectivo, seguido de um estágio de 6 meses na Escola Prática
da respectiva Arma ou Serviço, logo se
gerou um movimento de repúdio, por parte dos oficiais do Quadro Permanente,
reagindo estes numa onda de forte contestação por se considerarem prejudicados tendo como resultado o despoletar do chamado “Movimento dos Capitães”, génese
do 25 de Abril, que pôs em confronto os cadetes da Academia Militar, que se
“sentiram ofendidos no seu orgulho e no seu prestígio”, e os oficiais milicianos
com anos de serviço em territórios africanos com o estatuto de províncias
ultramarinas portuguesas.
Mutatis mutandi, quem está contra a carreira docente única, que
alberga em seu seio, em paridade de direitos e vencimentos, indivíduos com cursos secundários incompletos,
cursos médios e cursos superiores, mais não faz do que, a exemplo dos oficiais mais habilitados, se sentirem
ofendidos no seu orgulho e no seu prestígio, alcançado com sangue, suor e
lágrimas de estudos aturados (sem Novas Oportunidades ou Provas de Acesso para
Maiores de 23 anos) enquanto verdadeiros carreiristas se alcandoraram a posições
iguais ou mesmo superiores às suas.
A situações desiguais não devem corresponder
soluções desiguais? Ou, como escreveu Sophia de Mello Breyner”, em carta a Jorge
de Sena, “acho que não se pode criar em nome do antifascismo um novo fascismo”.
Ou um social-fascismo de uma sociedade sem classes de inspiração moscovita
mesmo depois da queda do Muro de Berlim!
2 comentários:
Esta "personagem" não vê a obsessão paranóica em que está atolado?
Faça-se um amplo peditório nacional, antifascista e anti-social-fascista, tendo como objectivo primordial permitir a tão insigne persona poder olhar para todos os lados e saborear-se com tão alta estatura, a sua.
Uma bem merecida reforma, não duvidamos, será o mínimo que a Nação tem para
homenagear tão (dis) tinto compatriota.
Companheiros, o homem merece!
Bem haja, senhor.
Meia dúzia de dias para produzir uma prosa que demonstra um mau funcionamento biliar. Só por acaso aqui passei, aliás em boa hora e num espaço de tempo que lhe permitiu uma breve glória perante os seus amigos de partido ou de sindicato.
Aliás, para Ralph Emerson, "uma seita ou um partido político é apenas um eufemismo elegante para poupar um homem(zinho) do vexame de pensar. Premonitórias palavras estas, escritas em fins do século XIX e que bem se adaptam aos dias de hoje... e à sua pessoa. Cumprimentos e até breve se assim o desejar e merecer...
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