Meu texto acabado de sair no jornal cultural do Porto "As Artes entre as Letras" (na imagem, instantâneo da Revolução de 25 de Abril):
A
revolução de 25 de Abril de 1974 e a entrada de Portugal na União Europeia a 1
de Janeiro de 1986 permitiram desenvolver em extraordinária medida a Ciência. Consideráveis
fundos europeus foram usados para apoiar bolseiros e infra‑estruturas de Ciência. Pode falar‑se de uma verdadeira explosão nesta área
do conhecimento.
Em
1995 foi criado o Ministério da Ciência e Tecnologia e em 1996 a FCT – Fundação
para a Ciência e a Tecnologia, que sucedeu à JNICT – Junta Nacional de Investigação
Científica e Tecnológica, que por sua vez tinha assumido o papel do INIC, o
Instituto Nacional de Investigação Científica. Com a abertura à Europa e ao
mundo a ciência portuguesa internacionalizou-se como nunca tinha acontecido antes, com a saída do País de
muitos cientistas em várias áreas e também com a entrada de estrangeiros. Começou
uma avaliação regular da actividade de investigação. Construíram-se edifícios,
montaram-se estruturas, incluindo alguns grandes equipamentos. O País passou a
fazer parte de vários organismos científicos internacionais como o CERN - Centro
Europeu de Pesquisa Nuclear, a ESA - Agência Espacial Europeia e
o ESO - Observatório Europeu do Sul. As áreas das ciências sociais e humanas conheceram
particular expansão, abrindo‑se a
ramos novos do conhecimento, como por exemplo a sociologia. Perante a
dificuldade de as universidades absorverem rapidamente e de modo adequado os
recursos postos à disposição pelo Estado (em larga medida vindos da União
Europeia), foram criadas instituições privadas de interesse público, sem fins
lucrativos, que foram chamadas Laboratórios Associados por analogia com os
Laboratórios do Estado, como o Laboratório de Veterinária, o Instituto Ricardo
Jorge e o Laboratório Nacional de Engenharia Civil, que já existiam. Foi o caso
do CNCUC - Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de
Coimbra, na Lusa Atenas, e do IPATIMUP - Instituto de Patologia e de Imunologia
Molecular da Universidade do Porto, na Cidade Invicta (que está agora a fazer
25 anos). Essas instituições cresceram rapidamente em contraste com alguns dos
Laboratórios do Estado, que não se desenvolveram na medida das expectativas.
Surgiu, além do Instituto Gulbenkian de Ciência, forte na área da biologia, que
remonta aos anos 60, em 2010 um outro centro de investigação na área da
biomedicina em busca de reputação internacional, este apoiado pela Fundação
Champalimaud
O
investimento na Ciência e Tecnologia aumentou até ter atingido 1,6% do Produto
Interno Bruto nos anos de 2009 e 2010, em reflexo do aumento do número de
investigadores e da actividade destes. Uma medida desse crescimento é o enorme
incremento do número de doutoramentos feitos no País ou fora dele (cada vez
mais no País), reconhecidos cá. Também aumentou, em consonância, o número de
publicações científicas, assim como impacto destas, que é medido pelo número de
citações. Basta
consultar a PORDATA, base de dados de Portugal contemporâneo da
responsabilidade da Fundação Francisco Manuel dos Santos, para verificarmos
esses factos. O investimento em investigação e desenvolvimento (I&D)
cresceu de 0,3% no ano de 1982 (o primeiro ano mostrado na série temporal da PORDATA
– esse ano corresponde politicamente, com a revisão constitucional e o fim do
Conselho da Revolução, à normalização democrática) para 1,5% em 2012. Dois indicadores indesmentíveis sobre os
resultados do sucesso desse investimento em ciência são o número anual de novos
doutorados formados e o número de novas publicações científicas. Em 1982 obtiveram
o diploma de doutor 230 pessoas, mas em
2012 já foram 2209, quase dez vezes mais. O número de publicações científicas
em revistas indexadas, que foi de 3,9 por cem mil habitantes no ano de 1982 passou
para 156,7 por cem mil habitantes em 2012, cerca de 40 vezes mais. Ainda não
atingimos valores da média europeia, mas poucas coisas subiram tanto em
Portugal em tão pouco tempo!
A
cultura científica também alastrou. A editora Gradiva, com a colecção Ciência
Aberta iniciado no princípio dos anos 80, tem feito um trabalho de difusão
científica através do livro, tal como nos anos 40 a Biblioteca Cosmos de Bento
de Jesus Caraça. Os media começaram a falar de Ciência como nunca tinham falado
antes. A Ciência Viva – Agência Nacional para Difusão da Cultura Científica e
Tecnológica alargou o interesse pela divulgação científica, designadamente com
a criação e apoio a vários centros de
ciência no País, o maior dos quais é o Pavilhão do Conhecimento em Lisboa.
Estando
vivos a maior parte dos protagonistas mais recentes, é ainda cedo para fazer a
história deste período da ciência portuguesa, ainda que se possa desde já dizer
que, apesar de algum retrocesso muito recente na expansão da ciência em
Portugal, estamos, aparentemente, perante
um novo período de luz depois dos períodos localizados no século XVI e no século
XVIII, associados respectivamente aos Descobrimentos e ao Iluminismo. Mas falta
ainda a devida distância histórica para podermos provar que foi isso mesmo o
que aconteceu.
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